𝟬𝟳 : CONFLICTS OF INTEREST
07. CAPÍTULO SETE :
« CONFLITOS DE INTERESSE»
♬ song : ticking bomb ── aloe blacc
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INVERNO ⠀─ ⠀ FEVEREIRO 23, 22:00
⠀ ⠀⠀⠀⠀ Boston, Massachusetts
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AO ESCUTAR A FALA de Thalia, a face de Sebastian endureceu. Lentamente, ele abaixou a arma em sua mão, voltado completamente para ela, encarou a mulher com um olhar sombrio nos olhos. O cerco começará a se fechar sobre ele, criando aquele conflito entre os dois.
O tenente ergue as mãos devagar, em um claro sinal de rendição. Thalia não estava mentindo quando disse que não erraria o tiro de onde estava. Ela tinha um caminho limpo para isso, era evidente. Apenas a possibilidade deixava Sebastian tenso. Ele pensava no que poderia acontecer, no que poderia fazer... haviam muitas alternativas, porém não queria arriscar.
Tudo o que Sebastian sabia era que precisava sair daquela Zona de Quarentena. Ele não poderia se deixar ser levado por ela. Consequentemente, ele e Tommy seriam mortos. Enforcados em praça pública como vários outros foram. E, se Reeves sabia algo sobre si mesmo, era que ele não iria cair sem lutar.
── Você não precisa fazer isso, Thalia ── disse Sebastian.
── Não preciso, sério? ── ela o questiona friamente.
A forma como Thalia o encara é sombria, raivosa até. Sebastian nota um rancor que ela carrega, e ele pensa que é pela traição. Por Sebastian ter fingido ser parte da FEDRA. Então, as feições dela mudam.
Atrás dele, Tommy se ergue, limpando a sujeira da calça e ajeitando a alça da mochila sobre os ombros. De seu Thalia sorriu amplamente, olhando para o Miller.
── Tudo bem ai, Tommy? ── Thalia pergunta. Tommy, por sua vez, suspira pesadamente, endireitando os ombros.
── Sinceramente, até que sim. ── disse ele. ── Você chegou em um ótimo momento, poderia ter sido pior.
── Me agradeça depois, Miller ── ela respondeu. ── Ainda precisamos decidir que fim o seu amigo aqui vai ter.
Ao escutar a fala da mulher, Sebastian franziu o cenho. Thalia notou a confusão dele e, como uma resposta, achou que era um bom momento para revelar a verdade. Ela expõe o colar que está em seu pescoço, escondido pelas roupas.
Um colar dos Vagalumes.
── Surpresa. ── Thalia anuncia.
Um silêncio pesado caiu sobre o local, apenas interrompido pelos passos de Tommy ao se aproximar ligeiramente de Thalia com um fantasma de um sorriso nos lábios. Sebastian permaneceu em guarda, as peças se encaixando no lugar.
── Então, esse tempo todo...
── Sim, unca fui leal à FEDRA. Apenas fiz o que era necessário para sobreviver, assim como você. ── Ela deu um passo à frente, ainda observando cada movimento de Sebastian. ── Eu também sou parte dos Vagalumes.
Sebastian soltou uma risada de escárnio.
── Você me enganou muito bem. Fez um ótimo discurso contra os Vagalumes.
── Sempre fui uma ótima atriz. ── Thalia sorriu, ladino. Ela, no entanto, desviou o olhar de Sebastian e voltou-se para Tommy, a expressão fria suavizando um pouco. ── E agora, Miller? O que fazemos com ele?
Sebastian sentiu um nó se formar no estômago. Ele sabia que sua vida agora estava nas mãos de Tommy. E, apesar de terem enfrentado o caos juntos até aquele momento, ele quase matou o homem e não podia garantir que Tommy o escolheria ao invés de garantir a própria sobrevivência. A lealdade que poderiam estar construindo agora estava abalada.
Tommy hesitou por um instante, como se estivesse pesando todas as opções. Ele olhou para Sebastian, depois para Thalia, e finalmente suspirou, soltando o ar com o peso de uma decisão que parecia inevitável. Sebastian, por sua vez, não parecia nem um pouco arrependido.
── Não o mate ── Tommy declarou finalmente, de forma definitiva. ── Eu preciso dele.
── Ele quase matou você, Tommy! ── o tom de Thalia carregava indignação. ── Ele não é confiável.
── Eu sei, e não tem mais ninguém tão puto com ele nesse momento quanto eu ── declarou Tommy, olhando seriamente para Sebastian. ── Mas eu garanti a Marlene que conseguiria chegar até a Universidade, e preciso dele para fazer isso. Você não pode deixar a ZQ agora, não com a sua mãe doente e eu não posso sair sozinho.
A menção de sua mãe, Thalia pareceu levemente afetada. Porém não abaixou a mão que ainda mantinha Sebastian sobre a mira de sua arma.
Thalia pareceu considerar as palavras de Tommy por um longo momento antes de acenar com a cabeça, concordando com relutância.
── Muito bem, Tommy. Se essa é a sua decisão.. ── ela olhou para ele. ── Espero que dê tudo certo. E que saiba que, depois de hoje, você nunca mai vai poder voltar aqui.
