CAPÍTULO 57 - YURI MARTEL
Yuri Martel
NARRADO POR YURI MARTEL
- Eu não acredito nessas coisas Cael!
- Mas você deve, assim como todos acreditam em você! Olhe para os lados e vejo o que você foi capaz de fazer.
- Eu não sou um homem religioso e nunca fui. As únicas vezes que frequentei a igreja, fora quando você me obrigou.
- isso não faz parte de religião. Isso faz parte da natureza e tudo que envolve aqui.
- E, daqui a pouco, virás me dizer que há uma profecia ou algo semelhante.
- Por favor, apenas te contando o que acontece na montanha. eu nasci, cresci e vivo nela. Você não, chegou agora então, essas histórias de amas de leite não vão lhe convencer nada.
- Não é Cael! Entendo bem que os antigos, como não tinham informações a respeito, criavam mitologias sobre a época. Poti parou no tempo e, com ela, ficou essas histórias.
- Você não acredita em você mesmo!
- Cael, eu apenas estico o braço e o touro faz o resto. O fato de amar esses animais não me faz místico, mas sim, um encantador.
- Acredite quando eu digo que a montanha é um ser vivo!
Apenas fitei-o sério e depois abri um sorriso de fora-a-fora. Vamos dar uma volta em Poti para ver como as pessoas estão se comportando pela cidade.
- Você acha que vou deixa-lo caminhar pela cidade, agora que chegou. Olhe bem para suas pernas. Nem as consegue deixa-las esticadas direito.
- Você vai negar um pai de ver seus próprios filhos?
- Quando o pai foi brutalmente violentado por um touro? Sem sombras de dúvidas! Crie um pouco de vergonha nessa cara e use o dia de hoje para descansar.
- Eu não entendo qual a diferença entre eu e você? Por que quando se machuca, você ignora todos os recados médicos e sai desfilando como se nada tivesse acontecido. Apenas vai lá. Enche o cu de morfina e segue a vida.
- Na verdade, há um custo alto em usar morfina. É que na maioria das vezes, depois que se usa morfina, muitas pessoas tornam-se dependentes dela. Digo, outras drogas, básicas, não farão mais efeito. Ai qualquer dorzinha de garganta você vai lá e toma morfina.
- Não me convenceu Cael! Até porque você não é o bom exemplo de fazer coisas da maneira do que elas são. Mas... você é o homem da casa até eu me curar!
- Bestão! - disse arrancando um beijo gostoso dele - Até eu me curar? Que eu saiba eu sou homem da casa há muito tempo.
- Cala a boca Cael. Você não aguenta um sopro meu!
Mas sei que ele não aguenta me ver curioso. Eu sei que ele ama fazer minhas vontades. Então meia hora mais tarde estávamos ao pé da montanha. Paramos apenas para conversar com o Tião. Lá, ele e mais três rapazes o ajudavam amontar um dos seus famosos barcos motorizados. Com dificuldade consegui chegar à margem.
- Levou uma baita chifrada, heim Yuri? - disse o Tião num sorriso satisfatório.
- Pai? - chamou a Anna com uma voz bem irritada.
Ela se vestia como um homem e estava trabalhando dentro de um dos barcos.
- Mas filha, ele ainda é o "Homem que domou Fera". Mas que fora engraçado ve-lo cair daquela altura, isso fora!
- Vocês poderiam parar de piadinhas idiotas. Yuri representa nós, os moradores da montanha nesse rodeio. Ele rodou o país para ser o melhor e é assim que vocês retribuem?
- Que bosta de desculpa é essa Cael? Ninguém aqui teve o direito de ir com vocês nessa disputa! Vocês simplesmente saíram da montanha e foram montando touros pelo Brasil. Mas alguém aqui, sendo dono ou não, perguntou a esses moradores que estão aqui há muito mais anos que ele, se tinham interesse de competir?
- Tião, lembro bem que não trabalho aqui, mas ainda sou o Cael!
- E qual é seu problema "Rei da Montanha", suas bolas caíram e você perdeu a "realeza" para o estrangeiro aqui?
