FINAL - CAEL MARTEL

CAEL MARTEL - FINAL

ÚLTIMA NARRAÇÃO DO CAEL MARTEL

Andamos por toda Poti de camionete até o Yuri me convencer a fazer um passeio a pé. Passamos no veterinário para o teimoso tomar morfina para continuarmos. Não é que eu fiquei muito feliz com a ideia, mas esse novo Cael tinha um defeito: era impossível negar as coisas ao Yuri Martel, ainda mais quando era um pedido no qual eu fosse me beneficiar, ou seja, como ele diz: estou criando um "monstrinho" mimado. Depois, paramos a camionete na Praça da Matriz e continuamos nosso tour a pé. Era impressionante o tanto de gente que já estava na cidade, isso ainda faltando 03 dias para o evento.

- Você está todo paquitão andando a pé, após de machucar todo. Juro que não vou ficar acordado para ver marmanjo chorando de dor. E não ria Yuri Martel, não estou achando a graça alguma nesse seu passeio.

- Consegue imaginar que todas essas pessoas que vieram até aqui foram por nossa causa? Que todos esses jovens bebendo, se divertindo, montando barracas, carros de som, trepando atrás da moita estão esperando apenas a abertura das arenas? Das nossas arenas.

- Acho amável a maneira que você coloca as palavras, sabia? – disse ganhando um soco de amor.

- Só sei de uma coisa, poderíamos fazer igual a eles, o que acha? – perguntou ele passando a mão na minha cabeça.

- Você acabou de tomar morfina, está sob efeito de medicação. Já está sentindo o "baratinho" que ela dá?

- Se baratinho que você diz for sentir seu corpo flutuando e uma euforia? Sim!

- Euforia? Então já bateu! – ele ria gostoso.

- Mas e ai, não me respondeu? Que tal a gente imitar esse bando de jovens, bebendo, comendo, trepando no mato? E não faça essa cara de nojinho quando eu falo "trepar". Você é meu noivo e temos dias que fazemos amor e terá dias que treparemos e fim! Quer coisa mais gostosa que eu trepar com o homem que eu amo?

- Vamos esperar ate você sarar mais e ai treparemos, ok? Mas mantenho minha palavra, não vou cuidar de marmanjão gemendo e rolando de dor à noite. Se me atrapalhar muito, enfio uma meia na sua boca e o amarro no colchão.

Ele continuava a rir gostoso.

- Cael, se há alguma coisa nesse mundo que você é, é ser mal. Qualquer suspiro que eu dou, você logo fica todo preocupado e já quer levar ao veterinário e tal.

- E você aproveita que sou um cara que te paparica ao extremo para fazer regaço. Te amo, mas sei ficar nervoso também! Mesmo com meus animais, eu sei ficar nervoso.

- Eu sou seu animal?

- Da pior raça que existe. Só sabe comer, fazer amor e dormir. Depois reclama que a balança é injusta.

- Então, meu amor, explique mais sobre o que motivo dessa cidade estar toda iluminada, enfeitada, cheia de vida, recebendo dezenas de pessoas. Seria o "Santo Padre"?

- Isso, fica zoando o Santo Padre bem antes da festa! Depois dá uma coisa errada na festa, você vai ficar ai reclamando.

- Ele é Santo ou é uma entidade maldosa? Porque se ele for uma entidade eu preciso que ele dê uma coça em umas pessoas pra mim.

Continuamos o nosso passeio, encontramos com o pessoal que nos ajudou com a organização e a restauração da arena. E eles haviam montado pequenas barraquinhas para venda de comida e bebidas ali na praça para os turistas. Logo depois chegaram o pessoal da montanha.

- Es la primeira vez tiemos uns festa igual las outras fietas que tiemos pelo Brasil – disse o Juan olhando para o irmão o cutucando ao passar um bando de garotas.

- Seria bom para um de vocês namorarem. Acharem uma prenda boa e logo amarrarem o burro de vocês.

- O que? Com 28 anos quieres nos casar Cael? Jamais! – respondeu o Aldo

- Até que esses dois não comerem o Brasil inteiro, não vão parar para namorar! – explicou o Tomé tomando uma canecada de cerveja artesanal.

- Olha essa boca seu velho – retrucou a Nina com a cara fechada.

Ela também portava uma caneca de cerveja artesanal.

- Me da uma dessas, por favor – disse o Yuri enfiando a mão no bolso e procurando dinheiro.

Apenas dei-lhe o direito de bebericar um golinho para matar a sua vontade, pois a minha vontade era o encher de porrada por sempre querer desobedecer.

- Tome Aldo – disse entregando a caneca imensa ao argentino – Presente do Yuri.

