004

capítulo quatro
acordos

Beatrice parecia uma fera enquanto tentava passar pelo labirinto de sebes para procurar um lugar calmo pra poder pensar.

Enquanto isso, Daphne tentava achar o caminho que sua irmã havia seguido, mas o jardim possuía várias entradas e saídas e em algum momento elas se distanciou do certo. A Bridgerton pulou de susto quando parou em um canto e nele havia um homem fumando, a qual ela nunca tinha visto antes.

—Está perdida, senhorita?—Ele perguntou educadamente e Daphne prestou atenção na voz grossa e atraente que ele tinha.

—Estou procurando minha irmã. O senhor por acaso teria visto ela? Alta, cabelo escuro e olhos azuis.

—A única coisa que vi desde que cheguei foram plantas, mas tenho certeza que vi umas flores azuis se isso ajudar.—Daphne formou uma carranca no rosto pela "gracinha" dele.

—Se o senhor não for ajudar, eu já vou indo. Com licença.—Ela deu as costas para ele, mas virou assustada ao senti-lo tocar seu braço.

—Peço perdão se a chateei, senhorita...

—Bridgerton, Daphne Bridgerton.—Ela completou a fala dele.

—Bem, senhorita Bridgerton, muito prazer eu sou lorde Gabriel Montmorency.

—Um nome bem incomum por aqui, se me permite dizer. O senhor é o conde Francês que veio hoje para a cidade?—Ela parou quando percebeu a completa confusão na feição do rapaz.—Me perdoe, mas toda Londres já sabe do senhor.

—Posso saber como todos me conhecem se eu nem sequer já estive em Londres?

—Bem...—Ela pareceu um pouco envergonhada antes de dizer que esperava todos os dias para ler um folhetim de fofocas.—É que aqui temos um jornal sensacionalista que escreve tudo que acontece em Londres, é a Lady Whistledown.

Ele parecia mais confuso ainda, nunca havia ouvido falar de uma tal de Whistledown, ela provavelmente só escrevia para Londres, então não teria realmente como conhecê-la.

—Deveria ter imaginado, em Londres os murmurinhos correm como o vento. A senhorita se dispõe a dizer o que ela escreveu sobre mim?—Então se antes já estava envergonhada, parecia ainda mais. Tinha sorte que as luzes no jardim fossem poucas se não ele teria percebido seu rosto corar.

—Disse que o senhor veio procurar por uma esposa.—A carranca formada no rosto do homem com toda certeza negou o que a Whistledown disse, ele não pareceu contente em ouvir a palavra esposa.

—Por Deus!—Ele respirou fundo antes de contar.—Sabe quantas debutantes estão aqui hoje? Só concordei em vir para ver um velho amigo.

—Contando comigo, devem ser umas trinta.

—Preciso de uma rota de fuga.—Ele disse sem prestar muita atenção, mas então percebeu o que ela disse.—A senhorita é uma debutante também?

—Sim.

—Então o que diabos faz aqui sozinha com um homem?

—Eu já disse que estou procurando minha irmã!—Ela afirmou.—E também não sei exatamente como voltar para o baile. E fique tranquilo, não vou força-lo a se casar comigo só por causa de uma conversa. Não precisa ser rude.

—Peço perdão pelo modo como falei, não queria ofende-lá.—Ele disse sentindo-se culpado.—Melhor voltar antes que nos vejam juntos e armem um escândalo.

—Não se preocupe com isso. De qualquer forma, já estou arruinada.—Daphne sentou em um banco de concreto que havia ali.

—Por que diz isso?—Ele pergunta com pena de sua fala anterior.—Parece vir de boa família e, se me permite dizer, é muito bonita.—Os olhos de Daphne se arregalaram e ela ficou ainda mais ruborizada.—Desculpe se a envergonhei.—Ele riu de suas bochechas vermelhas com apenas um elogio. Ela era bonita, mas apenas uma jovem debutante inocente, com certeza não fazia o seu tipo.

