088
CAPÍTULO OITENTA E OITO
eu vou viver.
9ª temporada, episódio 2
[TW: menções de morte - Norah estará passando por um episódio depressivo (não será muito detalhado)]
———— ✦ ————
NO HOSPITAL EM BOISE, os olhos de Norah se abriram.
As paredes eram de uma sombra que ela não reconhecia, e o ar cheirava diferente. Onde quer que ela estivesse, estava frio.
Ela estava sendo movida - isso ela podia distinguir vagamente pelos ruídos conflitantes e os passos rápidos, mas pesados, ecoando em seus ouvidos.
— Dra. Lawrence... Tem b... Em cirurgia...
Ela não conseguia entender a frase inteira, apenas partes dela.
Areia dourada.
O contorno tênue do rosto de alguém se afastou de sua vista, e ela apertou os olhos por reflexo. As luzes brilhavam intensamente e depois diminuíam repetidamente por cima dela - oh, isso não é familiar?
Ar úmido.
Ela podia sentir fracamente a dor vindo de seu abdômen... Dentro de seu abdômen. Provavelmente estou sangrando por dentro. Que maneira interessante de morrer, ela pensou amargamente.
Manhã clara e sem nuvens.
Mas antes que sua mente pudesse divagar mais, ela viu algo cobrindo seu rosto e sentiu o cheiro de algo... Doce?
Tudo o que ela sabia era que no segundo seguinte, tudo ficou escuro, e ela caiu no sono.
Ela finalmente conseguiu dormir.
★
A próxima vez que Norah acordou, ela não conseguia sentir nenhuma dor - ela não conseguia sentir nada. O gotejamento de morfina ao lado dela explicava a primeira parte, mas o vazio em seu peito não podia ser preenchido.
Ela ouviu um barulho suave em seu quarto de paciente, e seu olhar se moveu lentamente em direção ao som. Jackson estava caminhando em direção a ela da poltrona com Kai em seus braços.
Nem mesmo o garotinho conseguiu fazer o vazio ir embora.
— C-como está- — ela tossiu - sem sangue desta vez - mas sua voz estava rouca, e sua garganta estava desconfortavelmente seca.
— Sloan ainda está em cirurgia. — Jackson a informou enquanto trazia o copo de água e o canudo na frente dela. — Dizem que ele tem um ataque cardíaco-
— Pare. — Ela grunhiu depois de alguns grandes goles de água, cortando suas palavras. — E-eu não quero saber. Eu só quero-
Jackson baixou o menino ao seu alcance, e ela podia sentir as lágrimas em seus olhos por poder ver seu filho novamente. No entanto, o vazio ainda não podia ser preenchido.
Kai se mexeu um pouco no abraço de sua mãe antes de começar a chorar; os gritos que encheram a sala a despedaçaram por dentro.
— L-Leve-o embora. — A voz de Norah saiu sem tom enquanto Jackson olhava para ela com preocupação e confusão.
— Ele pode estar com fome. — Ele tentou raciocinar, mas ela o interrompeu novamente.
— Eu tenho uma grande cicatriz no meu abdômen agora e eu... Meu irmão está morto, Jackson. Morto. Ele está morto, e todos estão em cirurgia, e eu apenas... — Ela soltou uma risada seca, — Estou irradiando escuridão e morte, e K-Kai não pode estar comigo agora-
— Norah-
— Jackson, por favor... Meu filho não me reconhece mais.
★
Meredith entrou no quarto de Norah, seus passos um pouco instáveis, mas ela conseguiu se sentar ao lado da cama. — Eles vão nos levar para casa amanhã de avião. — Ela informou. — N-Nós não temos escolha por causa do Arizona e do Mark.
Ela parou quando o olhar da morena estalou para ela. — Um maldito avião?
— Eu disse a Bailey para apenas sedar todos nós. — Meredith disse a ela, olhando para o olhar cansado e sem alma em seu rosto. — Nós nunca saberemos que aconteceu... Certo?
