CAPÍTULO 31 - CAEL MARTEL - PARTE 02


Narrado por Cael Martel 

Fui pra o meu quarto e aproveitei todo aquele tesão que tinha e pus para fora. Foi a melhor "aliviada" na minha vida. Foi a melhor porque sempre me aliviava pensando na forma que os argentinos comiam as mulheres ou pensando num pau ou numa bunda. Dessa vez eu só pensei em estar deixado do seu colo e o abraçando, sentindo meu rosto sendo beijado pelo dele, sentindo o seu cheiro. Não pensei nas suas partes intimas, apenas nele como homem como o meninão que ele é. Aquele sorriso gostoso, aquele jeito chato de brincar comigo. Acordei no dia seguinte e, para o meu espanto ele já estava acordado, abraçado com o touro. Ficamos lá esperando o pessoal buscar o Zebu. Ele realmente estava chorando com a partida do touro gigante.

Já o resto da semana passou bem pacata. Quase não via o Yuri, já que essa semana ele estaria no celeiro. Ou , ele ia para o pé da montanha e eu ficava com o gado, bem do outro lado dela. Acordamos no domingo bem cedo. Yuri, pela primeira vez, fez um pão na chapa com queijo, tomate e pernil, além do café preto e geleia de uva.

- O que é isso? – perguntei ao vê-lo colocar um lanchão no meu prato.

- Lá em Sampa comemos muito desse lanche!

- Hum!

- É só abrir a boca e por para dentro – disse ele sorrindo

Apenas o fitei sério, mostrei o dedo do meio. Abocanhei aquele lanche maravilhoso. Ele colocara tanto recheio que chegava a cair dos lados.

"Sim, era maravilhoso aquele lanche."

Comi o meu inteiro e mais a metade do dele.

- Toma aqui, seu esfomeado. Agora, como você come pode comer tanto e fica tão magro assim? – perguntou ele segurando a gordurinha da barriga dele.

- Trabalho!

- Eu também trabalho, mas estou engordando a cada dia mais! Devo ter engordado uns 05 kilos desde que cheguei aqui.

- Só?!

Ele retribuiu o dedo do meio.

- Devolve aqui o lanche que fiz pra você – ele disse estendendo a mão, mas estava apenas brincando – Por que todos tiram sarro do meu peso?

- Porque ninguém tem o que fazer! Você se acha gordo?

- Lógico!

- Isso o incomoda?

- Não!

- Então pronto! – disse fazendo revirar os olhos.

"Eu costumo não perder meu tempo com o que não me atinge!" – pensei comigo.

- Comendo assim, quando eu voltar para São Paulo, eu vou entrar para o time dos "bears" – disse ele segurando a barriga e mostrando a pança.

- O que é isso?

- Bears? Significa ursos. É uma categoria de homens. Porque há anos Sampa fora dominada pelas "Barbies" da The Week. Barbis são aqueles caras que são musculosos, corpo todo depilados, todos meio metidos e acham que o mundo gira em torno do corpos musculosos. Já fui uma Barbie, mas cansei de tanta futilidade. Já os ursos (bears) são os caras mais na deles, parrudos, peludos, tem os gordinhos, os gordões. São mais acolhedores, mas o principal é não ficar bitolados com o físico, como as Barbies. Geralmente, eu disse geralmente, as Barbies não se misturam com os Bears e os Bears não se misturam muito com as Barbies.

- Vocês se classificam assim lá, como raça de animais?

- Nunca tinha pensado por esse lado! Mas exato, lá eles se classificam. Mas não para apenas em Barbies e Bears, tem outras mais! Mas, como você é um cara daqui, então nem pense muito nisso, se não você fica zonzo.

Fomos interrompidos com batidas na porta da sede. Era o Aldo e o Juan. Entraram correndo após eu abrir a porta.

- O que fazem aqui? – perguntei estranhando, já que eu sempre encontrava a todos.

- Yuri! – respondeu sem ar o Juan.

- O que tem? – perguntou o Yuri ficando de pé e vindo até a porta.

O Aldo estendeu a mão e me entregou o jornal semanal. Logo na capa. Um touro negro ajoelhado com um rapaz com a mão estendida.

DIÁRIO MUNICIPAL DE POTI

TOURO ZEBU É "ENCANTADO" PELO NOVO MORADOR DA CIDADE.

U

ma cena rara e emocionante pode ser vista no domingo passado, 05 de Junho de 2016, quando o excêntrico e ex-milionário Yuri Martel conseguiu domar o touro, famoso por ninguém nunca ter conseguido ficar montado mais que 04 segundos, o temido Zebu. Conhecido nacionalmente pelo seu dinheiro, festas extravagantes, orgias e drogas, Yuri Martel veio parar na mais longínqua cidade do País.