—Obrigada, mas isso não muda o fato de que nenhum homem parece mais tão interessado em mim.—Ela disse ainda envergonhada.—Melhor o senhor fugir antes que as mães o encontrem, ficarei bem aqui sozinha.

Ele iria embora, iria mesmo, mas teria que passar pelo salão antes e então todas as matriarcas e debutantes o encontrariam. Além disso, sentiu pena em vê-la sozinha. No entanto, uma ideia clareou a sua mente. Ele poderia convida-la para uma dança, assim evitaria as mães e depois daria em jeito de sair disfarçadamente e ainda a ajudaria a não se sentir deslocada.

—Senhorita, acho que posso lhe ajudar com isso, se também puder me ajudar.—Daphne levantou seu rosto em direção ao homem que estava de pé.

Agora as luzes pareciam ilumina-ló mais e mostrar sua feição. Ele tinha belos olhos azuis, pareciam um pouco com os da sua irmã mais velha, mas não eram tão azuis quanto os de Beatrice. E os cabelos eram negros como ébano. Era alto e com certeza esbelto. Agora ela entendia o porquê dele estar fugindo.

—O que tenho que fazer?—Ela enfim perguntou.

—Maldito Anthony! Maldito Nigel! Maldita Whistledown!—A morena esbravejou.

Ela respirava fundo sentindo falta de ar e andando em círculos para tentar se acalmar. Beatrice depois de fugir de Anthony e Daphne precisava de um tempo a sós se não seria capaz de matar o irmão mais velho por sequer pensar que ela aceitaria aquela proposta ridícula. Preferia morrer sozinha e solteira do que ser a baronesa de Nigel Berbrooke.

—O que faz aí?—Ela ouviu a voz do próprio que lhe causava tanta irritação se aproximando.

—Nigel, agora não!—Ela tentou ser educada, mas não conseguia disfarçar sua voz irritadiça.

—Vejo que já esquecemos todas as formalidades, mas agora que serei seu marido...

—Escute bem, você jamais será meu marido, porque eu nunca vou me casar com você. Meu irmão cometeu um erro.

—Se acha melhor do que eu, senhorita?—Ele perguntou, dessa vez estava bravo e parecia chegar cada vez mais dela.

—O que eu acho é que deveria se afastar.

—Deveria me agradecer. Ninguém a quer, já é considerada uma solteirona entre toda a sociedade, sou sua única esperança e sabe disso.

—Pois saiba o senhor que eu prefiro continuar sendo uma solteirona do que me casar com você!—Ela disse e ele se aproximou mais.—O que está fazendo?

—Já vai ver!—Ele agarrou seus braços e tentou lhe beijar a força, mas ela o empurrou.

—Já disse para me deixar em paz!—Ele voltou a se aproximar e ela juntou toda sua força e deu um soco no olho direito dele, o fazendo cair no chão. Ela se assustou ao ouvir alguém se aproximar, se virou e viu Simon Basset.—Vossa graça, eu não tinha intenção de...

—Apagar o homem com um belo soco?—Ele perguntou sarcástico.—Não precisa mentir pra mim, senhorita Bridgerton, ele mereceu e nós dois sabemos que a senhorita gostou muito de bater nele.—Ela riu do descaramento dele.—Eu estou bem impressionado.

—Cresci com três irmãos antes de Daphne nascer. Digamos que tenho muita experiência com socos.—Ele riu e ela perguntou em seguida.—O que faz por aqui?

—Estou evitando certas pessoas?

—Pessoas?—Ela perguntou duvidosa.

—Mães, sendo mais específico.

—O senhor veio pelo caminho escuro que está apenas alguns passos daqui.—Ela divagou mas então se assustou.—E eu estou sozinha aqui com dois homens.

Devido à condição dele, eu acho que com um homem só.—Ele apontou para Nigel.

—Isso me comprometeria mesmo assim. Você faz alguma ideia do que aconteceria se alguém se quer sugerisse que eu...—Ela respirou fundo antes de continuar, era óbvio que ele não entenderia. Ele era um homem com título e ela apenas uma mulher.—Eu preciso ir.

