Afronta a Madame Bouvet
Oieee estou de volta. Consegui me obrigar a postar e até agora parece estar correndo tudo bem. Por isso vou adiantar este capítulo para minhas leitoras favoritas!
Beijos :)
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Miriam estava no andar de cima a arrumar, e Callum foi distraído de sua leitura quando bateram na porta. Deixou os livros pesados por cima da mesa os quais estudava de olhos já cansados e andou devagar até a porta. Abriu e encontrou dois policiais que tiraram os chapéus e acenaram educadamente.
— O senhor precisa de nos acompanhar — disse um deles com ar sério. Callum franziu, pois conhecia ambos e estranhava o comportamento distante.
― Terei cometido alguma infracção, Dan e Wallace? ― Perguntou Callum de sobrolho unido. ― Aconteceu alguma coisa?
Os dois trocaram olhares, e num movimento rápido, Wallace deu uma cabeçada na testa de Callum. Mas o pequeno gigante não se moveu nem um centímetro, apenas levou a mão a testa e pestanejou quando sangue escorreu pelo olho abaixo. Reagiu rapidamente e atingiu o polícia com um murro certeiro no nariz, fazendo este voar contra o chão. Dan tirou a arma numa rapidez, apontou-a apertando com força enquanto olhava de esguelha para o colega que se levantava atordoado.
― Por favor, Callum ― pediu Dan com ar sério, sua face de feições duras estava pálida e seus olhos brilhavam na pouca luz. ― Não me obrigue a...
Em seguida tudo foi muito rápido, Callum com a sua teimosia reagiu contra a arma de fogo, deu um pontapé que atingiu na mão dele e a arma voou para o jardim. Dan também não se fez de rogado, desferiu um golpe certeiro na face de Callum. Os dois começaram uma luta renhida, mas Wallace cambaleou até a relva do jardim e apanhou a arma. Disparou!
Escutou-se um grito feminino, era Miriam que descia as escadas por causa do barulho e cobriu a boca com as mãos, assustada. Viu Callum deitado no chão com a mão no peito a sangrar e ela tentou correr de volta, mas Wallace adentrava na residência e correu a tempo de agarrá-la pelas pernas e puxá-la com força. Miriam caiu com a cara contra as escadas e tudo ficou escuro.
" ― [...] Amor é uma fumaça que se eleva com o vapor dos suspiros; purgado, é o fogo que cintila nos olhos dos amantes; frustrado, é o oceano nutrido de lágrimas desses amantes. O que mais é o amor? A mais discreta das loucuras, fel que sufoca, doçura que preserva... ― sussurrava contra o corpo nu e esguio deitado na sua cama ampla. Beijou a sua barriga devagar e depois o seu umbigo. A sua pele branca contrastava contra a pele escura e os dedos unidos formavam um Xadrez, à Preto e Branco.
Ele recitava Romeu e Julieta, uma trágica história de amor.
― Callum, esse amor não existe ― murmurou Miriam de olhos semicerrados e os lábios entreabertos. Queria mas não queria, era uma mistura de aceitação e contradição. Sabia que era errado, mas era o que lhe parecia certo no momento.
Ele ergueu os olhos azuis acinzentados e sorriu apaixonadamente. Subiu até alcançar a sua face, conseguia sentir a sua respiração.
― Se ele não existe, o que será que estivemos aqui a fazer? ― Questionou com meio sorriso, passou uma mão pelos cabelos e desceu o polegar contra a sua face. Miriam afastou-se dele soltando-se e sentou-se na beira da cama.
― Deixa-te de poesias que não te ficam bem! ― O criticou, mas os lábios estavam voltados numa curva virada para cima. ― Apenas digo que tenho um mau pressentimento.
― Sexto sentido feminino? ― Perguntou, mas a sua voz tinha um toque de provocação, como se as mulheres sempre exagerassem no que dizia respeito a certos assuntos. Eram sempre muito supersticiosas e com dúvidas sempre pelo ar.
― O que achas? Que vamos nos casar, ter filhos e viver felizes para sempre?
― E por que não? Uma dúzia de crianças a correr pela casa. ― Beijou-lhe as costas nuas e suas mãos rodearam a cintura fina. Ela riu baixo e abanou a cabeça negativamente. As cortinas abertas revelavam o dia que ainda se exibia do lado de fora, mas alguma coisa estava errada.
