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CAPÍTULO CINQUENTA E QUATRO
nova york.

6ª temporada, episódio 20

[TW: menção de suicídio e assalto]

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MARK NÃO DORMIU a noite inteira, ele não conseguiu descansar, de jeito nenhum.

Um ser Sloan reapareceu no meio da noite, entrando em trabalho de parto. Os cirurgiões do outro lado do corredor ajudaram no parto, mas ele permaneceu perdido em sua cabeça. Segurar o neto nos braços era a única coisa de que se lembrava.

O resto da noite foi uma lembrança vazia para ele.

Deitado no sofá, ele ouviu os passos suaves ou o tilintar das chaves ou a porta se abrindo, mesmo que fosse da porta do corredor. Mas tudo o que ele ouviu foi o silêncio, além das gotas de água pingando na pia da cozinha.

Era um ritmo; agora ele sabia por que ela sempre achou os pequenos ritmos calmantes.

A primeira coisa que fez quando chegou ao hospital na manhã seguinte foi chamar Timothy.

Ele finalmente o encontrou conversando com Lexie por um dos carrinhos de café e o puxou de lado, apesar de interromper a conversa dos dois residentes.

— Dr. Sloan? — A voz de Timothy estava bastante exasperada.

— Norah foi ao seu apartamento ontem à noite? — Mark perguntou, sua respiração irregular e suas sobrancelhas franzidas de preocupação.

Timothy estreitou os olhos para o atendente. — O que você quer dizer? — Ele questionou de volta.

Isso foi um 'não', então.

Quando a compreensão caiu, o rosto do residente empalideceu. Ele deu um passo em direção ao atendente, agarrando a gola de seu uniforme e olhando para ele diretamente nos olhos. — Que porra você fez?

— Eu não... Eu- — Mark ficou sem palavras enquanto exalava pesadamente.

A expressão de Timothy estava congelada, preocupado, com medo. — Ela... Terminou com você? — Ele perguntou com cuidado, soltando a camisa do atendente.

— Eu... Eu não-

A cor do rosto do residente se esvaiu, uma bolha de pânico começou a subir em seu peito. Mark olhou de volta para ele com ansiedade quando notou os olhos do residente procurando freneticamente por algo - alguém.

— Dr. Lawrence, Dr. Shepherd está procurando por você. — Uma voz chamou por trás.

— A-Apenas me dê um min-

— Agora? Tudo bem, tudo bem. — Outra voz respondeu, — Obrigado, Thompson.

Ambas as cabeças viraram na direção da voz e viram uma Norah de aparência cansada entregando os exames em suas mãos para o residente mais jovem na frente dela.

Eles exalaram em alívio. Mark estava prestes a caminhar até ela quando Timothy o segurou. — Não. — Ele avisou bruscamente, todo o seu modo de 'irmão protetor' foi ativado em um minuto.

Norah bateu na porta do escritório do Chefe de Cirurgia e entrou depois que a voz lhe disse para entrar. Derek estava sentado atrás da mesa parecendo desgastado antes mesmo de ser meio-dia.

Antes que ela pudesse fechar a porta atrás dela, ela foi aberta novamente e Timothy entrou com um sorriso crescente no rosto. — Tim? O que você está-

Suas palavras foram cortadas quando Timothy a abraçou com força.

Embora ele fosse quase uma cabeça mais alto que ela, ainda era como se fossem crianças, e ele enfiou o rosto em seu ombro. Derek levantou uma sobrancelha para ela e ela retribuiu com um olhar confuso.

— Eu pensei que você tinha fugido de novo. — Timothy explicou com um suspiro aliviado.

Norah arqueou uma sobrancelha para ele. — Eu fujo de problemas, mas agora meu problema está morto. — Ela afirmou, — Por que eu fugiria desta vez?

— Eu não sei, a última vez que você deixou seu estágio em Nova York, encerrou tudo e se mudou para o outro lado do país. — Ele divagou enquanto fechava a porta do escritório atrás dele. — E então quando Sloan me disse que você terminou com ele-

— Você terminou com Mark? — Derek questionou em voz alta, olhando para ela como se ela tivesse crescido cinco cabeças.

— Eu... O quê?

Parecia, não é? Eu só tive que estragar tudo, não é?

Norah se jogou no sofá do escritório, olhando entre os dois homens. Timothy franziu a testa para seu olhar aparentemente controlado, ele sabia que era falso - uma máscara atrás da qual ela estava se escondendo - ele simplesmente sabia disso.

