CAPÍTULO 32 - CAEL MARTEL - PARTE 03
Cael Martel
Nada deu mais orgulho que ver Yuri feliz daquela forma. Seria esse tipo de alegria que ele falava?
"Imagino a vergonha que ele me faria passar, caso o pessoal o visse domar o meu touro e me fazer de bobo. Mas sabe o melhor de tudo? Era que eu estava feliz, mesmo ele me fazendo de bobo!"
Passamos bem aquele segundo mês. Os dados haviam sido entregues e nada do meu pai vir buscar o que era dele. Durante o dia o Yuri ficava no celeiro e a tarde ia para o contador que ficava na cidade. Aos poucos a montanha estava moldando aquele touro. Ele já não se importava tanto com o frio e nem com os horários. Decidi que não iria mais encher o saco do Yuri e nem pegar no seu pé. Tirando as horas que ele tirava para todos os dias para bater papo com o Alan. Mas como ele mesmo dissera, era eu que nunca dava motivos para ele gostar de mim, já o ruivo, todos! Ficar nesse ciúmes não ia me tirar do lugar. Então, era hora de começar a me aproximar dele, mesmo que seja só amizade. Chamei todos os mestres para se reunir no pé da montanha, na pequena arena que tínhamos. Queria ensinar o Yuri a montar.
- Você me chamou? – perguntou o Yuri com cara de sono.
- Sim! – respondi descendo do meu touro.
- E o que posso ajudar? – perguntou ele formalmente, conforme nosso combinado.
- Eu... quero... que... você... aprenda... a.... montar... os... touros... – dizia enquanto amarrava o meu touro num tronco de árvore.
- Eu o quê? – perguntou ele espantando.
- Que quieres Cael? – perguntou o Aldo.
- Cadê os touros e as cadelas?
- Todos aqui! – respondeu o argentino.
- Faça os correr!
- Tudo bien!
Eles entraram na arena e fizeram os animais correrem, como no estouro. Mas esses animas estavam bem mais acostumados. Já não avançavam mais nos homens daqui. E de repente, um coral de 06 vozes, gritavam o nome dele.
- Yuri, Yuri, Yuri, Yuri, Yuri...
Até que ele teve coragem e pulou dentro da arena e começou a correr. Como da ultima vez, ele parou no centro e começou a girar no mesmo lugar. Aos poucos, os animais iam parando e chegando perto dele e o cheirando. Um a um ele ia acariciando os animais que deitavam a cabeça na sua mão.
- Parece gatos se esfregando nele. Faltavam apenas ronronar – disse o Tomé.
Ele fez um touro negro, de cupim grande se ajoelhar, assim como fizera com o meu e todos ficaram babando com aquela habilidade. Ficamos por lá até quase meia noite e depois seguimos para casa.
- E ai, como foi? – perguntei a ele que sorria de canto a canto.
- Espetacular! Acho que peguei o jeito.
- Podemos fazer isso todos os dias, se quiser – disse a ele e ele sorriu de novo – já que é a nossa única diversão aqui!
Ele me olhara de frma engraçada, como se tentasse ler a minha mente.
- Cael me agradando, só pode estar querendo me comprar com algum favor. Quando eu virar gerente, colocarei você pra abrir porteiras, sabia?
- Idiota!
- Estou falando muito sério!
- Se isso ajudar na montanha, quando você virar o meu patrão, sim. Eu abro todas as porteiras.
- E você ainda confirma?! Fique sabendo então, que o primeiro a ser demitido será você Cael, com justa causa ainda!
E foi quando explodi na gargalhada.
- Nããããããão! Para tudo, por favor! Anota a data, hora, dia, mês, ano. Melhor que domar touros durante minha primeira noite da arena é ver você dando uma gargalhada. E por favor, anote o meu nome por ser o primeiro a conseguir isso!
- Cala a boca – respondi sério.
- Para de ser idiota! Ria, pelo menos quando tiver ao meu lado – disse ele chegando perto de mim e dando um tapa no ombro.
- Que foi isso? Esse tapa?
- É normal, acostume-se! Não faça essa cara, é um tapa de amigo sua mula – disse sorrindo.
- Mula?
- Considere mula um elogio!
