✦ 𑊒 𝗖𝗛𝗔𝗣𝗧𝗘𝗥 𝗙𝗢𝗨𝗥, 𝟬𝟰
𓂃 𓈒 𓏸 ՙִՙ desculpa, você estava
falando comigo? não? então
pode começar a falar . 𖥻 ٫ •᎑• ໋
જ ⌗ . CAPÍTULO QUATRO, 04.
◠ ▬▭▬▭▬ ꐑ • ᴥ • ꐑ ▬▭▬▭▬ ◠
▬▬▬▬▬▬▬ your home em:
04. NOITE DE RECORDAÇÕES.
DE ACORDO COM AS PROBABILIDADES meteorológicas, a noite da fogueira seria sem nuvens, com uma boa qualidade do ar e clima frio de noite ─ principalmente em regiões de latitude elevada e nas partes mais altas das montanhas de grande altitude. O céu estava estrelado e cheio de pontinhos brancos, iluminando o ambiente e enchendo os olhos dos campistas. Os atualmente melhores amigos, Byeol Jiseung e Joshua Park, ou também denominados na Haewadal como a "dupla fria e calculista" ─ sim, com esse tipo de nome ridículo, aprontavam a fogueira.
O resto das coisas estavam todas prontas. Algumas cabanas do lado de fora para dormir, parte da comida separada em uma grande mesa de madeira e coolers lotados de cerveja, soju e outros tipos de bebidas quentes. Havia um palco improvisado, de tamanho médio montado, com uma pequena tenda em cima para cobrir. Na frente do palco, virado para o horizonte e admirando a linda paisagem noturna, estavam alguns tapetes cobrindo o chão, com pequenas mesinhas em cada um deles e almofadas de cor verde musgo ao redor.
─ Não sei porque me ofereci pra ajudar. ─ Resmungando, Joshua afastou-se um pouco do fogo. Ele não era muito fã do cheiro de madeira queimando, ou de como suas roupas e seu cabelo ficariam com esse mesmo cheiro, mas havia dito ao Han que iria ajudá-lo a carregar algumas madeiras. ─ Acabei de tomar banho.
─ Isso quer dizer que você é um bom amigo. ─ Seun, que pouco parecia demonstrar esse tipo de afeto respondeu, levantando a moral de Joshua. Ele sempre fazia isso. Não por ser "babão", mas porque sabia que o Park merecia saber que ele era uma pessoa boa... por mais que não acreditasse em si mesmo. ─ Seu problema é que reclama mais do que faz.
Disse ele, que sempre reclamava de tudo.
─ Na verdade quer dizer que eu fui o único trouxa que insistiu em ajudar. ─ Os outros rapazes tinham perguntado a Seung se ele iria querer ajuda, mas ele negou. A questão é que Josh sabia que seu amigo precisaria e, mesmo recebendo um "não" como resposta, o ajudou.
─ Isso também é verdade. ─ Seung concordou, rindo.
Assim que acabaram, cada um foi para um lado. Seun entrou no chalé para fazer outra coisa e Joshua afastou-se da fogueira, sentando-se em um toco de madeira de tamanho médio que estava no chão, um pouco longe dos demais. O conjunto de cor preta da Prada que ganhou da própria marca lhe caia bem: uma calça e um casaco moletom de algodão com o logótipo da marca, juntamente com as meias e um par de sandálias de algodão.
Vendo a cena do "lobo solitário" de longe, Kang Jangyuri aproximou-se de fininho, na ponta dos pés. Ela controlou a risadinha e a respiração, pondo a mão na própria boca para que ele não escutasse nada. O fato de Minho ter uma perda leve de audição, devido aos altos níveis de ruído na corrida e por causa de um "acidente" quando mais novo, era mais fácil pregar tal peça! E sim, Joshua usava protetores de ouvido na fórmula 1, assim como todos da equipe, mas ainda sim, eram comum pequenos danos.
A Kang deu um pequeno salto na frente de Josh e fez um "buh", mas sua animação se desfez quando o garoto olhou para ela e não esboçou inicialmente nenhuma reação.
─ Meu Deus, que susto! ─ O Park levantou as mãos, descaradamente fingindo que havia se assustado. Ele não havia escutado ela chegando, mas raramente levava sustos.
Em outros modos, diriam que ele não estava devendo a ninguém!
─ Nossa como você é irritante! ─ A garota resmungou, chateada que seu plano não havia dado certo. Queria muito ter feito ele se borrar de medo.
─ E você tá fazendo o que aqui? Achei que todo mundo por aqui me odiava. ─ Se ele era tanto incomodo assim, imaginou que Yuri nem deveria chegar perto dele. ─ Você também é uma das que me amam? Uau, isso não é tão surpreendente!
Joshua até entendia que as pessoas poderiam não gostar muito dele, mas não compreendeu o fato de algumas delas continuarem "próximas". Por exemplo, Kang Jangyuri. Não que eles fossem amigos, no máximo, tinham pessoas em comum ─ mas ela demonstrava todos os traços de alguém que o achava irritante, mimado e egocêntrico. E tudo bem, ele entendia, porque parecia mesmo que Joshua Park, o garoto com nome estrangeiro, se achava melhor do que todo mundo.
A questão é: porque de repente, após anos ignorando um ao outro e se encontrando ocasionalmente fora do Haewadal, ela estava falando com ele? Porque, do pouco que ele sabia dela, mesmo tendo aquela carinha de inocente e sendo quase sempre surpreendentemente legal, a garota não guardaria suas opiniões.
E também existia o fato dela seu ex de um de seus amigos mais próximos... eles não se falavam mais.
Joshua não estava reclamando, ele até achava... curioso. Vendo por um lado bem superficial ela era bonita e aparentemente engraçada, mas ambos tinham poucos gostos em comum ─ como ficar fora da vida monótona e gostar de tecnologia.
Apesar de não ser comparável o quão nerd ela era.
A questão é que Joshua nunca soube o que sentir. Em um momento ele estava empolgado em provocações inacabáveis com alguém que ele achou estar na mesma página que ele, e em outro, discutindo bobagens com a ex namorada de seu amigo. Ambos com emoções a flor da pele e uma paixão desenvolvida ─ porque óbvio, lembrando mais uma vez, ela era ex do seu amigo.
─ Se você quer namorar comigo é só dizer, eu vou entender. ─ Com o ego maior que a torre de Seul, ele pôs a mão por cima do peitoral. Fingindo que estava se sentindo admirado. ─ Eu entendo, meu amor, não consegue se controlar!
─ Vai sonhando. ─ Ela riu, cruzando os braços. ─ Só vim aqui porque senti pena de você.
Yuri pegou um banquinho de madeira que sobrava no canto da parede e sentou-se ao lado de Joshua. Encarando a bela paisagem ao som de uma playlist aleatória de alguém que tocava no ambiente. A garota chegou a olhar para o lado, observando Minho morder os lábios algumas vezes sempre que seus olhos rolavam para baixo. O desfiladeiro era fundo e assustador, principalmente de noite.
─ Tem tanto medo de altura assim? ─ Ela perguntou, fingindo costume. Não queria parecer tão interessada, mas também não estava afim de discutir naquele momento. Ele parecia tranquilo o suficiente para não ser digno de um fora.
Joshua fitou os olhos castanhos e bem desenhados de Jangyuri, achando que uma piada viria a seguir. No entanto, para sua surpresa, o silêncio na espera pela resposta o tirou as palavras. Ela o fez uma pergunta sincera e sem provocações? Com certeza, raridade.
─ Se não quer responder...
─ Tenho. ─ Antes que a Kang desistisse de escutar, foi completamente sincero e respondeu. Não porque ele sabia que Yuri também tinha medo de altura, mas porque sentiu-se confiante o suficiente para admitir naquele momento.Minho passou o dedo indicador esquerdo por cima de uma pequena cicatriz no dorso da mão direita, próximo ao dedão. Encarou aquela marca como se estivesse lembrando do passado novamente e suspirou pesadamente. Claro, Jangyuri notou ─ aquela marca tinha algo haver com seu medo de altura.
Cicatrizes de guerra, Joshua diria.
─ E o que aconte...
─ E você? ─ Indagou, a cortando antes que aprofunda-se ainda mais o assunto. Ainda não estava pronto.
─ Não sei, eu só... tenho. ─ Ela deu de ombros, entendendo o sinal. Os dois até poderiam entrar em constantes conflitos, mas gostaria que existisse um respeito quando se tratava de "dores e traumas". ─ É um saco, mas vou sobreviver!
Um dia ela esperava superar.
O silêncio se manteve um pouco constrangedor no começo, mas passou a ser confortável e calmo. Sem a necessidade de falar muito ─ mesmo que Yuri quisesse continuar conversando com ele. Joshua não faz o tipo silencioso, mas ele também não faz o tipo falador. Costuma manter um equilíbrio entre começar a tagarelar quando o assunto está muito interessante, ou quando envolvem provocações e brincadeiras, tão quanto gosta de ficar quieto em outros momentos. No entanto, é mais fácil ele se incomodar com o barulho, do que com o silêncio.
Enquanto isso, Jangyuri normalmente gosta de falar e dialogar, os assuntos mais bobos que possam ser! Ela simplesmente gosta de jogar conversa fora ─ a maioria com papos inteligentes, claro, mas também abre espaço para assuntos mais leves e conversas tranquilas. O silêncio para ela também é um grande amigo... mas só quando ela está trabalhando! Quando precisa focar em algo. Apesar de sua personalidade focada e altamente concentrada, Yu também é sociável e carismática, valorizando o conjunto e as ideias de pessoas diferentes.
E o que afeta tanto esses dois ao ponto de discutirem? Bom, seus traços mais parecidos! Pode ser que eles sejam bem egocêntricos quando se trata de áreas em que eles são bons, ou impulsivos e apaixonados demais quando de trata de suas opiniões.
─ Park. ─ A Kang indagou, o chamando pelo sobrenome.
─ O que? ─ Josh perguntou.
─ O que você tá fazendo aqui?
Minho, finalmente virando para olha-la, arqueou a sobrancelha. Definitivamente, era uma pergunta um pouco estranha vindo dela ─ na verdade, ele ainda sentia que aquela interação como um todo era estranha.
─ O que você tá fazendo aqui? ─ Ele devolveu a pergunta, achando que ela esquivaria.
─ Pra apoiar a Love. ─ Yuri respondeu sem pensar muito. ─ Eu não acredito em aplicativos de relacionamento... nem mesmo em amor romântico, então... estou fazendo esse sacrifício! ─ Disse soltando uma pequena risada.
Não era bem um sacrifício, quando estava sendo divertido tirar férias em um lugar calmo.
─ Pois é, eu também. ─ Josh concordou, sem dá muitos detalhes.
─ Só isso? ─ Yuri duvidou. Minho bufou, achando aquela garota completamente intrometida. ─ É que todo mundo sabe que, apesar da Love ter tido vários interesses amorosos durante o colégio, você e seu irmão estão em uma batalha sem fim.
Joshua bruscamente levantou-se, olhando para a garota com clara insegurança. Não era raiva... não de verdade! Apesar de todo mundo achar que ele não ligava para aquele assunto ─ porquê, aparentemente Joshua Park não ligava para nada, o corredor odiava falar sobre isso. Por muitos motivos. A maioria deles envolvendo desilusão amorosa e brigas familiares... o que para ele era uma merda.
Josh odiava brigas familiares e havia um motivo.
─ Você tá falando de mim? ─ A gargalhada falsa soou pelos ouvidos de Yuri, zombando da cara dela. Disfarçando a brusca reação que teve anteriormente. ─ Yuri, acorda, você finge que não gosta de ninguém, mas vive correndo atrás do seu ex!
─ E o que você tem haver com isso? ─ A garota, um ano mais velha do que ele, retrucou com abuso. Ela odiava ser questionada... principalmente quando sabia que a outra pessoa poderia ter uma pontada de razão.
─ Eu? Nada. ─ Minho deu de ombros. ─ Mas acho que você tá perdendo seu tempo... veio pra cá pra ficar chorando pelo seu ex, foi?
E, antes que ela abrisse a boca para falar mais alguma coisa, Joshua deu um breve tchauzinho, um meio sorriso satisfeito e virou as costas, deixando Kang Jangyuri com uma questão: está na hora de superar e seguir em frente. Então talvez, só talvez, o cara das péssimas ideias e detentor de vigarices no seu tempo de ensino médio, estivesse certo.
Ao passar pela mesa de salgadinhos, Joshua cumprimentou Moon Youngsoo, que pensava seriamente se enchia mais seu balde com comidas doces ou salgadas. O pratinho de tteokbokki a chamava, quase dizendo para ela "esquece um pouco a academia e seus hábitos saudáveis, eu sou mais gostoso, se diverte!". Ela pensou: bom, só mais um pouquinho não vai fazer mal! Não é todo dia que Moon come besteira ou comidas muito pesadas, então poderia ter um descontinho.
─ Sooy? ─ Um murmúrio surgiu atrás de Youngsoo, com uma voz doce, mais firme e com um toque aveludado. Seu apelido saiu suave, e obviamente só poderia ter sido dito por uma pessoa específica. Com aquela voz... aquele jeito.
Byeol Junho.
BYEOL JUN-HO, o famoso "primo bonito que todo mundo tem", tem 22 anos e é modelo na empresa do tio. Sinceramente, ele nunca pensou em fazer faculdade. Nada o chamou atenção o suficiente que ele pensasse "uau, quero passar anos estudando isso porque tenho interesses em comum e no futuro pretendo seguir uma carreira". Ele simplesmente queria ter uma vida confortável e ponto! ─ mas claro que, assim como quase todo mundo, nem tudo sai fácil. Primeiro foi perder os pais, um em um acidente e o outro, por doença... por isso passou a ser criado pelos tios. Saiu de Amsterdã para a Coreia do Sul em pouco tempo, na transição do fundamental para o ensino médio. E foi muito difícil! Junho custou a se acostumar com tudo, com as pessoas, com o lugar e principalmente, a falta dos pais.
Felizmente, ele tinha tios e primos que o acolheram muito bem. Basicamente, o tratando como um irmão.
Jun costuma manter a forma por causa do trabalho, mas ele odeia malhar e pegar peso ─ só de fazer esteira... e bem tranquilo. Diferente da maioria dos jovens da sua idade ele não dirige, mesmo tendo a oportunidade. Ele costuma dizer que é porque tem preguiça e prefere que alguém faça isso pra ele, mas também há um pouco de trauma relacionado ao acidente com sua mãe. Pequeno, mas tem. Junho diz que só tem dois traços de personalidade: sem vergonha, ou cara de pau e sem paciência. Ele expressa seus sentimentos abertamente, então é difícil para o rapaz disfarçar uma careta.
