CAPÍTULO 25 - YURI MARTEL - PARTE 04
Yuri Martel
Saímos da estrada de terra e voltamos a festa. Como tudo quer de bom comigo durava pouco, lá estava o Cael me esperando com os outros mestres.
- Tô gostando de ver essa amizade Alan!
- Não estou entendendo Cael!
- Tô vendo que não se importa muito para qual raça de touro você anda montando – disse meu primo dando um tapa amigo na perna do Alan.
Eu não entendi o que estava acontecendo, apenas desci do touro e fiquei parado ao lado do meu primo.
- Vai querer de volta? – perguntei mostrando o colete ao Cael – você sobreviveu, não foi?
Ele nem respondera. Apenas deu tapa com toda força na minha cara, fazendo-a arder. Meu ouvido tinia. Aquele tapa foi para consolidar o que ele já sabia. Para minha sorte, era hora do banquete e o Cael precisaria comparecer. Era a festa da saideira. Fiquei atrás do caminhão até meu primo e sua gangue saírem de perto. Catei uma garrafinha de pinga que havia ganhado do Alan e dei um gole. Essa porra de montanha fazia um frio que me deixava louco. E essas roupas de palhaço só eram boas na parte de baixo, em cima era bem desprotegido. O Alan se despediu e foi se encontrar com o pessoal lá dentro da tenda.
- Yuri – chamou uma voz feminina atrás de mim – Não vai se juntar aos outros?
Era uma moça bela, olhos azuis, cabelos negros. Não a conhecia. Assim como 99% daquelas pessoas. Era um saco todos aqui me conhecer e eu me sentir um idiota pr não saber nada de ninguém aqui. E não era algo que eu pudesse colocar no Facebook, pois ninguém aqui sabe o que é isso.
- Sou a Anna, filha do Tião – apresentou ela.
- Bom homem o seu pai! – disse retribuindo o aperto e mão.
"Mesmo o cretino do seu pai tendo quase me batido por eu estar usando aquele colete"
- Quer companhia para festa? – perguntou ela toda sorridente.
"Até que seria uma boa. Acabaria logo com aqueles boatos sobre mim. Teria apenas que enganar a moça por mais 11 meses."
- Lógico! – concordei dando o braço para ela apoiar o seu – O que vem agora? Outra prova aonde os competidores tem que dar a vida?
Ela gargalhou gostoso.
- Teve medo do estouro da boiada?
- Você também irá me bater se eu disser o que eu penso?
Ela deu uma gargalhada mais gostosa ainda.
- Então é isso o que acontecera no seu rosto. Você falou o que não devia? –perguntava ela passando a mão no machucado que o Cael me fez na parte da tarde.
Fitei a bela moça, tentando decifrar aqueles olhos azuis que penetravam na minha alma.
"Ela é das minhas."
- Apanho a cada 05 minutos por falar errado com meu primo. Cheguei agora na montanha e, paciência aqui é o que falta.
- Mas não se sinta menos que ninguém, todos nós passamos por isso. É uma marca registrada da montanha...
- Apanhar? – disse interrompendo a moça de dera outra gargalhada.
Gostava da forma que ela ria. Era uma risada que lembrava uma tia que eu amava muito. Minha tia Mara que morrera de câncer há uns anos atrás. Era única pessoa da família que realmente me apoiava e me motivava a fazer que fazia.
- Não seu bobo! Não apanhamos apenas. Aqui é ensinado o respeito com os mais velhos.
- Cael de longe não é o mais velho aqui. Por que todos tem medo dele?
- E você tem dúvidas ainda, por que seu primo é tão amado ou respeitado?
- Porque ele dera moradia a todos!
- Exato! Ele nos dera uma vida muito diferente da que Deus escrevera para nós.
- Por que põe Deus no meio disso? Deus pode ter posto meu primo.
- Não! Deus colocou a minha família e muitos nas ruas para morrer. Seu primo nos tirou de lá. Não Deus. Então agradecemos ao seu primo, porque seu Deus quis que eu morresse – disse ela abrindo um sorriso.
Que pensamento difícil. Achei que apoiariam a religião aqui, mas apoiam um rapaz chucro, irritante, mal educado e o coloca acima de Deus.
- Bom, mas você me perguntou o que vem agora? Agora vem o banquete!
- Até que enfim! – disse arrancando mais outra gargalhada da moça.
Entramos numa tenda imensa, no qual lembrava um circo gigante, mas ao invés de arquibancadas, mesas e cadeiras. Dentro da tenda tinha uma espécie de neblina provocada pelo vapor da comida. O ambiente era quente e aconchegante. Eu praticamente tive um orgasmo ao entrar num lugar tão quente. Poucas pessoas usavam o poncho para se cobrirem do frio. No caso, se eu tivesse achado, eu seria o único homem aqui.