Poucos conhecem seu passado "negro", aonde ele se envolvia com drogas pesadas – no qual teve 04 overdoses e 01 parada cardíaca – e fora indiciado por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) de um jovem de 30 anos na cidade de Florianópolis em 2012. Yuri Martel fora preso durante 01 ano e meio, julgado e sentenciado inocente de todas as acusações de um crime que abalou a toda capital catarinense. Em consequência desse crime, a tão famosa "Ilha da Magia" fora proibida de realizar festas que tinham durações de 05 dias, pelo período de 02 anos, onde o mesmo decreto fora derrubado pelos vereadores em 2014.

Após tantos escândalos e passagens pela cadeia e clínicas de reabilitação, Yuri Martel fora deserdado da sua fortuna. Seu pai Igor Martel contou com exclusividade à tristeza que caiu sobre sua família após precisar tirar o dinheiro do filho (33% das ações) que gastava tudo com drogas e orgia: "Achamos necessária essa medida drástica, pois o Yuri já não tinha mais controle sobre suas ações. Tentamos de tudo, mas ele preferir viver fora de São Paulo ao amor da sua família. Ele é nosso caçula e nosso filho amado. Sentimos demais a sua falta" disse seu pai aos prantos pelo telefone.

Rumores sobre sua suposta vinda a Poti pairam sobre os moradores da cidade. Uma das suposições, é que o sobrinho do mais novo milionário da cidade, Caio Martel – aonde arrematou em um lance só, 12 mil cabeças de gado – esteja atrás dessa fortuna em forma de compensar a perda de teve no passado. Um dos motivos dessa suposição é a amizade que ele construiu com o seu primo e melhor amigo Cael Martel, o Rei da Montanha. Como todos sabem Cael Martel não tem vínculos com o pai há mais de 20 anos quando a enchente matou seu o irmão mais velho. Cael Martel deixou claro em várias declarações públicas o ódio que sente pelo pai. Seria a herança que ele perdera dos pais o real motivo da sua vinda até Poti? Será que Caio Martel está preparado para o que o Yuri e Cael Martel estão trabalhando em sua montanha?

Outra suposição que temos é a localização de Poti. Mesmo sendo inocentado do homicídio em Florianópolis, Yuri Martel ainda tem deveres com a lei, como por exemplo: 05 anos sem frequentar botecos, bares, pubs, danceterias. Além de ficar 05 anos sem poder sair do País. Como todos sabem o Uruguai fica menos de 200 kilômetros daqui, o que facilitaria uma possível fuga, pois a nossa fronteira com o Uruguai é a menos zelada do País. Fica no ar mais dúvidas sobre nosso "Encantador Gados".

E por último a explicação do que todos acharam ser um dom divino, a ciência por trás do Domador de gado. A veterinária e especialista em domar animais Eloá Shrunk, diz que a habilidades em domar animais somente com "amor" é raro, porém não é impossível, ela diz: "Essa arte é muito utilizada na Argentina com cavalos. Temos inclusive um encantador de cavalos brasileiro. Essa é uma arte que exige não só o dom, mas como muito tempo e dinheiro!" afirma Eloá Shrunk. Como todos já sabemos, tempo e dinheiro é o que não faltavam ao nosso "Encantador de Gados". Seria essa a forma que ele precisaria para conquistar a tão sonhada herança do seu tio milionário? O Diário Municipal de Poti ficará presente em todos os momentos desse caso.

Meu estômago afundou ao acabar de ler a matéria.

- Gente, ela não escreveu nada daquilo que eu disse na entrevista – disse ele pasmo, ficando estupidamente agressivo ao ponto de socar a parede – eu juro por Deus que não disse uma linha disso.

- Eu te avisei seu filha da puta! Eu te avisei! – disse jogando o papel naquela dele e saindo para fora da sede.

Desamarrei meu touro e desci a montanha. Agora o meu pai teria tudo o que e ele mais queria. Se sobrasse alguma esperança no Yuri Martel em ser meu patrão, essa esperança já findava. Desci sem falar com ninguém até chegar à represa. Subi a estrada de terra que dava até a nascente a pé. Pela primeira vez, desde a morte do meu irmão, eu estava indo até o local da morte do meu irmão. Meu coração batia forte no peito e lembranças daquele dia, lembranças do Tomé retirando seu corpo gelado do rio me vinham a cabeça. Parei apenas quando cheguei ao tronco que o matou. Estava jogada a margem do rio. Respirei fundo e caminhei por ele até achar à pequenas "havaianas" desbotadas e toda rachada pelo tempo. Peguei aquele chinelo que estava preso por um preguinho e segurei em minha mão. Lágrimas brotavam nos meus olhos que mal dava para enxergar o que estava na minha frente.

