CAPÍTULO 53 - CAEL E YURI MARTEL
Cael Martel
NARRADO POR CAEL MARTEL
Era por volta do meio dia quando acordamos na manhã seguinte. Era completamente estranho passar a mão no rosto e poder sentir meu rosto. A pouca barba que tinha, espetava levemente meus dedos, assim como a lateral da minha cabeça. Tateei o couro cabeludo e puxei o que sobrou do meu cabelo. Atrás de mim, abraçado de forma apertada, dormindo que nem um urso, roncando baixinho e profundo, estava o meu homem. Tentei de várias formas sair dos seus braços de urso, mas ele me puxava de volta.
- Não... vai... sair... – dizia ele todas as vezes que tentava puxar meu braço – não Cael, fica aqui – lembrava até aquelas crianças puxando o braço dos pais.
- Bom dia Yuri – respondia em meio aos risos – solta o meu braço.
- Já disse que não vai sair!
- Meu braço – insistia, mas ele não me soltava.
Só que ele deitado, era muito mais forte que eu em pé. Minha cabeça ainda estava um pouco zonza por conta do champagne. Fiquei girando ele de um lado para o outro,, como um barco, até ele acordar de vez.
- Você é muito chato! – resmungou aquele boizão gigante – muito chato.
- Também te amo!
- Ama bosta! Vem com esse papinho de champagne, vem cantando essa musiquinha "li, li, li", depois vem com essa bijux no dedo.
- Musiquinha "li, li, li"? Eu sou Yuri blá, blá, blá e ninguém nunca cantou nada pra mim, só quer saber do meu corpo e do meu dinheiro.
- Gostava mais quando você me socava quando eu te zoava. Agora isso ai, nem reconheço mais.
- Boa criação Yuri, boa criação!
- Você está lindo com esse cabelo sabia?
- Lógico! R$ 100 num cabelo e barba é pra ficar lindo mesmo!
- Não! Eu estava com medo que quando você o cortasse, você parecer uma fuinha, um esquilo ou qualquer coisa, mas não, seu rosto é lindo! Muito lindo mesmo!
- Você que é!
Ele me agarrou com suas mão grossas e me girou com uma tal facilidade, assim como viramos um travesseiro para ficar bem frente e me puxou barra um beijo.
- Todo machão, metido a fortão em cima de um touro, mas é todo fraquinho aqui na cama, todo carinhoso, faz bico quando quer algo ou quando está bravo.
- Tá todo cheio das gracinhas, né?
- Tá todo cheio das gracinhas, mi, mi, mi... meu primeiro dia de noivo, dá pra dar um desconto? – perguntou ele mostrando a aliança no dedo – nem estou acreditando nisso tudo.
- Deveria, pois deu muito trabalho para conseguir chegar no dia de hoje!
Depois contei a ele tudo de aconteceram nesses 08 meses para conseguir surpreende-lo. Desde os primeiros dias de ingl~es, até a história da Cora e a minha despedida do Alan.
- Eu não consigo entender o que ele vai fazer? Se ele veio parar aqui, significa que não há mais saída na vida dele.
- Então... mas não posso segurá-lo para sempre! Ele poderia muito bem viver aqui e morrer aos poucos. Poderia se matar.
- Eu só gostaria de entender uma coisa: por que você disse que ele não poderia sair daqui? – ele sentou-se na ama e me puxou para o seu lado, assim eu não escaparia dos seus olhos negros
- Qual sentido? – perguntei meio que sabendo aonde ele queria chegar.
- Do sentido que dissestes que ele não poderia sair daqui pois ele era jurado?
Houve um longo silencio para elaboração do que eu ia dizer.
- Há uma história que... não é lá uma das histórias mais legais. Na verdade, é algo que poucas pessoas levam a sério!
- Por quê?
- Porque são histórias que, se você for supersticioso, não fará sentido. É a mesma coisa de ir numa benzedeira e pedir para elas benzer uma enfermidade.
- E você não me conta, pois não sabe sou cético!
- Apenas eu quero que não me venham com perguntas e discussões sobre algo que eu não entendo.
- Eu nunca brinquei com isso, e você sabe muito bem! Ainda mais com você – e me abraçou forte dando um sorriso gostoso.
Seus olhos ainda estavam inchados de sono. Enfiei a minha cara no meio de seu pescoço, senti o seu cheiro, cheiro do meu homem e me deitei em seus braços.
- Os antigos diziam que essa montanha era meio "estranha". Por isso ela é tão longe do país. Aos poucos, muitas pessoas a descobriram, principalmente para extração de madeira e minério. Como a ganancia do povo era muita, eles sempre acabavam vindo para cá de mala e cuia. Inclusive o Santo Padre veio para cá. Depois que as pessoas juravam viver aqui pela montanha, nunca mais poderia ir embora. É apenas uma lenda!