- Deve haver muita gente aqui dentro – disse a Anna – Não achei que viria tantas pessoas aqui.
- Nem eu achei que um único lugar pudesse atrair tanta gente. Sem falar nas pessoas que não vão conseguir pegar uma mesa.
- É tão honroso você se jogar numa arena para ser pisoteado por touros e bois? – perguntei a Anna que arruara uma mesa perto de mesa aonde ficariam os donos da festa – Quero dizer, o que há de tão importante assim?
- Entende uma coisa. A única coisa que importa aqui nessa cidade, é se você foi macho suficiente para arriscar sua vida para domar um touro.
- Ok! Entendi já!
"Lógico, cada um aqui falando isso de 05 em 05 minutos!"
- Penso que não sou um bom partido para você andar?
- Por que não seria?
- Não montei um touro. Eles vão rir de mim.
- Acredito que não, pois ninguém aqui, tirando seu primo conseguira montar num touro, logo no primeiro dia. É muito difícil. Mas você está usando o colete preto. Hoje você é o Rei aqui. Sem falar no show que dera lá na arena. Você fala muito bem!
- Ah que alivio!
Depois de uma meia hora sentado, várias mulheres começaram a servir comida. Era muita costela, salada de batata, mandioca cozida e cordeiro. Nada poderia ser melhor do que uma boas costela assada e mandioca cozida. Enchi meu prato ao ponto de virar piada das mesas a minha volta. O Alan se juntou a nós no banquete.
- Tome aqui. A cerva de Poti – disse a Anna enchendo uma caneca bem cheia de uma cerveja escura e grossa. Lembrava quase uma garapa.
- Nunca vi algo parecido!
- E nem tomou nada ainda como essa – disse o Alan dando um gole longo.
Virei a caneca e, segundo depois cuspi tudo no chão. Era a coisa mais forte e amarga que experimentava na vida. Senti que estava tomando boldo gelado. Ele ficou sério, assim como a Anna.
- Beba de novo – disse ela perto do meu ouvido – por favor, beba de novo.
Não entendi o que ela estava querendo, mas virei um pequeno gole. Forcei ao máximo para não fazer careta. Olhei a minha volta e, ao meu pé, estava o Cael.
- Que bosta é essa? – perguntou ele catando minha caneca e bebendo tudo.
- Eu ofereci a nossa famosa cerveja – disse o Alan, mas meu primo nem tirou os olhos do meu.
Ele soltou o famoso arroto de cerveja.
- Você dois poderiam me acompanhar? – perguntou ele virando as costas.
As pessoas a minha nossa volta apenas observada o tumulto que o Cael provocara. Saímos da tenda e rumamos para perto da arena aonde fazia maior barulho.
- Fizemos alto de errado Cael? – perguntou o Alan.
- Vamos descobrir!
Encostamos numas tábuas que ficavam as escondidas.
- Vocês quer saber o que está acontecendo aqui? – perguntou o Cael ao Alan.
Ele apenas concordou em silêncio.
- Esse cara que você anda dando cerveja, está sob minha custódia.
- Cael eu fiz, mas não fiz muito!
- Yuri é um ex drogado, assim como você – disse o Cael menosprezando os meus comentários – Talvez menos. Lembra como você ficava quando bebia?
- Lembro!
- Fale para o Yuri o que você fazia – disse o Cael chegando mais perto.
- Eu tentava fugir da montanha! – respondeu o ruivo ficando com a voz fraca.
- Conta para o Yuri o que acontece com quem foge.
- Ninguém consegue fugir! Pelo menos não com vida.
- Por quê? – perguntei olhando para os dois.
- Porque os cães o matariam antes de chegar na porteira – disse meu primo dando uma golada na pinga de bolso que ele carregava. O Cael a essas horas já estava bem chapado.
- Câes? – perguntei novamente aos dois.
- O cães daqui estão acostumados a pegar os nóias. Seja um nóia e será morto pelo primeiro vira-lata que encontrar.
- E por que você faria isso comigo? – perguntei ao meu primo.
- Com você? Não é apenas com você. É com qualquer um eu tentas fugir dessa montanha. Demora um tempo até você perceber que tem duas opções: acostumar-se com o lugar e com a vida que terá para o resto da vida, ou, virar comida de cachorro. Eu ajudo muita gente, mas se pisar na bola, será a última vez. Não há outra forma de lidar com ex drogados.
- Mas o Yuri é diferente. Ele já vem de um bom tempo limpo. Não há nada de errado em dar um cerveja a ele.
- Então façamos o seguinte: você, como é um mestre respeitado aqui, dividirá o fardo de carregar esse jumento comigo.
Traços de embriaguez já surgiam na sua voz.
- Não quis dizer isso Cael!
Pela primeira vez fiquei mal por causa de uma pessoa naquele lugar. Era nítido como o Alan não queria ter eu como "fardo".
