006

capítulo seis
diamantes


Amanheceu na casa Bridgerton e ainda parecia haver certa tensão depois da briga escandalosa entre Anthony e Beatrice alguns dias atrás. Mas ela resolveu simplesmente fingir que seu irmão ou Nigel Berbrooke não existiam. Sempre que mandavam notícias ou cartas, ela as ignorava e apenas continuava a viver sua vida.

Era um belo dia ensolarado, então as irmãs mais velhas resolveram seguir para uma caminhada no parque.

—Está ansiosa para o baile de Crawford hoje?—Daphne perguntou.

—É apenas mais um baile, como os outros. Mas estou pensando em usar meu vestido rosa novo pra combinar com o colar de pérolas.

—Eu digo que deve estar ansiosa, porque o duque lhe pediu para guardar mais uma dança para ele.—Ela disse feliz.—Mas por que não o faria? Afinal, estão se cortejando.

—Por que não falamos de outra coisa?—A mais velha tenta mudar de assunto, odiava mentir pra sua irmã.—O que vai usar hoje?

—O bege com pedras bordadas. Acha que ele vai ficar bonito com o colar de rubis? Quero chamar um pouco mais de atenção hoje. Agora que Anthony não está indo tanto a casa Bridgerton, a maioria dos homens que foram me visitar voltaram e mandaram flores. Não posso me dar ao luxo de perder essa chance de novo.

—Não se preocupe. Alguma coisa entrou na cabeça dura do nosso irmãos depois da nossa discussão. Ele não vai mais ser empecilho nas visitas que você recebe.

—Senhoritas Bridgerton.—Gabriel se aproximou de ambas.

—Lorde Montmorency.—Elas abaixaram levemente a cabeça em sinal de respeito.

—Como vão?—Ele perguntou para as duas, mas Beatrice achou que foi só por educação já que ele olhava diretamente para Daphne.—Não imaginei vê-las tão cedo no parque.

—Estamos bem, obrigada. É um belo dia para passear, não acha?—Daphne perguntou e os dois mal perceberam quando Beatrice e a aia que as acompanhavam se distanciaram um pouco para deixá-los conversando, mas não o suficiente para causar um escândalo.

—Na verdade, acho que todos os dias são bonitos para vir ao parque. Gosto de ir caminhando para a câmara dos lordes. É sempre bom um pouco de ar fresco.

—Nesse caso, não gostaria de atrapalhar já que o senhor tem que ir.

—Bem, não tenho nada tão importante para fazer além do que já fiz. Gostaria de dar um volta?

—Eu adoraria.

—Milady, quer as pérolas ou os rubis?—A aia de Daphne perguntou enquanto segurava as joias. Beatrice já estava pronta usando um vestido rosa com bordados em prata e acessórios de pérolas.

—As pérolas, com certeza.

—Acho que os rubis chamarão mais atenção, mãe.—Daphne sugeriu e pegou a caixa contendo os rubis.—Assim mais homens vão prestar atenção em mim. Eu preciso coletar mais...homens.—Ela disse a última frase com estranhamento, não havia ficado tão bem quanto pensou.

—Uau!—Exclamou Eloise já vestida em seu pijama.—Vejo que a sua quase ruína a mudou.

—Eloise!—Beatrice a repreendeu.

—Com licença, lady Bridgerton.—Uma das copeiras abriu a porta com uma carta que continha o selo real em mãos.—É da rainha.

Violet a pegou e leu rapidamente, suas filhas a olhavam com ansiedade estampada no olhar.

—A rainha quer tomar chá comigo.—Disse ainda desacreditada e as garotas sorriram felizes.—Esqueçam as pérolas e os rubis. Vocês duas usarão os diamantes da família hoje.

Depois de estarem prontas e trocarem de joias, os Bridgerton's seguiram em direção ao baile de Crawford.

Beatrice entrou primeiro com Anthony, Daphne em seguida com Benedict e atrás deles Violet e Colin.

—Gostaria de dançar, senhorita Bridgerton?—Simon perguntou ao se aproximar da família ao lado de lady Dunbarry. Beatrice assentiu com um sorriso, então Anthony não soltou seu braço até Ágata começar.

—Vou precisar que outro cavalheiro me traga uma bebida, então. Lorde Bridgerton, me dá essa honra?—Ela sorriu "diabólica" antes dele ceder e sair com ela, mas não antes de dirigir um olhar nada amigável para Simon.

—Esqueça os seis bailes, terão de ser oito.—Ela voltou ao assunto antigo, torcendo para que ele aceitasse e isso desencorajasse Nigel.—E mais um piquenique.

—Um piquenique?—Ele zombou.

—Receio que teremos que nos esforçar mais nesta farsa.—Ela falou quando passaram por um Nigel nada contente em ter sido ignorado com um olho roxo.

—Por causa dele, eu soube.

—Lorde Berbrooke precisa acreditar que você está prestes a pedir a minha mão. E então quando ele desistir do seu acordo com Anthony, nossa farsa termina.

—Preciso tomar cuidado para não cair no precipício.—Ele disse irônico.

—Precisa mesmo ter cuidado, porque ficará ao meu lado a noite inteira.