── Eu sei ── ele respondeu, sem perder o foco. ── Mas isso não é um problema para mim.
Tommy sorriu e apertou o ombro de Thalia, o qual sorriu minimamente para ele.
Sebastian e Tommy trocaram um olhar breve, compreendendo que aquela era a única oportunidade que teriam de escapar. Com um aceno silencioso, Tommy se despediu dela e começou a se mover em direção à cerca, prontos para deixar a zona de perigo, enquanto Thalia permanecia nas sombras, vigiando, após abaixar a mão.
Tommy fez questão de deixar Sebastian passar primeiro pela passagem, ainda com os eventos recentes frescos em sua mente. Ele também permaneceu com uma pistola em sua mão, pronto para usá-la quando fosse necessário.
Quando finalmente chegaram à abertura na cerca, Tommy olhou para trás, vendo Thalia à distância, apenas um vulto entre as ruínas. Ao longe os vultos dos guardas da FEDRA, a patrulha ficando cada vez mais agitada e procurando por eles por cada canto da cidade. Definitivamente, ele nunca mais poderia retornar.
Tommy voltou-se para a frente e seguiu seu rumo pelas ruas de Boston, passando pelos carros abandonados e a vegetação que consumia os prédios e casas ao redor. Tudo era um caos ao lado de fora e, mesmo durante a noite, ainda poderiam escutar os sons mínimos que eram feitos pelos infectados à espreita.
Enquanto a noite se arrastava, um silêncio desconfortável pairava sobre eles, quebrado apenas pelo som distante de gritos e gorgolejos abafados. A tensão no ar era quase tangível. Tommy parou, o olhar fixo na escuridão à frente, mas sua mente estava em Sebastian. O clima estava denso, cada segundo alimentava o conflito não resolvido entre eles que fora abafado por um tempo.
Os dois se afastaram o máximo que podiam da ZQ, até estarem completamente longe dos olhos sempre vigilantes da FEDRA. Sebastian estava alguns passos à frente, os dois na entrada de um bairro com várias casas. Tommy, sentindo o peso da desconfiança, deixou-se ficar para trás, os olhos fixos nas costas de Sebastian.
Ele parou de repente, dando espaço para a raiva fervilhante tomar conta, virando-se para enfrentar o homem que estava poucos passos à frente. Quando ele pensa que o momento certo, pega o tenente desprevenido ao segurá-lo pela blusa e joga-lo contra a parede de tijolos de um muro alto.
── O que você tem na cabeça, idiota?! ── exclamou Tommy, irritado. Ele prensa Sebastian contra a parede, colocando seu antebraço contra o pescoço do homem. ── Você ia mesmo me trair?! Me matar?
Os dentes de Reeves cerram.
A tensão entre os dois era palpável durante toda a fuga, e ele não podia mais ignorar o desconforto crescente. A dúvida estava sempre presente agora. A traição era um ciclo inevitável naquele mundo quebrado e aquele conflito foi causado por ela.
Sebastian iria matá-lo, Tommy não duvidava disso. Aquela possibilidade lhe foi apresentada por Marlene e Joel antes, ele não era tolo. Sabia no que estava se metendo ao confiar em um desconhecido. Porém pensou que, com ambos tendo objetivos semelhantes, eles poderiam encontrar um meio termo.
── Não aja como se você fosse fazer diferente, Miller ── disse Sebastian, entredentes. ── Eu sei que, na primeira oportunidade, você teria feito o mesmo.
Tommy parecia ainda mais irritado com a fala de Sebastian, e o fitou com muita irritação, fazendo o possível para mantê-la contida.
── Você não me conhece. ── disse o Miller, lentamente.
Bruscamente, Tommy o soltou e se afastou, controlando sua raiva que esteve perto de chegar ao limite. Entretanto, ele decidiu pensar racionalmente.
── Olha só, vamos deixar algo bem claro aqui, tudo bem? ── disse ele. ── Se me trair ou tentar me matar de novo, se eu desconfiar, vou destruir a bateria e nenhum de nós dois vai para porra de lugar algum, entendeu?
Sebastian não responde a indagação de Tommy.
── Sei que você não me conhece, eu também não te conheço, mas estou disposto a fazer essa parceria dar certo porque preciso disso. Eu não quero te matar, nem planejo isso, então o mínimo que você tem que fazer é ser agir da mesma forma. ── continuou Tommy, irritado. ── O plano continua sendo o mesmo. Pegamos um carro e eu deixo você onde quiser ficar. Depois disso, vou seguir viagem. Nada mudou. Está de acordo ou encerramos essa parceria por aqui, lutando um contra o outro até a morte?
O silêncio entre eles se estende por um tempo. O vento uivava entre os prédios abandonados, carregando o cheiro de umidade e decomposição. Tommy sentia-se tenso, esperando o veredito de Sebastian.
Depois de um momento tortuosamente longo, Reeves assentiu uma única vez.
── Tudo bem. ── disse Sebastian, impassível.
Tommy não demonstrou, mas sentiu-se muito aliviado.
── Bom. Espero que estejamos em bons termos agora ── respondeu o homem, sustentando o olhar do tenente por um tempo.