- Mas...

- Mas o cacete! Já disse que não vai tomar nada. Que fogo no cu de querer passar merda em mim. Saiu não faz um dia do hospital. Que custa ficar mais uns dias sem beber? Depois o idiota aqui fica acordado, preocupado, correndo pra cima e pra baixo para lhe medicar, dar banho, cuidar.

"Sabe quando você diz algo que deveria ser dito só entre duas pessoas, mas ao final, a praça toda já havia escutado?"

- Ok Cael! – respondeu o Yuri mais rápido que pode, pois havia entendido a minha gafe – vamos comprar um pastel, por favor?

- Não! não vou a lugar nenhum hoje. Haverá um dia que eu precisarei sair daqui, mas não será hoje.

- Cael...? – chamou o Yuri sem entender nada.

"Só preciso de mais 08 dias em Poti e, depois, Uruguay"

- Aldo e Juan? – chamei os dois argentinos que nos encaravam de cabeça baixa – cadê os facões de vocês?

Ambos largaram suas canecas num sorriso largo. Retiraram os facões das bainhas e davam gritos agudos e ardidos. Eu retirei os meus facões e comecei a bater uns nos outros, soltando faíscas

- O que vai fazer Cael? – perguntou o Yuri arqueando as sobrancelhas.

- Filho, hoje verás um dos shows dos meninos – disse a Nina puxando o Yuri pelo braço e o afastando da roda.

Retiramos os coletes, depois as camisas, ficando com o peito nu, apenas trajados de botinas e bombachas. Aquele ar gelado fez meu corpo inteiro arrepiar.

- Cael, venha aqui? – chamou o Yuri rindo.

"Lá vem!"

- Oi?

- Que é esse farol aceso ai? Esse peitinho bicudinho de frio? – perguntou ele apertando meu mamilo.

- Filha da puta! To com facão na mão! – disse o empurrando.

"E apertar o biquinho do meu mamilo é a mesma coisa que pedir pra ligar meu tesão!"

- Vem cá de novo – chamou ele quando eu tinha me virado para reencontrar os meninos.

- Fala Yuri, você é foda1

- Você fica uma delicia só de bombacha. Esse tronco forte e abdômen todo peludo, com umas costas com uma pele lisa e lustradinha. Sem falar nessa lordose aqui, deixando essa bunda empinada sua. É só abaixar a calça e páh!

- Você está me deixando de pau duro, cuzão! Eu vou dançar agora.

- Deixa eu ver! – pediu ele esticando o braço e vindo em sentido ao meu pinto – isso é que você não viu o meu como está.

Apenas afastei num pulo, naquele reflexo quando alguém chega perto das suas bolas.

Os três dançavam num ritmo de trote, dando gritos ardidos dos argentino tipo "ihul" e batendo os facões.

- Quiero que todo vocês batam palma dessa forma; páh-páh-----páh; páh-páh-----páh; páh-páh-----páh; páh-páh-----páh. Entendistes?

- BUENOOOOOOOO – disse o Juan rindo e soltando mais um dos "ihul" deles.

E no ritmo das palmas das pessoas que iam formando uma roda que nós começamos a dar trotes e depois uns a bater o facão no outro. O mais legal que a cada minuto ia brotando gente da aonde não se sabe, logo a roda estava tão grande que as pessoas se aglomeravam na escadaria da igreja. Após quase meia hora de apresentação, nós três nos ajoelhamos e agradecemos as pessoas por ter visto nosso pequeno show.

- Eu quero – disse o Yuri retirando o seu facão da bainha e vindo até mim – meu marido sabe dos truques e não me ensina – disse bem baixinho.

Ele começou abater o facão novinho dele no meu.

- Não dá regaço no seu facão Yuri. Bate com as costas dele - e outra, não acho uma boa ideia você ficar brincando comigo. Juro que quando chegar na sede lhe ensino. Imagina o pessoal começar a querer a "brincar"? cheio de caras bêbados.

- Tá certo chefe!

- Ah, em falar em chefe, você está de castigo e não pode fazer forças.

- Para, já estou medicado!

- Se você não me obedecer, não vamos trepar no mato e nem lugar nenhum, ok?!

Ele ficou me fitando como se a CPU dele tivesse travado e tentando processar a informação. Mas acabou concordando em parar de se mexer.

- Vamos dar uma volta? – pedi a ele que ria com os meninos.

- Por quê?

- As pessoas estão meio que cochichando sobre nós!

- E pra eu serve esse facão? Manda todos tomar no cu.

- Yuri, já estamos de saída de Poti. Não precisamos arrumar encrenca bem agora.