- Só entre nós?!
- Apenas entre nós – respondeu o Yuri com sorriso largo, cruzando os dedos como crianças quando fazem juramento.
Continuamos pela estrada de terra até chegar à sede. El foi o primeiro a ficar sem roupa. Pela primeira vez na vida Yuri andava para cima e para baixo apenas de short. Eu comecei a gargalhar de novo.
- Que foi? Vai falar da minha barriga que nem todo mundo?!
- Capaz! Anota o dia, mês, ano e horário que o Yuri Martel está ficando sem camisa nesse frio da montanha – disse continuando a gargalhar.
- Cara, todo aquela correria e emoção me deu calor – disse ele sorrindo e enchendo seu prato de comida.
Nunca vi alguém comer tanto como o Yuri. Ele fazia uma montanha de comida, praticamente era uma maquete da minha montanha em seu prato. Engolimos um carneiro que estava no forno há tempos. Desmanchava na boca.
- E o que farei agora que aprendi tudo com o celeiro? – prguntou ele dando um dos seus famosos arrotos.
- Horta! Já falei com o José, mestre da horta! Esse mês você vai para horta.
- Ah, terei um pouco mais de tempo para dormir! Sem falar que plantas não exige muito de atenção.
- Como?
- Na horta! Terei um pouco mais tempo para dormir. Não vou precisar acordar às 05 da manhã?
E foi quando eu dei a minha terceira gargalhada em 01 ano.
- Não vi a graça – disse ele enchendo a boca de comida.
- Olhe para o relógio, gora está marcando 01 hora da manhã, o que significa que você só tem... mais ou menos, uma hora e meia de sono.
- Ah Cael, pelo amor de Deus, deixe eu começar na outra semana.
- Eu preciso de você mais rápido que imagina! Você sempre disse "Tudo o que eu precisar!"
- E disse também que será o primeiro a ser demitido!
Ele me encarou, bateu com a cabeça na mesa e saiu bufando em direção ao seu quarto. Eu sei que não era a melhor notícia, mas quanto antes ele aprendesse tudo na montanha, mais chances eu teria dele tomar o meu lugar.
- Não vai dar tempo nem de fechar o olho – disse a ele.
- Não vou dormir! Vou tomar banho! – respondeu ele lá do quarto.
Ele saiu do quarto e foi em direção ao banheiro, apenas de cueca boxer, cor branca, toda suja de terra. Meu coração quase saiu pela boca ao ver aquele boizão de cueca, socada na bunda, colocando água no balde para banhar. Dos dois meses que ele chegou, ele deveria ter engordado uns 07 kilos. Deixou de ser aquele homem cheio de gominhos e deu lugar para uma pancinha e um pneuzinho. O que me atraia mais ainda, já que não curtia aqueles homens todos hipertrofiados. Sempre que o via acabava me excitando e isso sempre terminava numa "aliviada" das boas.
"Até quando eu ia aguentar ficar me masturbando pensando no Yuri? Não sei! Mas enquanto meu corpo tiver condições, terei que me afastar."
Ele pegou o balde e foi para o banheiro.
- Boa noite! – disse me despedindo dele.
- Boa noite! – respondeu ele com voz de poucos amigos.
Ele tomou seu banho, fez café e já desceu até as hortas. Ficou por lá o dia todo, diz ter almoçado na casa do ruivo – o que me deixava ainda mais puto - depois foi para arena se divertir com os rapazes, mas pediu para ir embora antes mesmo das 19 horas. Quando entrei na sede, lá estava ele, deitado apenas de cueca na sua cama e roncando que nem um javali. Deixei a semana correr para entrar no pique do novo horário, mas sempre que chegava em casa, já estava ele dormindo. Quase não falei com ele durante o mês todo. Ele foi começar a se adaptar, quando já faltavam apenas uns dias ele sair daquele setor. Num desses dias, enquanto voltávamos da arena, encontramos meu pai e sua comitiva nos esperando. Ele estava parado ao lado do advogado – que eram bem fáceis de ser reconhecidos, pois eram os únicos a usar terno e gravata - e Tomé! O outros mestres também se juntaram a nós.
"A coisa é seria mesmo!" – disse a mim mesmo com frio na barriga.