Norah virou a cabeça, olhando direto para o teto com os olhos tensos. — Eu realmente não sei se eu quero me importar, Mer. — Ela afirmou sem emoção. — Todo mundo está morrendo, ou morto... Tim e Lexie estão mortos. E-Eles confirmaram meu aborto, o que significa que meu feto também está morto.
Meredith ficou em silêncio, olhando para a morena com um olhar de pena e tristeza. Ela sabia que esta última havia perdido muito - muito - em um único evento catastrófico.
— E agora Mark vai morrer em mim também.
★
1 SEMANA DEPOIS
De volta a Seattle Grace Mercy West, a tensão no ar estava além de qualquer coisa que eles tivessem experimentado.
Era início de junho, quase meio mês após a queda do avião. Kai tinha acabado de completar sete meses há poucos dias sem nenhum dos pais ao seu lado.
Norah ainda estava em observação e Mark estava se recuperando na UTI. Os dois estavam no mesmo prédio, tão perto, mas separados tão longe.
O quarto de Norah ficava ao lado do de Cristina, e os residentes ou colegas sentavam-se em seus quartos durante os intervalos para conversar com elas. As duas compartilhavam o mesmo traço: não falavam.
Cristina ainda estava imóvel e vazia, e Norah estava amarrada.
Ela teve uma explosão de raiva, ameaçando bater nos médicos que a estavam segurando - ela poderia ter socado um, ela não conseguia se lembrar - daí as restrições.
Isso fazia sentido.
O que não fazia sentido era todo mundo ir embora e morrer.
A incisão cirúrgica ao longo de seu abdômen estava coçando. Se não fosse por sua falta de energia para se mover, ela já teria rasgado os pontos. O gesso na perna era outra coisa que a irritava; o tornozelo torcido acabou por ser uma fratura.
— Sloan está se recuperando. — Jackson informou na esperança de fazê-la falar. — Muito lentamente, mas ainda assim, ele está se recuperando. Ele está melhor.
Um longo silêncio; nenhuma resposta.
— Vamos, Norah, você tem que dizer alguma coisa. — Meredith falou, mas ainda não houve resposta da morena.
— Cara, seu filho sente muito a sua falta. — Alex tentou, mas ganhou várias carrancas dos outros.
April bateu nele, balançando a cabeça. — A última coisa que ela precisa é que você a culpe!
★
Derek estava andando de um lado para o outro no quarto de Mark enquanto este suspirava para ele. — Não é sua culpa. — Ele raciocinou novamente, — Você não a forçou a tentar sua abordagem. Se ela não conseguiu, bem, então.
— Eu poderia ter conseguido se estivesse lá. — Derek retrucou, insatisfeito com a perda de um paciente Neuro.
— Bem, você estará de volta lá.
— Não, eu não vou. — Ele zombou severamente. — Eu serei o ex-neurocirurgião Derek Shepherd, bibliotecário de pesquisa. — O homem na cama riu de sua severidade. — Mark, o cara me deu oitenta por cento.
— Bem, volte a cem por cento. — Mark apenas deu de ombros enquanto abraçava Kai em seus braços. — Certo, homenzinho? Diga ao seu tio Derek que ele vai voltar a cem por cento.
Derek balançou a cabeça com uma pequena partícula de esperança. — Não vai acontecer.
— Não me venha com essa porcaria. — Mark lhe lançou um olhar enquanto seu filho colocava uma mão gentil em seu rosto e ria. — Viu? Até Kai sabe que o tio Derek adora um caso perdido.
— Bem, Kai aqui está certo. — Derek abaixou a cabeça para o garotinho. — É a única razão pela qual seu pai e eu ainda somos amigos. — Mark riu de sua piada, e Derek exalou com um sorriso, — Estou feliz que você esteja melhor.
— Eu também. — O cirurgião plástico acenou de volta, dando um beijo no topo da cabeça de Kai, e o garotinho arrulhou. O sorriso em seu rosto lentamente se transformou em uma carranca quando ele levantou a cabeça de volta para seu amigo. — Como vai Norah? Você a visitou, certo?