Saímos sob os olhares de várias pessoas da montanha. Se antes eram apenas rumores, agora eles já se concretizavam. Por isso eu digo que Poti tenha ficado, de certa forma, tão pequena que chegava a sufocar. Por onde passávamos, as pessoas dos carros brincavam com a gente, nos abraçavam, nos ofereciam bebidas e refrigerantes. Eu era o cara dos facões e o Yuri o Encantador de touros. O Yuri se comportavam como as baladas de Sampa, só que na rua. Ele, como sempre, dado como um cachorro. Faltava apenas dar a barriga para coçar.

Ao final, decidimos entrar na arena, toda apagada, por uma porta lateral e subimos até o ultimo degrau, aonde podíamos ver a cidade. Procuramos a parte mais escura dela para ficarmos lá, admirando todo o agito. Coloquei ele entre minhas pernas e ficamos abraçadinhos como um casal normal, vendo um filme no cinema, mas no nosso caso, o movimento da cidade. Era cômico eu querer ficar atrás de um cara como o Yuri. Além de ser maior de altura, era maior de largura. Mas, no final, tudo se encaixava.

- Sei que não paro de repetir isso, mas tens noção que tudo isso é nosso? Uma sementinha que plantamos há meses e está germinando apenas agora?

- Já não sinto mais aquele frio na barriga de não aparecer ninguém, mas sim de encher demais e não haver espaço para as pessoas aqui dentro.

- Isso é o de menos! Podemos por um telão lá fora amor, que o pessoal vai continuar a encher o cu de cerveja do mesmo jeito. Eles querem apenas a zona das festas, acredita em mim. Em Barretos, muitas pessoas vão apenas para ficar na avenida zoneando.

- Sabe quem vai gostar dessa zona aqui? O Prefeito...

Mas algo acertou a minha cabeça, fazendo pular de susto.

- O que foi? – perguntou ele se virando para mim.

- Alguma coisa me acertou.

A resposta veio segundos depois com dois assovios. Como a arena era a ultima construção da cidade, nós sentamos na parte de trás, bem no escuro, para podermos ver bem a cidade. Mal nos importamos de ficar de costas para o pasto escuro, aonde, naquele instante haviam 04 rapazes mijando.

- Vocês dois? – chamou um dos rapazes bêbados – quer dar um tiro?

Aos poucos, tiramos nossos olhos da luz para podermos enxergar melhor quem eram. Não deveriam ser de Poti, pelos trajes de frio.

- Meu Deus, eles nos viram! Meu Deus Yuri, eles viram a gente.

- Se quiser dar um tiro, desce ai com a gente – insistiu outro rapaz, balançando o pinto – trouxemos pó de Sampa. Deixa vocês estralados.

- Já vamos! – respondeu o Yuri.

- O quê? Tá louco, eles viram a gente e vão abrir a boca pra todo mundo.

- Se não quer agora, é só ir no chalé 17. A gente vai vender – continou o rapaz.

- Nem pense nisso Yuri. Nós vamos embora agora.

- Eu só queria ver quem são! Quero denunciar e não usar.

- Não vai me dar esse desgosto em Yuri Martel.

- Vem chupar rapidão – continuou a chamar uma das vozes.

- O quê? – perguntou o Yuri.

- Isso aí! Vocês não são boiolas, vem chupar rapidão que deixo vocês dar um tiro.

O Yuri se levantou e me puxou para baixo.

- Aonde voce vai Yuri?

- Chupar eles, ué?

- Cala a sua boca Yuri! Não tá falando sério.

- Obvio que não. Apenas vem comigo. Não sou o que eles acham que sou.

- Só que eles vão saber quem somos. Somos os donos da festa, esqueceu? – perguntei fazendo forças para acompanhar o ritmo do Yuri pelos degraus.

Rodeamos a arena e saímos no pasto frio. Ao chegar lá, os quatro rapazes já se masturbavam.

- Yuri - chamei ele, mas me ignorou.

- E ai rapazes? Noite fria, não acham – perguntou ele soltando uma risada.

- Nunca vi uma cidade mais fria.

- O que vocês querem? – perguntou ele chegando mais perto dos 04.

- Duas bocas quentes nesse frio.

- Só? – perguntou o Yuri.

- Se quiser dar a gente topa – respondeu o rapaz.

- Olha só Beto o tamanho desse cara – disse outro rapazes apontando para o Yuri – Você deve pesar mais que um boi. Precisa ter uma pica gigante para comer esse cu.

- Nada! Só saber fazer! – disse o yuri soltando uma risada fraca.

- Nunca vi um cara, boiola, desse tamanho.

- Nem eu! – respondeu o amigo ao lado.