— O que realmente aconteceu em Nova York? — Derek perguntou, notando seu olhar também. Sua boca estava aberta, mas ela não sabia como falar sobre isso.

— Parece que você está prestes a explodir, Nor. — Timothy acrescentou bruscamente, — Eu acredito que agora, você prefere falar com Shepherd do que Sloan, então você pode conversar com um terapeuta estranho.

— De novo? — Derek parecia mais confuso do que nunca.

Norah lançou a seu irmão um olhar duro e ele ergueu os braços em rendição. — Ei, eu só estou tentando ajudar, — Timothy defendeu-se, — não posso arriscar que você estale de novo.

Ela suspirou, — Eu sei... E às vezes eu te odeio por isso.

Ele a devolveu com um pequeno sorriso. — Nor, você não pode me odiar, mesmo se você tentar.

Chutando as pernas para cima no sofá, ela exalou pesadamente. As duas pessoas na sala com ela eram pessoas em quem ela confiava, mas abrir o braço nunca foi seu forte.

— Hanson era na verdade um amigo meu antes de tudo dar errado. — Ela começou, abraçando o travesseiro com falta de enchimento em seus braços. — Ele era um grande amigo. Divertido, carismático antes de eu destruir a cara dele... Ele era legal.

— Ele me guiou para subir uma montanha. Ele me ajudou, ele realmente fez... — Ela parou, balançando a cabeça, — Antes de me chutar para baixo de um penhasco e continuar me empurrando para o fundo. — Derek franziu o cenho ante sua frase enquanto Timothy olhava para ela.

— E tudo foi ladeira abaixo depois disso, mas eu não sabia como escapar dele. — Ela se lembrava das noites em que ela se trancava no banheiro só para ter um 'tempo sozinha', mas Jeffrey batia na porta até que ela a destrancasse.

— Ele se tornou controlador, e isso me assustou pra caramba. — Ela fez uma careta com a memória. O cabelo em sua mão se arrepiou com o pensamento. — Foi uma tortura com ele, sabe? Ele não era fisicamente abusivo, mas mentalmente? Era a camada mais profunda do inferno. E eu só... Havia uma coisa que eu poderia pensar que pode me poupar dele por-

— Por... Tirando sua própria vida? — Derek adivinhou cuidadosamente.

Bingo. Norah soltou uma risada seca, olhando para as revistas na mesa retangular na frente de seus joelhos. — Quando você está realmente lá embaixo, é a única coisa que ecoa em sua cabeça. — Ela falou, sua voz estava mais baixa desta vez. Esta foi a primeira vez que ela falou sobre isso, exceto pelo terapeuta que ela havia desistido antes de deixar a Costa Leste.

— As pílulas para dormir não funcionaram da primeira vez. — Ela engoliu em seco, era como se ela pudesse sentir o frasco de pílulas em sua mão. — E então... Eu uh... Eu- — ela ergueu os olhos para Timothy, que estava com os braços cruzados na frente do peito enquanto se encostava na parede.

— Eu a peguei antes que ela fosse envenenada por monóxido de carbono. — Timothy terminou sua frase.

Derek olhou entre os dois irmãos, um olhar de compaixão passando entre eles. Apesar dela ser sua aluna favorita e até mesmo uma amiga muito próxima, ele nunca conheceu esse lado dela.

— Sim... No dia em que saí do estágio em Nova York, na mesma noite em que fui internada em uma ala psiquiátrica. — Ela admitiu com voz rouca, sua mão mexendo no travesseiro na frente do peito. — É sobre isso.

— A parte em que ele perseguiu você e você bateu nele? — Derek perguntou, lembrando-se do tempo em que ela 'resumiu' sua vida em Nova York para ele durante seu ano de estágio. — Isso foi inventado?

— Ah, não. — Ela virou a cabeça para ele, — Quando Jeffrey assumiu o controle, ele estava me perseguindo, observando todas as minhas escolhas e movimentos. Então, eu acabei com vodka e o bati até virar uma polpa. Isso aconteceu.

— Aposto que foi bom. — Timothy falou com um meio sorriso que ela mal retribuiu.

Ela suspirou enquanto estava deitada no sofá, havia um som suave vindo de algum lugar que aliviou sua mente. Ela sentiu como se o peso em seus ombros finalmente estivesse diminuindo, ela se sentiu relaxada - e ela se sentiu cansada.

— Falar sobre isso realmente ajuda.

Derek bufou, — Por que você acha que os terapeutas existem?

— Por que você acha que eu me formei em Psicologia? — Norah ergueu uma sobrancelha para ele.

— Isso não é relevante.

— Estou ciente.