- Tio Caio! – disse o Yuri descendo do seu touro e indo abraçar o meu pai.
- Três meses aqui e já está um verdadeiro homem da montanha. Todo sujo, fedendo a gado, andando sem camisa, cabelos desgrenhados, barba comprida. Está à cara do seu primo – disse ele num sorrisão amarelo para mim.
O Yuri me encarou todo embaraçado.
- Caio!
- Cael!
Ambos nos cumprimentaram com aceno de cabeça.
- O que devo a honra?
- As chuvas! Disseram que uma longa estiagem que nem nós tivemos, trará longas chuvas!
- Superstição!
- É realmente coisa da minha idade. Chuvas significa pasto, plantações...
- Está mais que tudo preparado! Yuri mesmo está nas hortas e plantações – disse cortando-o.
- Bom, muito bom!
- Vi que trouxe seu cão de guarda? – perguntei apontando ao advogado – Ele tem mais alguma noticia boa?
- Cael? – disse o Tomé me chamando atenção.
- Mais que isso! – disse meu pai ignorando o Tomé - Ele tem coisas a fazer! Eder poderia se pronunciar?
- Seu pai pediu para que eu viesse, pessoalmente, para lhe informar sobre sua administração da Montanha. Segundo o seu primo, a entrada de dinheiro, de cinco anos atrás para cá, era de em 70% em relação à saída de dinheiro. O custo fixo, aquele custo que – montanha funcionando ou não, ele existe – era relativamente baixo, comparado suas vendas. Além de cobrir gastos, você tinha um lucro muito bom! O que chamou a nossa atenção, foram esses três últimos meses.
- Que tem esses três últimos meses? – perguntei cuspindo no chão.
- Esses três últimos meses o custo fixo, aquele que não muda...
- Eu já entendi da primeira vez! – disse fazendo o advogado dar um sorrisinho.
- Esse custo fixo aumento absurdamente. Tudo após você registrar 40 famílias, no que nos dá.., 140 pessoas – disse ele olhando para sua pasta chia de papéis.
- Graças essas 140 pessoas que a montanha fatura o que fatura. Seria justo deixa-las sem registro?
- No cu do mundo? Não haveria necessidade. Você gastou quase 01 milhão de reais, apenas com registros e acertos retroativos.
- O que é 01 milhão perto dos 30 milhões em gado que eram MEUS?
- Matemática tem seus altos e baixos. E, a matemática nunca erra. Esses 29 milhões não será nada em 80 meses, se você fizer as contas!
Olhei para o Yuri que concordou com a cabeça.
- Achou que "eu" ia pagar essa conta sozinho Cael? Pensou que ia sair por ai distribuindo dinheiro?
Apenas o fitei em silêncio!
- rum rum – coçou a garganta o advogado – Continuando... há mais um fator a ser posto em jogo. A sua capacidade administrativa.
- Que seria...?
- Notaram-se vários eventos nesses 03 meses que provam a sua incapacidade administrativa.
- Quais?
- A começar por jogar bosta na cara do seu pai no dia que o Yuri chegou aqui. Depois você humilhar e pôr em risco a vida do seu primo, perante a cidade toda. Em outras palavras, classificamos, psicologicamente, você inapto a comandar esse lugar.
- Que novidade, heim seu velho! Dá pra pular para parte que resolvemos tudo isso?
- Essa é a melhor parte! – disse meu pai sorridente.
O advogado abriu um papel e começou a ler:
- Primeiro: você não ficará mais no comando da montanha, sendo assim, seu pai, nomeará um substituto até o falecimento do seu pai. No caso, eu!
- COMO ASSIM ELE? ESSE ALMOFADINHA AI NUNCA PISOU NESSA TERRA?
- Ele iria nomear Yuri Martel como responsável por tudo isso, até você ser considerado apto a trabalhar aqui novamente, mas... de acordo com o Jornal, o seu primo, além de ter péssimas referências de vida, como: ex-presidiário, ex-drogado e escândalos atrás de escândalos, sem falar num possível interesse do senhor Yuri Martel na herança do senhor Caio...
- Isso tudo é boatos atrás de boatos. Sou ex-presidiário, ex-drogado, ex-milionario, não não sou bandido e nem ladrão.