Sebastian o observou andar pelo lugar, retirando a lanterna do bolso e dando algumas batidas na mesma até que ela começasse a funcionar. Utilizando a luz, ele passou pelo caminho onde eles estavam, analisando o percurso e o que havia em volta.
Ele não entendia porque Tommy não havia dado continuidade e retaliado depois do que ele fez. Se estivesse na situação do Miller, com certeza mataria quem havia o traído. Era o que definitivamente estava disposto a fazer com Leon.
── Precisamos encontrar um lugar para passar a noite ── disse Tommy. ── Pela manhã, continuamos o percurso.
── Então vai simplesmente esquecer tudo o que aconteceu?
── Não. ── respondeu Tommy, encarando-o duramente. ── Eu não vou. Mas agora já estamos aqui e, diferente de você, eu não sou de descumprir minhas promessas.
Eles se encararam em silêncio, até Tommy começar a andar, deixando Sebastian para trás.
── Você gosta mesmo de bancar o herói, não é? ── indagou Sebastian, enquanto Tommy dava alguns passos à frente.
── Não enche. ── retrucou o Miller.
Reeves balança a cabeça de um lado ao outro e pragueja baixinho. Ele segue o Miller pelo caminho, os dois andando juntos sem falar uma palavra sequer um com o outro. Os últimos acontecimentos, é claro, ainda pairavam sobre eles, criando um certo afastamento.
Tommy encontra uma casa a duas ruas de distância, ignorando as velhas lojas próximas. Eles inspecionam o local pelas janelas primeiro e depois entram, ainda mantendo-se em alerta para caso tenha algum perigo à frente.
Os dois inspecionam cada cômodo com suas armas em mãos, sem fazer qualquer barulho. Ao fim, eles constatam que aquele é o lugar certo para passar a noite. Eles vão para a sala, onde há uma lareira que não vai ser acendida por causa da fumaça. Poderia chamar a atenção de outras pessoas.
Ao invés disso, Tommy acendeu uma lamparina no centro da sala. Enquanto ele organiza as coisas, Sebastian fica próxima a janela, observando o lado de fora através das cortinas vermelhas puídas que cobrem parcialmente o vidro. A tensão entre ele e Tommy ainda era palpável, mas a necessidade de sobrevivência havia temporariamente suprimido qualquer confronto. Seus dedos tamborilavam na beirada da janela, um nervosismo que ele tentava disfarçar com uma fachada de calma.
Ele pensa em contatar Birdie, mas não quer fazer isso na frente de Tommy. Acha melhor encontrar privacidade ou esperar o Miller cair no sono. Provavelmente não demoraria muito. Os dois estavam cansados, porém Tommy parecia pior.
Sebastian escuta o som do zíper da mochila de Tommy sendo aberto e olha na direção do homem, encontrando retirando um pacote com a carne distribuída pela FEDRA ── apelidada de ração ── de dentro da mesma. Miller retira uma tira e leva a boca, mordendo um pedaço. Quando nota Sebastian o observando, ele oferece um pedaço.
Sebastian desvia o olhar e retorna sua atenção para a janela.
── Deveria comer alguma coisa ── comentou Tommy. ── Eu vi que você não tocou na comida que levei. Tem que comer alguma coisa se quiser estar disposto amanhã.
── Estou bem.
── Droga, você é tão teimoso ── murmurou ele, irritadiço. ── Você não vai morrer se aceitar um pouco de comida, cara. Não estou tentando te matar envenenado.
O silêncio é tudo que Tommy recebe como resposta.
Resmungando para si mesmo, o Miller decide ignorá-lo, sentando-se em frente da lamparina enquanto come e aproveita a quietude do lugar.
Algumas horas incrivelmente lentas passam, com Sebastian ainda próximo a janela e Tommy agora dormindo no sofá. Ele dorme segurando uma arma, cochilando baixinho. Às vezes Sebastian direcionava alguns olhares na direção dele, inspecionando o homem em silêncio.
Perto do que Sebastian considerava as 3 da manhã, ele decidiu que não poderia esperar mais e saiu do cômodo, indo para a cozinha. Reeves não perceberá que, assim que passou pelo sofá, Tommy abriu um único olho e o seguiu com o olhar, sem sequer se mover de seu lugar.
Aproveitou que estava sozinho e retirou o rádio da cintura, segurando o aparelho na mão, disposto a fazer uma chamada para Birdie. A preocupação que estava sentindo por ela era maior do que a razão e ele não queria deixá-la sem uma resposta dele por mais tempo. Ela precisava saber que Sebastian havia conseguido sair da Zona de Quarentena e agora estava indo atrás dela.
Demorou alguns minutos, mas o rádio foi atendido.
── Fantasma? ── ela disse lentamente, parecendo sonolenta.
── Oi, garota. ── ele respondeu, sentindo-se estranhamente aliviado. Sebastian também mantinha um tom de voz baixo ── Desculpe a demora, as coisas... se complicaram um pouco.
── Você está bem?
── Sim, eu consegui sair. Daqui a pouco devo pegar a estrada. Encontro vocês em alguns dias ── mesmo que conseguisse fazer o percurso em menos de 1 semana de viagem, Sebastian ainda achava que estava perdendo muito tempo. ── Como estão as coisas aí?