- O Rodeio ainda não acabou. Poderá competir nessa semana junto com qualquer outro participante.
- Tião, eu vou te lembrar pela última vez. Ainda sou o Cael e você deveria abaixar o tom a falar comigo.
- Você acha que somos bestas e que não sabemos o que anda acontecendo dentro da casa de madeira?
- Pai, está passando de todos os limites - disse a Anna puxando o pai dela de perto do Cael.
- Sim, todos já sabem que o Rei da Montanha tá dando o rabo para o Encantador de Touros.
- JÁ CHEGA! - berrou o Cael empurrando o Tião para dentro da represa e começando a soca-lo.
Óbvio que o Tião não tinha forças contra o Cael. Tanto que 03 socos na cara fora o suficiente para quietar o Mestre. Um dos meninos que ali trabalhavam, ajudou o Tião a entrar na sua camionete, que saiu derrapando e espirrando brita em nós.
- Desculpe o meu pai! Ele nunca aceitou o fato do Yuri virar gerente daqui, mesmo eu explicando que fora o Senhor Caio que o colocou.
- Anna, independente se é verdade sobre o que seu pai disse, devemos cortar esse boato o mais rápido possível.
- Cael, quero apenas que tudo voltasse a ser o que era. Você vestido de negro, nós podendo trabalhar nas plantações e os demais com o gado.
- Entenda Anna, não há volta para o que começamos. Esse está sendo o início do nosso fim aqui como donos da montanha.
- Tens certeza que não há nada que nenhum de nós possamos fazer para faze-los ficar? - perguntou ela começando a encher os olhos d'água - Você é como se fosse um pai pra nós daqui.
- E pode ter certeza que vocês todos são como filhos meus. Pode ter certeza que nos vos esquecerei. De um tempo para cá, a montanha ficou tão pequena ao ponto de nos sufocar. O que era alegria, deu lugar ao ódio e disputa das pessoas para ser o dono daqui. Seu pai mesmo é um deles. E tem mais: eles matam pessoas como nós dois aqui na montanha - disse meu noivo arrancando um sorriso gostoso da Anna.
Era a primeira vez na história da montanha que o Cael admitia algo de tamanho importância. Ela nos abraçou e nos desejou tudo de bom na nossa nova jornada.
- E pensar que já fui apaixonada pelo Yuri Martel - disse ela dando um beijo bem quente no meu rosto - sabe, vocês dois farão muita falta aqui.
- Pode ter certeza que vamos sentir a alta daqui também! - disse o Cael pegando um flor que havia na beirada da represa e a entregando.
- Por acaso seu pai estava falando a verdade sobre todos saberem de nós?
- Cael, você ainda é o Rei da Montanha. Independente do que você gostar, ainda és respeitado.
- Seu pai era um dos mais velhos aqui dentro da montanha. Se ele, sendo um dos mais velhos acabou nessa ira, imagina os mais novos. Ninguém mais quer saber que eu fui. A partir de hoje, todos querem saber quem será o novo Rei. Para isso, eu preciso desaparecer, entende?
- Bom, então há nada mas que uma jovem e bela prenda possa fazer para ficar. Então em que posso ajudá-los na viagem?
- Aquilo que eu havia encomendado - respondeu o Cael dando um sorrisinho.
Ela nos chamou para uma outra extremidade da represa, aonde localizava um lancha pequena, daquelas que deveriam ser usadas em lugares não muito grandes. Também não era muito nova,.
- Ela cabe 04 pessoas sossegados.
- Na verdade, precisará caber apenas 02 - disse ele me dando uma piscada.
- Ela não tem autonomia para a distancia que você vai precisar, mas, como dissestes que será 100% do percurso em descida, poderá flutuar para economizar combustível.
- Cael, o que está pensando em fazer?
- Ficou tanto tempo em silêncio que mal me dei conta que estava aqui Yuri. Chegaremos ao rodeio de lancha. O rio que corta a cidade cai direto na arena. Eu e você, dois campeões, não deveriam chegar lá de camionete.