- Eu sinto tanto a sua falta. Desde desse dia até hoje não houve um dia que não pensei em você. Daí de cima dá para ver tudo o que fiz pela gente? Consegue ver o tanto de vida e alegria eu trouxe para cá? Agora eu preciso mais que nunca de você. Eu sou só o rei aqui e você reina por ai de cima. Por favor, peço que ilumine a minha cabeça. Fiz tudo o que prometi. Fiz tudo conforme nosso sonho e quero continuar. Mais uma vez nosso pai quer desfazer daquilo que é nosso. O que eu prometo eu faço. Você sabe disso.

Foi quando meu coração começou a disparar. Uma sensação boa tomou conta de mim.

- Não Cauê, falta uma promessa! Obrigado! Muito obrigado pela luz.

Fiquei mais um bom tempo naquele lugar. Hoje senti o quão burro eu fui de nunca vir até aqui. Fiz a nossa oração, aquela que faço em todos os rodeios, atravessei o rio e voltei onde estava meu touro. Em pé ao lado do meu touro estava o outro touro do meu coração, Yuri. Ele estava com uma cara triste. Sabia que tinha feito merda. Quando fazemos merda corremos atrás de reparar nossos erros.

- Eu soube que você nunca veio até aqui – disse ele ao ver-me aproximando.

Continuei a fita-lo sem dizer uma palavra.

- Eu não disse uma palavra daquilo na minha entrevista – disse ele me encarando com as sobrancelhas cerradas.

Ainda sim respondia com silêncio. Montei no meu touro e comecei o caminho de volta, com o rapaz caminhando a pé ao meu lado.

- Que saco Cael! Eu posso ser tudo o que você sempre disse que sou, ex-presidiário, drogado, veado, mas quando foi que você me viu mentir?

Ainda continuava a caminhar sem dizer nada, sem olhá-lo nos olhos. Ele correu e parou em frente ao meu touro, estendeu a mão para o animal que começou a cheirá-la e depois lambe-la. Puxei a corda com toda força para esquerda e depois para a direita, mas nada do meu touro andar. Yuri estava sério. Ele acariciou o pescoço do animal que chacoalhou o corpo inteiro até me derrubar no chão. Estava acontecendo de novo. Ele estava mais uma vez encantando um animal.

- Como você faz isso? – perguntei atônito - Yuri o encantador de touros.

Ainda mais porque eu, um campeão de Barretos, também conhecido como Zebu dos homens, nunca tinha sido derrubado daquela forma.

- Você não me respondeu! Quando é que você me viu mentir?

E nem tinha como. Mais uma vez eu estava presenciando algo que era inexplicável. Com os olhos cheios de água, mal conseguia respirar. Era lindo aquilo. Ele deu a volta pela cabeça do animal e encostou seu rosto em suas costas. Fechou os olhos, sentiu a respiração funda no animal, depois, com uma das mãos, deu leves tapinhas na perna do bicho. E, como no dia da arena, o animal se ajoelhara perante o homem. Ele montou o meu touro e começou a caminhar ruma à fazenda.

- Yuri? – chamei ele ao ver que ele apressara os passos do animal.

Me levantei num pulo e corri até ele, ficando ao seu lado.

- O quê?

- Eu acredito em você! É isso que quer ouvir?

- Já é um bom começo! Mais alguma coisa? – perguntou ele, na caminhada, sem me olhar.

- Desce daí antes que alguém veja – diss me escondendo atrás do touro encando caminhava.

- Acha, eu adorei ele!

- Tá, eu acredito sim, mas eu só fiquei puto que você tenha me desobedecido, entende? Você, provavelmente, jogou fora minha única esperança nessa montanha. Meu pai vai ler aquele jornal. Agora desce dai.

- Seu pai sabe da verdade!

- Sabe, mas ele só precisava de motivos para me tirar tudo. Se ele tirar você também, aí meu sonho morre aqui e agora. Agora você poderia devolver o meu animal antes que alguém veja?

- Agora sim estamos tendo um diálogo. Seria hilário ver o Cael montado na garupa do próprio touro.

- Você não faria isso?!

- Lógico que eu faria! Se não, eu não seria o Yuri Martel!

- Yuriiiiiiiiiiiiiiiiiiiii – chamei ele bem baixinho.

- Mas, como sou um homem que honra os tratos que faz com outro homens, honrarei o meu que seria seu capacho fora da sede. Toma aqui, ele é todo seu! – disse descendo do touro e rindo da minha cara.

o

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