── Leon ainda está me procurando. Ele colocou todo mundo atrás de mim ── ela respondeu. ── Mas eu consegui escapar. Estou nos andares inferiores agora. Acho que ninguém sabe que eu tô aqui...
── Bom. Continue se escondendo, ok? ── Sebastian responde. ── Faça o possível para eles não pegarem você.
Ele pensa em falar para ela tentar deixar o acampamento com Lauren, porém descarta a ideia. Haviam perigos dentro da escola, mas do lado de fora poderia ser ainda pior. Além dos saqueadores, também havia os infectados à espreita. Era muito arriscado.
── Birdie, quando eu chegar ai... ── continua ele ── preciso que esteja preparada para tudo que pode acontecer.
── Como assim?
── Leon vai querer um confronto direto comigo. Provavelmente ele sabe que estou vivo e por isso quer te usar contra mim ── disse Sebastian. ── Isso não pode acontecer. Então, não importa o que aconteça, apena faça o que eu digo e tudo ficará bem, ok?
Sebastian solta o botão lentamente, respirando fundo e aguardando a resposta da menina. Seu desejo não é assustá-la, porém sabe que ela precisa estar preparada para tudo que vier a acontecer.
── Fantasma, eu... ── um som alto faz com que Birdie pare de falar, fazendo-a soltar um ofego assustado. Por sua vez, Sebastian também se assusta.
── Birdie?! ── ele chama com o rádio próximo aos lábios. ── O que está acontecendo?!
Sem resposta. O outro lado da linha é apenas estática.
── Birdie?! ── ele insistiu mais uma vez, porém a resposta é a mesma.
Sebastian contempla o nada por alguns instantes, também processar o que aconteceu ou todas as possibilidades do que pode ter acontecido. O medo dá lugar a raiva e ele logo está chutando uma cadeira para longe.
── Merda! ── Sebastian grita.
A cadeira bate contra o armário mais próximo, quebrando duas pernas no processo.
Sebastian sentiu a adrenalina correr pelo corpo enquanto a estática do rádio permanecia inalterada. Sua mente começava a entrar em um turbilhão de pensamentos, questionando o que poderia ter acontecido com Birdie. "Leon encontrou ela?" Pensou ele, imaginando o pior cenário possível. O som ecoante do chute que dera na cadeira parecia o chamar de volta para a realidade, mas a raiva já tomava conta.
Ele sabia que precisava agir rápido. Não poderia ficar parado ali, esperando por mais notícias ou por uma situação ainda pior. Mas antes que pudesse decidir seu próximo movimento, uma voz inesperada interrompeu seus pensamentos.
── O que diabos você está fazendo? ── A voz rouca e baixa de Tommy veio do canto da sala, e Sebastian se virou abruptamente, encontrando o homem de pé na porta da cozinha, a arma já em mãos.
Sebastian ainda respirava pesadamente, tentando conter a raiva e a frustração. A expressão de Tommy era séria, mas havia uma calma perigosa nos seus olhos, como se ele estivesse esperando Sebastian explodir novamente.
── Nada que te interesse ── respondeu Sebastian, secamente, tentando esconder o tumulto emocional que o consumia. Ele não queria revelar a Tommy o quão fora de controle a situação estava se tornando. Não precisava dar mais munição para Miller.
Tommy, no entanto, não parecia satisfeito com a resposta evasiva. Ele deu um passo à frente, aproximando-se de Sebastian, a arma agora descansando no cinto, mas ainda acessível.
── Escuta, Reeves ── começou Tommy, a voz rouca, mas firme ── Eu não sou estúpido. Alguma coisa está acontecendo e, pelo visto, está afetando mais do que sua fome ou nosso problema com traição.
Sebastian bufou, tentando ignorar o homem e o olhar que o queimava, mas era impossível. Tommy era insistente.
── Quem é Birdie? ── perguntou Tommy de repente, o tom grave e direto.
A pergunta foi como um soco no estômago de Sebastian. Ele ficou rígido, seu corpo inteiro tensionado, e seus olhos imediatamente se estreitaram. Como Tommy sabia de Birdie? Ele tentou lembrar se, em algum momento, havia mencionado o nome dela, mas não conseguiu se recordar. A possibilidade de Tommy ter ouvido a conversa pelo rádio passou por sua mente, mas ele sabia que o volume estava baixo demais para isso.
── Como você... ── começou a perguntar, mas Tommy o interrompeu.
── Eu ouvi o suficiente pra saber que tem alguém do outro lado dessa linha que você se importa ── disse Tommy, o olhar calculado. ── E algo me diz que, seja lá o que for que você esteja planejando, tem a ver com essa pessoa.
Sebastian sentiu o sangue ferver. Ele não gostava de ser pressionado, muito menos por alguém como Tommy, que ele mal confiava. Mas também sabia que não podia agir por impulso, não agora.
── Birdie é... uma amiga. ── Ele mentiu, ou ao menos tentou. A verdade era que Birdie era mais do que uma simples amiga; ela era alguém que ele prometeu proteger, e a ideia de algo ter acontecido a ela o deixava apavorado, por isso Sebastian tinha medo de expor a verdade. E
Tommy, porém, não parecia convencido. Ele cruzou os braços e deu um meio sorriso cínico.