─ Junho? ─ Indagou ao ser pega de surpresa, imediatamente engasgando-se com um pequeno pedaço de tteokbokki.
Logo indo ao socorro, Junho aproximou-se da moça e deu algumas batidinhas nas costas dela ─ ele não sabia nenhum método mais eficiente que esse, então fez o que podia! Por sorte, o pedaço era muito pequeno, o suficiente para ficar apenas por algum tempo na garganta da moça e logo descer pelo lugar certo. A mão direita do rapaz afagava as costas de Youngsoo para tranquiliza-la e acalma-la, checando várias vezes com os próprios olhos se ela respirava.
─ Tudo bem? ─ Perguntou, checando.
Moon Youngsoo estava completamente envergonhada.
─ Er... tudo. ─ Respondeu tossindo, para descontrair. Ela colocou o pote de tteokbokki em cima da mesa e rapidamente arrumou cabelo, achando que estava bagunçado. ─ Você... você tá aqui porque?
Youngsoo pressionou os lábios ao se tocou de como havia parecido grosseiro seu jeito de falar. Olhou nervosamente para os lados, coçando a garganta por causa da pausa dramática e do olhar confuso de Junho. Por sorte, para quebrar o clima, o Byeol soltou uma pequena risada simpática, achando o momento engraçado. Ao menos, ele não havia visto isso com "maus olhos".
─ Bom, já que você ficou tão feliz em me ver, eu tô aqui porque minha prima me chamou. ─ Disse, ainda sorrindo. Em uma das mãos ele carregava a bagagem de mão, enquanto do outro lado havia uma mala de rodinhas. Cor cinza escuro com potinhos brilhantes bem discretos.
─ Não é isso que eu quis dizer, é que a Love disse que... ─ Recuperando o pouco de confiança que ainda achava que tinha, respondeu. Não queria ficar parecendo uma grosseira. ─ Bom, ela disse que você não vinha!
─ Ah, é que eu realmente não vinha. ─ Youngsoo fez um biquinho, sem entender. ─ Eu tava com uma agenda um pouco apertada, mas eu falei com meu tio. Não queria perder essa oportunidade.
─ Que oportunidade? ─ Apesar de tão esperta, Youngsoo às vezes parecia desentendida em certos assuntos. Ou melhor, flertes.
A garota empurrou um copo de água pra dentro, tentando relaxar.
─ De falar com você de novo. ─ Qualquer semelhança com o episódio anterior não foi mera coincidência, já que dessa vez, o que quase a fez se engasgar com a água que estava tomando. ─ Bom, você sumiu. Tive que vim atrás você.
Moon esperou que ele começasse a rir, soltasse uma piada ou falasse que estava brincando, mas nada disso aconteceu. Os olhos do garoto estavam tranquilos demais e ele não parecia nem um pouco debochado ou idiota ao ponto fazer esse tipo de brincadeira depois de tanto tempo. O pequeno sorriso gracioso e confiante do jovem era o que mais chamava atenção de Moon.
Se fosse no ensino médio, Byeol Junho estaria nesse momento demonstrando nervosismo. No entanto, parece que o tempo mudou.
─ Você sabe que eu era afim de você no ensino médio, não é? ─ Os olhos de Youngsoo arregalaram no mesmo segundo em que aquelas palavras foram ditas. O tempo parecia passar rápido e ela estava suando frio. ─ Quer dizer, era não é bem a palavra que eu queria usar.
─ Porque você tá falando isso de repente? ─ Youngsoo estava mentalmente assustada. Não ao ponto de parecer uma tola, mas é claro que ficou surpresa. Era muita informação.
Apesar de terem ficado na Coreia do Sul após o ensino médio, os dois não mantiveram nenhum contato direto. Apenas por meio de rede social, curtinho alguma foto, vídeo ou observando storys no Instagram. Junho sempre ficava sabendo de algo dela por algum dos seus primos, e Youngsoo, da mesma forma. Eles se falavam bastante durante o ensino médio e tiveram uma relação próxima no Haewadal, mas acabaram separando-se. Moon também passou por muita coisa com a morte dos pais e ter ido morar com sua tia antes de ter condições e idade de morar sozinha.
Enquanto Youngsoo estava na universidade e indo todos os dias para o estágio, levando uma vida muito tranquila e monótona, Junho quase sempre viajava. O ano sabático que ele tirou, viajando sozinho para a China duas semanas depois de acabar o ensino médio também foi um grande ponto para essa separação. Não pela viagem em si, porque ainda poderiam ter se falado pelo celular, mas porque Junho foi sem muitas despedidas.
─ Não posso? ─ Junho aproximou-se o suficiente para que ela conseguisse sentir o cheiro da colônia de eucalipto. ─ Espera, você já gosta de alguém? ─ A dúvida surgiu em sua mente, o deixando confuso. ─ Merda, eu cheguei tão tarde assim?
No fundo, ele sempre se arrependeu de não ter enviado uma mensagem para Youngsoo.
─ Não, não é isso! ─ Negou firmemente, balançando os bracinhos. Mas logo os abaixou, colocando de volta ao lado do corpo. ─ É que você sumiu.... e, eu... eu... achei que não iríamos mais nos falar. E bom, você chega assim todo pra frente! ─ Tentou ser o mais doce possível, mas deu para sentir um ar de indignação. ─ É... estranho!
─ Desculpa.
Sem hesitar, ele se desculpou. Junho largou as malas do lado e tocou os ombros de Youngsoo, sem fazer pressão. Os olhos castanhos dele ficaram os dela e o mesmo pressionou os lábios em uma linha reta, pensando no que dizer. Youngsoo arregalou os olhos, cada vez mais ficando ansiosa com os movimentos do Byeol. Era surpreendente, romântico e dramático, tudo ao mesmo tempo. Como se ele estivesse encenação um drama coreano, próximo do fim, quando o mocinho se desculpa e tenta reconquistar a protagonista.
─ Eu fui embora chateado com algumas coisas e ignorei todo mundo... não deveria ter feito isso. ─ Admitiu, suspirando pesadamente. Ele olhou rapidamente para os pés e voltou a olhar para ela. Suas mãos firmaram ainda mais nos ombros de Youngsoo. Por sorte eles estavam cobertos, se não daria para ver facilmente a garota se arrepiar. ─ Você pode me desculpar?
─ Você... você... você tá se desculpando? ─ Gaguejar deixou de ser vergonhoso. Era tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que ela nem ligou. Um homem estava mesmo lhe pedindo desculpas? Tudo bem que eles foram amigos por um tempo e isso também significava para a amizade deles, mas pelas insinuações, Junho também queria falar sobre outra coisa.
─ Sim, porque? ─ Não entendeu. Sabendo que Youngsoo era psicóloga, achou que ela aprovaria seu comportamento. Porque na cabeça dele esse seria o melhor jeito de recomeçar as coisas. ─ Eu deveria fazer algo antes?
Na linha de desculpas dos Byeol's existiam as seguintes escalas: Seong, que poderia desculpas até sem estar errado, só pra não brigar com alguém. Em segundo temos Sarang, pouco orgulhosa também, que desde pequeno pedia desculpas se errasse ─ ela analisava melhor as situações, mas se realmente estivesse errada, não teria vergonha de pedir. Em terceiro, Junho, um antigo membro orgulhoso que roía as unhas só de ter que pensar em pedir desculpas ─ hoje depende muito da ocasião e da pessoa. Ele melhorou bastante e é bem mais fácil de acabar se desculpando com alguém! E por último temos Seung, ainda um membro do time orgulhoso, que só vai pedir desculpas em situações muito específicas e também com pessoas específicas. Se você não é próximo dele, talvez ele não vai se preocupar muito em te pedir desculpas.
─ Na verdade não. ─ Sem saber o que argumentar, respondeu. ─ Obrigado... por pedir. ─ Era fofo e ao mesmo tempo respeitoso. Significava algo.
Junho sorriu.
Ele pegou o celular no bolso, usou a digital para desbloquear e, depois de um minutinho mostrou a tela do celular para ela. Era do aplicativo e, bem na frente, estava aberto o perfil de Moon Youngsoo. Com um coraçãozinho em cima e uma mensagem que dizia "Você curtiu! vamos esperar para ver se teremos uma resposta. Pensamentos positivos!".
─ Eu estou feliz em te ver de novo, Sooy. ─ Finalmente, Youngsoo entendia porque diziam que Byeol Junho era muito "cara de pau". ─ Não fui muito corajoso na época, mas acho que foi melhor... eu não tava muito bem. ─ Depois, ela gostaria de saber o que aconteceu. ─ Eu não sei se você sentia algo por mim ou se era coisa da minha cabeça, mas estou disposto a tentar te reconquistar.
O PEQUENO PALCO IMPROVISADO estava montado para as apresentações na noite da fogueira. Um tapume de madeira relativamente espaçoso foi posto contra a vista para as montanhas. Um caixa de som pousado do lado direito do palco, uma bancada alta com um caderno em cima, do lado esquerdo, e uma faixa bem embaixo, com grafias coloridas que dizia "noite da fogueira, 2023", em hangul. Havia apenas um microfone no palco, sem apoio, mas que era o suficiente para alegrar a noite deles. Na Goeun foi a primeira a se apresentar, com canções de seu novo álbum de rock.
Depois mandaram ela fazer qualquer outra coisa estranha, só para passar vergonha assim como todos eles. Se não nem teria graça!
Watanabe e Anakin foram arrastados para o palco por Sarang e Jisoo, que tiveram a brilhante ideia de fazê-los apresentar suas habilidades. Anakin mostrou um pouco de ballet, timidamente, mas fez ─ depois de ser puxado para o palco e ter acreditado que todo mundo já estava bêbado o suficiente pra não notar. E o Tadashi, bem, deu um show quebrando tijolos no chute e na mão, enquanto seu ajudante Ha Jisoo segurava os mesmos morrendo de medo de, a qualquer momento, sentir a luz divina escrever seu nome em linhas detalhadas.
Jisoo adorava o fato de que Watanabe e Sarang fizeram karatê e aprenderam a quebrar coisas tão facilmente ─ e outras coisas mais tradicionais.
Com um intervalo de dez minutos para limpar toda a bagunça, a próxima apresentação seria das meninas. Byeol Jisarang, Olivia Fane e Aurora Lee iriam encenar a famosa "Very, Very, Very" do I.O.I, um dos grupos da terceira geração do kpop que foi formado em 2016, no reality show Produce 101. No colégio, todo mundo falava que elas pareciam três integrantes do grupo e que, levando em conta que tinham vozes muito bonitas para alguém que nunca havia tido aula de canto, poderiam facilmente fazer algum cover delas.
Da última vez que vinheram para a fogueira, no último ano do Haewadal, elas apresentaram a mesma música.
─ Será que vocês vão conseguir superar as últimas apresentações? ─ Taeyang falou se aproximando de Olivia. Ela estava em um cantinho, aparentemente nervosa. Por isso mesmo não o escutou falando. ─ Lizzie?
A garota só despertou quando Hope cutucou levemente o braço dela. Ele sorriu gentilmente, acenando como se tivesse acabado de chegar.
─ Aconteceu alguma coisa?
Ela não disse uma palavra, mas Taeyang entendeu tudo quando se lembrou do quão tímida ela era e de como a última apresentação das garotas na noite da fogueira foi terrível para Olivia. Os sons de risadas de seus colegas de classe zombando da Fane, utilizando aqueles apelidos horrendos e maldosos para fazê-la se sentir mal após a apresentação. Todo mundo que foi para o passeio se lembrava daquele momento ─ apesar de não ser a memória mais agradável.
─ Como estão o senhor e a senhora Fane? ─ Tentando distrai-la daquele nervosismo e ansiedade compreensiva, Hope perguntou pelos pais da garota. ─ A última vez que vi eles foi no Natal. Sua mãe me mandou um mensagem me parabenizando, depois que eu postei uma foto do campeonato que ganhei.
E falando do natal, ele referia-se a festa na casa dos Byeol, que acontecia todos os anos e juntava a família e os amigos mais próximos deles.
─ Seu pai também respondeu e perguntou se eu já tinha levado alguma mordida de tubarão nas partes baixas... eu não entendi muito bem. ─ O garoto deu de ombros, não pensando muito no que ele queria dizer com aquilo. Afinal, parecia complexo demais. ─ Mas eles são divertidos!
Hope soltou uma risada, recordando.
─ Eles estão bem. ─ Respondeu timidamente. Nota mental para Olivia: mandar mensagem para os pais, mandando eles pararem de fazê-la passar vergonha. ─ Não liga pra o meu pai, deve ter mandado a mensagem errada. Ele é horrível com internet!
Michael Fane era engenheiro e sabia bem como mexer na internet, mas essa desculpa de que seus pais não sabia mexer na internet sempre funcionava.
─ Eu achei fofo. ─ Disse Tae. ─ Sua mãe sempre me manda mensagem perguntando se eu estou bem.
─ A sua também... e o seu pai de vez em quando. ─ O pai de Hope tinha a mesma energia caótica que o pai de Olivia, então percebesse que as mensagens e piadas são basicamente no mesmo nível.
Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, olharam um para o outro, mas não quiseram falar em voz alta que talvez, só talvez, entendiam o que seus pais estavam tentando fazer.
E tudo bem, eles não achavam ruim.
─ Quando vão ser suas próximas férias? ─ Hope perguntando, mantendo o assunto. Olivia estava bem mais tranquila e havia parado de roer as unhas... um hábito que ela tinha quando estava nervosa. ─ Você prometeu que iria no Havaí.
─ Só no final do ano. Eu finalmente estou chegando quase no final da universidade, então também pago menos cadeiras. ─ E isso certamente é uma vitória, devido a quantidade de assuntos que ela já deu e como se esforçou todos esses anos para virar uma futura advogada. ─ O problema é que eu também estou no estágio, então acho difícil poder passar muito tempo fora, já que estou tirando minhas férias agora!
Assim como em um emprego comum, Olivia só poderia pedir férias durante um período de tempo no ano ─ e como era um estágio, o tempo era muito mais curto. Então, como Sarang iria fazer esse experimento agora no meio do ano e ela estava cansada, resolveu tirar suas pequenas e merecidas férias.
─ Hm... vamos ter que dá um jeito! ─ Taeyang estava disposto a usar sua mente proativa e prática para resolver esse problema. ─ Eu queria te levar para ver minha competição final do ano, mas... você tem algum lugar pra passar o ano novo?
─ E.. Eu? ─ Olivia até gaguejou. Iseul Taeyang estava mesmo lhe chamando para passar o ano novo com ele? Definitivamente ela devia estar alucinando.
─ Sim. ─ Respondeu calmamente. ─ Tirando o fim de semana, tem o dia de folga da véspera e do dia de ano novo. Ou seja, seriam quatro dias! ─ Disse alegremente, achando uma solução. ─ Você poderia viajar de noite e chegaria lá de madrugada e...
