CAPÍTULO 55 - YURI MARTEL - PARTE 02
Yuri Martel
NARRADO POR YURI MARTEL
Desculpe falar, mas estar em "coma induzido" era bem melhor do que ficar acordado. Se antes eu ia ter que doar um rim pro Cael graças aos cuidados dele, após essa noite, vendo realmente como era chato ter que acordar em hora em hora para sem medicado, eu decididamente estava pronto para doar qualquer parte do meu corpo. De todos os machucados que eu tinha no corpo, o da minha bunda era o pior deles. Pois eu precisaria virar de lado, ficar nu para os enfermeiros e sentir uma dor filha da puta – pois eu precisaria me apoiar bem no braço aonde entrara a primeira chifrada – na hora da assepsia. O lace dos medicamentos eram simples, pois os enfermeiros vinham até o meu quarto, ascendiam as luzes, explicava para o que servia cada um deles, aplicavam no soro e tchau. Porém, havia um deles que machucava muito. Profenid é uma hora de pura queimação dentro das minhas veias. Machucava tanto que eu chegava a contorcer, às vezes dava ânsia de vomito, às vezes eu chorava. O Cael apenas esperava os enfermeiros saírem do quarto para ele ficar ao meu lado, de mãos dadas, fazendo carinho para que eu pudesse esquecer a dor.
- Consegue sentir meu braço gelado? – perguntava colocando a mão dele em cima das veias que corriam a medicação – fica bem gelado. Além da dor.
- Vai passar logo, meu amor – dizia ele enchendo me braço de beijos – que eu posso fazer para te ajudar?
- Você já está fazendo até demais!
- É horrível você ver quem você ama passando dor e não poder fazer nada. Mas poderia ser bem pior.
- Por que diz isso?
Ele apenas apontou para o rapaz que dormiu profundamente na cama ao lado.
- O que tem ele?
- Ele tem um problema no estômago. Sofre dor constantemente. O buraco na barriga dele é para retirar as fezes. Ela disse que ele sofre muita cólica. Seu estomago não faz o serviço certo então, as fezes endurecem e não sai. Sai ou por aquele furo ou pela boca.
- Credo Cael, você ama conhecer gente que sofre!
- Pelo amor de Deus Yuri! Cada babaquice que você fala.
- Cael, você leva a vida muito sério. Olhe para mim. É a centésima vez que entro num hospital para consertar algo.
Ele ficou me encarando por um tempo e depois voltou a fazer carinho no meu braço. Eu sei que meu amor "abaixou a guarda" porque eu estava ali, moribundo e dolorido. Eu odeio ve-lo dessa forma. Eu tenho que entender que nem todos precisam aceitar o que o Yuri Martel diz, por mais que muitas das vezes eu tenha razão. Depois que acabou a medicação pude voltar a dormir, com o cafuné do Cael. Acordamos bem cedo com o café da manhã. De cardápio havia pão francês, um copo de leite com café, uma maça e chá. Mais uma vez eu comi o meu e do Cael e da esposa do Levi. O Dr. Entrou no quarto meia hora depois.
- Bom dia Yuri. Fiquei feliz em chegar no hospital hoje e ver que acordou – estendeu a mão um médico jovem.
Não deveria ser o médico que me trataria, mas sim, alguém da equipe.
- Bom dia Dr.! Já posso ir?
Ele apenas soltou uma gargalhada, tipo as gargalhadas do Cael.
- Você quase morreu rapaz! Não é do dia pra noite que vai sair daqui. Você teve vários ferimentos, mas graças a Deus, seus ferimentos foram superficiais. Pegou apenas a camada de gordura que fica entre a pele e a musculatura. Nossa equipe está comemorando a sua melhora.
"Nossa equipe? Sabia!"
- Mas se foi superficial, porque diz que corria risco de vida?
- Na verdade, você precisaria apenas de 01 centímetro para ter ido embora. Tanto debaixo do sovaco quanto na nádega, poderiam ter pegos artérias grossas, daquelas que você não chegaria vivo aqui, nem de jato. Poderia ter perfurado seu pulmão ou qualquer outro órgão. Poderia ter sido capado.
- Ótimo! Recebi um milagre, amo milagres e to pronto para ir.
- Yuri?
- Que isso gente? Hospital precisando desocupar vaga e vocês ai me segurando.
- Você só vai sair do hospital quando não tiver mais nenhum risco de infecção. São 300 kilômetros.