── Amiga, é? E essa 'amiga' parece estar em apuros. Sabe, Reeves, você é péssimo em esconder suas emoções. E, seja lá o que esteja acontecendo com ela, está começando a afetar sua capacidade de tomar decisões.
Sebastian avançou um passo, aproximando-se perigosamente de Tommy. Ele não tinha paciência para sermões, muito menos de alguém como Miller.
── Não se meta, Tommy ── disse Sebastian, a voz baixa, quase um rosnado. ── Você não sabe nada sobre ela, ou sobre o que está acontecendo.
Tommy ficou parado, observando-o, o sorriso desaparecendo de seus lábios.
── Talvez eu não saiba ── respondeu ele, com uma calma perturbadora. ── Mas sei o que acontece quando você tenta fazer tudo sozinho. E sei o que está em jogo aqui, Reeves. Se você quiser chegar até ela, talvez seja hora de deixar seu orgulho de lado e aceitar um pouco de ajuda. Claro, sem tentar matar aquele que está lhe estendendo a mão.
Por um momento, o silêncio preencheu a cozinha. A respiração de Sebastian era pesada, e ele podia sentir sua raiva ainda borbulhando logo abaixo da superfície. Mas as palavras de Tommy, por mais irritantes que fossem, tinham um fundo de verdade. Ele sabia que não poderia fazer tudo sozinho, não com as forças de Leon em seu encalço e os perigos que o aguardavam.
Finalmente, ele deu um passo para trás, quebrando o contato visual.
── Se você está tão disposto a ajudar ── disse Sebastian, com uma voz mais controlada ── então precisamos sair daqui ao amanhecer. Birdie está em perigo, e eu não vou ficar esperando para descobrir o que aconteceu.
Tommy assentiu lentamente, sem mais provocações.
── Fechado. Mas se vamos sair daqui vivos, Reeves, eu preciso confiar em você. E você vai ter que confiar em mim.
Sebastian soltou um suspiro frustrado, mas sabia que não tinha escolha. Ele precisava de Tommy tanto quanto Tommy precisava dele.
── Tudo bem ── respondeu ele, relutante. ── Vamos acabar com isso.
Os dois se encararam em um silêncio tenso antes de voltarem para sala. Porém, antes que Sebastian pudesse retornar para a janela, Tommy jogou para ele o pacote com a carne seca.
── Coma um pouco. ── disse o Miller. ── E isso não é um pedido, cabron.
Sebastian tentou encara-lo duramente, porém Tommy fez pouco para se importar com ele. Caminhou em direção ao sofá e deitou-se novamente, segurando a arma contra o peito com uma mão e cobrindo os olhos com outro braço.
Do seu lugar, Reeves bufou, porém cedeu e caminhou até a janela com o pacote de carne seca em suas mãos, onde passou o restante da noite observando a rua.
Quando a manhã chegou, com o sol despontando através das janelas, Sebastian mal havia dormido. Ele estava entre algum lugar entre a tensão eminente e o cansaço excessivo, onde sabia que precisava descansar mais, porém sua mente não se desligava o suficiente para isso.
Ele e Tommy arrumaram suas coisas e deixaram a velha casa no nascer do sol, aproveitando que não estava tão quente para uma caminhada. O silêncio entre eles ainda se mantinha, mas não estava estranho como antes. Os dois haviam trocado algumas poucas palavras antes de partirem, compartilhando o plano para o dia. Tommy indicou que eles fossem em direção ao Congresso, que antes era ocupado pela FEDRA.
Haviam alguns veículos agora abandonados ali, desde o último conflito dos militares com os Vagalumes. Se o lugar estivesse vazio, algo que Tommy contava com muito com a possibilidade de estar, eles poderiam colocar a bateria em um dos veículos e partir em seguida. Sebastian, por outro lado, nunca foi do tipo que contava com a sorte.
Pelo caminho até o Congresso, eles avistaram alguns infectados, mas conseguiram passar por eles sem chamar a atenção ou matando-os silenciosamente. Nenhum deles eram estaladores, o que facilitava para os dois.
Ao se aproximarem do Congresso, o prédio em ruínas se ergueu à frente como um colosso adormecido, sua estrutura castigada pelo tempo e pelos inúmeros confrontos que já haviam ocorrido ali. O silêncio da cidade ao redor era apenas quebrado pelo sussurro distante do vento, que ecoava nas ruas desertas. Sebastian se sentia tenso, com os olhos varrendo cada canto, e Tommy, embora confiante, mantinha-se vigilante.
Ao chegarem mais perto, porém, algo chamou a atenção de ambos. Movimentos rápidos nas sombras, próximo à entrada do prédio. Havia figuras por ali, mas eles não eram soldados da FEDRA, e definitivamente não pareciam ser Vagalumes. Esses indivíduos estavam cobertos por roupas sujas e esfarrapadas, mas o que mais chamava atenção eram as máscaras que usavam. Algumas pareciam distorcidas, em formato de palhaços grotescos e fantasmas, enquanto outras exibiam sorrisos macabros e desumanos. Sebastian estremeceu ao ver um deles com uma máscara familiar, recordando-se do homem que matou Grace.