Por um minuto ele parou de tagarelar. Hope olhou para Olivia, que não conseguia formular sequer uma palavra devido ao choque que era ver um garoto convidá-la para passar um tempo com ele. Claro que ele poderia fazer isso apenas como um amigo ─ porque era isso que Liv achava que era. Porém, mesmo assim, ainda era muita novidade. Os dois estavam próximos demais e ele parecia muito tranquilo falando aquelas coisas.
─ Foi mal, eu exagerei? ─ Hope fez um biquinho, se sentindo mal por parecer que estava pressionando a garota. ─ Parece que eu estou decidindo tudo e não deixei você falar.
Empolgado demais, ele tagarelava.
É que tinham tantas coisas para ver e Taeyang seria um ótimo guia! Ele conhecia basicamente tudo sobre a ilha, havia explorado lugares secretos e sabia dos melhores momentos para curtir qualquer coisa. E sim, não poderia esquecer das crianças! Ele adoraria mostrar a Olívia o trabalho que fazia com as crianças da ilha e também ensina-la a surfar.
─ Não! ─ Quase como um grito, Olivia negou. ─ Quer dizer... não se preocupa, eu achei legal tudo que você falou. ─ Um pequeno rubor surgiu nas bochechas da Fane e um sorriso amoroso deu volta na timidez. ─ Eu com certeza gostaria de ir.
Iseul Taeyang não era muito de ficar com vergonha ─ na verdade, ele costumava deixar seus interesses amorosos desse jeito! No entanto, ouvindo Olivia Elizabeth Fane sendo tão fofa com ele e lhe respondendo de uma maneira tão doce, mesmo depois dele tagarelar, o surfista sentiu seu coração aquecer. Hope chegou a sentir suas mãos suando e ficou com medo de acabar tendo outra crise como no segundo dia de acampamento, quando ele levantou a blusa sem que nem menos na frente de Liv.
Felizmente o rapaz só coçou a cabeça. Porque por ele, até deu uma mínima vontade de cobrir seu próprio rosto.
Sarang e Aurora passaram pelos dois e sorriram, sem ter como disfarçar a curiosidade! Além de avisar a Fane que em cinco minutos eles subiriam.
─ Quer que eu grave pra guardar de recordação? ─ As palavras saíram sem pensar muito, e quando ele foi perceber, tinha lembrado da última vez que fez isso e deu tudo errado. ─ Você está muito bonita, acho que iria querer mostrar para seus pais.
Apesar da falta de confiança em continuar aquele tópico, Hope se manteve firme. Não queria que Olivia tivesse para sempre uma memória ruim daquele momento. Além do mais, as meninas também estavam ali com ela e Sarang nunca chamaria ─ ou muito menos seria amiga, de alguém que já zombou ou fez bullying com ela.
─ Vou acabar travando de novo. ─ A estudante de direito abaixou a cabeça, sentindo pouca confiança em si mesma. Da última vez ela acabou esquecendo uma parte da letra da música, ao olhar para a plateia e ver um grupinho zombando dela.
As frases perversas, gargalhadas maldosas e apelidos crueis criados pelos seus colegas na sua adolescência martelavam na sua cabeça.
─ Eles eram idiotas. ─ Tae foi ousado o suficiente para esticar sua mão e colocar uma mecha de cabelo dela para atrás da orelha. Gostava de admirar seu rosto. ─ E eu nunca entendi aquilo do pato! Sério, quem chama um pato de feio?! ─ Claro que ele estava se fazendo de idiota, porque havia entendido a frase. Só não concordava com a história do "patinho feio".
Até porque patos não são feios, são fofos.
Olivia olhou para ele e involuntariamente soltou uma risada. Sim, ela riu, esquecendo apenas por um momento daquele apelido que lhe dava um aperto no coração.
─ Escuta, mesmo que você não seja amiga de todo mundo aqui, ninguém vai ser maldoso. ─ De fato, ele tinha razão. Por mais que todos ali tivessem seus defeitos ou rixas, ninguém faria bullying. ─ Além do mais você é ótima.
Pelo menos, não seriamente.
─ Se diverte! ─ Disse, basicamente ordenando. ─ E a gente se vê depois, ok?
─ Certo. ─ Olivia concordou , acenando com a cabeça. ─ Hope.
─ O que?
─ Obrigada. ─ Agradeceu, sorrindo para o rapaz. Sem nervosismo, apenas um sentimento tranquilo e alegre, de alguém que precisava ouvir aquelas palavras.
─ Vou gravar pra mandar pra os seus pais. ─ Ele levantou a câmera do celular e apontou para ela, pronto para filmar tudo e realmente mandar para o senhor e a senhora Fane.
─ Ei, não faz isso!
Mas já era tarde demais, Iseul Taeyang estava determinado a gravar e apoiar Olivia Fane em sua apresentação, mesmo que um meteoro passasse por cima deles naquele momento.
Quem não estava muito afim de aparecer mais era Anakin Kwon, após sentir que, além de toda sua energia ter ido embora ao interagir por tanto tempo com seus amigos, também tinha passado vergonha ao se apresentar na frente de todo mundo. Uma besteira, claro. Anakin era muito mais do que talentoso no ballet ─ ele sentia, com toda sua alma, todas às vezes que se apresentava... ou até ensaiava. Talvez seja essa a sensação que dançarinos que amam o que fazem, realmente sentem. Sempre emocionados e com um sentimento único ao escutar uma música ou demonstrar um passo.
Após ter sido obrigado a interagir com pessoas, Kini resolveu ir para um cantinho ver a apresentação das garotas. Jisoo estava ocupado fazendo algumas filmagens, Sarang iria cantar e Watanabe, bem, provavelmente estava comendo uma bacia de macarrão depois de ter quebrado tantos tijolos.
─ Se escondendo? ─ Hyungwoo sussurrou por trás de Anakin, o fazendo quase virar para trás na cadeira. Por sorte, o policial foi rápido o suficiente para impedir que o garoto caísse.
─ Tenho alergia a pessoas. ─ Respondeu o mais novo, colocando as mãos dentro do moletom preto com estampa de coelho. ─ Você não entenderia.
─ É, compreensível. ─ Deu de ombros, concordando. De vez em quando ele também preferia ficar sozinho. ─ Pode não parecer, mas às vezes, até eu sou meio rabugento. Ou também impaciente.
Anakin olhou para o Song, não acreditando em uma palavra que saiu daquela boca. Era impossível, Song Hyungwoo era simplismente o cara mais gentil e amoroso que ele conhecia. Não tinha como aquele sorriso fofo, as covinhas e os olhinhos que se fechavam todas as vezes que suas bochechas inflavam muito, se tornarem um grumpy. Ele era o tipo de pessoa que falava "a" e todo mundo concordava, porque Hyungwoo é bonzinho demais.
Ou pelo menos, era isso que todo mundo pensava.
Woo pegou uma cadeira e sentou ao lado de Anakin. Ele estava todo coberto, provavelmente com frio já que cruzou os braços na frente do peitoral e enfiou as mãos embaixo do moletom amarelo jasmim. Seus cabelo era preto e a franja cobria a testa, além do destaque dos óculos pretos quadrados que combinavam bem com a estrutura do seu rosto.
─ Impossível. ─ Disse, direito e reto.
─ Porque? ─ Hyungwoo indagou, sentindo-se um pouco ofendido. Todo mundo sempre o tratava como um homem ingênuo e que nunca se irritaria, mas ele também era um ser humano. ─ Eu consigo ser assim sim!
─ Você tá chateado porque eu tô dizendo que você não consegue ser rabugento? ─ Por mais estranho que pudesse parecer, sim, ele estava. Anakin entregou um sorriso bobo, de alguém que havia achado aquilo extremamente fofo.
Mas segurou-se e logo pressionou os lábios para disfarçar.
─ É que você não tá me levando a sério. ─ O policial fez um biquinho, indignado. Ele era o mais velho, mas estava sendo tratado como se fosse uma criança.
─ Eu duvido muito, mas tudo bem. ─ E realmente, poderia ser uma cena muito rara. Hyungwoo dificilmente seria do tipo rabugento. Talvez, só se for algo muito grave: como da vez que desligaram o contador do prédio bem na hora que ele tava na fase final do jogo.
Nesse dia, ele ficou igual ao Charmander: fofo por fora, mas pegando fogo de tanta raiva, por dentro.
Hyungwoo suspirou, fazendo um drama incompreendido, só para que Anakin notasse. O Kwon olhou rapidamente para o lado, prestando atenção nele. Não o encarou para não dá muito na cara, mas entendeu que Hyung só queria ser levado mais a sério ─ só não percebeu que o mais velho tentava chamar sua atenção.
A próxima coisa que Anakin notou em Hyungwoo foi um pequeno risco na bochecha dele. Não era profundo, mas parecia recente. Ele queria perguntar o que foi, mas não tinha coragem. Achava que seria muito invasivo da parte dele, levando em conta que os dois não eram tão íntimos como ele gostaria que fosse.
─ Foi em uma perseguição. ─ Respondendo a pergunta mental de Kini, o Song, que notava tudo, falou. ─ Ele roubou a bolsa de uma senhora, fui atrás dele, mas não sabia que tinha uma faca. Por sorte eu era mais habilidoso e consegui desarma-lo, mas o ladrão ainda conseguiu me atingir na bochecha e na mão. ─ Hyung mostrou sua mão direita com um curativo. ─ Erro de principiante.
─ Erro de principiante? ─ Agora quem ficou indignado foi Anakin. Ele não achava que tinha liberdade o suficiente para falar esse tipo de coisa, mas foi automatico. Na sua cabeça, era muito irresponsável pensar desse jeito. ─ Você se machucou!
─ Pode acontecer, são ossos do ofício. ─ Hyungwoo sabia que não era bem assim e que na academia eles ensinavam que se proteger também era função de um policial. Além do mais, é o básico para sua segurança.
No entanto, quando você está em uma profissão tão perigosa, mesmo fazendo de tudo para sua autopreservação, pode acabar acontecendo acidentes. Woo sabia disso e mesmo assim não tinha medo do trabalho. Desde pequeno sonhava em ser policial, com aquela mesma história bonita e admirável de ter uma inspiração em casa ─ que no caso, era seu pai. Song Jonghyun, que atualmente trabalhava como chefe da divisão de homicídios em Seul, mais especificamente no prédio em Yongsan-gu.
─ Mas não deveria! ─ Anakin estava tão desconexo e fora do eixo, que quase levantou a voz só para fazê-lo entender. Paciência não era sua maioria virtude. ─ Nossa, se você que é forte se machuca, imagina se acontecesse comigo!
A realidade voltou para a mente do Kwon, quando o mesmo lembrou com quem ele estava falando ─ foram palavras involuntárias. Suas bochechas cortaram imediatamente e ele quis esconder seu rosto em qualquer lugar. Anakin nunca era intrometido ou falador com pessoas que não eram tão próximas dele. Impossível, para melhor dizer. Seria impossível Anakin Kwon abrir a boca para falar essas coisas e com esse tom com outras pessoas. A maioria das vezes ele achava que atrapalhava seus próprios amigos, quanto mais alguém que não tinham tanta intimidade!
Bom, agora, ele aparentemente tinham alguma intimidade.
─ Eu te protejo. ─ Hyung aproveitou a deixa para jogar uma das frases mais bregas, mas românticas, que poderia dizer. Combinava com o momento e com sua profissão. Um gênio, ele diria. ─ Espera, você disse... forte?
O rapaz arqueou a sobrancelha, parando para pensar: o bailarino o achava forte? Então o observava? O que ele achava disso?Muitas perguntas em uma fração de segundos.
─ Eu não disse isso! ─ Anakin automaticamente se defendeu. Evidentemente tentando disfarçar o impossível. ─ Espera, você disse que me protegeria? ─ Ele também notou tal insinuação do policial. Nem imaginava que era um flerte, mas mesmo assim tocou seu coração. ─ Ninguém nunca disse isso pra mim.
Suas mães, Sarang e Jisoo não contavam. Eles eram sua família.
─ Mas você acabou de dizer. ─ Hyungwoo, que havia bebido um pouco e estava disposto a provocar um pouco um mais novo, questionou. Um sorriso convencido surgiu nos lábios do policial. ─ E claro que eu protegeria... eu sou policial.
─ Você escutou errado. ─ Teimoso como sempre, o Kwon não deu para trás. ─ Ah, claro, policial.
Por um momento ele pensou que fosse mais do que isso.
E era, Anakin só não tinha percebido.
Hyungwoo soltou uma pequena risada ao ver a cara emburrada do garoto ─ não que fosse incomum. Mas era fofo e chamava sua atenção. Ele não costumava ter o tipo de personalidade provocativa e irritante, nunca, mas foi divertido colocar Anakin "contra a parede" após ele elogiar seu porte físico. Woo até se deixou ser um pouco egocêntrico, pensando em si mesmo como alguém que Anakin poderia se interessar. Sim, os dois pensavam em muito mais do que isso, em uma conexão ─ mas as melhores conexões acontecem de maneiras inesperadas.
─ Ok, ok! ─ Vendo que o bailarino nunca assumiria, Hyungwoo contentou-se com a som das palavras ecoando na cabeça. ─ Primeiro, tudo bem, foi legal você ter notado que eu sou forte... eu acho. ─ Ele não se achava tão forte assim, mas era legal escutar isso de alguém que Woo havia se interessado. ─ Segundo... não é só porque eu sou policial. Você sabe disso.
Não, ele não sabia. Anakin nunca teve um relacionamento ou viveu romances avassaladores. Tudo era novidade.
─ Não sei. ─ Respondeu inocentemente. Os olhinhos sonolentos do garoto encararam os de Hyungwoo. ─ E seria porque então?
As mãos de Hyung foram ao próprio rosto, escondendo um sorriso bobo ao perceber quão ingênuo ele era. Quase parecendo com aquele meme de quando a pessoa recebe um elogio e fica envergonhado! Ou aquele emoji dos olhinhos brilhando ao a achar algo muito fofo. Um homem de 1,82 de altura, ombros e costas largas, policial, que se derretia com um garoto o olhando confuso. Por um momento, sua falta de confiança e insegurança por causa de seu transtorno foi deixada de lado e a única coisa que importava era aquele momento.
Os dois se olharam por tanto tempo sem dizer nada, que Anakin acabou tentendo quebrar o clima. Sim, ele, que gostaria de ficar calado pelo resto da viagem depois dessa conversa que pareciam horas com um garoto.
─ Seu moletom é legal. ─ Anakin apreciou a pequena estampa no meio da roupa, que remetia a uma série policial que ele já havia visto. ─ Não sabia que tinha rosa! Onde comprou?