—Case comigo, senhorita Bridgerton.—Nigel murmurou no chão, ainda desacordado. E Beatrice revirou os olhos, ele conseguia ser irritante até caído no chão.

—Acho que essa foi a proposta de casamento menos romântica que eu já vi.

—Bom, acredito que se alguém me visse aqui, pelo menos não teria que me casar com ele.

—Não acredito que está pensando em se casar com ele.—Simon tinha uma carranca profunda no rosto. Ela havia negado algumas outras propostas, mas estava considerando casar-se com Nigel Berbrooke? Por mais que quisesse, não conseguia entender as mulheres.

—Não, credo!—Ela fez uma feição enojada.—Mas meu irmão não pareceu ter seu raciocínio antes de me prometer pra esse idiota.

—O seu irmão?—Simon perguntou desacreditado.—O mesmo que disse pra mim que permitiu que você dispensasse seus pretendentes?

—Inacreditável, não é?—Ela riu quando ele assentiu.—Tudo por culpa do que a Whistledown andou escrevendo. Agora Daphne está arruinada e ele quer me casar o mais rápido possível pra "apaziguar as coisas".

—Acredite, tenho tanto apresso por ela quanto você. Ela desafiou todas as mães de Londres a me casarem com as filhas. Elas querem...

—Lhe conquistar como um prêmio.—Ela completou, mas percebeu ter a chance de alfineta-ló mais uma vez.—Não se preocupe, vossa graça. Logo elas verão que essa vitória não passaria de uma derrota. Eu vou por aqui.—Ela apontou pelo caminho mais iluminado.—Volte pelas árvores.—E então, uma ideia surgiu na mente de Simon que ignorou o "insulto" que ela lhe deferiu.

—Talvez haja solução...pro nosso problema com a lady Whistledown. Anthony aceitou a proposta de Nigel porque quer que você se case o mais cedo possível e se você tivesse outros pretendentes?—Ele pergunta e ela imediatamente entende sua ideia.—Se me acompanhar, todos pensarão que achei minha duquesa. Todas as mães presunçosas da cidade me deixarão em paz e todo pretendente olhará pra você. Entenda, homens sempre se interessam por mulheres quando acreditam que outros, ainda mais um duque, estão interessados.

—Imagine o que a Whistledown escreveria sobre isso.

—Imagino que ela escreverá o que realmente somos. Eu, indisponível. Você, desejável.

—Isso é um plano absurdo.

—Eu acho brilhante.

—Claro que acha, você quem teve a ideia. Se não achasse brilhante quem mais acharia?

—Eu não quero me casar com você e você não quer se casar comigo. O que temos a perder?—Ele perguntou ignorando novamente as alfinetadas dela.

E então, quando menos perceberam, eles estavam lá voltando juntos para o baile em direção à pista de dança um ao lado do outro com todas aquelas pessoas olhando.

—Olhe nos meus olhos.—A dança começou e seus olhos não desgrudavam um do outro, em um pacto secreto que ajudaria ambos a conseguirem o que queriam.—Venha. Mais perto.

—Pra isso funcionar, temos que parecer muito apaixonados.—Ela afirmou baixo se aproximando mais.

Não havia ninguém mais feliz do que Violet e Ágata por sentirem que seu plano estava dando certo. Todos os outros, inclusive a rainha, estavam impressionados com as "habilidades" de Beatrice Bridgerton. Ela era alguém que não era considerada uma oponente há muito tempo, mas agora todos sentiram que a subestimaram. Anthony parecia irritado pelas coisas não estarem como ele planejou.

Beatrice entendeu tudo ainda mais quando viu sua irmã na pista de dança depois de muito tempo sem dançar com um belo homem que ninguém sabia de quem se tratava, mas era claramente um lorde, pois usava boas roupas e havia sido convidado para o baile.

Mas ninguém, absolutamente ninguém poderia negar a química existente que havia entre Beatrice e Simon, Daphne e Gabriel.

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