Era o mesmo bando, aquelas pessoas que armaram a emboscada.
── Droga ── murmurou Tommy, puxando Sebastian para trás de uma cobertura improvisada feita de metal e tijolos quebrados. ── Não contava com isso.
── Claro que não ── Sebastian respondeu, mantendo os olhos fixos nos saqueadores. Ele sabia que algo assim poderia acontecer. Sorte nunca estava do seu lado.
Os dois observaram em silêncio enquanto os saqueadores se moviam pelo perímetro, desorganizados, mas claramente patrulhando o local. Era evidente que o grupo havia tomado o Congresso como base temporária, possivelmente armazenando suprimentos ou veículos. Sebastian contou pelo menos sete deles do lado de fora, mas sabia que poderia haver mais.
── Precisamos tirá-los daqui ── disse Tommy em voz baixa. ── Se entrarmos no confronto de uma vez, podemos ser cercados.
── Vamos limpar o lugar. Pegamos eles de surpresa e cuidamos disso antes que possam reagir ── sugeriu Sebastian. Ele sabia que era arriscado, mas não via outra opção, e algo dentro dele borbulhava pela inquietação e pela raiva, clamando por justiça e vingança. Sebastian queria fazer todos eles pagarem.
Tommy assentiu, com o rosto sério. Eles se afastaram um pouco, estudando o terreno ao redor e calculando seus movimentos. O primeiro saqueador estava distraído, observando as ruas desertas com um olhar preguiçoso por trás da máscara fantasmagórica. Não viu Tommy se aproximar pelas sombras, ágil e silencioso. O som abafado de uma faca encontrando carne foi a única evidência de sua presença, antes que o corpo do homem desabasse no chão.
Sebastian, por sua vez, já estava preparado para o próximo. Um saqueador com uma máscara de palhaço estava parado perto de uma barricada improvisada, coçando o pescoço. Sebastian se esgueirou atrás dele, com uma faca firme na mão. Um golpe preciso e o homem caiu sem emitir um som.
Tommy e Sebastian continuaram avançando em meio às sombras, eliminando um a um os saqueadores que patrulhavam o local. A tensão no ar era palpável, mas a adrenalina os mantinha focados a continuar lutando. Cada respiração contida para evitar alertar os inimigos e seus passos eram medidos para não fazer barulhos que chamassem muita atenção.
Quando finalmente chegaram a um ponto mais elevado, conseguiram avistar o pátio atrás do Congresso, onde estavam os veículos. Haviam vários deles, abandonados desde a última operação militar. A maioria parecia em bom estado, apesar de empoeirados e com alguns vidros quebrados. Um em especial chamou a atenção de Tommy: um jipe que, com um pouco de sorte, ainda poderia funcionar com a bateria que carregavam.
── Ali ── Tommy apontou com a cabeça na direção do veículo. ── Se conseguirmos chegar lá sem fazer barulho, podemos sair daqui rápido.
Sebastian avaliou a situação, observando os inimigos remanescentes. Dois saqueadores permaneciam próximos ao jipe, mas logo se afastaram, entrando no Congresso, enquanto outros três rondavam mais distantes, aparentemente distraídos ── porém a sorte dos dois logo terminaria, quando notassem as pessoas faltando.
Eles haviam matado quatro até agora, porém Reeves sabia que havia mais. Os outros haviam saído bem cedo para buscar suprimentos, poderiam retornar a qualquer momento.
── Eu vou até o carro ── Tommy sussurrou. ── Você me dá cobertura, se algo der errado.
Sebastian não discutiu. Apenas assentiu uma única vez.
Tommy, movendo-se com precisão e silêncio, começou a descer em direção ao jipe. Sebastian se posicionou atrás de uma pilha de entulho, mantendo a mira fixa nos saqueadores. O vento trazia o som distante dos infectados ao longe, mas o verdadeiro perigo estava ali, a poucos metros deles.
Quando Tommy finalmente alcançou o veículo, tudo parecia estar sob controle. Ele rapidamente abriu o capô e começou a conectar a bateria que haviam carregado até ali. Era um processo simples, mas levaria alguns minutos para a carga suficiente ser transferida. Tempo que Sebastian precisava garantir.
De repente, um barulho ao longe. Um dos saqueadores, atraído por algo, estava se aproximando do veículo. Tommy o viu, sentiu o estômago revirar de nervosismo. Não havia tempo para fugir sem ser notado.
Sebastian também o viu, e praguejou para si mesmo, irritado. Era claro que nada seria tão fácil assim, tudo se complicaria uma hora ou outra. Sem hesitar, levantou a arma e, com precisão cirúrgica, disparou. O tiro foi abafado, mas suficiente para alertar os outros saqueadores. O homem caiu, mas não antes de soltar um grito de dor que ecoou pelo local.
── Merda, ── Sebastian murmurou, já se movendo para uma nova posição. ── Tommy, rápido!
Tommy forçou a tampa do compartimento da bateria, os dedos tremendo enquanto conectava o último fio. O veículo deu um leve ronco, indicando que a bateria estava começando a carregar, mas ainda não estava pronto para partir.