- E aquele baixinho lá, ele também curte?

Eu apenas senti meu peito arder em ver aquele monte de cara querendo comer meu homem, como um bando de esfomeado.

- O baixinho é mais tímido! – respondeu o Yuri por mim.

- então manda ele mamar ou vem você mesmo – chamou o cara batendo o pau duro na mão, fazendo um som de coisa pesada.

- Pode deixar que eu vou – disse o Yuri indo até o rapaz.

- Yuri? Tá louco?

- Vem cá chupar baixinho – chamou uma voz bem ao meu lado.

O Yuri foi andando até o cara que batia o pau na mão, parou na sua frente e segurou o pinto e as bolas do moleque.

- Isso!

- Tá vendo Cael, não é bem diferente do que nós fazemos la na montanha quando vamos castrar um bezerro.

- O quê? – disse o rapaz espantado, tentando se afastar, mas o Yuri o segurava – literalmente – pelo saco.

- NÃO FAÇA ISSO – berrou o moleque.

Mas antes que dissestes outra palavra, o Yuri esmagou os ovos dele. Apenas deu tempo de ouvir o gemido do rapaz que implorava para o Yuri soltar.

- Cael, pegue o os outros 03 – pediu o Yuri ainda esmagando as bolas do rapaz.

A cena de dor era tamanha que eu me imaginava ali. Era tão real que não trancava minhas pernas tentando proteger minhas bolinhas. Os outros 03 rapazes foram tentar ajudar o amigo, mas antes que isso acontecesse, eu acertei um murro bem dado na cara de um deles, o derrubando sem ao menos respirar.

- Agora, ao dois que sobraram, fiquem exatamente aonde estão – eu disse apontando o meu facão na cara deles.

O rapaz que o Yuri esmagava as bolas, estava deitando no chão e, segundos depois, começou a vomitar descompassadamente. O Yuri deixou de lado e se voltou aos dois rapazes que estavam em pânico.

- Quando vocês forem dar uma de babaca, chamando nós de boiola e achando que somos qualquer um. Verifique muito bem se vocês, fisicamente, são mais fortes que os boiolas aqui. Se está achando que aqui é que nem Sampa, já vou logo avisando "Eles matam veados aqui!".

- A gente não sabia, perdoe-nos – disse a voz ao meu lado.

Mas antes que o Yuri respondesse, eu esmurrei outro deles, sobrando apenas mais um. Ele ficara tão desesperado que começara a chorar.

- E ai amigão, era você que queria uma boca quente?

- Eu não sabia de nada, por favor? Eu juro que não sabia das coisas da cidade – disse o rapaz começando a soluçar.

- Então, pega essa boca quente aqui – disse o Yuri mandando um soco com toda sua força.

E lá estavam, 04 bocas quentes para nossa noite. Deitados no chão, nocauteados. Saímos da arena antes que aparecesse mais um mijão, solitário e precisando de um boquete. O Yuri ria que se matava.

- Cael Martel você nocauteou o primeiro rapaz, que eu só consegui ouvir o impacto. E juro, juro pra você que depois do que vi, senti um pouco de medo de você.

- Medo de mim? Você esmagou o ovo dos do cara ao ponto dele vomitar. Juro, essa cena não sai da minha cabeça. Só de ver aquilo o meu saco começou a doer.

- Tá fácil que vão me chamar de boiola assim e ficar de boa. Mas nem fodendo que eu deixo.

- Eu nunca vou de chamar de boiola, acredite!

- É bom mesmo, ou se não, não terás um Caelzinho.

Fomos embora depois do ocorrido, para que os mesmos não voltassem a praça e nos reconhecesse ou fizesse alguma graça. Mesmo eu tendo 140 famílias para me proteger de uma briga, poderíamos facilmente ser pegos numa emboscada, como eles foram agora pouco. A primeira novidade no final daquela noite, fora a Nina e o Tomé parados a porteira da sede, com duas figuras cômicas, daquelas que virariam facilmente uma piada na montanha, Yago e a Yara.

- Que surpresa boa – gritou o Yuri saltando da nossa pick up e abraçando os irmãos.

- Saia – disse a Yara o empurrando.

Eu sabia que ela estava ali parada, apenas por obrigação, já que o Yuri não aceitara voltar a São Paulo.

- Ignorante como um javali – disse o Yago abraçando o irmão com força.

- Cael, eles disseram que vão morar conosco – cochichou a Nina chegando ao meu lado – você sabe o que eles vão fazer?

- O Yago até que sim, é um bom menino, mas a Yara, ela será um problema sério. Ela, além de grávida, está querendo matar o irmão por colocar ela aqui.