— Sim, eu levo um caso para ela todos os dias. — Derek respondeu com um suspiro pesado, sentando-se na poltrona ao lado de sua cama. — Eu não sei o que deveria me preocupar mais, honestamente... Ela ser contida, ou ela não falar uma palavra com ninguém.
O rosto de Mark caiu com a menção disso, mas ele esboçou um sorriso para o garotinho sorrindo de volta para ele. Ele sabia sobre sua condição, sangramento interno e assim por diante, e o silêncio absoluto e a falta de emoção. Ela havia dissipado todos os sentimentos no acidente, e ele estava lá para testemunhar.
— Não há nenhuma maneira que eu possa-
— Você não pode. — Derek balançou a cabeça com um olhar de desculpas no rosto. — Eu sinto muito.
Marco suspirou. Ele precisava estar ao lado dela, e ele precisava que ela estivesse ao seu também. Ela estava afastando todo mundo - excluindo todo mundo - e ele reconheceu, mas estava preso em uma cama de hospital, incapaz de se mover.
— Não fique. — Ele afirmou, ganhando um olhar confuso do neurocirurgião. — Honestamente, eu nem sei se posso olhar para ela depois... — Ele parou, balançando a cabeça. — Ela não vai me perdoar, Derek.
Derek franziu as sobrancelhas com suas palavras. — O que você quer dizer?
— A razão... A razão pela qual Tim estava no avião era porque Avery não queria ir... E eu escolhi o próximo melhor residente em plásticos. — Mark admitiu cansado. — Eu... Basicamente mandei o irmão dela para... Morrer.
Derek podia ver a culpa nos olhos do outro homem; o cirurgião plástico estava se culpando por seu sofrimento. Ele a observava sofrer e não podia fazer nada.
— Ninguém poderia ter previsto que o avião iria... — Derek parou com suas palavras presas na garganta. — Ninguém.
Mark soltou uma risada seca. — Como eu posso dizer a ela?
— Você diz a ela quando ela estiver pronta, quando vocês dois estiverem prontos. — Derek respondeu, dando-lhe um olhar tranqüilizador. — E é melhor você viver, porque ela realmente não vai te perdoar se você não fizer isso.
Mark abaixou a cabeça para Kai, que estava olhando com interesse para o IV nas costas da mão de seu pai enquanto sua pequena mão segurava o pulso de Mark. O menino se inclinou contra seu pai enquanto este o colocava debaixo do cobertor.
— Nosso amor é forte. Eu vou viver.
Essa foi a última conversa que tiveram antes de Mark entrar em coma.
★
4 DIAS DEPOIS
Norah foi autorizada para receber alta, e ela silenciosamente colocou suas coisas em uma bolsa com o par de muletas debaixo dos braços. Seus pulsos ainda estavam doloridos, não que ela se importasse.
Ela estava perdida, como se todo o seu senso de direção a estivesse levando por um caminho - um caminho para a autodestruição, e ela se desprezava por isso.
Houve várias batidas leves na porta antes de ser aberta com cuidado. Ela olhou por cima do ombro para ver Nina entrando com o resto de seus formulários de alta na mão.
— Precisa de alguma ajuda? — Ela ofereceu, mas foi recebida com silêncio. Ela se aproximou e a ajudou a arrumar suas coisas de qualquer maneira, enquanto Norah rabiscava suas assinaturas no papel da prancheta.
A morena caiu de volta na cama, olhando incisivamente para o grande gesso em seu pé. Ela odiava isso.
Nina conseguiu uma estagiária para colocar uma cadeira de rodas no quarto; Norah olhou para ele por um longo tempo antes de ceder e se jogar nele.
Com as muletas na mão e a bolsa pendurada na alça, ela foi empurrada para fora da sala e pelo corredor. Os olhares dos funcionários a deixariam desconfortável se ela tivesse algum espaço para poupá-los de um sentimento.
Sentimentos eram uma coisa sagrada agora.
— Você quer parar na creche? — Nina tentou, — Kai está lá em cima, provavelmente brincando com Sofia ou-
— Não, Nina. — Norah resmungou, e a cadeira de rodas parou brevemente por causa de sua surpresa; era a primeira palavra que ela falava há cerca de duas semanas. — Tenho o funeral do meu irmão para planejar. — As palavras saíram de sua boca de forma surreal.