- O que há de errado com você? - perguntou o Cael roxo de vergonha.
- Não gosto de residentes! Todos metidos, chatos, nem sabem o que estão falando. Daqui a pouco entra outro dizendo uma coisa completamente diferente.
O Levi e as esposa foram até o banheiro, talvez com vergonha na minha conversa com o médico.
- Não tenho menor intenção de segurá-lo aqui. E, depois dessa, menos ainda. Mas até seu quadro de infecção não abaixar, você não vai sair.
- E isso em tempo; horas, dias, meses?
- Em menos de 07 dias você não volta para casa. Além do mais, se está tão bem assim, não há necessidade de acompanhante em tempo integral.
- Ele fica sim!
- Não precisamos dele aqui o dia todo. Isso é quando há um caso de pessoas que não consegue fazer suas necessidades fisiológicas sozinhos. Que, de acordo com você, não precisar mais.
- Doutor, eu vou conversar com ele. Ele está muito agitado e nervoso porque não dormiu direito.
- Não há o que conversar! É uma pena que depois de toda aquela guerra que fizestes pra conseguir tudo para ele, fora em vão. E mais uma coisa. A sua dieta diz que você está liberado para comer co0isas leves. O que significa que não pode comer a sua comida e dos demais aqui do quarto.
- Vai me tirar a companhia e a comida?
- Na verdade, estávamos fazendo uma "gentileza" para vocês. Pena você estar dormindo para não ver os esforços do seu marido e seus irmãos. Bom dia a vocês! – disse o jovem virando as costas e saindo do quarto.
O Cael apenas bateu palmas para mim e depois saiu do quarto também. Depois de meia horas ausente, eis que surgem meus irmãos. Primeiro a entrar fora o Yago. Trazia uma sacola de alguma coisa que deveria ser para comer.
- Meu irmão, você está péssimo! – disse ele me dando um beijo na testa – e pelo cheiro tomou banho. Cara, você estava fedendo! Que susto heim Yuri?
- Obrigado por vierem! Nem sei como agradecer.
- Nossa, se fosse agradecer a todas às vezes que viestes a um hospital, estaria fodido.
- Inclusive, pedíamos ao abrir um convenio de saúde para você frequentar mensalmente. Nunca vi alguém gostar tanto assim de um hospital quanto você!
- Obrigado pelos elogios. Amor incondicional, não é?
- Deveria ter visto o que sua irmã fez para te vermos. Que povo cuzão esse aqui. Muito mimimi para pouca coisa – continuava ela, sempre olhando para os lados para ver se ninguém estava ouvindo.
Eles esperaram até o casal que estava no quarto sair para passear antes de conversarmos.
- Mas juro, não é mentira. Esses drenos seus ficam vazando o dia todo e, o quarto, fica com cheiro de carne o dia todo.
- Credo!
- É exatamente isso que falamos para seu noivo. Credo! Deixe outras pessoas fazer por ele. Em falar nisso, ele está lá embaixo tomando café, sozinho. Tô indo lá chama-lo para a nós batermos um papo, ok?
Apenas confirmei com a cabeça, porque já sabia o tamanho da bronca que viria.
- Tá lindo Yago. Quem está conquistando seu coração para você estar todo "estiloso" assim?
- Ah, há uma garota!
- Eu sabia! – disse fazendo-o corar – quem é a sortuda?
- É lá de Sampa. Mas, o astro do dia é você! Você me deu um baita susto, sabia? Inclusive eu vi o quanto o Cael te ama.
- Eu tenho que...
- Agora quem fala aqui sou eu!
"Nossa, pro Yago vir manda eu me calar, é porque a coisa está beeeeeeeeem feia!"
- Eu e minha mania de detestar médicos Yago!
- Mas Yuri, você precisa deles. E se fosse apenas essa vez meu irmão, mas todo ano você está aqui, internado por algum acidente. Então pare de ficar correndo riso de morte.
- Imagina! Ainda mais quem?
- É sério! Eu respeito você ser assim, vivendo todos os dias como se fosse o ultimo, mas não está na hora de dar mais valor a sua vida.
- Eu juro que depois que fui pra montanha eu nunca mais procurei dar regaço.
- Capaz Yuri! Foi pra sampa e fez todo regaço de novo, pulou de para-quedas dentre uma dúzia de rodeios que foram. E, quando achamos que você conhecera alguém que colocaria freios em você, ele ai lá e faz igual.