- Mas o que há de errado com nós? - perguntou o Tomé que ouvia a nossa conversa.

- Somos primitivos. Não temos Tv, internet, baladas, clubes.

- Mas se o problema for TV, é só instalar uma pra ela.

- Se fosse só TV meu caro, seria simples!

Depois de matarem saudades do irmão eles vieram nos cumprimentar. Yago simpático como sempre, mas a irmã, apenas contentou com um aceno de cabeça. Yuri me olhava com uma cara de preocupado, pois sabia da minha posição. O lugar para qual nós estávamos indo não daria para nós 04. Até poderiam ficar na casa do meu pai se ele autorizasse, mas ir ao Uruguay? Ela grávida descendo um rio de barco?

- Cael, já quero uma dessas – disse o Yago apontando as minhas vestes. Ele sorria de fora a fora – Quero um preto igual o seu meu cunhado.

- Shiiiiii – disse colocando a mão na boca dele – ninguém pode saber aqui. Sobre suas vestes, poderemos providenciar amanhã pela manhã.

- Ninguém pode saber o que? Que vocês dois são casal?

- Cala a boca Yara e para de ser inconveniente? – disse o Yago ficando carrancudo.

- Yara, aqui não é que nem Sampa...

- Encantador saber disso – disse ela interrompendo o Yuri.

- como ia dizendo. Aqui eles não gostam de gays!

- Se vocês dois realmente querem se esconder de alguém, deveria ter tirado essas alianças nos dedinhos de vocês – disse ela virando as costas, indo até o alpendre aonde tinha cadeiras de corda.

- Puts, como a gente é burro! – disse batendo a palma na mão na testa - a gente é muito burro.

Minhas bochechas e minhas orelhas ficaram quentes na hora.

- Agora já foi. Agora é só esperar até o final do rodeio, não é?

- Mas a gente é muito burro.

O Yago apena nos observada apoiado a cerca.

- E o que faremos com a Yara?

- não vamos contrariar ela – disse o Yago.

- Entendo Yago, mas aqui não é bem uma colônia de férias que, mesmo detestando, você pode ficar emburradinho num canto. Aqui todos trabalham para comer.

- Mas ela está grávida!

- Então! Ela está grávida e não doente. Tens saúde ainda.

Deixei os dois irmãos discutirem sobre o feliz período que viria.

- É frio assim, sempre? – perguntou o Yago indo até a sua mala e pegando outro abrigo- tipo, o ano todo?

- O dia mais quente não passa dos 20° C. Mas acredite em nós, logo, logo, nem ligará mais para o frio.

- Se o problema dela for televisão, a antiga casa do Alan tem. Quer dizer, é a melhor casa para eles morarem se quiser ficar mais confortáveis. Único problema é que lá a movimentação começa muito cedo – disse o Yuri para mim.

Eu sabia que ele estava procurando uma maneira de encaixar seus irmãos a montanha, sem que eu me sinta desconfortável com isso.

- Essa ex casa do Alan fica muito longe? – perguntou o Yago.

- Consegue ver aquela casinha lá no pé da montanha? é la!

- Puts, longe pra caralho! – disse ele fazendo uma carinha de dó.

- Longe nada Yago, você está olhando em linha reta. Mas se vier pelas estradas, chega a triplicar a distancia.

- E... como fazem para andar tudo isso?

- Três formas: a pé, ou, montado num touro, ou de camionete – respondi arrancando uma careta dele.

- Touro? – perguntou ele olhando para o nada, tentando formular uma imagem na sua cabeça do que seria isso – como um touro?

- Seu irmão sabe melhor do que qualquer um. Teremos um estouro de boiada no rodeio, quem sabe...

- Quem sabe, bosta! Quer matar meu irmão em 03 dias de montanha? Pode deixar que eu te ensino a montar. O Cael é brother do capeta, ama ver a morte.]

- Estouro da boiada? Que isso?

- Você não me viu no Zebu, jumento? – perguntou o Yuri arrancando gargalhadas do irmãos, mas deixando o Tomé e a Nina espantados – Não liga não Nina, isso é amor! Mas não me viu montar numa arena há meses atrás. Não me viu no rodeio.

- Cara, vi você no meio de um monte de bois e caído no chão.

Todos fizeram careta quando ele disse "boi", mas era tudo muito novo. Lembrava até quando o Yuri chegou até nós.

- Que planeta que vocês de Sampa vivem que não sabem nada sobre animais?

- Talvez os um cão e um gato, mas nada de vida fora dali.

- Então o povo vai se divertir muito com você Yago. Falo de experiência própria – disse o Yuri dando uma piscada para mim.