Por um momento Hyungwoo pensou no que falar, já que seu moletom era da cor amarelo jasmim. Apesar de não ser próximo do garoto na época, acabou descobrindo que ele tinha daltonismo do tipo tritanopia quando passou na frente da diretoria. Uma das mães de Anakin, a falecida Na Jiwoo, brigava com o diretor ao descobrir que seu filho estava sofrendo bullying. Ela havia escutado uma conversa dele e de Sarang na casa do Kwon, bem na hora que Love falava que iria "arrancar o cabelo de alguém" por ter feito Anakin de idiota.
Enfim, não foi proposital, mas Hyungwoo havia ficado preocupado com o garoto após a mãe dele aparecer brava na porta da sala de aula. Por isso foi ver se estava tudo bem.
─ Bem... esse que eu tô usando agora é amarelo jasmim. ─ Preferiu não mentir. Não sabia se Anakin se incomodaria em falar sobre o assunto, já que algumas pessoas fizeram bullying com ele por causa do distúrbio também, mas não queria o tratar como um "coitado". Porque, bom, ele não era. ─ Mas a gente arruma um rosa pra você. Deve combinar muito!
Não tinha nenhum problema em ser daltônico.
Anakin ficou calado por alguns segundos. Não deveria ter vergonha de como enxerga ─ e nem tinha, o que o surpreendeu foi como Hyungwoo falou. A maioria das pessoas só tenta fingir que é tal cor para não "mágoa-lo", achando que o Kwon se sentiria inferior.
─ Porque você não mentiu? ─ Duvidar de algumas ações como essa poderia ser comum, já que quase todo mundo fazia o contrário e o tratava como um doente.
─ Porque não tem motivo pra mentir. ─ Uma resposta simples na cabeça de Hyungwoo. ─ Eu enxergo as coisas de um jeito e você de outro... me parece uma ótima desculpa pra gente se conhecer melhor. ─ O policial sorriu, estendendo sua mão para que Anakin pudesse apertar. ─ O que me diz?
BYEOL JISARANG OLHOU PARA WATANABE CHOI TADASHI sentado sozinho em um dos tapetes, rodeado de garrafas de cerveja e sorriu ao olhar a silhueta do rapaz. Não apenas pelos músculos e como ele parecia perfeito, mas porque sentia-se feliz sempre que olhava para ele. Havia acabado de voltar da cozinha, após pegar uma vasilha de lamen quentinho para eles comerem ─ e alguns salgadinhos apimentados que ambos gostavam. Ela equilibrava uma bandeira cinza com as mãos e uma coberta de algodão no ombro esquerdo.
Quando chegou onde estavam sentados, colocou a bandeja em cima da mesinha de centro baixa, limpou as mãos molhadas de água no próprio casaco e colocou a coberta delicadamente ao redor dos ombros do mais velho. O cobrindo quase por completo. Sarang sentou-se confortavelmente em uma almofada, bem ao lado dele. Seus cabelos estavam soltos, mas atrás da orelha. Ela usava um roupa quentinha e confortável, composto por uma calça, uma blusa de grande de manga comprida e um casaco rosa claro por cima.
Enquanto Watanabe mantinha uma de suas únicas regras: usar roupas de cor neutra, como preto, branco e cinza.
─ A gente bebeu bastante. ─ Ela comentou, colocando um salgadinho na boca. Love mastigou, soltou um "hm" ao sentir o gosto de apimentado na boca e tomou um gole de água. ─ Coloquei o cobertor pra você não ficar doente. Tá frio, mas você é feito de gelo, por isso não sente!
─ Não que a gente seja melhor do que isso. ─ Aquelas dez garrafas de cerveja não estavam nem perto do recorde que obtiveram dois meses atrás. Sarang olhou para Wata, ele olhou para ela, e os dois sorriram, achando-se um mau exemplo. Não era de se orgulhar totalmente, mas era engraçado de imaginar. ─ E não tá tão frio. Frio é psicológico.
Ver Watanabe sorrir estava na lista de coisas que Sarang mais amava no mundo, assim como ver Love sorrir, era basicamente a coisa favorita que ele via fisicamente nela. Claro, seu corpo, seus lábios, seu cabelo e até as linhas de expressão da ruiva o atraía, mas o sorriso aquecia seu coração! Assim como Sarang, ele sentia-se mais relaxado ao conversar ou observar aqueles momentos. Eles não só gostavam um do outro, mas também se admiravam. Em cada detalhe.
Watanabe sabia que todo mundo já havia entendido que Byeol Jisarang é muito mais do que o amor da vida dele ─ é também um complemento.
Uma quebra de amizade ou separação completa o deixaria em pedaços. E porque? Porque ela o fez acreditar que a vida era muito mais do que estar vivo. Na verdade, era viver. Era sair de casa, rir das coisas mais idiotas possíveis, viajar, ou só aproveitar aquele momento tranquilo assistindo um filme de sua preferência ─ e às vezes também era passar por situações chatas, lidar com isso e seguir em frente. Porque ele só tinha uma vida e não poderia desperdiçar! Por mais que fosse difícil, por mais que ele tivesse traumas. Mesmo se fosse um lobo solitário, no fim, sua companhia também deveria lhe bastar.
E o Tadashi mal sabia, mas também salvou a vida de Sarang diversas vezes. De um ataque de ansiedade, da vontade de desistir ou das suas próprias inseguranças. Ela também acredita que não conseguiria viver sem ele, sem seu mau humor, sem seus abraços, sem seu sorriso, sem suas demonstrações de afeto um tanto diferentes. Watanabe a ensinou a ser mais resiliente, a suportar a pressão mesmo quando ela quer te destruir e a ser mais forte. A fez confiar em seus sonhos mais do que poderia imaginar! Que ela conseguiria enfrentar tudo, até a si mesma. E no fim, ser quem ela sempre foi.
Eles estão juntos há 23 anos ─ sim, antes mesmo de nascerem. Quando seus pais se conheceram em uma reunião há mais de 34 anos e se tornaram amigos. Porém, o que deveria ter sido mais uma história de melhor amigos que se tornaram irmãos, se tornou amor.
─ Você deveria sorrir mais, combina com você. ─ Sarang comentou, dessa vez, sem encara-lo diretamente nos olhos. Não era a primeira vez que ela falava isso e, na maioria delas, nem era em tom de brincadeira. Porém, agora que estava decidida a tomar alguma atitude, ficou um pouco envergonhada.
Porque, claramente, Watanabe era o único que conseguia fazer a "terrorista" da Byeol Jisarang, que nunca tem vergonha de nada, se sentir tímida.
─ Todo mundo diz que nunca te vê sorrindo, mas eu nem percebo isso... ─ Love soltou uma risada, achando graça da própria "piada". ─ Mentira, eu ia passar pano mas eu percebo sim! Você normalmente tá com a cara daquele homem do "pegue o pombo"... como é mesmo o nome dele... o Dick Vigarista!
Wata olhou para Love, depois baixou a cabeça e deu um pequeno sorriso. A comparação poderia até ser irritante vindo de qualquer outra pessoa, mas era a Sarang, ela nunca o deixava bravo!
Foi um sorriso tão discreto entre os lábios, que ela não poderia notar naquele momento.
Em seguida, o Tadashi retomou a sua posição neutra de sempre, olhando para frente como se nada lhe afetasse. E, encarando a paisagem, ele falou algo que aceleraría seu coração:
─ Eu só faço isso quando estou com você. ─ Wata até poderia dizer que sorria com amigos também, porque não era mentira. Mas não tinha nada haver com o que ele estava falando no momento! Não com esse sentimento. ─ E o seu cobertor? ─ Ao sentir suas bochechas ficarem quentes, ele mudou repentinamente de assunto.
Sarang piscou os olhos algumas vezes, sentindo-se afetada pelas palavras anteriores. Seu coração palpitou mais rápido do que poderia ter palpitado ao fazer contas ou criar projetos. Toda sua coragem se tornou ansiedade. A pequena árvore exposta quase no meio do pátio balançou, espalhando algumas finas folhas pelo ar. O cheiro de comida nem mais chamava atenção, ou o bafo de bebida que em outro momento poderia ser notado e tomado nota em mais uma piada.
─ Não tô com frio. ─ Foi o que conseguiu responder entre os pensamentos emocionados. Até chegou a tomar outro gole de cerveja para relaxar.
Sem mais perguntas para não ouvir um "não precisa", Watanabe esticou o cobertor do lado esquerdo ao redor de Sarang, que por ser pequena, cabia facilmente ao redor dos braços dele. Ela o olhou de cima abaixo, sem falar nada, e recebeu um olhar sereno que dizia com todas as letras "não adianta você negar" ─ sim, eles tinham o poder de conversar pelo olhar. Love achou fofo, como sempre, mas não poderia dizer nada disso em voz alta naquele momento.
Watanabe sempre foi assim.
Ele não fala, mas sempre que quer fazer algo por você, irá demonstrar habitualmente com ações ─ e não tinha como negar, porque ele faria mesmo assim.
─ Aish, você parece uma criança.
─ Nossa, olha quem fala! ─ Sarang deu língua, respondendo a altura. Watanabe era muito mais imaturo que ela e sempre fazia drama, então não aceitaria o papel de criança. Já era deke. ─ Você implica com tudo, senhor perfeitinho!
Watanabe odiava ser chamado assim, desde o colégio.
Quando os dois estavam devidamente cobertos, dividindo o mesmo cobertor, o silêncio pairou. Um silêncio confortável. Ambos admiraram a paisagem, pensando um pouco. Mesmo com métodos diferentes, o objetivo deles era o mesmo: tentar dizer para o outro seu sentimento.
─ Tata, você vai voltar para cá? ─ Após lembrar do começo de uma conversa sobre o futuro que eles estavam tendo, Sarang questionou. ─ É uma grande oportunidade. Imagina só? Você vai ser mais caro que o Son! ─ Riu para quebrar o gelo. ─ Brincadeiras a parte, é que você me disse que tava pensando nisso. Acho que era uma conversa importante que você queria ter!
Watanabe havia recebido um convite para atuar no vôlei sul-coreano, após o melhor time do país conseguir voltar para a liga mundial. De fato, era um grande pedido. O jogador de vôlei já não estava tão satisfeito em atuar ou estar nos Estados Unidos, então o convite veio em boa hora.
─ Sinto falta da minha família, mas... ─ Ele suspirou. ─ Você também vai está longe de qualquer jeito.... e você também faz parte da minha família. ─ Um pouco tímido pelas próprias palavras, ele falou. Quase engasgando com a própria vergonha. ─ A gente passou tanto tempo junto, que é estranho pensar em morarmos tão longe. ─ Claro, vai ser muito silencioso! ─ Zombou brevemente. ─ Mas você vai acabar ficando nos Estados Unidos... e eu entendo. Também é uma ótima oportunidade.
Na maioria das vezes Watanabe queria guardar suas decisões dos outros, porque elas pareciam insignificantes e bobas demais na cabeça dele.
Obviamente não eram.
Sarang ficou em silêncio, esperando que ele terminasse. Mesmo os dois sendo melhores amigos, não era sempre que o Tadashi falava com todas as letras o que estava realmente sentindo. O que passava pela sua cabeça, adicionando suas aparentes inseguranças ou opiniões sentimentalista sobre ficar longe de pessoas.
─ Provavelmente vou ser o único a ficar aqui. ─ Disse referindo-se a Seul. Dando a entender que a probabilidade de se mudar era maior do que poderiam imaginar. ─ O Jisoo quer fazer intercâmbio, e bom, ele vai conseguir... ele é muito inteligente. A Olivia e a Aurora também devem receber propostas, o Anakin vai acabar morando em Nova York, o Namdong vai cuidar da clínica dele no interior, o Hope e o Felix são surfista, então... já sabe. ─ Citando cada um deles, era perceptível quanto o jogador prestava atenção nos amigos. ─ E tem o Hyungwoo... ele quer ser das forças especiais.
Depois que Watanabe terminou de falar e se manteve em silêncio, Sarang estendeu a mão direita até tocar a mão esquerda dele. Os olhos do Tadashi rapidamente rolaram até aquele lugar e uma sensação surgiu ao sentir o estômago borbulhar. Talvez fossem as famosas "borboletas na barriga" ─ que não eram tão fictícias assim, já que tecnicamente, esse sentimento era uma resposta do estômago ao nervosismo real em situações como essa.
Poeticamente, o coração é dito como aquele que mais sente. No entanto, biologicamente, é o estômago que mais sofre com fortes emoções.
─ Você sempre brinca dizendo que não suporta a gente, mas presta atenção em todos nós. ─ Sarang encarou a mão dos dois e depois, os olhos do Tadashi. Um pequeno sorriso surgiu naqueles lábios vermelhos. ─ Eu não vou te deixar sozinho... a gente dá um jeito. Então.... faz o que você quer. Quero que você faça o que te deixa feliz. Se isso seja se mudar ou não, vou estar do seu lado.
Pensar em ficar longe dele também era o tipo de futuro que não imaginava, mas não queria que Watanabe ficasse pensando em como todo mundo está seguindo suas vidas e ele, voltando para onde cresceu. Alimentando a ideia de que ficaria sozinho e infeliz quando se tratava de seu ciclo social. Mas ela entendia... todo mundo pensa em como os outros estão fazendo coisas diferentes e você não.
─ Na verdade eu... ─ Watanabe coçou a cabeça, pensando em como dizer aquilo. Parecia até um segredo de estado. ─ Eu tava pensando em fazer designer quando voltasse... ou ilustração. ─ O rapaz passou seu dedão da mão por cima do dela, acariciando o local. ─ Ainda amo vôlei e não vou parar de jogar... até minhas pernas não aguentarem mais! Mas queria fazer algo diferente.
─ Sério? ─ Sarang quase pulou da almofada, com um sorriso de orelha a orelha. ─ Isso é demais! Definitivamente, você deveria fazer! Seus desenhos são incríveis! ─ Deu total apoio, se lembrando bem de como ele é talentoso. ─ Eu posso te ajudar com isso.
─ Não sei se consigo passar em uma prova de ingresso em...
─ Ah, qual é, não enche o saco! ─ Love imediatamente o interrompeu, colocando a mão na frente do rosto dele. Watanabe pressionou os lábios, silenciando. ─ Vou fingir que você não disse isso e ignorar o fato de ter tido uma das dez melhores notas do Haewadal no Suneung no nosso último ano.
─ Eu filei da sua prova. ─ Mentiu, querendo esquecer por um momento que nesse momento, com aquelas palavras, ele parecia meio nerd.
─ Que mentira, porque nesse caso, eu mesmo te entregaria para o professor! ─ Ela nunca faria isso, mas entrou na brincadeira.
Os dois soltaram uma gargalhada, se divertindo.
─ Vamos conseguir.
─ Vamos? ─ Watanabe arqueou a sobrancelha.