- Acredito que nenhum juiz entenderá que uma publicação em um jornal seja boato. Boatos correm pelas redes de internet, que não foi o caso. Vejo aqui uma cópia da declaração que o senhor Yuri permite que o jornal publique sua entrevista de forma integral, sendo assim – disse o advogado careca abrindo o jornal, lê-se:
Abre aspas: "Uma das suposições, é que o sobrinho do mais novo milionário da cidade, Caio Martel – aonde arrematou em um lance só, 12 mil cabeças de gado – esteja atrás dessa fortuna em forma de compensar a perda de teve no passado. Um dos motivos dessa suposição é a amizade que ele construiu com o seu primo e melhor amigo Cael Martel, o Rei da Montanha. Como todos sabem Cael Martel não tem vínculos com o pai há mais de 20 anos quando a enchente matou seu o irmão mais velho. Cael Martel deixou claro em várias declarações públicas o ódio que sente pelo pai. Seria a herança que ele perdera dos pais o real motivo da sua vinda até Poti? Será que Caio Martel está preparado para o que o Yuri e Cael Martel estão trabalhando em sua montanha?" – fecha aspas.
- São boatos! – insistiu o Yuri.
- Com tantas histórias "fascinantes" de vida, fica impossível de acreditar no que o senhor diz!
- O Fato é que o Eder é o responsável por essa montanha. Como Cael mesmo disse, ele nunca pisou nessas terras.
- Exato! Nunca pisei, mas já sou o responsável. Porém, o senhor Caio tem um coração muito generoso. Yuri Martel ficará com a minha procuração até a sua partida, datada para daqui 09 meses. Enquanto isso, eu estarei acompanhando os dados do Yuri e sempre terá meu pessoal trabalhando com ele, diariamente. Após a partida do Yuri, nomearemos outro substituto, com ensino superior completo, para o cargo.
- Ou seja, ninguém aqui!
- Ainda há um aqui com os requisitos!
Olhei para o ruivo ao fundo, com sorriso no rosto, olhando para os pés.
- Segundo: você deverá demitir 2/3 dos seus funcionários!
- O QUÊ? ELES TRABALHAM AQUI! FAZ DISSO O QUE ELA É! SUA RENDA SAI DO ESFORÇO DE CADA UM AQUI.
- Mas o custo é altíssimo. Você mesmo fez isso sem pensar! A montanha, com o custo que você deu, não aguentará 06 anos. Você ligou o cronômetro pra sua própria falência, assim que pisou naquele contador.
- ELES NÃO TEM PRA ONDE IR?
- Ir? Quem falou na partida deles? Não os mandei embora daqui! Disse para você dispensar 2/3 do total. Os que ficarem aqui, deverão pagar pelas suas moradias.
- Isso é um absurdo! Eles são produtivos, podem se manter – disse sentindo o peito arder.
- Não cobraremos nada além da luz e um pequeno aluguel. Mas eles terão que trabalhar para morar aqui – disse meu pai.
- Caso eu recuse?
- Caso o senhor recusar, além do mestre cervejeiro...
- Filha da puta! Eu sabia que ele estava por trás disso – disse cuspindo e interrompendo o advogado novamente.
- Como eu estava dizendo... o mestre cervejeiro gostaria de arrendar essas terras. Caso ele não arrende, o Estado já está com interesse em adquirir a montanha toda. No caso, ai todos, eu disse todos, serão postos fora daqui.
- Teria capacidade de fazer isso Caio? – perguntei sentindo todo meu sangue borbulhando.
- Na verdade, a decisão está nas suas mãos! Estamos apenas lhe dando as opções.
Apenas lembrei-me de descer do meu touro e ir em direção do meu pai, mas todos me seguraram.
- ELES NÃO TEM PARA ONDE IR SEU FILHA DA PUTA! VOCÊ ESTÁ ME ROUBANDO TUDO. EU DISSE TUDO!
- Nada daqui é, legalmente, seu! – disse o advogado – Você tem 03 meses Cael para tomar sua decisão.
Yuri assinou os papéis da sua procuração e depois meu pai e os capangas entraram nos seus carros e saíram da sede. Era esse o começo do meu fim.
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