Depois de mais um bom papo, de alimentar os dois, arrumamos o quarto do Yuri para a irmã dormir confortável e um lugar no sofá para o Yago. No dia seguinte arrumaríamos a casa do celeiro. Assim ficariam mais confortáveis.

- Tomé lhe deixou isso! – disse o Yuri entregando um bilhete lacrado – atrás estava escrito "Cora". Mais eu depressa abri o bilhete a minha "afilhada".

"Querido Príncipe da Montanha de Poti.

Conforme nos deixara a vontade em vir-lhes visitar,

É com muito grado que digo que a nova princesa irá

A montanha no dia de amanhã.

Espere nos às 08 horas da manhã, na porteira.

Futura princesa ,

Cora"

A caligrafia da carta era perfeita. Obvio que uma menina de 06 anos não escreveria dessa forma, mas contento e saber que gostaram do meu presente.

- O que é isso Cael? – perguntou o Yuri olhando a minha cara de bobo.

- Esse é um presente que ambos vão desfrutar.

Conforme dito, às 06 da manhã já estávamos acordando. Certifiquei que a Nina deixasse os convidados a vontade na sede, que fizesse um excelente café da minha. Um digno café colonial.

- Tudo isso para eles dois? – perguntou ela olhando para o Yago que dormia calmamente no sofá.

- Preciso de um mega café agora. E, na hora do almoço, quero um banquete debaixo da árvore das festas, com uma mesa bem comprida, cheia de pessoas. Teremos uma visita muito especial hoje. Por favor, um pedido mais especial de todos. Não esqueça que todos, eu disse todos, então avise o Juan, Aldo, Tomé para avisar todos os morados

- Yuri, pegue um chapéu de criança com o pessoal da colônia. E, se tiver um colete de menina, por favor, leve para mim lá na porteira.

Expliquei a ela toda a história da Cora, para que ela pudesse entender o "real" pedido. Ela mesma não conteve a emoção de receber a garotinha. Vesti minhas vestes negras e desci com meu touro, já o Yuri fora de camionete. Primeiro porque ele estava com medo de touros. Segundo, porque, caso a Cora não gostasse de animais, teria a camionete de prontidão. Pontualmente, ás 08 horas da manhã, lá estava a linda e cabeluda Cora. Ela usava abrigo rosa, com a minha cabeleira lisa, bem tratada, num belo rabo-de-cavalo.

- Bem vinda minha futura Princesa Cora – disse ao chegar bem perto com o touro.

Ela apenas batia palmas e suspirava de felicidade. Eu desci do meu touro e segurei sua pequena mãozinha gelada, depois eu agachei e dei um beijo. Assim, como nos filmes.

- Tudo bem Cael? – perguntou ela numa voz calminha e bem pausada de criança.

- Tudo bem minha Princesa! – depois cumprimentei a mãe dela que via tudo de longe, com um largo sorriso.

- Obrigada Cael por ser prestativo assim e desculpe aparecer o nada. Mas há uma emergência para a nossa Princesa.

A Cora apenas confirmara com a cabeça, sem entender sobre o que se tratava. Mas uma dor forte no meu peito, me fizeram compreender exatamente o motivo da sua vinda. A Cora não tem muito tempo de vida. Logo eles a medicariam ao ponto dela ficar sedada.

- E quem é essa Princesa? – perguntou o Yuri ao descer da camionete.

- Yuri, está aqui é futura princesa Cora. Cora, esse é nosso bobo da corte. ]

Ele me encarou sem entender porra nenhuma, mas abriu um sorriso quando a garotinha começou a rir e bater palminhas.

- Prazer Princesa, Bobo da corte – cumprimentou o Yuri no mesmo gesto de se ajoelhar Eu conheço essas tranças

- Então, vamos começar o nosso passeio. Primeiro, vamos até o topo da montanha para saber se é lá que vai querer morar. Bobo, cadê o chapeú?

Ele mais que depressa fora até a camionete e buscou um pequeno chapéu, preto. E um colete florido. Vesti a Cora que não se contentava de felicidade.

- Mãe da Princesa, a senhora poderia acompanhar o Bobo até o pé da montanha?

- Claro que sim! Vamos lá bobo – chamou a moça rindo do Bobo da corte de 100 kilos.

- E nós vamos como Cael?

- Uma princesa deve montar um touro, assim como o meu. Agora, estique um pouco e fale no ouvido do touro; "Vamos touro"

Num piscar de olhos, ela estendeu os bracinhos para que eu pudesse coloca-la em cima do animal. Primeiro eu subi e depois o Bobo me entregou a princesa. Ela olhou com uma carinha sapequinha, depois sorriu e disse exatamente o que fazer. Ela suspirava a cada coisa nova que ela via.