─ Sim. ─ Respondeu carinhosamente. Ela pegou um prato de macarrão e uma garrafa de cerveja, e colocou na frente do Tadashi. ─ Seu sonho se torna meu também.
Ao olhar para ela, ao som de se lembrou da última coisa que escutou em seu quarto quando os rapazes invadiram: ela e seu irmão mais novo já haviam ficado. O mesmo no qual ele matinha uma rixa, que tinham assuntos inacabados. Watanabe não assumiria isso verbalmente ─ não por enquanto mas, depois de escuta-la dizendo que ficaria do seu lado e ao mesmo tempo se lembrar do caso, tudo que ele conseguia imaginar é que os dois seriam só amigos para sempre.
E ele precisava resolver isso.
Não por disputa, mas porque estava cansado de esconder seus sentimentos. Porque não aguentaria passar o resto da vida sendo só amigo de Byeol Jisarang.
Ha Jisoo não pode deixar de sorrir ao ver seus melhores amigos tendo mais do que uma conversa amigável. Não sabia o assunto, mas os viu sorrir e brincar um com o outro após tentarem roubar ambos suas comidas. Eles estavam muito próximos ─ significando que, na escala de planejamento do futuro que ele havia pensado para os dois, estava cada vez mais próximo de ser padrinho... ou tio.
E esse tipo de cena só caía sob um tipo de pensamento: ele sentia falta de ter alguém para compartilhar momentos como esse. Arrumar um namorado poderia não ser o top 1 da sua lista de sonhos no momento, mas poxa, dê um desconto! Esse rapaz sofre até hoje por causa de seu ex namorado ─ esse que está junto com ele em um acampamento, e ainda precisa fingir que nada aconteceu entre ele e o ex melhor amigo do seu ex namorado. Compreendeu? Pois é, meio complicado!
Do outro lado da linha estava Jiseung, solitário como sempre, sentado em uma cadeira de camping na frente da fogueira. Havia uma garrafa de vinho ao lado dele, um taça de vidro e sua mão esquerda e um pacote de biscoitos amanteigados no colo. O capuz preto do moletom cobria parte da cabeça, o deixando mais escondido da vista daqueles que olhavam de trás. E foi exatamente isso que confundiu Jisoo, que não prestou atenção suficiente nos detalhes e chegou tão perto da fogueira, que só notou quem estava lá quando olhou de perto.
Mentalmente proferiu um"merda" e fechou ou olhos instantemente. Seu primeiro instinto foi fugir, óbvio! Após o último encontro deles na cachoeira, as palavras loucas e aparentemente desesperadas de Seun, que eram tão ruins em demonstrações de afeto que às vezes as tratava de qualquer jeito, foram cobertas por um corte rápido de Haji. E ele estava errado? Não. De fato, Jiseung não sabia se expressar e isso também o afetava. Querendo ou não, dizer coisas tão íntimas assim do nada, anos após um término ruim, era esquisito.
─ Fica. ─ Seung falou sem tirar seus olhos da fogueira, movimentando a mão livre para fazer os sinais. Sim, ele estava constrangido depois de levar uma bronca de Jisoo e depois, escondido, de Sarang, e não queria olhar diretamente para Jisoo no momento. ─ Não vou te incomodar.
Jisoo pensou "bem, ainda é estranho nossa interação, mas ele está aparentemente mais calmo". O futuro cineasta pensou muito bem se ficaria, mesmo naquele clima ruim, ou iria embora e continuaria ignorando o Byeol. Ele ainda estava bravo com Seung, ou sei lá, chateado, mas... também tinha dentro de si um certo sentimento de culpa. Não pelo término em si, porque eles precisavam daquilo... ou de uma conversa franca, apesar da imaturidade por casa da idade ou de ter sido o primeiro relacionamento sério com um homem dos dois ─ mas sentia-se culpado pelo outro assunto. O que envolvia Hyungwoo.
Não, eles não estavam namorando nem nada mais, então não era como se tivesse traído literalmente Seung. No entanto, com um término ruim, pegar o melhor amigo ─ quer dizer, agora ex melhor amigo dele não foi o mais inteligente ou talvez, respeitoso de acordo com seus princípios.
Mesmo que não fosse nada proposital e aqueles beijos tivessem começado em uma balada, depois de Jisoo e Hyungwoo se reencontrarem após o Haewadal ─ época em que eram apenas colegas com amigos comum, Jiseung havia ficado magoado. Em um contexto geral. Seun não havia superado Jisoo e Hyungwoo sabia disso... o que foi uma traição ainda maior para ele.
─ Aqui, sei que você gosta. ─ Seun colocou mais vinho dentro da própria taça e ofereceu para Haji. Não era a primeira vez que eles tomariam algo juntos na frente da fogueira. No último ano de ensino médio de Jiseung, quando eles namoravam, foi do mesmo jeito. A diferença era que, ao invés de vinho, era refrigerante.
Seun sabia que Jisoo gostava de vinho, porque também não seria a primeira vez que eles tomariam vinho juntos ─ a última vez foi de frente para a torre do Big Ben, em Londres, em uma video chamada, duas semanas depois da viagem.
Ainda relutante do que deveria fazer, Jisoo resolveu pegar a taça de vinho e "parar" de ter medo daquele encontro. Mas seu estômago borbulhou de nervosismo e ansiedade, tentando imaginar o que poderia acontecer. Byeol Jiseung estar tão bonito aquela noite, com a luz da lua brilhando sob sua cabeça, as chamas da fogueira combinando com o clima e os olhos um tanto embriagados do mais velho, não ajudava nenhum pouco. O cheiro do vinho era ótimo, da melhor qualidade ─ porque claro, Seun era o tipo de pessoa que apreciava uma boa bebida.
Tudo gritava para ficar.
Jisoo acabou puxando uma dessas cadeiras confortáveis de camping e colocou um pouco afastado da de Seun ─ mas não tanto que ficasse claro que ele não queria se aproximar tanto. Seung arrumou-se na cadeira e tirou o próprio cobertor para jogar na direção do Ha. O Byeol estava muito mais protegido, com mais de uma blusa por baixo ─ e ele sabia que Jisoo não gostava de clima frio. E as noites nas montanhas do vale eram quase sempre assim: vento e temperatura mais baixa.
Antes que pudesse contestar, Seung levantou a mão, fazendo um sinal para ele parar. Jisoo, sabendo que ele era teimoso e que não usaria mesmo que ele dissesse não, acabou aceitando.
─ Sua irmã me disse que você está quase diabético... ─ Jisoo 'quebrou' o silêncio, olhando de relance para o pacote de biscoitos no colo do ex namorado. Não se achava no direito de falar nada, até porque eles não estavam mais juntos. Mas é claro que ele ficou preocupado! Jisoo sabia quanto Seung era fã de doces.
─ Esse é o tipo de coisa que vocês conversam? ─ Seung não olhou diretamente para os olhos do Ha, apenas para as mãos. ─ Parece até eu arrumando uma desculpa sobre ela, só pra falar com você.
Depois de se separarem, eles só se comunicavam para falar sobre Love. Então, para ambos, era a desculpa que tinham para mandar mensagem.
─ A gente não conversa só sobre isso! ─ Respondeu na defensiva. Seun tomou um gole de vinho diretamente da garrafa, sem respondê-lo. ─ Ela me contou e eu... eu... só quis perguntar!
─ Você... ficou preocupado? ─ O Byeol questionou, sentindo seu coração palpitar fora do normal. Um pouco nervoso, admitia. Foram alguns anos longe do seu ex namorado, longe de quem ele ainda sentia falta. Para ele, qualquer interação parecia um interesse do outro em saber como ele estava.
Jiseung sabia que não tinha sido o namorado mais legal do mundo, mas ele nunca achou que ele mesmo era uma pessoa tão boa assim. Não que seus irmãos ou Jisoo tenham falado várias vezes para ele o quão importante ele era, ou o quão especial ele era ─ porque falaram. Mas o rapaz sempre se achou insuficiente. Não nos estudos ou na sua futura vida profissional, mas pessoalmente mesmo. Não saber lidar com os próprio sentimentos e os sentimentos dos outros nunca foi fácil... e isso o deixava triste.
Além do que, suas ações foram questionáveis por um tempo. Por não saber lidar muito bem com outros seres humanos, as pessoas sempre achavam que ele era frio. O que muitos viam por fora era beleza ou uma atitude que o fazia conquistar, em mentes fictícias, os outros ─ ele nunca entendeu como alguém poderia se apaixonar ou achar um cara assim interesse. Então acabou que Jiseung resolveu adotar essa capa de "quem não liga pra nada". Se ele falasse, julgariam. Se ele não falasse, também julgariam.
─ Não é isso. ─ Jisoo com certeza era um péssimo mentiroso, mas não queria dá na cara que ele tinha ficado preocupado.
Apesar de tudo que Seung disse desde que chegou no acampamento Ha Jisoo não achava que ele tinha mesmo sentido falta ─ e é compreensível, Jiseung nunca foi de fazer grandes demonstrações de afeto ou de dizer que sentia falta de alguém. Por mais que sentisse.
E isso, óbvio, deixaria qualquer um com dúvidas.
Todo mundo, por mais quieto que seja ou não expresse isso verbalmente, desejaria ter demonstrações de afeto de alguém que ama. É assim que sabemos o que alguém sente de verdade. Não tem como adivinhar.
─ Então tá. ─ Ele respondeu, sem querer discutir.
─ Você por acaso tá com raiva de mim? ─ O cinegrafista estava incomodado com o fato de Seung não olhar para ele. O Byeol costumava sempre olhar bem nos olhos de alguém quando falava. ─ Eu que deveria estar com raiva de você por ter me tratado...
─ Não tô com raiva. ─ Disse, calmo. Seung, que nem ligava mais para quão deselegante ele parecia tomando o vinho direito da garrafa, finalizou a garrafa com um último gole. Uma gota do líquido desceu lateralmente pela boca. ─ Se eu olhar muito pra você, vou começar a chorar de novo. ─ Disse, entendendo o porquê da pergunta. ─ Não quero parecer um idiota... de novo.
Dentro de todas as possibilidades, Byeol Jiseung chorar por Ha Jisoo era quase impossível. Ok, ele esqueceu por alguns minutos que as pessoas poderiam mudar mas, mesmo se isso fosse possível e Seun tivesse mudado, chorar por ele estava fora de questão. Nem conseguia imaginar uma cena dessas! Ele não quis falar, para não parecer totalmente insensível ─ e nem parecer que ele desacreditava totalmente em Seung, porque ele sempre acreditou que o rapaz fosse alguém bom! Mas, era isso que achava em relação a ele, especialmente.
Quando Seung finalmente olhou para ele, Jisoo sentiu o peito apertar. Ele não estava chorando, mas por um momento, percebeu os olhos cheios de lágrima do Byeol. Havia um brilho nele de um sentimento indecifrável, o deixando exposto o suficiente para Jisoo perceber que era verdade. Seung também não era um bom ator ─ e ele odiava mentiras ou fingimento.
─ Jiseung. ─ Jisoo arregalou os olhos, falando seu nome. Dessa vez, utilizando a própria boca para se comunicar. Ele não gostava muito de falar porque achava que sua voz não era a das melhores, mas já havia dito o nome dele em voz alta algumas vezes.
─ Eu sinto muito sua falta, mas eu entendo você não querer mais. Eu fui um idiota. ─ Assumiu, sabendo que quando se mudou, acabou se acumulando de coisas na Inglaterra e não dando muita atenção a ele. ─ Mas acho que você poderia ter esperado um pouco mais, não? Quando me mudei, você terminou comigo um mês e dez dias depois. ─ Seung ainda estava se adaptando em outro país nesse tempo. ─ Não estou te culpando, mas queria que tivesse esperado.
Levar um fora um mês e dez dias depois, pelo telefone, enquanto escutava "a gente nem namoravam mesmo" da boca de Jisoo, foi bem chocante para ele. O relacionamento deles antes da mudança foi muito tranquilo por assim dizer. Obviamente Jiseung deveria ter sido mais expressivo e sentimental, mas eles se entendiam da forma deles e respeitavam espaço e tempo um do outro. Normalmente quando tinha algum problema, Jisoo sempre achava uma maneira de revolve-los ─ até a última vez, claro.
─ A gente ia terminar uma hora ou outra. ─ Jisoo pensava isso desde o começo do relacionamento, mas nunca falou pra não ser pessimista. ─ Mas... peço desculpas por ter feito isso pelo telefone e ter dito que a gente não namorava. Tecnicamente ninguém pediu o outro, mas eu considerava você meu namorado. Nunca achei que só existia um relacionamento de verdade se tivesse um pedido ou uma aliança.
No entanto, Jisoo gostaria de ter ouvido aquelas palavras como todo mundo. Na época ele não tinha muita atitude quando se tratava de relacionamentos amorosos, então não tinha coragem de ir lá e pedir. E Seung também nunca pediu, mas sempre quis chama-lo de namorado na frente dos outros ou andar de mãos dadas como qualquer outro casal. Ele não queria "se esconder" de todo mundo, mas nunca expressou isso, porque achava que Jisoo queria que fosse assim.
Ou seja, também faltou comunicação para seguir dando certo.
─ Ou não. ─ Seung tirou um papel do bolso do moletom e colocou na altura dos olhos dele. ─ Comprei essa passagem uma hora antes de você terminar comigo por telefone. ─ Todas as vezes que ele olhava para o papel, batia um sentimento de tristeza. ─ Pode até ser que não daria certo, mas eu ia tentar consertar tudo. Queria muito te fazer essa surpresa, mas não aconteceu. Pode não parecer, mas mesmo que demore um pouco, eu noto as coisas.
Assim como Watanabe Choi Tadashi que costuma não falar pra todo mundo quando percebe algo, Byeol Jiseung agiu da mesma forma. Ele já tinha percebido o distanciamento dos dois nas últimas duas semanas e havia escutado da sua irmã e de alguns amigos próximos que Jisoo estava triste. Principalmente, quando citavam o nome dele ou perguntavam como ele estava. Então Seung decidiu fazer uma surpresa para o ex namorado e passar uma semana na Coreia do Sul, para que os dois conversassem melhor sobre isso. A questão é que: uma hora depois de comprar a passagem, Jisoo terminou com ele.
─ Mas você estava bem no início das aulas... ─ Jisoo levantou-se de repente da cadeira, assustado. ─ Como assim você vinha pra Coreia? E porque você não disse nada hora? ─ Suas mãos se moviam com indignação. O silêncio de Seung na ligação e o "tudo bem" dele naquele dia ainda ecoavam na sua mente. ─ Eu achava que você nem ligava mais pra mim!