Nina assentiu antes de empurrá-la para os elevadores. Norah olhou para a residente, que já foi sua estagiária - como ela desejava voltar àqueles tempos - e sorriu levemente para ela.
— Parabéns por conseguir a Chefe de Residente, Nina. Estou orgulhosa de você.
★
O funeral de Timothy foi realizado dois dias depois que Norah recebeu alta.
Era um pequeno, assistido por pessoas do acidente, que também receberam alta. Callie e Arizona também estavam lá com Sofia, junto com Jackson e April, alguns de seus amigos íntimos de seu ano de residência, Kirian Rook, Nina Lee e algumas enfermeiras que o adoravam.
Não havia membros da família presentes - ela não sabia como contar a eles.
Ela não podia chorar porque não havia mais lágrimas para chorar. Ela também não falou com ninguém; todo o serviço foi um borrão.
O funeral de Lexie foi no dia seguinte.
Norah sentiu nojo de si mesma por ter o menor consolo de que os restos de Timothy tinham mais para enterrar do que Lexie.
Ela e Meredith conseguiram planejar com os Greys que Timothy e Lexie seriam enterrados um ao lado do outro em Seattle.
Eles teriam adorado.
★
5 DIAS DEPOIS
Derek entrou na sua casa depois de um longo dia de consultas e ensinamentos, nenhum dos quais ele gostou. Mas com a mão ainda quebrada e a função motora abaixo do ideal, essas eram as únicas coisas que ele podia fazer e ainda chamar de 'praticar medicina'.
Seu telefone tocou e ele o tirou do bolso, olhando para o longo fio de mensagens da mesma pessoa. Ele suspirou antes de guardar o telefone, indo cumprimentar sua esposa e filha.
— Como está Zola hoje? — Ele perguntou com um sorriso, mas imediatamente vacilou quando seu telefone tocou novamente.
— Você precisa pegar isso? — Meredith perguntou, carregando Zola em seus braços.
— É apenas Callie.
— Sobre sua mão? — ela adivinhou. — O-Ou é Mark? Mark está acordado?
— É Norah. — Ele respondeu em um tom nada satisfeito. — Callie está pulando entre Arizona, Mark e Norah. — Ela le balançou a cabeça com um suspiro. — Norah está em algum tipo de... Episódio depressivo maior, você sabe... Depois dos funerais e tudo.
Meredith franziu as sobrancelhas para ele. — Então o que você está fazendo aqui? Você realmente deveria ir ver como ela está.
— Seu-
— Você deveria, Derek. — Ela insistiu, mas ele estava relutante em sair de casa. — Ela tinha acabado de perder o irmão na frente de seus olhos, e eu sei como isso se sente. — Ela disse a ele. — Eu não cresci com Lexie ou tenho esse vínculo super apertado com ela, mas parece que alguém arrancou minhas entranhas e a incendiou.
Derek franziu o cenho para ela. — V-Você tem certeza que está bem?
— Não, claro, eu não estou bem. E eu preciso de você. — Ela suspirou. — Mas eu também tenho Cristina, mesmo que ela esteja em um lugar escuro e tortuoso agora... Norah precisa de você, ela precisa da pessoa dela, e você é a pessoa dela.
Ele ainda estava hesitante em sair, e ela revirou os olhos para ele. — Ela não vai passar por isso sem você, Derek. — Ela retrucou, — Vá. Eu não quero perder mais nenhum amigo - vá!
★
Derek bateu na porta continuamente até que finalmente ouviu o clique da fechadura.
A porta se abriu e ele viu Norah pela primeira vez desde que recebeu alta - ela estava... Cansada. Ela o deixou entrar, sem palavras, embora suas sobrancelhas estivessem unidas com um olhar incomodado em seu rosto.
Para sua surpresa, o apartamento estava arrumado para uma pessoa que estava passando por coisas. Não, não importa, todo o resto estava arrumado, exceto a área da sala de estar, em frente à TV.
