REPORTAGEM DO PRÓLOGO - PARTE 03

REPORTAGEM DO PRÓLOGO – Parte 03

Boa tarde Senhor! Faz mais de dois anos que andamos esperamos ansiosamente por sua entrevista! – disse à moça que auxiliava o repórter quer abriu a porta para o senhorzinho passar – afinal, não há muitos registros do senhor na história.

- E nem teria, não há muita coisa para saber – disse o senhor sentando num sofá macio, de frente para uma pequena plateia e uma câmera com tripé.

- Lógico que há! Fiz minha monografia inteira sobre você!

- Quem iria querer ter um velho como tema de trabalho? – perguntou arrancando sorrisos da pequena plateia.

- Foi um dos grandes heróis do Brasil. Todos querem saber mais sobre o senhor – disse um rapaz sorridente, deveria ter seus 35 anos.

Ele respirou fundo enquanto se ajeitava na poltrona.

- Talvez um dia eu possa ter inspirado alguém, mas hoje eu não passo de uma relíquia, com perna-de-pau – disse o senhor numa risadinha fraca - Me chamo Cael Martel, tenho 90 anos, eu nasci, cresci e passei toda minha vida na montanha que ficava em Poti. Eu cuidava do gado, do pasto, das famílias que lá viviam. A montanha, para mim, era um pequeno pedaço do paraíso. E realmente era.

- Como era montanha? – perguntou o repórter.

- Bem, não tão quieta e vazia pelo seu tamanho. Eu me pergunto "Como um lugar tão pequeno, possa ter atraído tanta vida, com tantas histórias?!". Sinto falta do cheiro do pasto molhado, cheiro dos animais, da ração. Não tinha uma pessoa que não gostasse da montanha, bem, talvez uma Yuri Martel – disse ao repórter.

As pessoas se remexeram inquietas nas suas cadeiras ao ouvir o nome do Yuri.

- Não tínhamos tecnologia, mesmo estando no século 21. A cidade era afastada de tudo e vivia com sua própria renda. Lembro que a população diminua, consideravelmente, a cada década completada. A vida parece que havia parado naquele lugar. E isso era o que eu mais agradecia. agradecia todos os dias que todos esquecessem que nós de lá existisse. As crianças não falam de internet ou jogos de vídeo game. Elas aina brincavam nas ruas. Os homens disputavam suas melhores nos rodeios. E os senhores  não falava de política, não se falava de futebol.

- Não se falava de futebol? – perguntou atônito o repórter.

- Não era o esporte favorito nosso. Nosso esporte era montaria de touros. Nossos campeões eram os toureiros. Gostávamos de um bom "estouro da boiada". Tínhamos quermesse, bailes, E por ser tão afastado do mundo, que a cidade sempre fora apelidada de...

- O Cu-do-Mundo... - respondeu um pequeno coro de pessoas, fazendo o velho sorrir.

- Exatamente! - confirmou o velho.

- E do que mais sente falta Cael? – perguntou a menina da plateia.

- Se muitos queria escutar: "montar em touros" e/ou "ter a minha perna de volta" e/ou "sentar na minha varanda e beber minha pinga vendo o pôr-do-sol".  Não, isso ainda poderia ter. E acho que todos aqui esperariam ouvir "Yuri Martel", mas eu respondo, também não! " O que eu mais sinto falta é da Maia!". Quando Maia nasceu, os médicos disseram para deixa-la com as freiras no orfanato, pois ela seria um fardo na minha vida. Mas, quando eu a segurei em meus braços e ela sorriu, eu tinha a estava segurando um anjo. "Como alguém ousaria dizer que aquele anjinho fosse capaz de ser um fardo?". E ela viveu comigo por longos 30 anos, até que um dia ela dormiu e nunca mais acordou. Sabe, às vezes, mal posso esperar para ir para o céu e encontra-la novamente, junto com meu irmão Cauê.

D/

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