Se pudesse mata-lo, mataria. Tudo que ele conseguia pensar é: esse idiota me deixou fazer essa besteira sem falar nada! Tudo bem, eles até poderiam nem dá mais certo depois, mas mesmo assim... tudo poderia ter tomado outro rumo.
Seun também levantou e sorriu sem graça. Se arrependia amargamente de nunca ter dito nada, mas não tinha mais volta. O que ele poderia fazer naquele momento era dizer a verdade e esperar que Jisoo entende-se seus sentimentos.
─ Eu disse o que eu fiz, não que fui inteligente. ─ Porque ele certamente se achava burro só de lembrar. ─ Acho que eu precisava dizer isso e me livrar disso. ─ Ele balançou a passagem. O papel tinha traços enrugados e algumas manchinhas. ─ Bom, é isso!
O mais velho agachou ao lado de Jisoo e pegou outra garrafa de vinho dentro de um cooler ─ sim, ele odiava vinho quente. Com muita praticidade, usou um saca rolha e retirou a tampa para começar a acabar com uma segunda garrafa. O Ha acompanhava tudo com o olhar, estático. Chegando a piscar os olhos e voltar para a realidade quando a taça já vazia, pesou ao ser preenchida com o vinho.
─ Você tá bêbado? ─ Perguntou, achando essa a única resposta possível para essa conversa.
─ Ainda não. ─ Talvez ele estivesse ficando, mas só um pouquinho. Ainda não tinha começado a chorar de verdade ou tagarelar sem parar. ─ Esse é o objetivo.
─ A gente vai fingir que essa conversa nunca existiu? ─ Questionou. Seung ficou calado e levou um biscoito até os lábios, mas Jisoo tirou antes que o mesmo mordesse. ─ Em?
─ Para de ser chato e só bebe o vinho. ─ Seun puxou de volta, enfiando o biscoito inteiro na boca de Jisoo. Não tinha nada haver com "calar a boca", porque eles estavam conversando em língua de sinais. Era mais pra tentar distrai-lo. ─ E come isso. É vegano, pode comer!
─ Eu? Chato? ─ Jisoo soltou uma risada silenciosa e debochada. Ele até tomou um gole do vinho só de raiva. ─ Você que é o chato aqui!
LEE HYEJIN E KANG NAMDONG jogavam dardos em um alvo há pelo menos dez minutos, quando ele resolveu puxar assunto com a garota e investir naquela amizade. Os dois tinham muito em comum e, se não fosse pela timidez de Leah, os dois certamente já teriam sido amigos há um bom tempo. Mas calma, tudo em sua hora! Namdong acreditava que tudo acontecia por um motivo e não tinha porque ficar lamentando pelo que passou. O que ele poderia fazer era, dessa vez, demonstrar que queria conhecê-la. Não apenas na intenção de um relacionamento amoroso, mas como duas pessoas que tinham um relacionamento divertido e tranquilo.
Seu último namoro de quase dois anos com Kang Jangyuri foi cheio de altos e baixos ─ e ele não queria mais aquilo. Não é que foi ruim, porque durante um tempo o relacionamento deles funcionava muito bem e era saudável. Mas com o tempo ficou cansativo em tudo e o fato de Yuri desconfiar dele em muitas coisas o deixou chateado... até passar para a fase da raiva. Tudo no ensino médio foi muito intenso e o que ele queria no momento era tranquilidade.
Ao contrário de Namdong, que tecnicamente poderia ser considerado um "experiente" no quesito namoro, Hyejin mal saía de casa. Sim, ela sabia que sua vida poderia ser considerada chata e sem graça, resumida em faculdade, estágio e dar aulas particulares, mas estava acostumada com a quietude e introversão. Leah também tinha muitas incertezas, e algumas delas eram: como alguém poderia gostar dela e como ela seria a namorada de alguém algum dia. Ela nunca namorou, então não sabia a sensação e achava difícil se imaginar com alguém assim. Não porque ela não queria, mas porque se achava desinteressante nesse quesito.
Ser demissexual e tímida também estava dentro desse pacote. Na cabeça dela, poderia ser difícil encontrar alguém que gostasse conhecer mais o outro.
O que os dois poderiam dizer que tinham em comum, além de gostos relacionados a animais, veganismo, conforto em ambientes hospitalares e o gênero comédia romântica, é o fato de ambos gostarem de conhecer a pessoa de verdade. Namdong não considerava que conversar com alguém fosse exatamente a coisa primordial para ficar com alguém, mas levava em conta quando queria algo sério.
─ Estou passando vergonha, eu sei! ─ Pouco atlética ou esportiva, Hyejin nunca nem havia jogado dardos para começo de conversar. Foi algo totalmente novo, mas ela estava indo bem, por mais que achasse que não.
─ Você acertou pelo menos! ─ Namdong via potencial em tudo e passava uma vibe mais positiva. Facilmente acreditava que as pessoas eram capaz de conseguir algo. ─ Só precisa pegar o jeito.
─ Tem um jeito? ─ Fisicamente ela sabia que tinha, mas acreditava que não conseguiria ser tão experiente assim nem se tentasse muitas vezes. O maior hábito esportivo que ela tinha era de caminhar todas as tardes com os cachorros dos vizinhos... que também lhe proporcionava renda extra.
─ Sim. ─ Sendo um amante de jogos, inclusive os que incluía boa mira e sorte, Nam já havia jogado dardos milhares de vezes. ─ Quer que eu te mostre?
Ela pensou: como ele faria isso? Porque, para ensinar alguém a mirar em um alvo, você no mínimo, teria que se aproximar da pessoa. E contato físico não era muito o forte de Hyejin ─ apesar da sua melhor amiga Sarang ignorar isso todas as vezes e fazê-la acreditar que sim, talvez ela goste de abraços. Bem, Leah também pensou: eu vim aqui por um motivo. Sim, foi para ajudar sua amiga, mas também era pra tentar encontrar alguém.
Depois de tantos encontros a cegas na Inglaterra, às sextas-feiras, tentar se aproximar de alguém como Kang Namdong não era a pior delas. Pelo contrário, deveria ser "mais fácil". Nam parecia ser um cara legal! E apesar de ter trocado poucas palavras quando estavam no ensino médio, principalmente porque ele namorava e sua namorada era ciumenta, o veterinário a divertiu nas poucas interações.
Então, reunindo coragem e nem passando pelo sua cabeça que Namdong ultrapassaria dos limites, ela concordou balançando a cabeça.
─ Não pode nem inclinar pra frente ou para trás, porque dá menor estabilidade na hora de jogar. ─ Ele mostrou uma posição para jogadores destros, mantendo seu pé direito à frente e o esquerdo um pouco atrás. ─ Você vai fazer mais peso no direito, mas não pode se inclinar pra frente. E o dardo você segura assim...
Namdong pegou o objeto na mão direita e passou pelos dedos até encontrar o centro da mão. Colocando seu polegar no centro do dardo e outros dois dedos do outro lado, segurando-o. A ponta do dardo estava levemente para cima, mas sua postura estava reta e com os pés espaçados como disse. Hyejin tentou imitar, mas não deu muito certo já que a mesma não tinha prática.
─ Assim? ─ Perguntou, inclinando o corpo involuntariamente e deixando o dardo em uma altura errada.
O veterinário se aproximou de Leah e após pedir licença, ficou atrás dela. O garoto ajustou sua posição, movimentando a cintura dela com as duas mãos e depois, segurando a mão dela junto com o dardo. O coração de Hyejin automaticamente começou a acelerar quando seus corpos se tocaram. A respiração de Kang Namdong tão próxima do seu rosto a causou arrepios e uma sensação de desespero. Ele era quente e tinha um cheiro floral, leve e não muito doce, perfeito para o olfato ─ cheirava exatamente como ela imaginava o garoto do campo.
─ Assim. ─ Nam respondeu. ─ Agora é só jogar!
─ Forte? ─ Indagou, sem saber mais o que estava perguntando. Só não queria dá na cara que ficou envergonhada.
─ Não, só precisa de precisão e... ─ O loiro puxou levemente a mão dela para trás junto com a dele e, em segundos, com uma jogada leve e precisa, o dardo havia caído bem no meio do alvo. ─ Ponto!
A Lee sorriu, dando alguns pulinhos de alegria e entusiasmo, incomum vindo dela. Não que Leah fosse triste, ela só não costumava demonstrar com frequência e externar seu divertimento com pulinhos ou risadas acima do tom de voz normal!
Namdong sorriu junto com ela, ficando com aquela cara boba de alguém que havia achado algo extremamente fofo. Fazia um bom tempo que ele não tinha um encontrou que não é bem um encontro tão divertido e com uma pessoa que tinha tanto em comum. Entrar em outros aplicativos de namoro não deu muito certo, tendo péssimas experiências na maioria deles. Sendo alguém que desejava um relacionamento sério, a maioria dos seus "matches" foram com pessoas que não queriam nada sério, ou que a conversa acabou não desenvolvendo nada demais. Seus encontros? Cada um pior que o outro.
Ele começou a se perguntar se o problema era ele, ou se realmente ninguém mais no mundo desejava encontrar sua outra metade.
Diante dos olhos brilhantes de Namdong, Leah percebeu o quanto o loiro lhe encarava. Mesmo que pudesse ser óbvio para qualquer um ao seu redor, demoraria um pouco para a coreana entender o verdadeiro significado de todos aqueles gestos. Logo que sua mente voltou para a realidade, a estudante de veterinária percebeu que talvez seus gestos tenham sido demais. A vergonha bateu instantaneamente! Hyejin deu dois passos para trás, pigarreou e desviou o olhar do rapaz. Suas mãos começaram a suar frio e ela relembrou a sensação de como era ficar nervosa por alguém.
─ Eu soube que você tem dado aulas. ─ Nam não quis deixar o clima tenso, mesmo depois de perceber que ela havia ficado com vergonha. Além disso, queria continuar conversando e saber um pouco mais sobre o presente de Leah. ─ Parece legal.
─ Bem, ajuda no currículo, eu gosto de dá aulas e também ganho um dinheiro extra. ─ Mesmo sendo introvertida, dar aulas sempre foi mais fácil. Era melhor e mais prático se comunicar com estudos do que com particularidades e intimidades dos outros. ─ Mas sua vida parece muito mais divertida! Você já é formado e tem uma clínica... isso sim parece legal.
─ É, meu avô estava meio doente e eu fiquei no lugar dele, mas agora... ─ Antes de falar o loiro tomou um gole de energético. Ele sabia que a bebida não era das melhores, mas queria se manter acordado e estava com um pouco de sono. ─ Agora que ele tá melhor resolveu tirar férias e deixar a bomba pra mim. ─ Falou brincando... ou mais ou menos brincando. ─ Às vezes acho que aquele velho estava me enganando só pra se livrar dos problemas e passar pra mim!
Hyejin soltou uma risada.
De fato o avô de Namdong queria que seu neto assumisse, sempre foi o sonho dele. Quando o melhor senhor Kang ficou doente e alguns meses depois melhorou, ao perceber que o neto estava indo muito bem, resolveu tirar férias... que duram até hoje. Nam sabe que seu avô não pretende voltar para a vila e que sempre dará uma desculpa para que ele fique lá, mas o rapaz ainda não se decidiu se quer continuar na zona rural ou voltar a viver na cidade. Dessa vez, em Londres.
─ Isso é tão fofo... seu avô deve amar e sentir orgulho de você. ─ A Lee falou. Seus olhos também encheram-se de orgulho e admiração pela atitude do seu jovem ex colega de classe. ─ Acho que é algo de família ajudar! Como sua mãe.
Sim, aquela história de que a senhora Kim, mãe de Namdong, uma médica especializada em ginecologia obstétrica, tentou ajudar Lee Chayoung a ter seu primeiro filho. Apesar das primeiras tentativas terem sido falhas após muitas complicações, foi a própria Kim Sieon que ajudou a família na adoção, com uma lista de crianças disponíveis no banco de dados do centro de adoção do hospital de Seul. E logo mais, quando Chaeyeong finalmente conseguiu, acompanhou a mulher quando teve Lee Haewon, irmã mais nova de Leah.
─ Ainda fico surpreso quando lembro disso! ─ Quando escutou a história dos pais, meses depois da formatura, ficou chocado.
─ Eu também! ─ Hyejin concordou. Além de achar tudo muito louco, ela também achava extremamente interessante. Ficava feliz de saber que eles tinham essa ligação antes mesmo do nascimento. ─ Parece até aqueles roteiros de filmes.
─ Pode parecer clichê, mas... nossas vidas parecem estar destinadas como um grande filme romântico de sessão da tarde. ─ Ele riu, causando esse mesmo sentimento nela. Namdong acreditava em destino, em romance, em clichês e em diversos ramos ligados ao assunto. Ele não se incomodava em parecer emocionado ou iludido. ─ Eu gosto disso. Gosto de ter essa ligação com você.
E mesmo que ela não falasse ou não soubesse como expressar esse mesmo sentimento, Lee Hyejin não poderia deixar de concordar.
Em uma "energia" muito diferente daquela vista dias atrás, Clarity Go e Byeol Jiseong estavam algumas horas sem brigas. Isso era um grande avanço! ─ tendo em vista que ambos ainda tinham sentimentos mal resolvidos um pelo outro.
Go Naeun, ou Clarity para os mais íntimos, não tinha essa noção de que havia magoado a pessoa mais importante de sua vida. Longe dela deixar de lado Seung ou Sarang, que também fizeram parte de momentos tão importantes na sua vida, mas é que o irmão do meio havia conquistado um espaço diferente em seu coração. Um espaço que ela sequer chegou a entender com qualquer outra pessoa ─ não que ela entenda agora, rs. É que... mesmo sem saber explicar exatamente o que ela sente e ter uma personalidade um tanto complicada para lidar com essas questões, Nana sentia que Seong era importante o suficiente para ser digno do seu coração e de seus ciúmes.
Angel costuma usar mentalmente a desculpa de que seu grau leve de autismo tem haver com a mudança de humor repentina ou a personalidade meio complicada. De fato, o autismo de grau leve afeta a comunicação, socialização e comportamento, causando uma desconexão entre as expressões emocionais e o contexto, mas também cabe a outras situações. Mas, se for perguntar a alguém, dificilmente notariam que Naeun tem o Transtorno do Espectro Autista.
Quase ninguém do Haewadal sabia que ela tinha o TEA.
Jiseo era uma das poucas pessoas que sabia, mas o rapaz nunca a tratou diferente por isso. Claro, ele entendia que algumas reações como a falta de tato ou a pouca vontade de contato físico poderiam ter haver com o transtorno, mas tratá-la diferente só faria as coisas ficarem mais difíceis para ela. Então ele lidava com calma e tranquilidade, mesmo que a maioria das pessoas não tivessem paciência ─ e bem, não dá pra julga-las, devido as atitudes um pouco questionáveis de Clarity. Mas enfim, felizmente ela havia encontrado alguém que conseguia lidar com ela mais "fácil" do que o esperado.