- Tá vendo aquelas 03 represas ali? – perguntei apontando para a garotinha.

- Sim! – respondeu elas soltando fumacinha da boca.

- Será toda sua! Assim como passeios de barcos, pescas tudo.

- Tudo meu?

- Tudo seu!

Continuamos a nossa subia e, a cada pessoa que passava, elas tiravam o chapéu e a cumprimentavam com um "Seja bem vinda Princesa Cora". Ela mal acreditava que tudo aquilo estava acontecendo, estava tão descreditada, que apenas ria olhando nos meus olhos quando um dos colonos fazia a reverencia.

- Todos eles são meus? – perguntou ela com uma feição séria.

Eu não contive o riso e gargalhei gostoso.

- Todos eles serão seus – respondi ainda rindo.

Depois fomos até os pomares que ficavam na lateral leste. Lateral bem iluminada pelo sol. Lá, as moças da horta, vinham com frutas e flores para a pequena Cora que logo precisou de uma bola para colocar tanto presente.

- Quero trabalha com elas – disse a pequena.

- Serás Princesa. Uma princesa deve morar na sede.

- Mas quero trabalhar com elas.

No mínimo pelo fato de haver muitas mulheres, todas com vestido es coletes floridos. Na horta também havia a maior concentração de crianças.

- Claro minha princesa, poderás trabalhar em qualquer área daqui.

Seguindo o Tour, paramos no curral. Aonde os rapazes pararam o que estavam fazendo e a foram cumprimentar. Depois o Aldo nos trouxe uma caneca de leite, recém tirado, e nos entregou. Virei a minha fazendo aquele bigodão branco e ela repetiu o gesto, mas ficando com bigodinho marrom de chocolate. Depois, subimos até a sede aonde encontramos com o resto do pessoal. Eu, a Cora e o Bobo, fomos até a porteira aonde colocamos ela em pé para mostrar todo o vale.

- Consegue ver princesa? Tudo isso será seu!

Ela apenas levou as mãozinhas a boca e ria gostoso.

- Consegue ver Poti lá lonjão? – perguntei apontando a pequena cidade – Consegue ver as represas? Consegue ver o gado, todo colorido?

- Sim!

- Então vamos tomar nosso café. Bobo, faça as honras?

Ele apenas riu e colocou a pequena criança no sentada no seu pescoço.

- Gostou do Bobo, Cora?

- Sim! Ele é muito bonito!

Ele me olhou rindo e depois disse "Tomou no seu cu" apenas com a boca, sem som.

- Bonito? Tem certeza? – perguntei tão pausadamente quanto ela.

- Sim! Mas você é muito mais bonito de lindo de todos - disse ela sorrindo.

O Yuri riu gostoso. Depois ele fez um gesto de "fazer o quê?".

- Sabe Cora, o Bobo também acha ele "mais bonito de lindo de todos".

- Mas eu acho mais! – ela respondeu mais que depressa.

- Ah, sem sombra de dúvidas minha princesa. Sendo apenas você, sem problema algum!

Nos encontramos com os irmãos Martel, Tomé, Nina e a mãe da garotinha aonde tomamos um imenso café da manhã. Pra minha surpresa, o instinto materno na Yara fez com que ela fosse simpática. Nos acompanhou o dia pelo tour da montanha. O mais engraçado, fora como ela amava andar nas costas do Yuri.

- Fica feliz que eu libero morfina a noite – disse quando ele se mostrou um pouquinho cansado.

Depois, no almoço, uma mesa para 50 pessoas fora montada debaixo da árvore da festa. Convidamos aqueles que estavam de folga naquele horário para juntar com a nossa comitiva. Fora na hora do almoço que fizemos a coroação da pequena. A Yara, junto com as colocas, fizeram uma coroa de flores.

- Queria Cora, aceita ser Princesa da Montanha? – perguntei com a coroa a mão.

- Eu aceito! – disse ela mais que depressa, se curvando para colocar a coroa.

Todos riam da sua atitude meiga. A mãe da garotinha, estava em prantos do outro. Aquilo era de partir meu coração, mas eu não poderia mostrar fraqueza. Não naquele dia. Depois de nos enfartarmos de tanta comida, voltamos ao passeio pela montanha. para a felicidade do Yuri, ela aceitara andar de mãos dada com nós dois. Ao pôr-do-sol, nos despedimos dela, que chorava de vontade de ficar. A Yara e a Nina ficaram no alpendre chorando, enquanto nós dois fomos levar a menininha para mãe.