- E fim! O que acontecer com o Yuri, pode ter toda certeza que acontecerá com você também! – Escutou Alan?
- Cael, não precisa fazer isso com o rapaz, eu aceito a andar e aprender tudo que você quiser.
- E quem disse que eu quero?!
"Nossa, me senti um monte de bosta agora."
- Só vou lembrar o Yuri de um detalhe importante. O Alan aqui disse muito mal a respeito sobre sua raça. Ele presa pela sua segurança. Tem medo que outras pessoas possam fazer com você.
O Cael estendeu a mão, pegou a cerveja do Alan e virou-a por completo.
- Para Cael, já disse que nada vai acontecer.
- Nada mesmo? Vocês dois, andando montados juntos, para cima e para baixo, não é Alan? Yuri merece saber sobre você também, o que acha?
- Por que você precisa falar disso para ele? – perguntou o ruivo dando um soco na tábua da arena.
- Porque além dos passeios noturnos que andam dando por aí, Yuri Martel é o segundo dono. Merece saber tudo que se passa nessa montanha. Já imaginou quando ele estiver te ajudando lá no celeiro e você se machucar? Colocaria a vida do seu amigo?
A voz do Cael já começava a amolecer.
- O que há de errado com o Alan?
- Ele é aidético! HIV positivo Yuri. Tenham uma boa noite.
Esperamos o Cael se afastar. Ele pegara mais um copo de cerveja enquanto ia para mesa central. Alan estava parado, chorando.
- Deixei de ser idiota.
- Eu disse a você. Esse filha da puta sempre quer me ferrar. Sempre estraga tudo, sempre me humilha. Agora você vai fugir.
- Por quê?
- Porque sou um doente!
- Cala a boca. Convivi com mais soros positivos que você imagina. Não tenho essas neuras não. Sei me cuidar rapaz! Sei até onde podemos chegar. Agora se anime. Não é motivo para ficar assim – dizia enquanto ele soluçava de tanto chorar.
Cael foi nojento, infeliz, babaca. Como eu estava repudiando aquele rapaz. Ele se despedira e foi se juntar com o pessoal da sua mesa. Mesmo gostando o Alan, não poderia demostrar mais que um sorriso para confortá-lo. Eles me matariam se eu o abraçasse, conforme meu coração gritava para eu fazer.
Sentei a lado da Anna novamente e voltei a comer. O Cael, o comprador e os demais mestres banqueteavam numa mesa circular que ficava um degrau na nossa. Ela, por quatro vezes, tentou encher meu copo mas recusei. Não ia querer meu primo me batendo no meio de centenas de pessoas ali.
- O que acontece naquela mesa Anna? – perguntei a moça.
- Nada. Apenas fofocando como eles são machos, fortes e viris. Talvez em São Paulo eles comentam sobre futebol. Aqui eles comentam sobre os outros que montaram.
- Pensei que estavam falando de algo mais importante. Com tantos coletes coloridos, lembram até os Power Rangers. Achei que fosse salvar algo.
Como sempre me encantava com aquela risada gostosa. Eu a namoraria fácil se fosse hétero. Quer dizer, para namorá-la eu precisaria antes me matar numa arena atrás de um touro, enfurecido para conquistá-la.
"Melhor ser gay!"
O Cael se levantou e foi até a nossa mesa. Caralho, como sempre eu ficava gelado quando aquele filha da puta chegava perto de mim.
- Levante e vá até lá alegrar aquelas pessoas – disse ele me puxando pelo braço.
- O quê?
- Fez um belo trabalho na arena, agora faça aqui também. Faça esse povo se divertir – disse ele apertando a minha mão.
Dois apertos de mão numa noite? Era o record de bondade do Cael. Subi no palanque e fiz o que ele mandou. Coloquei músicas gauchescas, coloquei sertanejo universitário, um Camaro Amarelo, Piradinha, Michel Teló, um Gustavo Lima; chamava as senhorinhas para dançar. Coloquei musicas italianas, tarantelas. Casais subiam no palco para s juntar a mim.
"Cacete! Deveria ter sido animador de festas na outra vida! Consegui o que o Cael queria. Fazer o melhor dia da montanha"
Até que por fim, pedi umas mais dance. Consegui Macarena, uma Ragatanga, até que me enfiei na Britney, Rihanna, Lady Gaga, Katy Perry. Ficamos naquela energia por horas e horas. Consegui fazer aquela imensa arena, dar as mãos e pular ao som de Fireworks – Katy Perry. Eu era alí o Yuri Martel que nasci pra ser. O Cael se juntou a mim num abraço. Estava completamente bêbado. Eu apenas ria.
- É isso que você gosta Yuri? Ser bicha, né?
- O que? – perguntei sem entender.
- Conseguiu transformar a minha montanha numa boate gay!