- Ele é meu noivo, sabia?
- E sei também que é um ótimo rapaz!
- Por favor, apenas diferencie ótimo rapaz e ótimo noivo. Ele é um ótimo noivo, mas não é um anjo. Que mania vocês tem de achar tudo que há de errado no mundo seja aprontado apenas por mim.
- Mas sempre é você que apronta tudo. Cara, você não tem ideia do quão transtornado o Cael ficou no dia do seu acidente. Até nós que estamos acostumados com isso, ficamos gelado. E olha a maneira que você foi contribuir!
- Vocês já estão sabendo?
- Lógico! Encontramos ele sozinho na lanchonete. Se a gente não viesse aqui obriga-lo a comer e tomar banho, ele não saia daqui. Ai do nada o encontramos sozinho lá embaixo. Das duas a uma, ou você morreu ou você morreu!
- Me desculpa, ok? Você entende essa minha mania de detestar médicos.
- Eu entendo seu bobo! Agora lá vem eles.
Primeiro a minha irmã entrou estupidamente vermelha, seguido do Cael que chorava.
- Muito obrigado por ter feito nós 03 de idiota. Nós 03 não que o Yago é a princesinha da família.
Meu irmão apenas a observada sem dizer nada.
- Sabia que eu tiver que dar minha buceta pros seguranças, depois para os enfermeiros, depois para os médicos para você ficar aqui?
- Eu já estou entrando em conhecimento!
- Ai não contente, tive que dar meu cu com areia grosa pra todo mundo de novo. Vai se foder Yuri Martel.
- Yara pergunte ao Cael, minha discussão com o médico foi tão ridícula que nem entendi por que ele fez isso! Foi tão infantil
- Mas eles aqui têm outra política em relação a ter acompanhante. Lá em Sampa, há hospitais mais liberais, aqui não!
- só porque eu tirei ele dizendo que não entendia: "Num minuto eu quase morria, no outro fora superficial". Não gosto da forma eu falam. São que nem mecânicos. Sempre que você procura um mecânico 24 horas ou médico de Pronto, eles amam dizer "Nossa, mais 05 minutos seu carro ia explodir!", ou, no caso dos médicos "Foi por pouco!".
- Eu não quero saber! Eu já disse, na tua ultima overdose, que estamos cansados de você!
- vocês querem que eu faça o que? Do o meu cu pra todo mundo para dizer que sinto muito pela minha ignorância?! Se eu puder fazer isso, é só ir buscar areia grossa que eu faço. Mas por favor, eu quero que saibam que sinto muito. E quero parar de discutir. ME DESCULPEM. AINDA MAIS VOCÊ CAEL. ME DESCULPA?
- Apenas lembre no dia que eu perdi a montanha para todo mundo. Que você berrou comigo porque eu agia por impulso. Agora eu entendo sua raiva.
Uma dor violenta atingiu bem meu machucado do sovaco. Apenas fiquei observando eles conversarem com os enfermeiros e outro médico da equipe, pois o doutor que havia me atendido, estava recusando falar comigo.
- Se ele recusar a vir falar com meu irmão, eu chamo a policia. Cael, preciso falar com o Yuri em particular.
- Por quê? – perguntou ele quase sem som na voz.
- Cael, o Yuri passou seus últimos anos, sendo: 01 ano perdido em drogas; depois mais 06 meses de clínica; depois 10 meses de montanha. quando vocês foram a Sampa, mal podemos nos falar. Cheguei aqui e dei para todo o hospital para que você pudesse ficar aqui com ele. Agora está me negando 05 minutos?
- Yara, pra que falar assim? – disse o meu irmão olhando com olhar de consolo para o Cael.
- Ah, cala a boca Yago! Agora Cael, precisamos conversar entre irmãos.
O Cael saiu do quarto cabisbaixo, sem olhar para trás.
- Eu deveria ter nascido homem aqui nessa casa. O Yago da ânsia de vomito, por ser tão princesinha. Yuri já é a bicha e eu deveria ser o homem! – disse ela indo fechar a porta.
- Super original sua fala – disse o Yago revirando os olhos.
- Sério meu! Vocês são muito bundões. Yuri, que aconteceu com você de um tempo para cá?
- que sentido?