- Não chore Princesa! Agora és uma Princesa e deves ficar feliz disso! – disse limpando seu rostinho.

- Mas eu quero ficar, por favor deixe eu ficar.

- Tudo bem, mas chegou a hora de dormir, não acha?

Ela apenas concordou com a cabeça. Ajeitamos a minha cama aonde a coloquei sua cabecinha no meu peito. Ficamos eu e ela no quarto, iluminado apenas pelas luzes que vinham da sala.

- Sabe Cora, aqui já morou um Príncipe – disse fazendo ela olhar para mim – Um Príncipe lindo...

- Ele tinha cabelão que nem o seu?

- Lógico! Ele tinha o cabelão mais lindo do mundo.

- Como ele chamava? – perguntou ela brincando com os dedinhos.

- Príncipe Cauê, o Bravo! Tinha a mais bela cabeleira e comandava a montanha. ele amava os animais e ficava o dia todo cuidando deles. Ele vivia cercado de coisas boas e de pessoas maravilhosas. Um dia, o Papai do Céu vendo ele trabalhar loucamente, chamou para ele cuidar pessoalmente do seu rebanho.

Ela soltou um suspiro de dó.

- Mas ele mora aqui na montanha, não pode ir com o Papai do Céu.

- Mas o Papai do Céu precisa de príncipes e princesas lindas, assim como você. Lá tem um pasto verdinho, com um lago imenso, com areia branquinha que nem talco. E ele precisou ser muito corajoso e ir.

- Ele foi?

- Sim! Como um bravo cavaleiro oi cuidar do pasto do Papai do Céu. Lá sempre o sol brilha, as frutas são mais cheirosas, o leite é mais cremoso. Dá pra fazer um bigodão desse tamanhão assim – disse abrindo os braços.

- E o Bobo? Lá tem um Bobo também!

- Claro! Que príncipe e princesa vive sem seu Bobo.

Ela riu.

- Então não é tão ruim assim?

- Não, não é mesmo! Às vezes eu sonho em ser chamado, apenas pra reencontrá-lo.

- Você não pode ir lá?

- Apenas nos meus sonhos.

De alguma forma, sei lá. Alguma coisa em meu peito dizia que ela sabia exatamente do que se tratava. Ficamos deitados, jogando conversa fora té ela dormir. Depois, colocamos mãe e filha dentro da camionete e as deixamos no pé da montanha, aonde a mãe dela seguiu caminho sozinha. Chegamos à sede e ficamos parados, olhando para a imensidão escura, com a pequena Poti acesa ao fundo. Dava para ouvir a farra dos carros de som. O ar gelado da noite, cortava a pele do meu rosto.

- Sabe, eu nunca o imaginaria assim! Todo paizão, todo amoroso.

- Nem eu amor- disse ao Yuri.

- Foi um lindo que você fez. Nunca na minha vida eu vou esquecer disso. Pequenos gestos causaram tamanha felicidade na Cora. Pequenos gestos que nós mesmos não damos valores. Obrigado pelo o que você fez!

- Nada disso teria sentido sem você Yuri Martel.

- Desculpe atrapalhar os pombinhos – disse a Yara entrando no meio de nós dois – Cael, gostaria de me desculpa com você. Hoje você mostrou um outro homem. Não tenho sido uma boa cunhada, sabe? – continuou ela olhando para os lado – você foi "o cara".

- Que isso? Reunião dos Martel sem a minha presença? Também quero abraçar meu cunhado, príncipe da montanha. Foi um belo gesto de amo – disse o Yago – Yuri ficou lindo de bobo.

- Obrigado irmãos. Muito obrigado.

- Ah, olhe aqui – chamou a Yara nos mostrando o celular – olha que linda foto.

Era uma foto, minha e do Yuri, de costas, um de cada lado dando as mãos para Cora.

- Olha só se não ficou parecendo uma família? Meu irmão, todo brucutu, dando as mãos para uma princesinha, junto com o marido dele.

E realmente era linda foto. Digna de por em porta retratos.

- Sabe, vendo vocês assim, não tenho mais medo do meu filho – disse ela abraçando a gente - Não sabia que o Yuri era uma tia babona. O Yago é o tio tonto que vai servir taxi e banco.

- Mas e ai, já sabe o sexo do bebê? – perguntei ao vê-la sorrir.

- Não! ainda não!

- E já pensou nos possíveis nomes?

Ela fitou a cidade ao fundo, suspirou bem e respondeu com uma voz serena.

- João Gabriel, se for homem. Acho um nome bonito, bíblico.

- E se for mulher? – perguntou o Yuri passando a mão na barriga dela.

- Maia! Se for mulher é Maia.

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