― A Madame Bouvet ainda não procurou por nós. Mesmo depois de não termos comparecido ao chá ― comentou e sentiu um arrepio cobrir-lhe a espinha, não soube distinguir se era dos beijos ou do nome recentemente pronunciado.
― Falaria diretamente com Madame Bouvet se fosse necessário, mas nos vamos embora, lembras-te?
― Isso será uma afronta, Callum! Tenho receio. ― Calou-se quando ele colocou um dedo nos seus lábios e beijou-lhe o pescoço a soltar um gemido rouco. Dante sempre tinha razão, estar com alguém de quem se gosta era algo totalmente diferente. Seu corpo reagia de várias formas diferentes, as quais ele nem achava sequer possível, e então riu do destino atrevido. Mas não se importava, muito pelo contrário."
Callum tossicou e sentiu dor. A respiração estava complicada e os movimentos também. Abriu os olhos com dificuldade e uma dor de cabeça fez-se sentir. Não conseguia compreender, poderia jurar que estava nos braços de Miriam até há bem pouco tempo, como é que agora sentia toda aquela dor? Tentou se mexer, mas era como se os braços estivessem presos. E estavam! As algemas afundavam-se ainda mais a cada movimento que fazia.
― Pensei que te fosses atrasar para o teu casamento, Callum. ― De início a voz parecia estranha, mas quando a visão deixou de estar embaciada e ele reconheceu a peruca ruiva e o colar de pérolas em volta do pescoço múltiplo, seu coração começou a bater a uma velocidade rápida. As lembranças da luta na sua casa vieram no bater das asas do passado e seus olhos caíram para o próprio peito enfaixado com uma mancha de sangue.
― O que... Onde estou? ― Perguntou com dificuldade e sentiu os lábios secos. As dores atingiam-lhe como brasas quentes pelo corpo e teve vontade de vomitar. ― Solta-me!
Madame Bouvet aproximou a sua cara gorda para perto da de Callum que transpirava e seus olhos rodavam nas órbitas. Os olhos fundos dela ainda brilhavam sem parar e soltou um sorriso escarninho de lado. Ele tinha a respiração descompassada.
― Estás há alguns dias a desacordado, foste ferido mas a tua recuperação está a andar em passos largos afinal a bala só te passou de raspão ― comentou ela com um ar divertido. ― O que pensavas que estavas a fazer?
Callum então abriu os olhos completamente ao lembrar-se de Miriam, mexeu-se com mais força e a algemas comeram sua carne, marcas vermelhas fincavam-se nos seus pulsos.
― Vou mandar as meninas virem te lavar e arrumar, casas-te dentro de uma hora ― advertiu a Madame Bouvet a afastar-se devagar. Observou a reação confusa de Callum e sorriu mais uma vez animada.
― Casar-me? Já passou tanto tempo! Eu não me vou casar com a sua filha. ― negou friamente e soltou um grunhido de dor quando ela afundou uma unha por cima da faixa, aleijando-o na ferida.
― Parece que desconheces quem sou, senhor Morgan! Mas deixa-me esclarecer-lhe. ― Retirou a unha coberta de sangue e recostou-se melhor na cadeira de pés altos. ― Não há ninguém nesta cidade que não me deve um grande favor, e é o meu dinheiro que investe na maioria das coisas que aqui existem. Se não me candidato ao cargo de governadora é porque estou acima disso, e eu já lhe tinha dito que não existe nada que eu não possa saber, afinal, quem é que não quer cair em minhas graças?
― Não me pode obrigar a nada, eu não amo a sua filha. É isso que deseja para Nina? Um casamento mal feito, o qual ela vai ser infeliz pelo resto da sua vida? Que tipo de mãe é a senhora? ― Indagou Callum a respirar mal pela aflição, seus fios loiros estavam molhados pela transpiração e marcas escuras pairavam debaixo dos olhos, nem parecia que tinha estado a dormir. Madame Bouvet desatou às gargalhadas altas e duras, comparavam-se as bruxas dos contos.