- É apenas uma lenda ou você não quer me contar?
- É apenas uma lenda que a cidade toda acredita. Principalmente porque, todos que daqui saíram, nunca mais voltaram. Mas a minha dúvida é: elas nunca mais voltaram porque aconteceu algo ou porque ninguém quer voltar pro cu do mundo?
- por isso vocês não tem em que basear.
- Por isso! Depois o Santo padre chegou na montanha e aqui permaneceu até a sua morte. Você tem ideia que milhares de pessoas vieram até aqui apena para receber milagres?
- E o que isso tem haver com a montanha?
- O mesmo que eu tenho haver com os animais?
Ele me encarava com as sobrancelhas arqueadas. Passando a mão no meu novo cabelo
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Yuri Martel
NARRADO POR YURI MARTEL
Meus dedos deslizavam nos cabelos lisos e negros do novo Cael. Sua barba delineadamente desenhada, contornando seu maxilar, num corte na maquina 01. Erra delicioso passar a mão naqueles pelinhos espetados e grossos. Pela cara que ele fazia, passar a mão no seu rosto após anos sem ser tocado, deveria dar muito prazer.
- É o mesmo que eu tenho com os animais!
- Mas, da mesma forma que você acredita em coincidências sobre os moradores que deixaram a montanha, não poderia haver coincidência em você rezar para os animais?
- Sim! Eu sempre tive dúvidas. Até surgir você. Você mudou as coisas aqui, para sempre!
- Na verdade, seu peão de rodeios, bravo, matador de animais, você é quem mudou minha vida para sempre.
- que bom meu amor!
- Mas uma dúvida, você disse que não pode sair daqui, não é?
- Sim!
- E a história do Uruguai sobre nós morarmos lá?
- E não sou jurado aqui. Eu vim parar na montanha, assim como você! – respondeu ele desviando o olhar de mim.
Eu não sei ao certo o que isso significava para ele, mas via preocupação em seu olhar. Passamos o dia na sede, apenas fazendo muito amor e comendo a comida que a Nina havia preparado na noite anterior. Sempre que sobrava um tempo, ele pegava o violão e tocava alguma música. Mas agora que ele abrira a porta para o sexo, cada vez que ele relava naquele violão, dava uma vontade louca de transar com ele. No dia seguinte, bem cedo, colocamos nossas roupas e saímos para fazer os nossos afazeres. Ele pediu paciência com as alianças, até ir acostumando o pessoal.
- Olha, eu terei paciência sim! Mas eu vou falar uma coisa e guarde muito bem o que vou dizer: se o cara tem cu para me por uma aliança, então que ele tenha cu para ficar com ela. Não vou ficar tirando e colocando, me escondendo dos outros. Uma vez no dedo, ela não sai mais.
- Só peço um tempinho, por favor? – pediu ele num beijo – Sem falar que não precisaríamos acostumar com ninguém, caso os dois mudassem bem rápidos para o Uruguai.
O Cael passou meia hora em frente ao espelho para arrumar seu novo penteado. Chegar a irritar como ele colocava cada ponta milimetricamente afastadas umas das outras.
"Mas, Yuri Martel é Yuri Martel! Detesta frescuras."
- Mas se esqueceu que aqui na montanha o Senhor Cael usa chapéu, não é? – perguntei afundando o chapéu na sua cabeça, acabando com meia hora de dedicação da sua obra de arte.
Só deu tempo se flexionar meu braço para poder receber a pancada que veio de punho fechado. Foi tão forte que quase cai no chão.
- VOCÊ É O CARA MAIS FILHA DA PUTA DO MUNDO! MUITO CUZÃO!
- Desculpa meu amor!
- Ah, meu amor seu cu! Bicha arrombada do caralho – ele me xingava empurrando para longe – sai daqui seu besta. VOCÊ É MUITO, MAS MUTIO CUZÃO!
- Eu te amo!
Demorou mais uma hora até conseguir acalmar a fera. Depois que convencia a ficar de chapéu por causa do sol (pois os antigo penteado servia de proteção) ele concordara em usar. Porém, ele me fez jurar por tudo que jamais estragaria seu penteado novo. Após sentir uma certa ameaça, nós sairmos para ver o mundo. Quase todas as pessoas, incluindo os cachorros que não paravam de latir para o Cael, não o reconheciam com esse novo visual.
- Mas que porco nojento é você Cael – veio Tomé dando um abraço apertado no Cael.
- Estou muito diferente? – perguntou ele abrindo os braços e dando uma volta.
- Me lembrava o Yuri quando chegou na montanha. todo raspado – completou capataz.
- Lembra mesmo, está até gordinho que nem ele! – disse a Nina.
- GORDO? TÁ LOUCA?
"Ah, doce sabor da vingança!"