No entanto, as coisas mudaram quando Clarity trocou Jiseong e o dia especial do seu amigo, por um encontro. O Byeol se sentiu traído, com raiva e chateado. Não pelo encontro em si... tecnicamente eles não tinham nada romântico, eram apenas amigos, mas a chateação foi pela falta de consideração no quesito amizade. Acima de tudo, a exposição fofa e romântica preparada por Seong também foi feita para fazer Naeun se sentir bem. Se sentir amada e saber que ela teria o Byeol para sempre ao lado dela. A cantora estava há uns dois meses com alguns problemas e, sabendo disso, o fotógrafo resolveu fazer uma surpresa.
Juntando o útil e o agradável, ele resolveu que, além de fazer algo especial para ela, também revelaria naquele dia seus sentimentos.
Mas não deu certo.
Após a breve discussão na cachoeira eles não se falaram mais. Se trombaram várias vezes, quase como um karma, mas todas às vezes Seong afastou-se. Sabendo de como ele era, dava para ver o quão chateado o rapaz havia ficado... não era da personalidade dele fazer picuinha ou implicância. Naeun parou um pouco depois daquilo e pensou no que ele havia dito. Ainda não sabia de todas as chateações que ele carregava, mas teve uma breve ideia de que o afastamento começou no dia da exposição e porque ela não foi vê-lo.
Clarity passou ao lado de Jiseo algumas vezes, apenas analisando o "território". Ele estava calmo e sereno, sentado em uma cadeira de acampamento de frente para as montanhas, enquanto dedilhava um violão ─ e claro, com sua câmera do lado. Mesmo que não fosse o melhor momento, ela deu um pequeno sorriso, lembrando do quão artístico o Byeol costumava ser. Tendo um violão e algumas melodias como um de seus vários hobbies, como pintar, andar de bicicleta, visitar museus e entre outras coisas culturas e criativas.
Ela resolveu se aproximar novamente e tentar fazer com que ele fala-se com ela. Ninguém, de verdade, ninguém realmente imaginaria que Clarity insistiria tanto em falar com alguém e tentar entender o que aconteceu, como foi com Seong. Ele passou anos da sua vida correndo atrás dela e tentando acalma-la ou ser seu "apoio" ─ alguns também poderiam dizer que ele era sim "capacho" de Go Naeun, o que não era totalmente verdade porque ela não o maltratava. Mas sim, Seong costumava demonstrar muito mais e correr atrás dela, enquanto Naeun parecia se importar em ter coisas ou relações com outras pessoas.
Ele sempre parecia na friendzone.
Enfim! Após um toque de ansiedade e ter acendido um cigarro para acalmar, ela o jogou no chão e pisou na bituca antes de ir falar com ele. Chegando até a jogar rapidamente um chiclete na boca para disfarçar o cheiro.
Seong não gostava de cigarro.
Clarity até chegou a parar de fumar por causa dele. Algumas pessoas costumam dizer que você não deve mudar seus gostos ou personalidade por causa do outro, mas nesse caso, foi bom para os dois. Naeun guardou seus anos de vida e seu pulmão, e Seong parou de ser um fumante passivo ─ ou de sentir o amargo cheiro de Malboro.
Arrumando sua postura, ela puxou uma cadeira para ela também e colocou ao lado de Seong. Naeun pigarreou, chamando atenção do Byeol ─ que olhou para ela e a ignorou. Focando no seu violão e no café com nozes dentro da garrafa térmica.
─ Então... você voltou a tocar? ─ Naeun perguntou, puxando assunto. Ela não disfarçava e fazia questão de olhar para ele, na intenção que o Byeol fizesse o mesmo.
─ Nunca parei. ─ Respondeu Jiseo, seco. ─ Provavelmente você nunca notou.
Naeun soltou um palavrão, baixinho. Nem o diabo havia lhe colocado em uma situação tão delicada e constrangedora.
─ Mas e o cabelo? Cortou? ─ Ela realmente tinha notado alguma diferença nele depois desses meses de separação. Não é possível que não tinha nada de diferente nele. ─ Não, você pintou mais?
─ Continua do mesmo jeito. ─ Talvez ele tenha deixado crescer só mais um pouco, mas não daria esse ponto tão fácil para ela. Estava até achando interessante ser implicante pelo menos uma vez na vida. Era alucinante! ─ E não, a cor é a mesma.
Obviamente ele havia retocado o cabelo antes de ir para o acampamento. Além de passar pelo menos várias hidratações para aguentar o tranco.
─ Você tá mais forte? ─ Na cabeça de Clarity, aqueles braços não estavam ali alguns meses atrás.
─ Na verdade eu emagreci e parei de ir pra academia. ─ Mentira, ele havia ficado um pouco mais forte sim. Até admirou que conseguiu formar seus "muques". Mas ele realmente parou de fazer academia e começou a correr e andar mais de bicicleta.
De fato, academia era, de longe, o lugar favorito dos Byeol. Sarang era a mais atlética, mas adorava esportes e fazia karatê. Seong amava andar de bicicleta e correr nos parques. Seung odiava exercícios e gostaria de ser sedentário, mas foi obrigado a fazer algo e escolheu o pilates. Enquanto Junho acabou indo pra academia mesmo, porque era mais prático... mesmo que ele não gostasse.
─ Porra, você vai ficar nessa até quando? ─ Deixando que seus pensamentos saíssem sem um filtro, ela falou. Seong finalmente olhou para ela, incrédulo. ─ Não gosto desse clima de merda entre a gente.
─ E porque tá parecendo que a culpa é minha? ─ Seong soltou um riso debochado, achando tudo isso demais. Ele definitivamente não levaria culpa por algo que não fez e nem se desculparia de uma situação que nunca foi culpa dele. Não que ele fosse santo, mas cansou de fingir que ficava "tudo bem" quando alguém machucava seus sentimentos. ─ Acho que você deveria ir embora.
Em outra época ele também sairia, mas dessa vez, não. Porque ele teria que sair sem ter feito nada? "Ela que chegou depois, ela que vá embora". Pensar nisso cortava um pouco o coração de Jiseong, mas ele estava disposto a mostrar que não aceitaria mais qualquer coisa. Algumas sessões de terapia com sua irmã mais nova sobre ele e esse assunto, o fez pensar melhor nas coisas. Seong provavelmente continuaria sendo o mesmo cara emocionado e romântico de sempre, ignorando as probabilidades de que querer um relacionamento de conto de fadas era muito difícil ─ mas sim, ele sabia que os relacionamentos não eram perfeitos!
A questão é que Jiseong acreditava que o "conto de fadas" era muito relativo para cada um. Cada um tinha o seu, assim como as histórias de fantasia descritas.
─ Você tá bravo comigo por algo que eu não entendo.
─ Sinceramente, eu não tô nem mais aí se você vai sair com a ou b, ou se vai ser recíproca com algo... não faz diferença. ─ O que era mentira, porque ele ficaria. Mas Jiseo acreditava que superaria isso algum dia. ─ Não pretendo mais esperar que você vá me priorizar.
─ Do que você tá falando? ─ Naeun arqueou a sobrancelha, sem entender. Elas nunca tiveram uma conversa como aquela, já que Seong numa foi tão sincero quanto deveria sobre esse assunto.
─ Clarity, eu sempre abrir mão de ser realmente sincero com você. ─ O jovem suspirou pesadamente, sabendo que não poderia mais evitar aquele assunto. ─ Não tô dizendo que você foi uma péssima amiga, porquê não foi, mas... seus problemas, suas vontades e seus pensamentos sempre estavam em primeiro lugar.
Apesar de não parecer, Naeun era uma pessoa que observava e era muito sensível as emoções de outras pessoas. Normalmente sendo uma das primeiras pessoas a querer ajudar, mas... quando se tratava dela mesma ou de Byeol Jiseong, ela evitava muitas vezes enfrentar. Seus conselhos para Seong não eram tão sinceros quanto ela gostaria que fossem, porque sabe que não tinha o direito de falar diretamente algo ─ assim como ele, que não queria falar certas coisas para ela.
Por mais que ela conseguisse demonstrar suas inseguranças e defeitos para Seong, tinha medo que o garoto a rejeitasse em algum momento.
E aparentemente esse parecia o momento.
─ Eu acho você uma pessoa incrível e acredito que você se importou comigo, mas percebi que não é o suficiente pra mim. ─ Definitivamente, alguém cansado de receber pouco, não especificamente dela, mas de seus interesses em geral, e sempre entregar tudo de si. ─ Meu erro foi esperar demais. Não é certo criar expectativas de outras pessoas.
Fortemente emocional e duramente vulnerável a críticas e as suas inseguranças, Go Naeun pela primeira vez em tanto tempo o peito da garota apertou. Ela estava ouvindo alguém que ela tanto gostava dizer o quão decepcionado estava com ela. E bom, algumas pessoas até podem achar exagerado da parte de Seong, mas o garoto havia sido deixado de lado em um dos dias mais importantes da sua vida por um mero encontro. Qualquer um ficaria frustrado! Mas também talvez seja compreensível sentir pena de Naeun... apesar dos defeitos que com certeza precisam ser avaliados, ela só está com medo. Provavelmente um pedido de desculpas e uma mudança de hábitos faria bem a ela, caso a garota notasse.
Era difícil não tentar entender os dois lados. Cada um tem sua opinião sobre isso.
─ Nossa, você falando isso até parece que é perfeito! ─ Naeun sussurrou baixinho, mas Seong escutou. Ele não iria brigar, não queria fazer isso. A garota percebeu o que falou, pressionou os olhos e xingou mentalmente. ─ Eu sei que não sou perfeita, mas não entendi porque você ficou tão bravo. Não podemos esquecer isso e voltar ao que éramos?
Ambos tinham aversão a conflitos, mas resolviam de maneiras diferentes. Ele tentando ideais para ficar tudo bem, e ela, fugindo deles até que fossem esquecidos no limbo.
─ Não é assim que as coisas funcionam, Clarity. ─ Chama-la pelo nome era meio estranho, mas necessário para criar o clima de alguém que ainda estava chateado. ─ Imagina se eu ignorasse suas coisas e não te apoiasse? Não fosse em um show seu muito importante? ─ Provavelmente Seong faria de tudo para ir. Ele realmente só não iria se não pudesse de verdade ou tivesse uma urgência. ─ Pessoas importantes para nós fazem diferença em momentos importantes, e... você me deixou em um momento assim por um motivo idiota.
─ Eu não lembrava que não teria outro dia. ─ Realmente ela não se lembrava disso, mas também o máximo que fez foi mandar uma mensagem vinte minutos antes do horário marcado para avisar que não iria e nem atendeu as ligações do Byeol. ─ Você não pode só me desculpar e deixar isso pra lá? Dá próxima eu juro que vou!
O Byeol tomou o último gole de cafeína da garrafa, lambeu os lábios e deu um pequeno sorriso. Não um sorriso de alguém que estava contente com a resposta, mas um sorriso gentil o suficiente para ser só gentil e educado. Nada mais do que isso. Nada que pudesse ter uma esperança. Ele segurou o violão com uma das mãos e com a outra, enfiou a mão no bolso, retirando de lá três fotos polaroids relativamente amassadas por estarem na calça.
─ Não vai ter próxima. ─ Ele estendeu a mão com as fotos, sem se levantar da cadeira. ─ Eu não quero mais me magoar. ─ Com uma cena dramática e um fundo com um céu estrelado, entregou as polaroids. As próprias mãos dele estavam um pouco suadas, provavelmente de nervosismo. ─ Mas quem sabe possamos ser colegas de novo depois.
─ Colegas? ─ Naeun falou, indignada. Totalmente desacreditada que ela, Clarity Go Naeun, parecia estar levando um baita fora de Byeol Jiseong. ─ Eu não quero ser sua colega. Somos amigos! Somos...
Sério, ela nem conseguiu falar a verdade e já levou um fora!
─ Aliás, eu gostei do seu novo álbum. ─ Seong a ignorou, se fazendo de difícil. Ele desculparia Naeun se ela realmente entendesse o que fez com ele, mas parecia estar mesmo afim de desistir do seu romance idealista. ─ Endless love é minha favorita. Eu sei, meio batido eu gostar de música romântica, mas fazer o que!
Os fones de ouvido sem fio ligados ao violão, voltaram para os ouvidos de Seong antes que Clarity insistisse na conversa. Ele estava se controlando para não chorar desde que a viu novamente ─ sentindo todo o drama envolvido nessa relação e o quão abalada ela ficou. Levado a desistir dos seus sentimentos românticos pela sua amiga, ele nunca imaginaria que a música favorita dele no momento, na verdade era dedicada a ele.
DESDE QUE AURORA LEE E FELIX HYOJONG se encontraram pela última vez na cachoeira, em uma cena digna de drama coreano ─ assim como vários outros casais, que aparentemente adoravam isso, eles não se comunicaram mais. Um olhar perdido ou outro, no máximo um bom dia e um sorriso sem graça por parte dos dois. Raramente eles sentiam-se tímidos, mas essa volta ao passado e a lembrança ao único momento romântico na piscina da Haewadal, trouxe um sentimento único.
Eles não eram apaixonados um pelo outro no ensino médio, longe disso, passaram a maior parte do tempo em grupos diferentes. No entanto, é claro que pode ser sido notável que ambos poderiam enxergar beleza um no outro ─ e especificamente Aurora, que teve um pequeno crush no rapaz desde que ele a salvou na piscina.
Por isso a estudante de medicina ficou tão surpresa e sem palavras quando viu Felix novamente! Ela havia superado o rapaz e até tinha esquecido daquele momento. Nunca mais haviam se encontrado ─ nem mesmo no natal dos Byeol, então foi mais fácil ignorar um crush e seguir sua vida normalmente. Então o reencontro foi surpreendente. Felix, por sua vez, se lembrava claramente da garota loira da classe do lado que salvou da piscina.
Para ele, foi fácil de identificar.
O horóscopo do dia de Seulgi revelava que seu dia seria ótimo, com uma grande surpresa em algum momento e com atos românticos. Até agora, pelo menos, nada demais havia acontecido. Foi um dia bem tranquilo e comum, aproveitando o sol do vale e a natureza apreciável. Assim como Felix, passou o dia conversando com seus amigos, gravando alguns vídeos, realizando seus hobbies e apenas esperando para que a noite caísse e eles pudessem fazer a fogueira.
Já Felix não não tinha o costuma de ler horóscopo ou fazer testes na internet ─ nem de ler muitas coisas, na verdade, ele preferia escutar podcast ou audiobook, mas aceitaria numa boa se alguém pedisse para ver seu horóscopo do dia ou um teste da capricho. Sabe, ele levava numa boa e até ficava surpreso se tivesse haver com ele.