Timothy tinha jogado uma caneta nela antes que ela adormecesse no sofá. Ela voltou com uma carranca e uma longa fila de palavrões, jogando a caneta direto no rosto dele. Claro, ele pegou sem esforço. Derek balançou a cabeça para eles e os repreendeu como duas crianças.

Ele se recostou na cadeira, a carga de papelada na frente dele o fez suspirar. — Você e Mark terminaram? — Ele decidiu apontar a questão na sala que ainda não tinha sido abordado.

— E-eu não sei, eu não... — Ela suspirou em derrota, — Foi isso que ele disse?

Mas Timothy não respondeu; ele tinha uma expressão ilegível em seu rosto.

— Bem, é principalmente minha culpa, eu acho, não, eu sei. — Ela murmurou, — Eu não disse nada a ele. As palavras soaram muito parecidas, e eu perdi a cabeça e bati nele... Lamentei cada palavra, mas agora é tarde demais.

Ela não queria que ele conhecesse essa parte de sua vida, porque ela estava em pedaços. Era uma parte dela que eram fragmentos de um explosivo que explodiu, mas não fez nada além de se autodestruir.

— Eu acho que eu não queria que ele me visse como pedaços de partes quebradas... — Ela falou, acrescentando uma risada fraca ao final de suas palavras, — Mas no final, isso ainda aconteceu, não foi? Sou autodestrutiva. Patética, na verdade.

A sala estava silenciosa enquanto Timothy se arrastava em seu lugar contra a parede e a cadeira de Derek fazendo barulho quando ele se inclinou para frente. — Você sabe, deixando Mark do nada, você não o estava protegendo. — Afirmou o último.

Sim, eu sei disso agora.

— Eu fiz a escolha de ficar, sabe? Naquele dia, ele me ofereceu a chance de fugir novamente, mas eu fiz a escolha de ficar. — Norah balançou a cabeça, — Eu estava tentando proteger nós dois... Bem, tentei e acabei machucando nós dois.

Ela podia ver o olhar em seus olhos sempre que ele olhava para ela nas últimas duas semanas; a dor de não saber e o desejo de que ela ficasse ao lado dele.

— O olhar em seus olhos vai me assombrar à noite. — Ela engoliu, — Eu tive que olhar nos olhos dele e mentir para ele, pelo amor de Deus - a pior parte é que eu realmente fiz isso com alívio. O que diabos está errado comigo?

O que está feito está feito, certo?

— Deus - eu realmente o amo, sabe? Eu realmente amo. — Ela riu fracamente antes de balançar a cabeça, — E é por isso que eu não consigo encontrar um pedaço de mim para me perdoar por machucá-lo.

Houve um longo momento de silêncio compartilhado entre os três antes de Derek falar: — Bem, a culpa é sua.

— Foda-se, Shepherd. — Ela revirou os olhos, — Não está ajudando em nada.

— Tudo bem. — Ele bateu palmas e sentou-se ereto. — Precisamos discutir assuntos sobre Jeffrey Hanson, porque acredite ou não, ele colocou seu contato como sua emergência.

Sim, eu acredito nisso. Claro, ele fez.

Timothy pediu licença para sair da sala, já que não havia mais necessidade de ele estar lá. Ele girou a maçaneta e entrou no corredor, seus olhos encontrando o par de azuis bem ao lado da porta.

Houve uma pausa entre eles quando ele estreitou os olhos, antes de questionar: — Quanto você ouviu?

Pelo olhar do atendente - a dor em seus olhos brilhantes, o jeito que ele piscava rapidamente com a cabeça baixa - ele sabia que o atendente tinha ouvido mais do que o suficiente.

— Vá embora, Sloan. — Timothy declarou, sua voz dura, — Ela nunca quis que você soubesse de nada disso.

Norah foi puxada para o lado por Arizona, que parecia estressada. — Você tem que falar com Mark, porque eu não acho que ele vai deixar o bebê ir.

— Bebê? O que... — A morena franziu as sobrancelhas, — Sloan teve o bebê?

— Sim, ontem à noite, no apartamento depois de você... Bem, Mark está se apegando. — Arizona continuou.

A morena apenas olhou de volta com os olhos apertados. — Ele acha que eu, uh, terminei com ele, e verdade seja dita, eu nem sei o que eu penso. — Ela respondeu severamente, — Mark é um cara legal. Apenas convença ele, ele vai ouvir... Mande Sloan meus cumprimentos.

Antes que a residente pudesse ir embora, a atendente a segurou. — O que aconteceu ontem à noite? — Arizona perguntou e Norah riu secamente.