― Nina lhe ama e será feliz por ser sua mulher, apenas isso. ― Levantou-se com o sobrolho amarrado e o enorme peito erguido. ― Ninguém me deve desafiar. As coisas sempre têm de ser como eu determino.
― Pois não serão! Vou dizer não perante o orador e toda a cidade ― ameaçou Callum sem medo, mas ele tinha tomado uma decisão e nada o iria impedir. Viu a face de Madame Bouvet amenizar-se numa forma sem encanto algum. Inclinou-se para frente, a fim de aproximar ambas as faces, mais uma vez.
― A Miriam está neste momento no contentor do Sales. O navio vai partir dentro de duas horas para o Deus dará. Se a sua resposta for que sim, ordenarei para que a deixem sair, caso contrário nunca mais alguém verá o seu focinho. Entendido? ― O tom de voz era cortante como uma faca afiada contra a pele de um cordeiro. O medo ficou estampado na face de Callum cujos olhos brilharam marejados. Madame Bouvet afastou-se com elegância e andou devagar. As suas inúmeras saias roçavam-se umas as outras e provocavam um barulho irritante. Ao sair bateu com a porta.
Callum sentiu seu coração se encolher ainda mais, e mesmo contra a sua vontade, não conseguiu segurar as lágrimas que cederam pelo seu rosto abaixo. Virou a face para o lado como se proibisse alguém de o ver naquele estado, mas sabia que estava sozinho. A realidade chamou por ele e doeu!
Madame Bouvet sabia de seu romance com Miriam, e não iria deixar que seu orgulhoso fosse ofendido de tal forma perante todos.
***
Dante achava tudo muito estranho. A tia Laureen tinha lhe dado dois recados há alguns dias, mas nenhum deles parecia encaixar direito. O primeiro era que Callum tinha decidido se confinar em casa de Madame Bouvet para reatar o casamento, pois achava que era a melhor decisão a ser tomada. E o segundo, era que Miriam ficara estranha depois disso e saiu de casa sem dar nenhuma explicação. Provavelmente teria ido embora, uma vez que seus pertences não estavam mais no quarto. Mas o patriarca dos Morgan sabia que por mais que a sua babá gostasse de Callum, não iria embora sem antes falar com ele. Não era o caráter de Miriam e o seu irmão caçula não decidiria ir para casa de Madame Bouvet assim do nada, não sem antes falar com ele, e pior ainda depois da conversa que tinham tido há poucos dias. Algo não batia certo, e ele passara a olhar para a sua suposta tia de maneira estranha.
Alguma coisa teria acontecido! Mas ele não sabia o quê.
Seu coração se encontrava apertado por isso, as crianças estavam a mercê de tia Laureen, e Dante estava a trabalhar para além da conta. Tinha tido problemas após deixar ir ao ar o artigo que falava sobre Miriam e seu chefe não se mostrava nada satisfeito pela sua tentativa frustrada de tentar deitar abaixo Kyle Gihneal.
E as coisas pareciam piorar! As crianças estavam tristes e zangadas, e um eunuco viera anunciar a festa de casamento de Callum para aquele sábado. Tudo muito estranho.
― As crianças já estão prontas! ― Tia Laureen entrou no seu quarto sem nem sequer bater a porta. Dante franziu o cenho, mas não disse nada. Apenas se olhou ao espelho mais uma vez, estava bonito, os olhos azuis reluziam e contrastavam com o terno preto comprado para a ocasião. Era bonito, com o casaco longo e uma gravata adequada. Numa outra altura se mostraria feliz, mas naquele momento não. Sabia que o seu irmão não se queria casar e não compreendia o que teria mudado para que tal facto se concretizasse. Respirou fundo.
― Vamos ― disse sem empolgação alguma e saiu do seu quarto ainda com o olhar amargo. A tia Laureen sentia como ele a encarava, mas não se preocupava de todo. Muito estranhamente ela usava um vestido azul garrafa, de gala e notavelmente caro. Dante se perguntava onde ela teria arranjado dinheiro para tal, visto que nos últimos tempos tinha voltado a penúria.