- Esse Yuri que ninguém conhece. Todo apaixonadinho, fazendo vídeo de amor, vomitando arco-iris. Achei que lá em Sampa, você estava fazendo isso apenas pra comer seu primo. Pelo menos já comeu ou deu pra ele?
- Vai se foder!
- Você não está falando sério quando disse que não vai voltar mais pra Sampa?
- Eu não vou voltar pra Sampa! Eu tenho uma casa e agora uma nova família.
- Tá vendo! Esse tipo de homem que você jamais se transformaria! – dizia ela ficando irritando e andando de um lado para outro dentro do quarto.
- Deixa os dois viver!
- Yuri Martel já casou com mulher e nem via a esposa dele. Volte pra Sampa, volte a morar comigo e o Yago. Volte a ser a nossa família de antes.
- Você jura que veio até aqui para dizer o quão frustrada está com seu irmão por ele estar amando? Então ouça o que tenho a dizer: Cael mudou a minha forma de ver o mundo. Se antes eu via o mundo com a cabeça da minha rola, hoje eu vejo o mundo com o coração. Mesmo que, por algum motivo eu não fique com o Cael, jamais conseguira ser aquele irmão que você conheceu. Eu o amo mais que tudo no mundo.
- Com 10 meses você tem essa certeza?
- Com 10 meses eu quero acreditar que sim! E vou lutar para que seja o meu ultimo amor.
- Me poupe!
- Me poupe você Yara – disse meu irmão se levantando – Agora que caiu a minha fica. Quão ridícula e baixa você é! Agora entendi o motivo da sua vinda.
- Não é apenas isso! – disse ela dando um sorriso frouxo.
- É tudo isso sim!
- Do que estão falando? – perguntei aos dois que rodopiavam no assunto.
- Sua irmã foi expulsa de casa! Está morando comigo no seu antigo apartamento.
- O quê? – perguntei fazendo forças para encará-la.
- Na verdade, ambos estão fodidos por causa dela. Primeiro o pai cortou tudo dela. Agora prometeu cortar tudo meu, porque abriguei ela.
- Ainda não estamos fodidos Yago.
- Sua irmã acabou sendo a segunda decepção do pai. Sua irmãzinha quis lhe copiar. Andou participando de "festinhas" pra lá de maravilhosas. Agora ela está gravida e não sabe quem é o pai. E ela quer usar o seu nome e sua fama pra continuar a viver a vida de puta dela.
- Jura? Eu vou ser tio?
- Sim! – respondeu ela chorando – no seu caso, tia.
- Agora vem me dar um abraço. Que noticia mais maravilhosa.
- Meu Deus do céu! Yuri, sua irmão fez bacanal, não sabe quem é o pai e quer aproveitar sua fama pra ela ficar rica de novo.
- Yago, você poderia vir aqui nos abraçar;
Mesmo protelando, ele veio e aproveitou o momento entre irmãos que eles tanto queriam. Ficamos conversando a fundo sobre o que eles andaram aprontando em Sampa, mas não ia enfiar uma faca no coração dela. Como ela diz "Quem deu a boceta foi ela. Então, ela que pague por isso!".
- Em falar em putaria, você não deu a xana de verdade para todo mundo aqui do hospital, deu?
- Vai tomar no meio do seu cu Yuri Martel!
- Se Deus quiser e se meu marido ainda tiver bonzinho. Ainda mais depois que o Zebu quase rasgou meu cu e arrancou meu pinto.
- Jura, você desse tamanhão todo sendo passivona do Cael, que é baixinho todo compacto?
- Jura e você toda puta?
- É porque ele tem cara de quem gosta de...
- Eu amo o Cael e estamos nos amando. Quem é ativo e passivo é problema meu e dele.
- Nossa, a Yara passa na fila da chatice 10 vezes!
- E você Yago quem é o ativo e a passiva do seu relacionamento? Porque você é toda princesa.
- Só porque eu não sou putão que nem vocês dois, eu sou menosprezado. A é feita de pessoas normais também, sabiam? – disse arrancando boas gargalhadas nossa.
- Agora vá chamar o Cael. Tadinho, ele deve estar morrendo de preocupação.
- Uma pessoa que não consegue desgrudar da outra, já é sinal de psicopatia. Por favor!
- Vai logo chamar ele! – pedia a ela que fez sinal de "não está mis aqui quem falou!"
- Mas você não disse que decisão vai tomar!
- Olha, eu acho que os dois ficarão lindos de trajes gaúchos!
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