— O que você quer? — Ela finalmente perguntou, sua voz um pouco mais áspera do que o habitual. Ela colocou as muletas de lado enquanto se recostava no sofá.
— Uma cerveja seria bom. — Ele respondeu com um encolher de ombros antes de ir até a geladeira para se servir.
Ele notou que a ilha da cozinha e o balcão tinham uma camada de poeira acima deles. Talvez a única razão de estar arrumado era que ela nem sequer pisou lá.
Ela se aconchegou sob os cobertores grossos que havia tirado do armário. O sofá afundou um pouco, e Derek se sentou na outra ponta com uma das almofadas roxas no colo. A vermelha estava em seus braços; o azul atrás de sua cabeça.
A TV estava em um canal aleatório - apenas como algum barulho para acompanhá-la.
Ela sempre odiou o silêncio.
— Você não visitou Mark desde o acidente. — Derek apontou antes de tomar um gole da garrafa de cerveja.
Norah não respondeu a princípio - quando o fez, porém, sua voz trazia raiva. — Qual é o ponto? — Ela respondeu severamente, e ele ficou um pouco surpreso com suas palavras. — Ele não vai acordar.
— Ele vai. — Ele tentou tranquilizá-la, embora soubesse que suas palavras não estavam entrando em sua cabeça. — Venha ao hospital amanhã.
— Não.
— Sim.
— Não.
— Você não tem que ver Mark. — Afirmou. — Apenas pare e me ajude com algumas consultas. Ou pelo menos vá ver Kai na creche.
— Kai está mais seguro sem a mãe dele, que iria enlouquecer a qualquer momento.
Ele suspirou. — Vamos, que tal ensinar? Você gosta de ensinar.
— Não mais.
Ele balançou a cabeça e tomou outro gole de cerveja. — Então o que você vai fazer? Sentar aqui até... Quando? — Ele questionou, mas ela não respondeu. — Você é uma neurocirurgiã certificada pelo Conselho. Você não pode simplesmente sentar aqui-
— Na noite anterior ao meu voo para obter o certificado do conselho, tivemos uma festa, bem aqui, nesta sala de estar. — Ela o interrompeu com uma memória recente que estava se repetindo em sua cabeça. Derek também ficou quieto com a lembrança daquela noite em particular.
— Todo mundo estava feliz. E agora? — Ela se virou para ele: — Dois estão mortos, um está em coma, um perdeu uma perna, um quase perdeu a mão, um está sendo ameaçado de internar na psiquiatria e todos estão lidando com sérios problemas de saúde mental.
— Toda vez que eu sento aqui, eu penso nisso. Mas eu ainda sento aqui de qualquer maneira. Eu como aqui, eu durmo aqui, apesar do fato de eu odiar isso aqui... Você quer saber por quê? — Ela riu secamente. — Quando eu ando para a cozinha, tudo que eu lembro é Mark me abraçando por trás, sussurrando piadas sujas no meu ouvido. O quarto? Inferno, eu não consigo nem dormir naquela cama porque ele não está ao meu lado.
— Eu mal estou aguentando, Derek... Eu me olho no espelho e não consigo ver a vida em mim mesma. — Ela balançou a cabeça, enrolando o cobertor mais apertado em volta dela, tentando se convencer de que era Mark. abraço apertado ao redor dela. — Kai nem me reconhece mais... Como Mark iria?
Ele franziu a testa para ela enquanto ela olhava para ele de volta; suas palavras eram como uma faca, de fato.
Ela estava afastando as pessoas de novo - ela estava ciente disso, mas não podia evitar.
— Então você está afastando ele? — Ele olhou penetrantemente para ela. — O amor da sua vida está em coma, e você vai afastá-lo? Seu filho está sentindo falta de ambos os pais, e você está bem com isso? Você enlouqueceu?
— Talvez eu tivesse! Talvez eu finalmente tivesse. — Ela retrucou com uma zombaria. — Eu mal estou sobrevivendo agora, e eu não posso perder mais ninguém. Eu só... Sei, se Mark me deixar também, eu não vou ser capaz de sobreviver a isso... Eu não posso, e eu não vou, Derek. Eu tentaria ficar com Kai, mas eu só sei que minha mente e meu corpo vão se recusar a sobreviver a isso.