Desceram as escadas, e sorriu ao ver Sara a arranjar a pequena gravata de Ditch, e o seu marido Mallory segurava Gabriel com uma mão e Ben na outra. Ambos sorriram ao vê-lo, e a jovem moça correu para abraçar o pai. Estava mais crescida e menos magra, havia sinais de uma maturidade em seu corpo.
― Pai, é verdade que a Miriam se foi? ― Perguntou, mas não parecia acreditar que algo de género fosse possível.
― Infelizmente, parece que sim ― respondeu e mais uma vez seus olhos amargos caíram na tia Laureen que acendia um cigarro.
― É o melhor partirmos ― disse ela a usar um grande chapéu e já a abrir a porta. Todos saíram enquanto Mallory conversava com o seu sogro. Dois coches os esperavam do lado de fora, e um deles estava ocupado por Lady Straton e sua filha, Carla. Dante entrou nele com tia Laureen enquanto as crianças iam no outro com a irmã e o cunhado.
― Saudações ― cumprimentaram-se a medida que se acomodavam, e o coche começou a andar. Era como se toda cidade estivesse movimentada apenas pelo facto de Nina Bouvet ser a noiva depois de um casamento rompido há meses atrás. Viam-se enfeites coloridos por todos os lados e guardas policiais como se da Rainha se tratasse.
― Estás nervoso? ― Perguntou Lady Straton que segurou a mão de Dante amavelmente. Dentro de si, não via a hora de chegar a vez em que ela se casaria com ele. Só a ideia a fez sorrir por dentro.
― Um tanto ― respondeu Dante prontamente, e era verdade. Mas o seu nervosismo adequava-se em várias coisas diferentes. Não se pronunciou mais durante o percurso e deixou as três mulheres a conversarem sem parar até chegarem a mesma Igreja onde Sara se tinha casado. Desceram, e ele logo viu seus filhos correrem ao redor da irmã.
― Senhor Morgan, a Madame Bouvet e seu irmão lhe esperam no coche ― avisou Wallace, um policial que trabalhava para o seu amigo Ian Birmingham. Dante afirmou e caminhou apressadamente até ao coche por trás do da noiva. Distinguiam-se porque o de Nina estava cheio de flores coloridas e fitas penduradas.
Assim que entrou, a imagem de Callum o assombrou. Estava pálido e um pouco magro. Vestia um terno branco luxuoso e parecia manter uma postura firme, mas por algum motivo Dante conseguiu ler dor e angústia nos olhos do irmão, sem deixar de reparar numa ferida roxa em sua testa.
― Callum, o que aconteceu? ― Interrogou sem mesmo se dar ao trabalho de cumprimentar Madame Bouvet, esta que tossicou indignada.
― Me perdoe, Dante. Mas não dispomos de tempo algum, seu irmão apenas fez questão de trocar algumas palavras consigo antes de entrar na Igreja. Portanto, espero que não se demorem com conversas bobas, terão muito tempo para o fazer mais tarde ― adiantou Madame Bouvet com um ar frio e seus olhos escuros encararam Callum no que parecia uma certa ameaça. Dante finalmente fechou a porta e sentou-se meio assustado.
― Dante... ― A voz de Callum parecia arrastada e foi o suficiente para o irmão perceber que ele não estava bem. ― Lembras quando eu cheguei em vossa casa e ainda era pequeno? ― Antes que pudesse confirmar, Callum continuou. ― Ensinaste-me sobre a asa branca e a negra, num movimento que as ondas não tocariam jamais os céus.
Dante arregalou os olhos, e Madame Bouvet sentiu-se um tanto confusa por não estar a compreender a conversa. Tossiu mais uma vez.
― A asa negra não voará sobre os céus, antes irá afundar num abismo profundo das ondas. É lá que perecerá a rainha, caso a asa branca não a faça voar ― completou com dificuldades e procurou respirar devagar.
― O que isso quer dizer? ― Interpelou Madame Bouvet desconfortável, seus olhos alternavam de um Dante fantasmagórico para um Callum desesperado.
― É um conto infantil, Madame Bouvet. Algo que nos uniu ainda crianças. Uma forma de Callum se despedir de mim ― afirmou Dante que se levantou ainda desnorteado. ― Com a vossa licença.
Antes que a senhora pudesse contestar já Dante saía a correr pelas ruas agitadas. Ia salvar Miriam.
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