Do outro lado, os saqueadores começaram a se mobilizar. Dois deles saíram pelas portas dos fundos atirando. Sebastian estava voltado para eles e fez questão de retirar as granadas que pegou de um dos mortos e lançar na direção dos homens. Durante o processo, um deles conseguiu atingi-lo no braço. Foi de raspão, porém ainda sentiu um pouco de dor enquanto se escondia novamente. Os homens gritaram a palavra "granada", mas já era tarde. Eles foram lançados para longe. Um perdeu os braços, enquanto o outro foi parcialmente atingido.
Ele ainda ergueu para retaliar, porém Sebastian foi mais rápido no gatilho e o acertou com um tiro que ceifou sua vida.
── Vamos, vamos... ── Tommy sussurrava para si mesmo, tentando acelerar o processo enquanto Sebastian se preparava para enfrentar mais inimigos.
Dois atiradores surgiram no segundo andar. Ambos tinham snipers nas mãos. Sebastian os notou primeiro, seus olhos se arregalaram.
── Tommy, abaixa! ── ele gritou, notando que um deles estava mirando no Miller.
Surpreso, Tommy arregalou os olhos e, por pouco, conseguiu se esconder ao se abaixar na frente do carro. Naquele mesmo momento, a bala atingiu o chão no exato lugar onde ele estava antes.
── O que a gente faz agora?! ── questionou o Miller.
Sebastian abriu a mochila e trocou a pistola pela ak-47 que carregava. Ele saiu atirou várias vezes contra um dos inimigos, acertando-o na cabeça para conseguir fazer o capacete que ele utilizava sair. Ele precisou retornar ao esconderijo quando tentaram acerta-lo, os dois tiros dados acertando a proteção que Reeves utilizava. No tempo que eles tinham pra recarregar a sniper, Sebastian saiu de novo e atirou.
Daquela vez, ele conseguiu retirar o capacete de um e atirar na cabeça dele com uma mira perfeita. O sangue expirou contra a parede atrás do saqueador, enquanto ele caía pesadamente no chão. Sebastian precisou se esconder mais uma vez e recarregar e, durante aquele tempo, o último inimigo continuou atirando.
O tenente encontrou certa dificuldade para trocar a munição naquele momento, pois os escombros que usava para se esconder estavam ruindo aos poucos. Ele logo ficaria sem cobertura. Para a surpresa dele, Tommy aproveitou o fato de que o saqueador estava mirando em Sebastian e ficou a vista apenas para atirar algumas vezes com sua própria arma. Em poucos segundos, o Miller conseguiu matá-lo.
Os dois se olharam de seus respectivos lugares, ofegantes depois de tudo que acabara de acontecer. Tommy assentiu para Sebastian, que acabou retribuindo o aceno, sem proferir qualquer palavra.
O chão estava forrado de corpos e estilhaços, e o cheiro de pólvora e sangue pairava no ar. Tommy saiu de sua posição, erguendo-se para checar a bateria, aliviado por ter finalmente limpado a área. Sebastian, ainda com a arma em mãos, varria o local com o olhar, buscando qualquer outro movimento suspeito.
── Está tudo bem, por enquanto ── disse Tommy, a voz baixa e cheia de tensão. "Só preciso mais um minuto para garantir que a bateria vai aguentar."
Sebastian assentiu, respirando fundo, mas a tensão não se dissipava. Seus sentidos estavam em alerta, e algo dentro dele lhe dizia que não haviam terminado ainda.
Enquanto Tommy verificava a bateria, o som de uma porta sendo aberta brutalmente ecoou pelo local, fazendo os dois congelarem por um segundo. A porta dos fundos do prédio foi escancarada com violência, e um homem imenso, corpulento, surgiu. Ele usava uma máscara de palhaço grotesca e carregava uma marreta enorme sobre o ombro. Sua armadura improvisada era feita de pedaços de metal e couro velho, protegendo seus pontos vitais.
Sebastian reconheceu aquele homem como aquele que havia tirado a vida de Grace. Qualquer temor que sentia deu lugar a uma raiva.
── Merda... ── murmurou Tommy, apreensivo.
── Fica escondido, eu cuido disso. ── gritou o Reeves, sem olhar na direção do Miller.
Sebastian, sem hesitar, levantou a AK-47 e disparou contra o homem. As balas atingiram a armadura com um som metálico, ricocheteando sem causar dano visível. O saqueador continuava avançando, cada passo mais ameaçador que o anterior.
Droga, isso não vai funcionar, pensou Sebastian, ajustando sua posição. Ele sabia que teria que ser estratégico. Aquele homem não era como os outros saqueadores. Ele estava preparado para confronto corpo a corpo, e sua marreta parecia capaz de destruir qualquer coisa que estivesse em seu caminho.
Sebastian recuou, disparando contra as áreas mais expostas - os braços e as pernas - mas a armadura cobria a maior parte do corpo do homem. O saqueador chegou perto o suficiente para balançar a marreta em um golpe horizontal. Sebastian se jogou para o lado, desviando por um triz, enquanto o chão onde estava momentos antes explodiu em poeira e pedras.