- Cael, vá até a mesa e tome mais cerveja – disse me soltando dos seus braços.
- NÃO DIGA O QUE DEVO FAZER SEU VEADO!
As pessoas em volta começaram a dissipar. Sabia que o Cael era sempre motivo de briga. Ele foi cambaleando até o microfone.
- VOCÊ ACHAM ISSO TUDO ENGRAÇADO? OLHEM SÓ PARA VOCÊS, VIRARAM UM BANDO DE PALHAÇO NA MÃO DAQUELE VEADO. ELE RI POR DENTRO DE VOCÊS. TRANSFORMOU ESSA MONTANHA NO QUE ELE QUERIA, MERDA DE VEADO.
- Cael, por favor? – chamei por ele.
- NINA, CADÊ VOCÊ NINA? – Berrou ele.
As pessoas se entreolhavam. Primeiro por ser a primeira vez que Cael falava em público, segundo que ninguém sabia o que estava acontecendo.
- CADÊ VOCÊ NINA? – berrou ele mais uma vez – AQUI ESTÁ VOCÊ.
- Me chamou?
- JÁ FALO COM VOCÊ – disse ele colocando-a de lado – YURI MARTEL ESTÁ ALI. OLHEM BEM PARA AQUELE PALHAÇO. VENHA AQUI.
O lugar estava em completo silêncio. Ouvia-se os mugidos do gado lá de fora. Fui até o encontro dele. Ele me abraçou pelos ombros.
- É DESSE VEADO E PALHAÇO QUE VOCÊS GOSTAS, NÃO É? – perguntou ele se equilibrando em mim.
As pessoas não sabiam o que responder, então apenas o encarava.
- ISSO NÃO É DIGNO DE UM HOMEM – disse ele arrancando o colete preto, com toda força de mim. Os botões estouraram e caíram no chão – AGORA VEM AQUI NINA?
Ele tirou o colete da Nina e colocou em mim. Era o colete de todo bordado com flores coloridas, apenas as mulheres usavam. Ele fizera questão de abotoar botão por botão em mim. Não ouve risos, não ouve palavras. Apenas centenas de pessoas olhando para mim enquanto o Cael me vestia de mulher. Eu sabia que se reagisse poderia ser pior, mas fiquei na minha. Eu era o estrangeiro, eu era o que poderia morrer ali.
- AGORA VOCÊ É AQUILO QUE NASCEU PRA SER. UMA PRENDA! – disse ele jogando o microfone no chão e indo de volta para mesa.
As pessoas aos poucos iam s sentando de volta.
- VOCÊ É MUITO MACHO PRA CIMA DE UM COITADO. DEVERIA ENFRENTAR UM DO SEU TAMANHO – berrou o Alan.
As pessoas começavam a cochichar.
- E HÁ ALGUÉM AQUI DO MEU TAMANHO?
- SE TAMPINHA! SE FOSSE BOM, NÃO FARIA O COITADO DE TROUXA. ELE É SEU PRIMO E NÃO SEU BICHO DE ESTIMAÇÃO.
- ACHO QUE NÃO SÓ SOU EU QUE TO FAZENDO O MEU PRIMO DE BICHO DE ESTIMAÇÃO.
- SE VOCÊ FOSSE MACHO DE VERDADE, TERIA MONTADO O ZEBU. MAS NÃO, É UM BOSTA. NEM CHEGOU PERTO.
- E SÓ PORQUE VOCÊ FICOU 4 SEGUNDOS EM CIMA DELE O TORNA MELHOR?
- MIL VEZE MELHOR. MUITO MELHOR DO QUE VOCÊ. CHEGUEI MAIS PERTO DELE DO QUE QUALQUER PESSOA AQUI.
Ambos berravam um com o outro. Ninguém tinha coragem de separá-los.
- ELE AINDA ESTÁ AQUI SEU MERDA – disse o Cael apontando para arena – POR QUE NÃO VAMOS LÁ MONTÁ-LO.
- CALA A BOCA!
- EU ESTOU AQUI. PRONTO. VAMOS APENAS EU E VOCÊ – disse ele rindo.
O Alan respirou fundo, balançou a cabeça negativamente e chamou o Cael para fora.
- ENTÃO VAMOS! MAS SÓ SAI DE LÁ EM CIMA DO TOURO – disse o Alan.
Várias pessoas tentaram segurar os dois. Pessoas puxavam eles para fora dali, para evitar que se matassem, mas foi em vão. Os dois correram para arena. Os dois iam montar o touro.
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PESSOAL, EU VOU PARAR POR AQUI, PORQUE O WATTPAD NÃO ESTÁ COLABORANDO DEFINITIVAMENTE. ALGO QUE CHATEIA DEMAIS.
TENHAM UM ÓTIMO FINAL DE SEMANA E POR FAVOR VOTEEEEEEEEM
BEIJAO
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