Mas se havia uma coisa que eles tinham em comum era que cada um tinha sua própria trilha sonora de música para um momento ideal. E claro, cada um com sua maneira diferente de classificar!
Por exemplo, Seulgi tinha uma superstição de que, quando a pessoa certa aparecesse para ela, em algum lugar começaria a tocar "Genie", do Girl's Generation. Isso porque: um, Genie é sua música favorita e dois, fala sobre amar e apoiar alguém em todas as dificuldades. E para ela, as coisas nunca acontecem por acaso, então com certeza vai ser um sinal do universo! Já Hyojong acreditava que tudo na sua vida poderia ter uma trilha sonora. A morte do seu pai? Like a Prayer, da Madonna. Seu término mais marcante? Bye Bye Bye, do *NSYNC. Quando achar sua outra metade? I Want It That Way, a música do seu grupo favorito.
Porque se tinha Felix, tinha Backstreet Boys. E se tinha Aurora, tinha Girl's Generation.
─ No que você está pensando? ─ Felix perguntou a Aurora ao chegar de fininho ao lado dela. A garota estava olhando para o nada, com um canudo de metal encostado na boca e os olhos fixados em uma direção aleatória. ─ Aurora?
A loira piscou várias vezes seguidas ao identificar até finalmente entender quem estava do seu lado. Ela largou o copo colorido na mesa mais próxima e engoliu o resto do líquido preso na garganta. Demorou um pouco até que pudesse identificar que o surfista bonitão estava ali do seu lado, falando com ela novamente. Uma vergonha instantânea bateu ao se lembrar da última vergonha que passou na frente dele ─ porque pelo visto, quase se afogar na frente dele era o tipo de coisa que parecia ser recorrente. Naquele minuto ela trabalhou a mente como nunca havia trabalhado antes. Sério ela até era uma pessoa prática, mas ficava cada vez mais difícil não parecer uma idiota na frente dele.
Com pouco disfarce, ela encarou Felix com dúvidas e coçou a cabeça. Entre seus milhares de pensamentos estavam: "o que ele veio falar comigo?", "será que meu cabelo tá bagunçado?" ou "e se eu não desliguei a televisão antes de sair de casa?". Enquanto isso, o surfista pouco pensava e esperava uma resposta da loira.
Seu tivesse uma trilha sonora para esse momento, Felipe ─ que dizer, Felix, pensou em Sweet Dreams, só porque parecia um momento muito tenso! Até se lembrando daquela cena em câmera lenta do x-men. Nada haver com o assunto, mas tudo bem!
─ Ei. ─ A mão de Hyo balançou lentamente na frente dos olhos de Seulgi. ─ Tudo bem?
─ Você ainda quer falar comigo? ─ Ela sorriu simpática. Aurora jogou as outras perguntas de lado na mente e focou no rapaz a sua frente. Falando as coisas da maneira mais nua e crua possível. ─ Mesmo eu quase morrendo na sua frente duas vezes?
─ Não foi proposital né, porque eu não falaria? ─ Sorriu de volta, achando graça. Felix achava até engraçado quando pensava nisso, lembrando das duas vezes em que precisou salvar a moça de um afogamento. Na cabeça dele era basicamente uma cena de filme de comédia romântica, mesmo que na época o romance tenha passado um pouco longe. ─ Ou foi?
─ Você acha que eu iria tentar me afogar só pra você me salvar? ─ Aurora riu, dando um tapinha no braço do surfista. Seu tom não tinha nada de grosseiro era, no mínimo, sarcástico e cômico. ─ Posso não ser a pessoa mais inteligente do mundo, mas aí já foi ofensa!
Felix também entendeu como uma piada, tanto que bateu a mão esquerda na testa, como se dissesse "seu idiota" e sou uma gargalhada. Deixando o clima leve e descontraído.
─ Na verdade eu fiquei feliz de estar ali pra te ajudar. ─ Felix passou a mão direita no cabelo, o jogando para trás. Mesmo que estivesse sentindo-se um pouco ansioso ao conversar com ela, não queria demonstrar timidez. Suas mãos até suaram um pouco, mas ele logo as colocou no bolso do moletom. ─ Mas acho que você precisa de algumas aulas de natação!
─ Mas eu sei nadar! ─ A loira exclamou, dando um pequeno pulinho no lugar. ─ Eu só... esqueci.
─ Como alguém esquece que sabe nadar? ─ Perguntou com sinceridade, já que isso nunca tinha sido palta para ele. Qualquer outra pessoa acharia aquele papo meio maluco pela seriedade da pergunta... mas tudo bem, eles entendiam como se comunicar. ─ Você é da Flórida, não é? E eu vi nas suas redes sociais que você surfar, então... como que você esqueceu?
Apesar das caídas na água e os dois quase afogamentos inesperados, o único esporte que Aurora praticava era surfe desde pequena. Muito mais na Flórida do que na Coreia, até por não ter praia tão perto de onde ela morava e não ter muito mais tempo de se deslocar várias vezes na semana pra fazer isso.
─ Não sei, só deu um branco na hora! ─ Respondeu com sinceridade. Seulgi realmente nunca havia entendido como poderia esquecer disso e acabar se desesperando enquanto quase se afogava. ─ Então obrigado por me salvar surfista bonitão!
Mas até tinha uma explicação simples... relacionada ao medo mesmo, que poderia causar um gatilho em alguém e a pessoa ficar em desespero e esquecer dessas habilidades, nesse caso.
─ Estarei sempre aqui pra te salvar se precisar. ─ O rapaz deu uma picadinha, sendo o mais solicito possível. Bem, ela o chamou de bonitão, então tinha abertura ao menos para "flertar" do mesmo jeito.
Não que eles estivessem flertando.
Aparentemente o som ambiente estava ajudando Felix Hyojong, já que começou a tocar September, do Earth, Wind and Fire. O obcecado em músicas antigas, totalmente por causa dos pais ─ principalmente do seu pai, o senhor Lee Kwongi, simplismente não poderia deixar de notar a coincidência que a música tinha com o momento. Não o local especificamente, mas haver com eles, já que Aurora e Felix acabaram interagindo pela primeira vez no dia 21 de setembro do último ano de ensino médio dos dois. E bom, a música falava exatamente sobre isso, sobre um casal que estava apaixonado no vigésimo primeiro dia setembro.
─ Que música é essa? ─ Não que Aurora não conhecesse músicas antigas, mas não era tão fã quanto era de outros estilos. ─ Não lembro dela, mas é bem alegre!
─ Aurora. ─ Felix chamou.
─ O que? ─ Ele indagou.
─ Quer dançar comigo? ─ O garoto mantinha o mesmo sorriso conquistador de antes. Nada exagerado, mas doce o suficiente para não conseguir um "não" como resposta.
Ela o encarou por alguns segundos, fez um beicinho enquanto pensava em absolutamente nada e sorriu de volta.
─ Claro! ─ Concordou balançando a cabeça. De verdade, ficou extremamente alegre com esse pedido. Ela adorava danças, adorava música e Felix Hyojong era uma ótima companhia. Do que ela poderia reclamar? Aparentemente seu horóscopo estava certo sobre isso. ─ Você é pé de valsa? Porque eu sou ótima!
─ Não sei, vamos descobrir.
Felix estendeu sua mão, esperando que Aurora Lee a pegasse. Ele brincou, fazendo uma pequena reverência enquanto olhava para ela tentando contar o riso. A loira soltou uma risadinha, achando graça, e reverenciou de volta, segurando o vestido invisível ao redor. Quando ela tocou a mão direita dele, Hyojong a puxou mais para perto com sua mão esquerda, bem no meio da cintura da garota, deixando o espaço confortável o suficiente para os dois. E bom, era uma dança alegre, então era necessário espaço. Seulgi achou tudo muito fofo, diferente da maioria das vezes que teve um encontro com alguém.
Não que ela achasse que aquilo era um encontro.
Mas Felix era divertido e bem humorado, além de gostar de dançar mais de que músicas lentas e ter um gosto aparentemente bom para músicas. Ele, no mínimo, precisava gostar de Girl's Generation e ter compatibilidade com ela em alguns outros quesitos e tudo ficaria perfeito!
─ A música. ─ Enquanto dançava, o surfista manteve a conversa. Nesse momento, cada um olhava para um lado. ─ Coincidentemente ela tem haver com o dia em que nós nos conhecemos... ou quase isso!
Aurora olhou para ele direitamente, sem entender. Diferente dele, ela não lembrava do dia exato em que os dois se conheceram e nem prestou atenção na letra da música para tentar juntar as peças.
─ Naquele dia que você se acidentou e eu te salvei, foi dia 21 de setembro. ─ Felix tinha uma boa memória quando se tratava de datas. Costumava dizer que era uma habilidade boa. ─ Eu tava treinando pra um campeonato, quando vi alguém entrando na área da piscina. Achei normal no começo, mas quando levantei a cabeça pra respirar, vi você andando muito na borda e olhando para o celular. Eu até te chamei, mas você tava com fones de ouvido. ─ Que por sinal deveriam estar muito altos, já que Felix gritou bastante e mesmo assim ela não ouviu. ─ Então você tropeçou em umas bóias e caiu.
Um filme passou na cabeça da loira. Ela ainda não se lembrava exatamente do dia, mas é verdade que era em setembro ─ uma época bem difícil para ela, quando estava tentando lidar com várias coisas ao mesmo tempo e quase surtando por causa da faculdade. Então também é verdade que ela andava muito distraída e vivia tropeçando em alguns lugares ou batendo os ombros em paredes e portas.
─ E a música fala sobre isso, o dia 21 de setembro, quando duas pessoas estavam apaixonadas e etc. ─ Ao olhos para Seulgi e rebobinar sua frase, notou que disse algo que poderia ter outra interpretação. Por isso logo dez questão de corrigir. ─ Não que a gente tenha se apaixonado, não é isso! Tô falando da música.
─ Muita coincidência... ─ Aurora acreditava que todas essas pequenas coincidências poderiam ter um significado, mas não queria se precipitar tão cedo. Ela sempre acabava quebrando a cara por ir muito rápido e se apaixonar instantemente. ─ Nós também estamos usando camisetas com a mesma cor... ─ De fato, ele usava um moletom bege e ela, uma camiseta de mangas da mesma cor. ─ Qual seu signo?
─ O meu signo? ─ Felix arqueou a sobrancelha, desentendido. Nunca fizeram uma pergunta assim pra ele do nada. ─ É libra... eu acho? Treze de outubro é libra?
"Droga", ela pensou. Ele não era um dos três signos que mais combinavam com o dela, que é touro. Aurora pensou rapidamente em todos os outros requisitos em que touro e libra combinavam, fazendo uma pequena e rápido lista sobre isso. E fez as seguintes anotações mentais: ambos gostavam de conforto, regidos por vênus e por isso tinham muita sensualidade e sedução, alegre e etc. A maior questão entre eles poderia ser encontrar um equilíbrio entre a tranquilidade dele e o esforço para sempre deixar a relação mais agradável, e o jeito possessivo e agitado dela. Mas... pelo que ela sabia Felix Hyojong não era tão tranquilo assim e costumava ser uma pessoa estressada ─ então deixava em aberto entender como ele realmente poderia ser em um relacionamento.
─ Porque? ─ Hyojong a tirou dos pensamentos aleatórios, a trazendo de volta para realidade. ─ O que isso significa?
─ Me diz... você faria aqueles testes do buzzfeed, capricho e etc? ─ Sendo uma pergunta um pouco eliminatória, questionou. Se ele achasse tudo aquilo uma besteira , definitivamente os dois não dariam certo e toda a história de coincidência e coisa do universo poderia ir para os ares.
E outra, a música também não havia tocado ainda, então não dava para apostar todas suas esperanças nisso.
─ Eu não tô entendendo... ─ Se lerdeza fosse crime, os dois com certeza seriam presos. Felix não fazia a mínima ideia do que essas perguntas significavam, por isso as dúvidas. ─ É pra alguma coisa que você tá precisando?
─ Não posso dizer. ─ Na verdade, ela tinha um pouco de vergonha de falar essas coisas às vezes. A maioria das pessoas achava que ela era louca ou burra demais pra fazer esse tipo de coisa. ─ Você vai achar estranho!
─ Você acha que eu vou te julgar? ─ Ela concordou, sincera. Até chegou a baixar a cabeça próximo do peitoral do rapaz. ─ Mas não me parece nada grave.
Aurora olhou para ele novamente, pensando se acreditava que ele não julgaria. Ela sabe que nem todo mundo acredita em coincidências do amor, astrologia ou o testes de combinação, mas ela gostava! Já havia quebrado a cara em tantos relacionamentos ou com ficantes, que tentava entender como o universo iria mostrar a ela a pessoa certa.
─ Tudo que você disse foi muita coincidência, então eu queria ver se a gente também combinava em outras coisas. ─ Finalmente Felix havia entendido o porquê do horóscopo e dos testes. E com certeza, ele definitivamente nunca havia se interessado por alguém assim. ─ Tipo testes, horóscopo e tal.
─ E a gente combina? ─ Surpreendendo Aurora, que achou que o rapaz logo perderia a vontade de continuar conversando com ela, Felix perguntou. ─ Acho que a gente também poderia ver isso pelo aplicativo da Love. Com nossas informações e tudo mais.
A música já havia parado e mudado para outro ritmo quando o celular dos dois apitou. Felix e Aurora olharam um para o outro e imediatamente pegaram seus celulares, vendo bem visível na tela de bloqueio um "você deu match com alguém, clique para ver quem é". Os dois tiveram movimentos idênticos: desbloquearam o celular, entraram no aplicativo, colocaram sua digital e assim que entraram, visualizaram suas fotos dentro de corações, um do lado do outro com o nome "match" bem grande.
─ Então, quando a gente faz esse seu 'teste'? ─ Hyojong falou, tirando os olhos do celular e olhando alegremente para Aurora. Com certeza estava muito feliz com aquelas combinação. Não era nada certo, é claro,as se combinavam, tinham chances. ─ Não sei como funciona, mas espero que a gente combine!
Suas músicas não haviam tocado e nem uma cena em slowmotion havia sido vista diante de seus olhos, porém, um match era, com toda certeza, um bom início para dois desconhecidos que facilmente se apaixonariam um pelo outro só na primeira conversa.
NOTAS
MEU DEUS TAVA MORRENDO DE SAUDADES DE SOLTAR CAP DE YOUR HOME!!! Demorou? Sim, mas também veio num livro de 20k de palavras que escrevi escutando uma playlist só com música antiga e braba!!! Sei que demoro, mas como disse a vocês, não desistirei de yh que AMO de paixão. Espero que vocês tenham gostado do milagroso capítulo sem brigas ou pancadaria e até a próxima ♥️
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