PARTE III.

Marshall gostava de encarar os pequenos casos românticos da sua colega de quarto da mesma forma que uma pessoa lidava com uma alergia: como quem poderia desenvolver uma irritação alérgica até certo período da sua vida para, depois, perdê-la para sempre.

Para ela, era tudo cíclico. Os estágios, os flertes, os barulhos incômodos...

Em determinado momento, Charlotte despertava daquela dormência platônica e os sinais iam embora, juntamente com todos os pretendentes em potencial.

Geralmente, certos casos não se sustentavam até metade da semana. Outras vezes, os romances perduravam por mais de um mês. Mas, independentemente da situação, cada um dos seus relacionamentos vinha com um prazo de validade.

Todos, exceto Mason.

Mason era como um sintoma sem cura: aonde quer que Marshall fosse, lá estava ele, como um maldito fungo de pé do qual ela simplesmente não conseguia se livrar. Ela havia esfregado, colocado pomada, cutucado a ferida e... Nada. A lesão parecia cada vez mais exposta e profunda.

Para ele, namorar a colega de quarto de Marshall já lhe conferia direitos inquestionáveis no cotidiano da garota. Enquanto ela mal percebia, Mason já havia se espalhado por todo o seu tempo livre como uma proliferação descontrolada de germes, deixando-a com um quadro clínico grave.

Aos poucos, Mason ocupava cada espaço vago da sua vida. Nas salas de aulas, nos intervalos, no seu quarto, na lanchonete, na biblioteca.

Certo dia, enquanto ela recolhia as roupas para lavar, o garoto havia surgido em seu quarto em busca de Charlotte, mordicando uma maçã qualquer. Assim que havia a visto, Mason havia indicado para ela esperar um pouco, só para, momentos depois, trazer uma sacola de roupa suja.

— Você não se importa, não é? — ele havia dito, com seu típico tom cínico e sorriso ofuscante.

Marshall, resignada, havia apenas puxado a sacola com força, dando-lhe um sorriso amarelo tão falso que Mason deveria ter desconfiado das boas intenções da garota. Ele só percebeu o significado por trás daquele gesto quando, na aula do dia seguinte, ela havia se encaminhado até a sua carteira para depositar uma caixa de sapatos cheia. Quando Mason abriu e verificou o conteúdo dentro, seu nariz franziu com desgosto. Dentro da caixa havia todas as suas roupas, lavadas à base de água sanitária, ainda parcialmente úmidas da lavagem. Marshall apenas ergueu as sobrancelhas e lhe direcionou outro sorriso glacial.

— Eu não gosto de você. – ela pronunciou enfaticamente. — Espero que isso fique bastante claro.

— Você não precisava ter descontado isso nas roupas. – ele anuviou, achando graça.

Desde então, Marshall havia hostilizado a presença de Mason como se ele fosse o próprio diabo. Ou a personificação adônica dele.

Até que o destino, mais uma vez, lhes pregou outra peça, puxando os fios tênues que os conectavam um ao outro num nó preciso.

Naquela mesma semana, durante a aula de Teoria da Comunicação, o professor virou para a turma e anunciou como um decreto:

— Farei um trabalho extra para somar nota na média semestral, em consideração ao péssimo gráfico do resultado da última avaliação. Será feito em dupla. – ele olhou para a prancheta, enumerando a quantidade de estudantes. — Vocês me trarão um furo jornalístico no campus para ser circulado na primeira página do jornal da semana que vem.

Marshall se empertigou na cadeira, ansiosa pela atividade, acompanhando com o olhar a forma que o homem dividia a turma numa folha de ofício. Assim que ele havia se dado por satisfeito, ele pegou a folha e recitou cada nome em particular.

— Beckett e... Hughens. Sim, sim! Hum... Deixe-me ver... – avaliou. — Ah, sim! Cooper e Sullivan!

Ela engoliu em seco, olhou para trás e se deparou com o sorriso exuberante e sabichão do garoto.

Naquele instante, ela quase conseguiu sentir as linhas invisíveis ao redor deles comprimi-la num laço sufocante, entrelaçando-os num só.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top