... lembro como se fosse hoje, apesar de ter sido ontem…

Jamais pensei que fosse sentir saudades do zumbido. Você já escutou algo tão louco assim?

É verdade, meu amigo!

Quando as vozes dentro da minha cabeça começaram a aparecer e o zumbido, sujeito educado, deu uma diminuída no seu volume para que a voz pudesse ser melhor ouvida, aí companheiro, se existia um fundo do poço, eis que eu chegava a ele…

No começo eram vozes engraçadas e numa linguagem estranha que eu não conhecia. Eu ainda me consultava com o psiquiatra e resolvi não lhe contar sobre esse agravamento do meu estado, pois queria parar com os remédios e voltar a trabalhar, para melhor ocupar o meu dia, afinal, estava passando a conviver melhor com o zumbido.

E é lógico: quem já ouviu falar de alguém que escuta vozes na cabeça ser considerado uma pessoa normal? Bom, eu não! Então não queria me arriscar.

O que notei era que as vozes foram mudando de linguagem, todos os dias. Dava para perceber isso, apesar de serem aparentemente da mesma pessoa e de eu não compreender nada. Sabia que repetiam frases parecidas, isso dava para notar, mas nada além disso.

Esqueci de mencionar, mas o que me ajudou bastante também com o zumbido foi uma aula de meditação que iniciei. Será que teria o mesmo efeito sobre as vozes? Descobri que não e parei com as aulas, pois era difícil me concentrar com um marmanjo falando dentro da minha cabeça, numa linguagem alienígena…

Sim! Foi a essa conclusão que cheguei! Quem mais conseguiria colocar uma voz para rodar dentro da minha cabeça?

Ou seriam vozes do além? Uma conexão direta com o mundo dos espíritos? Que grande bobagem eu estou falando…

Bom, cheguei a uma conclusão: não vou suportar ficar preso num hospício pelo resto da minha vida, babando e tomando comprimidinhos azuis. Prefiro a morte! Isso mesmo, uma atitude totalmente covarde, mas escute você aí, dono da voz que não para de rodar dentro da minha cabeça, se amanhã cedo eu acordar e você ainda estiver aí, vou ter que
dar um fim em toda essa merda…