A briga estava passando em sua cabeça como um filme, assombrando cada pensamento dela. No entanto, a culpa era toda dela, ela retrucou e não conseguiu se conter.

A linha entre Nova York e Seattle estava borrada, e ela não conseguiu separar as duas costas.

Tudo o que ela precisava fazer - e ele queria que ela fizesse - era abrir apenas um pedaço de sua mente, e isso foi exatamente o que ela falhou em fazer, falhou em se comprometer.

Ela falhou.

E ela se odiava por seu egocentrismo.

— Eu o afastei quando eu mais precisei dele, porque eu sou uma destruidora de mundos quando se trata de problemas pessoais. — Ela murmurou sem emoção, — Eu me arrependo de cada palavra, mas se tivesse a oportunidade de voltar atrás, eu não mudaria nada - isso não é puramente distorcido?

— Vocês realmente... Acabaram agora? Você não pode fazer isso com... Nenhum de vocês.

— Eu não sei... Mas eu não tenho ideia de como consertar nosso relacionamento comigo sendo cacos de vidro quebrados por todo o lugar. — Norah soltou um suspiro profundo, balançando a cabeça, — Eu tive uma grande coisa, um coisa perfeita. Tudo foi brilhante e eu só tinha que estragar tudo... E confie em mim, ele está melhor sem minha insanidade.

No entanto, mesmo com as coisas que ela disse caindo para fora de sua boca, ela realmente não confiava em suas próprias palavras.

— Agora só lembre-se, os Sloans, nós florescemos cedo. — Mark falou baixinho para o bebê em seus braços, — Então, quando você começar a crescer cabelo em seu rosto, não seja tímido. Viva.

Norah estava do lado de fora da sala de estar, encostada na parede onde ele não podia vê-lo, mas ainda podia ouvir sua voz pela fresta da porta. Doeu várias vezes quando ela ouviu o bebê arrulhando e sua querida voz falando com o bebê.

— Todos os outros caras vão ficar com ciúmes. E não há problema em se achar um pouco. — Ela o ouviu continuar dentro da sala, — Mas não muito. Você não quer ser considerado muito cheio de si mesmo.

Houve vários conjuntos de passos arrastados se aproximando e ela se afastou da parede. Callie estava caminhando em direção a ela, junto com um casal de aparência animada seguindo logo atrás do atendente.

— É Mark-

— Sim, ele está... Dentro. — Respondeu Norah e deu ao casal um sorriso educado.

Callie assentiu e bateu na porta, antes de levar os novos pais para o quarto.

— Oh meu Deus. — A mulher falou sem fôlego com um largo sorriso no rosto enquanto se aproximava de Mark na sala, — É ele?

— Você deveria ficar, sabe? — Callie murmurou baixinho para a residente que estava prestes a ir embora.

Norah deu uma última olhada na sala pela abertura alargada da porta. Mark entregou o bebê ao casal, passando para eles uma bolsa e um ursinho de pelúcia que ele comprou na loja de presentes como lembrança.

Talvez ela devesse começar a confiar em si mesma, confiar em suas próprias palavras, porque ele poderia, de fato, passar bem sem ela.

No final, ela suspirou e balançou a cabeça. — Eu não deveria... — Ela murmurou, pegando um último olhar para ele na sala onde ele deu um sorriso para os novos pais, — Eu realmente não deveria.

Callie observou enquanto Norah se afastava, a cabeça baixa e os passos pesados.

Mark saiu da sala pouco depois, seguindo o olhar de Callie e vagamente viu sua sombra se afastando do corredor.

— Ela estava aqui, não estava? — Ele perguntou, sua voz cansada.

Callie assentiu e suspirou com o olhar sombrio em seu rosto. — O que você vai fazer?

— Eu não sei, Torres... Eu realmente não sei.

Naquela noite depois do trabalho, Mark soube que algo estava diferente no momento em que entrou no apartamento. Ele não tinha ideia de como, ou quando, mas os pertences dela haviam sido retirados.

Ele entrou no quarto, sentindo o tapete sob seus pés e o cheiro de velas perfumadas enchendo seus pulmões. O som familiar do tique-taque do relógio ainda vinha da mesa de cabeceira, mas outros vestígios dela haviam desaparecido.

Ela se foi.

Seus telefonemas nunca foram atendidos.

Ela se foi.

Ele perdeu sua filha, seu neto e ela, tudo na mesma noite; era inacreditável que ele também não tivesse se perdido.

Onde tudo deu errado?

Quando tudo deu errado?

Por que tudo deu errado?

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