Sem tempo para respirar, o saqueador atacou de novo, dessa vez com um golpe vertical que quase partiu ao meio os escombros onde Sebastian se escondia. O impacto foi tão forte que o chão vibrou, e Sebastian sabia que não poderia resistir muito tempo se fosse pego.
Tommy tentava encontrar uma oportunidade para ajudar, mas o combate era rápido demais e perigoso demais para ele intervir sem ser um alvo fácil. Tudo o que ele fazia era atirar de pontos estratégicos, ajudando a armadura do inimigo a ceder aos poucos.
Sebastian mirou nas juntas do adversário, onde a armadura estava mais fraca. Atirou contra o joelho esquerdo, acertando com precisão, o que fez o homem tropeçar por um momento. Mas isso não foi suficiente para derrubá-lo. O saqueador soltou um grunhido de dor, mas em vez de recuar, ele avançou ainda mais furioso, balançando a marreta com toda sua força.
Sebastian continuou desviando, seu corpo cansado e os reflexos ficando mais lentos a cada segundo. Ele precisava de uma vantagem. Seus olhos percorreram a armadura improvisada, buscando um ponto vulnerável. Foi então que ele viu - nas costas, uma parte estava menos protegida, exposta. Talvez houvesse uma chance.
Esperando pelo próximo ataque, o tenente ficou atento ao padrão do inimigo. O homem balançava a marreta de forma repetitiva, e seus movimentos, embora poderosos, eram previsíveis. Quando o saqueador levantou a marreta para outro golpe, Sebastian rolou para o lado e disparou contra a parte exposta das costas. As balas perfuraram o metal fino e penetraram na carne, e o homem soltou um urro de dor, cambaleando para frente.
Mas ele ainda não estava derrotado.
Com uma força brutal, o saqueador girou em um movimento desesperado, atingindo Sebastian com o cabo da marreta no peito. O impacto o jogou contra uma parede, tirando seu fôlego. Por um segundo, ele viu tudo embaçado, o mundo girando ao seu redor, mas ele sabia que não podia parar. Forçou-se a levantar, sentindo a dor rasgar seus músculos.
O saqueador, agora mancando, avançava novamente, sua fúria cegando sua percepção. Levantando a marreta para um golpe mortal, Sebastian girou para o lado, mirou na junção da armadura abaixo do braço do inimigo e disparou três tiros rápidos. O homem gritou de dor, cambaleando para trás. A marreta caiu no chão com um baque pesado.
O gigante tentou se recompor, mas Sebastian já estava sobre ele, disparando mais uma vez, dessa vez mirando na outra lateral desprotegida. O homem caiu de joelhos, sangrando e ofegante, mas ainda vivo. A máscara de palhaço grotesca estava manchada de sangue, e o brilho nos olhos do saqueador mostrava raiva e dor, mas ele logo estava tombando para trás.
Sebastian avançou, ofegante e coberto de suor. Ele chutou a marreta para longe e apontou a arma para a cabeça do homem, sentindo todo o ódio acumulado surgir naquele momento.
── Isso é pela Grace, filho da puta ── Ele respirou fundo, seus olhos frios fixos nos do saqueador.
Sem hesitar, Sebastian puxou o gatilho. O tiro ecoou pelas ruínas, preenchendo o silêncio que se seguia.
Por um momento, tudo ficou quieto. O peso da vingança, misturado ao cansaço, desceu sobre Sebastian como uma onda. Ele baixou a arma, respirando fundo, sentindo o alívio sombrio que aquilo trouxe.
Tommy observou o homem à distância.
── A bateria está pronta, podemos sair daqui agora ── anunciou o Miller. ── Mais deles podem surgir a qualquer momento.
Sebastian não respondeu, apenas guardou a arma no coldre, a expressão impassível em seu rosto, como se fosse uma tela em branco. Sem dizer nada, ele caminhou na direção de Tommy. Juntos, eles pegaram suas mochilas e jogaram na parte de trás do jipe, enquanto o som distante de pneus deslizando no asfalto do lado de fora começava a se aproximar.
Tommy já estava no banco do motorista, os dedos ágeis trabalhando na fiação exposta. Sem a chave, ele rapidamente fez uma ligação direta, o motor roncando com vida enquanto Sebastian mantinha os olhos fixos na entrada, alerta.
── Vai logo ── disse Sebastian, com a voz tensa. Ele podia sentir que estavam com pouco tempo.
Nesse exato momento, a porta dos fundos do prédio foi novamente arremessada aberta, e vários homens surgiram, gritando ordens e empunhando armas. O primeiro disparo foi dado, e logo uma rajada de tiros seguiu. Tommy, sem hesitar, girou o volante e acelerou, o jipe arrancando com um salto brusco.
As balas ricochetearam nas laterais do carro e estilhaçaram os vidros, mas nenhum dos dois foi atingido. Os disparos ecoaram pelas ruas enquanto o jipe ganhava velocidade atravessando o matagal, deixando para trás a confusão e os saqueadores que tentavam desesperadamente impedi-los de continuar.
Sebastian olhou para o retrovisor, vendo os homens se afastarem cada vez mais, até que finalmente desapareceram no horizonte do Congresso.
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