Eles pararam de falar, quando os acordes começaram e todos os casais que estavam na pista iniciaram a dança.

Eles giravam em passos rápidos e pulavam com elegância. Eles sorriam, não para os outros, mas para eles mesmos. Ah e os seus olhos! As pupilas de ambos estavam dilatadas enquanto olhavam um para o outro, não que eles tenha percebido.

Eles não si importavam com Anthony, Nigel, nem mais ninguém que olhasse ruim para eles. Eram apenas eles ali. Quando a dança acabou, eles avistaram Benedict se aproximar.

—Irmã, me dá essa honra?—Ela assente e aceita a mão que ele lhe ofereceu, Simon sai da pista e Bia pode ver de longe, enquanto dançava com seu irmão gêmeo, o visconde e o duque conversarem com lorde Berbrooke.

A conversa entre os três não parecia nada amigável, então ela saiu mais rápido da pista de dança e foi em direção ao dois depois que Nigel saiu um tanto quanto aborrecido.

—Irmã, eu não fazia ideia.—Anthony disse ao se aproximar, deixando-a confusa.—Esqueça ele, não vai precisar se casar com Nigel, tem muitas opções agora.

Quando Anthony saiu, ela entendeu que ele sabia da situação. Só esperava que ele não armasse um escândalo e tornasse as coisas piores.

—Contou pra ele?—Ela perguntou ao duque mesmo já sabendo a resposta.

—Ele não parava de falar um segundo e o Berbrooke ficava me importunando, não tive escolha.

—Eu só espero que não esteja subestimando o poder do Nigel.

Era uma bela manhã, mas a família não estava na casa Bridgerton e sim no grande piquenique que reunia todas as mais importantes famílias da alta sociedade.

Beatrice ouvira os murmurinhos no grupo mais que irritante de Cressida Cowper sobre ela e Berbrooke e até mesmo a decida iminente do pedestal de Daphne. A mais nova estava com a cabeça baixa, acreditando que acabaria exatamente como a loira havia descrito: solteira e sem títulos.

—Não ligue para ela, Daph. Crescida é só uma garota mal amada que duvido que encontre um bom marido.—Beatrice disse acariciando a mão da irmã.—Você tem recebido cada vez mais visitas. O conde vem hoje?

—Não tenho certeza.—Beatrice não sabia como responder, mas as duas ouviram quando Anthony se aproximou.—Vou dar um passeio, com licença.

—Irmã, eu não sabia o que o Berbrooke tentou fazer.—Ele sentou de frente para a irmã.—Deveria ter me contado, eu a teria ajudado.

—Teria acreditado em mim?—Ela perguntou seriamente.—Ou só viu a verdade porque foi um homem que contou?

—Tem mesmo tão pouca estima sobre mim?

—Depois que eu contei o que queria e você continuou a me ignorar...—Beatrice respondeu.—Sim, irmão, eu tenho.

Ela poderia continuar dizendo o quão idiota seu irmão havia sido por horas mais, porém avistou o duque descendo de sei cavalo, indo em sua direção. Nem mesmo Beatrice pareceu notar quando um sorriso involuntário tomou conta do seu rosto.

Ela se levantou para ir cumprimentá-lo.

—Está atrasado.—Ela afirmou assim que que se aproximaram.

—Me desculpe.—Ele pediu.—Nos juntaremos a sua família?

—Hoje não.—Ela negou avistando um grupo de homens que pareciam ter uma idade mais próxima da sua.—Vamos caminhar por ali.

—O que aconteceu com a sua mão?—A jovem perguntou ao notar a mão direita do duque enfaixada.

—Boxe.—Ele respondeu sem dar muitos detalhes.

—Vossa graça me perdoe pela colocação, mas por mais que goste de ver homens apanhando, acho uma atividade demasiadamente bruta. Um pouco estranho na minha opinião vocês gostarem de apanhar uns dos outros.—Eles havia chegado mais perto dos cavalheiros que conversavam e ela estendeu seu braço para Simon.—Minha manga, abotoe.

—Acho que não precisa mais se preocupar com o Berbrooke.—Ele insinuou enquanto seus dedos enluvados roçavam levemente a pele macia da Bridgerton.

Beatrice tinha certeza que mesmo sob as luvas sentiu o calor que ele emanava, se arrepiando, não que ela fosse confessar.

—A Whistledown continua escrevendo sobre como chamei sua atenção, mas insiste em afirmar que aos vinte e seis continuo solteira.—Ela afirma com convicção.—Ainda preciso de um marido.

—Fico lisongeado com o pedido, mas terei que recusar.

—É, eu sei. Você não é do tipo que se casa.—Ela disso um tanto irônica.

—Além das obrigações, por que insiste tanto em se casar?—Ele perguntou sincero.

—Bem, quando debutei sonhava em me apaixonar e casar, mas depois de tantas temporadas acho que perdi a esperança. Acho que só me cansei de continuar indo a bailes, ser alvo de fofocas e ver todas se casando enquanto continuo na casa do meu irmão.—Ela respondeu mais sincera do que ele pensava e em seguida perguntou.—E o senhor?