Ele permaneceu em silêncio enquanto pensava por um momento, permitindo que as palavras dela fossem absorvidas. Ele colocou a garrafa de cerveja meio vazia na mesa de café e se levantou do sofá.
— Levante-se. — Ele exclamou para ela enquanto a puxava de seu assento; ela olhou para ele confusa. — Levante-se agora.
Quando o tom dele ficou severo e cheio de autoridade, ela relutantemente se levantou do conforto e segurou as muletas debaixo dos braços.
— Derek-
— Você me escute. — Ele a cortou sem graça. — Quando eu estava bebendo no meu trailer, você me repreendeu para procurar o anel que joguei fora. O mesmo anel está agora na mão da minha esposa porque me lembrei do motivo pelo qual eu o tinha em primeiro lugar. Eu só precisava de um empurrãozinho, precisava de alguém para me mostrar que tudo ia dar certo mesmo quando a situação estava uma porcaria... E você estava lá.
— Então, agora, estou arrastando você para o hospital, e você vai se sentar ao lado de Mark a noite inteira- apaixonada - porque tudo vai dar certo. — Ele retrucou para ela, e ela franziu a testa. — Agora, me passe suas chaves!
Norah o encarou com tensão. — Você soa como... Eu.
Derek suspirou, sorrindo um pouco com a mudança de tom dela. — É eficaz.
★
Norah sentou-se ansiosa na cadeira de rodas enquanto Derek a empurrava para o andar da UTI; o pavor dentro dela cresceu enquanto eles se aproximavam lentamente do quarto de Mark.
Ela estava tentando manter a calma, esperando que seus remédios não a deixassem cair quando ela viu.
Mark estava ligado a muitas máquinas. Muitas. O monitor cardíaco foi o primeiro que chamou sua atenção; o som do bipe na sala silenciosa soou em seus ouvidos.
Ele não estava acordado, não que ela esperasse que estivesse.
Sua cadeira de rodas parou ao lado de sua cama, e Derek saiu do quarto. Ele fechou a porta deslizante atrás dele para dar privacidade.
Norah ficou ali sentada por um longo momento enquanto apenas olhava para Mark, sem saber o que fazer. Sua mão lentamente alcançou a dele, seu movimento um pouco trêmulo; sua mão estava quente, mas não houve o aperto protetor que ela esperava.
Os sentimentos estavam todos correndo agora.
Lágrimas começaram a arder em seus olhos pela primeira vez desde a morte de seu irmão.
Ela podia sentir a dor novamente - a dor a estava deteriorando mental e emocionalmente. Mas ela não se incomodou porque isso também significava que ela estava sentindo o medo de perder alguém novamente; mais importante, ela estava sentindo amor - o amor deles.
— E-Ei, amor. — Ela sussurrou, aproximando-se dele. A mão dela deixou a dele, e ela cuidadosamente levantou a mão para tocar o rosto dele - isso a lembrou das muitas noites em que ela o cutucava no rosto para acordá-lo - mas desta vez, não houve nenhum movimento, nenhuma resposta.
— Estou indo muito bem, por enquanto... Quero dizer, eu tenho um elenco enorme e feio que vai ficar comigo por mais três semanas ou mais, então eu tenho meses de PT pela frente. — Ela murmurou. — Eu estou indo muito bem... Mas nós precisamos de você.
Ela enxugou as lágrimas que rolavam pelo rosto, olhando para ele, que ainda não tinha resposta. — Kai precisa de seu pai, e eu... Eu realmente preciso de você, Mark. — Ela falou novamente. — E-eu voltei... Então você pode acordar por mim, p-por nós? Por favor?
———
— Estarei acordado quando você voltar... Eu prometo.
———
Ela se moveu para frente e deu um beijo em sua testa, sua mão acariciando o lado de sua bochecha. — Você descansa tudo o que precisa agora, mas você tem que acordar... Ok?
Ainda sem resposta.
Ela nunca aprendera a fazer amizade com o silêncio.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top