- Mas o que houve com os touros que todos montam aqui. Você não está fazendo isso porque eu me acidentei?
- Podemos falar disso mais tarde?
Apenas concordei com a cabeça, mesmo ficando muito puto com sua maneira de agir. Entendo que ele queira me proteger, mas agora estou me tornando, novamente, a piada. Ela passou mais de uma hora mostrando o novo brinquedinho do Cael. Depois foi a hora de nós darmos uma volta na represa que era iluminada por holofotes, mas que com toda certeza eu não ia querer cair ali no meio.
- Wowwwwww - disse quando o Cael acelerou e me fez pular no banco - eu ainda sou um enfermo.
Ambos riram da minha cara.
- Agora és um enfermo, muito bom saber?!
- Ainda tenho forças pra te jogar de dentro da lancha Cael. E outra, quando eu pilotar, você vai pedir arrego.
- Não brinca que você sabe andar numa dessas? - perguntou a Anna toda sorridente.
- Eu sou Yuri Martel, sei pilotar até um Boeing dona Anna.
Mais duas voltas em toda represa e paramos a lancha para descermos. Ela explicara várias modificações que tinha feito no motor.
- E aqui estão os dois motores que o senhor pediu - disse ela apontando para duas maquinas que ficavam bem escondidas.
- Perfeito Anna!
- Lembrando bem, esses dois motores servem apenas para fortes correntezas e cachoeiras. Eles só podem ser acionados em ultimo caso.
Eu cheguei mais perto e pude ver os dois motores que ela mostrava. Dentro havia um liquido verde escuro.
- Que combustível é esse?
- Esses dois motores servem para pequenas manobras. Preferencialmente para sairmos de uma zona turbulenta dentro do rio. Cada motor desses tem autonomia de 01 minuto. Mas confie em mim quando eu digo que o motor dessa lancha já é muito potente para nunca precisarem usar esses dois garotões, confie em mim. Essa lancha foi testada, rio acima, contra correnteza da barragem aberta.
- Era um veículo para emergências que nunca fora usado.
Mas minha curiosidade eram aqueles dois pequenos motores.
- Todo esse combustível apenas para 01 minuto?
- Como disse Yuri, esses motores são usados em caso de emergência. Esses dois serviriam apenas em caso de uma cachoeira.
- E o que é esse combustível?
- Cachaça do Cael. - respondeu ela as gargalhadas.
Depois, nos despedimos dela e entramos novamente na camionete rumo a Poti.
- Queria que falasse a verdade dessa lancha - pedi ao Cael que me respondera dando um beijo na boca.
- Te Amo, sabia?
- tá, tá, mas diga o que vai fazer com essa lancha?
- O dia que vier se declarar a mim, vou responder com tá, tá. Mas saiba que essa lancha será a nossa porta de saída da montanha.
- Por que pelo rio?
- Porque não quero que ninguém saiba para onde vamos! Nosso sítio no Uruguay é ladeira a baixo, deveremos chegar.
- Ok, tudo isso é muito romântico, mas por que pelo rio?
- Eu estava falando sério quando eu disse que matam veados por aqui. Você deveria começar a se preocupar mais com isso! Ainda mais agora que eu não sou mais nada na montanha.
- Anos e anos de dedicação a centenas de pessoas para você fugir delas? Que tipo de Rei tu és?
- Um rei esperto, daqueles que conhecem bem seu povo e sabe do que eles são capazes. Entenda meu amor, não há mais nada pra mim aqui, assim como não há mais nada pra você.
Ele parou a camionete e me abraçou com toda força. Depois fez carinhos no meu rosto e mais beijinhos. Seu semblante não era de felicidade e, sim, de preocupação. Depois ele ligou a camionete e saiu rumo a cidade.
- Voce está mentindo! - disse a ele que me ignorava - está mentindo para mim. Há algo que não quer me dizer. Na verdade eu até sei do que se trata...
- Mas não vamos discutir, não é? Poderia abrir o jogo com quem você ama. Sabes que estou ao seu lado.
- Então continue ao meu lado quando eu digo para confiar em mim.
,"�7�2�ێ
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top