—Não pretendo me casar.

—Disso eu sei.—Ela falou como se fosse óbvio, o que na verdade era.—Mas por quê?

—Apenas desejo a liberdade.—Ela sabia que ele mentia, mas não perguntou o motivo. Ele claramente não se sentia confortável o bastante para falar sobre isso.

—Sabe que se não se casar e gerar um herdeiro, desaparecerá. Ou irá parar a qualquer primo desumano.—Ante isso, Simon levantou uma sobrancelha.

—E como sabe que meus primos são desumanos?

—Todos os primos que seguem na linha de sucessão de um título de nobreza o são.—Ela inclinou a cabeça.—Ou, ao menos, são para com o possuidor do dito título.

—E isso aprendeu de seu profundo conhecimento dos homens?—Brincou ele.

Beatrice o olhou com uma superioridade esmagadora.

—Tenho quatro irmãos.—Ela disse óbvia.—Entendo mais sobre os homens do que pensa, por isso sei que mentiu sobre seus motivos, mas não vou perguntar de novo, porque, como minha mãe insiste em dizer, não devemos nos envolver em assuntos que não nos cabem.

Ele riu. Era interessante como antes fingiam apreciar a companhia um do outro, mas agora tudo tornara-se tão natural que não precisava do mínimo esforço para aproveitar a companhia de Beatrice.

—Corre tanto das mulheres, mas já pensou que talvez não seja o tipo que elas desejam?—Era mentira e ela mesma sabia disso, as mulheres solteiras de Londres fariam fila caso ele declarasse suas intenções em se casar.

—Imagino que se fosse forçado a me casar você seria a opção menos questionável.

—Era pra isso ser um elogio?

—Era, mas isso não importa já que deseja se casar por amor. É ou não é?—Uma breve troca de olhares direto foi capaz de lhe tirar o chão e ela sabia que estava em apuros por sentir isso.

—Como eu disse antes, esta não é mais uma prioridade. Ele só precisa ser respeitoso e não possuir dívidas.

—Lamento informar, mas essas duas características já eliminaram mais da metade dos homens de Londres.

Ela riu, sabendo que era a mais pura verdade. Os homens daquela cidade esbanjavam tanta riqueza que muitos deles a perdiam e viviam do dote ou herança da esposa que arranjavam para sanar suas dívidas.

—Bridgerton!—Ambos ouviram a voz de Nigel se aproximando da barraca em que a família estava.

Beatrice se espantou ao ver o rosto de Nigel ainda mais roxo do que ela mesma havia deixado. Não demorou para juntar os posto e desviou o olhar para a mão de Simon e em seguida para seu rosto.

—O que você fez?

Ela caminhou o mais rápido que pôde com Simon atrás de si.

—Trago ótimas notícias, Bridgertons. Decidi agir por conta própria e consegui uma licença especial para o meu casamento com a senhorita Bridgerton.

—Não haverá casamento algum.—Beatrice afirma convicta, ela não casaria com aquele homem nem que fosse arrastada para a igreja.

—Eu já falei que o acordo foi anulado.—Anthony finalmente apoiou a irmã.

—Lorde Berbrooke, parece estar com muita dor.—Violet afirmou um tanto constrangida ao olhar para ele, parecia que sempre que o via ele ganhava novos hematomas.—Depois conversamos em um local privado.

—Eu não pretendo continuar com essa conversa.—Ele disse ríspido.—Apesar de estar finalmente falando com a cabeça da família Bridgerton.—Depois ele finalmente voltou a encarar Anthony.—Porque, se fosse você, eu imagino que teria instruído a sua irmã a ser mais cuidadosa em vez de encorajá-la a me dedicar certas atenções enquanto estava a sós comigo nos jardins. É claro que se torna desnecessário dizer que tal escândalo poderia gerar um caos mesmo numa família tão influente. O que diria alguém como lady Whistledown diante de uma informação tão chocante?

—Isso é uma ameaça?—Anthony perguntou, mantendo-se sob controle mesmo que tivesse vontade de matá-lo pelo que insinuava.

—De maneira alguma, porque dentro de três dias eu vou me casar com a senhorita Bridgerton e eu vou salvá-la, bem como a sua família, de uma ruína que o senhor não pôde evitar.

Beatrice se aproximou do homem, o ódio fervente em seus olhos colocava medo até em sua própria mãe.

—Escute aqui, seu homem baixinho e desprezível.—Ela disse tão calma que parecia ainda mais assustadora.—Nem se eu fosse morta até a igreja eu me casaria com você, porque meu espírito voltaria pra te assombrar todas as noites. A única atenção que lhe dediquei foi um soco e eu ainda gostaria muito de repetí-lo.

Ela nem mesmo se controlou quando tentou avançar nele, mas seu gêmeo, Benedict,a segurou.

—Estou ansioso pela união de nossas grandes famílias.—Ele ignorou a fala dela, não tinha medo de quaisquer ameaças que viessem de uma mulher e esse com certeza seria seu maior arrependimento.—Bridgerton, Hastings.—Ele cumprimentou os dois homens e saiu em seguida.

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