Mas quem disse que ele ficou bem. Passou o dia todo com bico de criança mimada. E ficava cada vez mais bravo quando eu gargalhava ao lembrar daquela situação.
- Cael, você não está gordo! Está gostoso – disse a ele que mostrou o dedo do meio -
Acabei de receber o pedido de noivado e você duvida de mim? Bacana!
- Eu não quero mais piadinhas desse tipo aqui!
Não vou contrariar ele hoje, pois nada mais dava prazer em ver ele sendo zoado por aquilo que eu mais era zoado na montanha. Hoje também seria um diz especial. Começaria chegar hoje os touros. O primeiro a descer era o Zebu. De pelo negro, musculatura grande torneada, o touro de 01 tonelada andava calmamente pela areia grossa. Muita gente de Poti e vários moradores da montanha iam se aglomerando, no que sobrou, da pequena arena da montanha. Era visível que o clima do rodeia ia mexendo com os moradores da cidade, pois, além de enfeitada, as pessoas já estavam se preparando para receber os estrangeiros.
- Sabe, disse uma vez que jamais montaria o Zebu, pois ele mera seu. Mas eu gostaria de tentar apenas uma vez, será que é possível?
- Lógico! Ele é de qualquer um!
- É que não queria criar uma imagem de competição entre nós dois, sabia?
- Cael, vá lá e monte. Se der certo, serão eu e você. O Casal do Zebu...
- Ah, com certeza vou chamar a gente de Casal do Zebu!
Mas a curiosidade era maior que tudo. Tanta que deixamos muitas pessoas montar. Não ia estressar os animais num estouro de boiada. Haveria muitos dias para isso. Então eles resolveram montar para praticar.
- Tem certeza que vai montar o Zebu? – perguntei ao Cael enquanto ele colocava suas luvas.
- Toda certeza, por quê? – perguntou ele sorridente.
- Apenas tirando um dúvida.
- E... caso ocorra alguma coisa, é só você pular lá e acabar com o circo.
- Tudo bem! – concordei para deixa-lo feliz.
Mesmo tendo feito o Zebu de gato manso, era sempre assustador reencontrá-lo. Deixamos todos os rapazes montar, para ir praticando, enquanto a pequena arena estava lotada de pessoas. Fiquei dentro da arena, na extremidade oposta da entrada do touro, pois o Cael dizia que eu acalmava a fera. Era a primeira vez que o Cael ia montá-lo e eu estava completamente gelado. Acho que todo esse nervosismo era porque o amor da minha vida iria colocar sua vida em risco. O Tomé deu o sinal e o Aldo confirmou, pois estava com o cronometro. Abriu-se a porteira e 1 segundo ele pulou com as patas traseiras, 2 segundos ele se afirmou, 3 segundo ele ia se debatendo, 04 segundos ele deu de cara no cupim do animal, 5 segundos seu tronco estava estabilizado, 6 segundos ele batera a cara no animal novamente, 07 segundo ele caiu.
Ele caiu e o animal rodopiava. Eu aproveitei para pular na arena, assim acalmaria o bicho. Centenas de vozes berravam meu nome. Eu era o ídolo da cidade. Fiquei frente a frete ao Zebu que agora me encarava. O Cael ia engatinhando para longe dele. Estiquei a minha mão e esperei que ele viesse ao meu encontro. Como sempre, ele chegou de mansinho, com passos tímidos, lambeu a minha mão num segundo e no outro acertou uma cabeçada no meu peito, enfiando seu chifre que entrou pelo meu sovaco, rasgando toda minha carne até sair pelas costas. Só lembro de ser erguido pelo touro para o alto antes da queda de cara no chão.
"Eu não consigo respirar, não consigo respirar, me ajudem"
Mas voz mesmo não saia. Senti uma pancada muito forte no meu estomago. Era a pata do animal que ainda rodopiava em cima mim, me acertara em cheio. Me virei de costas e enfiei minha mão, cravando minhas unhas na terra dura que ficava abaixo da areia e tente me arrastar. Mas a falta de ar me impossibilitava de continuar. Fui virado de barriga para cima numa outra chifrada que acertara meu glúteo. ninguém me ajudava. eu não conseguia raciocinar, além da falta de ar.
"Preciso respirar, preciso respirar, preciso respirar" - meu cérebro gritava para mim.
O vômito saiu sem avisar pela minha boca. Meu rosto e meu corpo estavam emplastado de vômito de sangue.
"Eu vou morrer, meu Deus, eu vou morrer!"
enfiei a minha mão dentro da boca e arranquei pelotas de sangue com vomito de dentro da minha boca. o pouco ar que tinha dentro de mim saiu, mas quase nada entrava. eu so conseguia pensar numa coisa:
- RES... PI... RAR – disse levantando minha mão para dezenas de pessoas a minha volta.
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