Um pagão?

Aqui está mais um capítulo!

Antes de qualquer coisa, já vou deixando bem claro: O que fala sobre a igreja, se passa na época em que a fic é narrada. Não tem nada a ver com o mundo atual (talvez até possa ter, mas não vamos entrar nessa questão).

Ah, lá em baixo eu vou tentar explicar algumas coisas que vocês possam não saber, mas caso tenham dúvida em algo é só me perguntar nos comentários que eu respondo numa boa.

Ps: Só lembrando que naquela época não existia aquecedor ou chuveiro elétrico, então era preciso aquecer a água no fogo mesmo (na verdade, historicamente falando, eles não tomavam muitos banhos porque acreditavam que isso os deixavam sucetíveis a doenças, mas vamos fingir que tomavam banho todo dia mesmo).

Boa leitura!

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Era incrível como seu nome combinava com sua aparência. Era angelical, Jimin só poderia ser um anjo. A mente de Jungkook tentava criar teorias para o por quê um anjo estava na terra, mas só chegava a uma conclusão: Os outros anjos, com inveja de sua beleza, o expulsaram de lá. Era a única resposta para a sua perfeição, ela não poderia ser mundana. 

- Eu acho que você deveria tomar um banho - Sugeriu Park, já desconfortável com o olhar sobre si.

- Eu estou fedendo? - Falou em tom de brincadeira.

- N-não é isso - Tentou se explicar, mexendo suas pequenas mãozinhas em negação - É s-só que você estava caído no chão... Sujo... Com essas roupas... - A cada palavra ele ficava mais corado, e mais Jeon se divertia.

- Tudo bem, eu tomarei um banho, para o bem do seu olfato - Riu, sendo acompanhado por uma risada tímida - Mas eu não sei o que fazer quanto a roupa - Franziu o cenho. Suas roupas estavam sujas quanto a queda, e obviamente não tinha nenhuma outra consigo

- A-ah, eu posso te emprestar uma roupa - Jungkook levantou uma sobrancelha diante a aquela oferta, fazendo Jimin se apressar em continuar - Q-quer dizer, assim v-você pode se parecer mais com um camponês, sabe, para ficar mais disfarçado para voltar ao castelo. Eu sei que suas roupas devem ser muito mais confortáveis, mas pelo menos a minha roupa está limpa, e... Aish! Esquece, ignore essa oferta, ignore isso - O mais alto pegou as mãos do baixinho, o fazendo se calar na hora.

- Jimin, calma! Eu aceito as roupas, muito obrigado - Deu um sorriso, vendo o outro ficar parado, o encarando, boquiaberto.

- Eu vou pegar a roupa! - Saiu correndo em direção a escada, indo para o quarto, deixando o príncipe sozinho na sala, rindo da situação. Aquela será uma noite interessante, ao lado daquele anjo baixinho tagarela.

Subiu as escadas com calma, encontrando o pequeno ser resmungando sozinho enquanto dobrava uma blusa. Fez um barulho com a garganta, atraindo a atenção deste.

- Aqui estão as roupas. Irei pegar água quente, não vai demorar. Espere um pouco - E saiu do quarto da mesma maneira que tinha entrado, correndo, deixando um moreno confuso ali.

Dando de ombros, foi em direção ao banheiro, entrando no cômodo. Era um banheiro comum, nem um pouco parecido com aqueles que tinha aonde morava, mas isso não era algo ruim. Aos poucos, Jeon estava descobrindo gostar da simplicidade.

Parou em frente ao espelho, olhando sua aparência. De fato, quem o olhasse agora nunca diria que ele é o herdeiro do trono, o futuro rei. Suas roupas estavam bagunçadas, sujas da terra. Seus cabelos estavam como um ninho de pássaro, e ele não se surpreenderia se enquanto o lavasse achasse alguns filhotes. O mais interessante era o curativo que estava na lateral de sua testa.

Se lembrava de ter batido a cabeça, também se lembrava de Jimin dizendo que havia feito um curativo. Porém o peculiar era o tipo de curativo que estava em sua cabeça. Nunca havia visto um daqueles, mesmo tendo se machucado a vida inteira. Aquele tipo de atadura lembrava o que tinha visto nos livros proibidos. Um tipo de atadura realizada por... Pagãos.

Park não se parecia nem um pouco com o que chamavam de pagãos. Jungkook passou boa parte de sua infância escutando avisos, dizendo para não chegar perto deles, não ter contato com eles, e como bom menino que fingia ser, nunca de fato realmente se aproximou. Mas como sua curiosidade sempre falou muito alto, todo dia, ao cair da noite e ser liberado de suas atividades, usava os túneis para chegar na parte dos livros proibidos da biblioteca, onde continha as informações sobre os pagãos. Já chegou a virar noites, apenas para absorver todo o conhecimento que continha ali.

O que conseguiu entender, depois de tanto ler definições diferentes, que o paganismo não seguia Deus, não seguiam o cristianismo. Seguiam crenças de forças da natureza, tendo medicamentos e cultos diferenciados. Sabia que quem era encontrado seguindo esses costumes era morto pela igreja, então eles se escondiam para não correr o risco.

Se Jimin fosse pagão, ele teria aceitado correr sérios riscos apenas para salvar Jungkook, mesmo sem nem conhece-lo ou saber que era o príncipe, e ele era grato por isso.

Escutou um barulho na porta e se virou, vendo que era Jimin. Já poderia tomar seu banho quente sem preocupações.

O contato da água quente em sua pele era relaxante. Finalmente poder se lavar era muito bom, e passou um bom tempo apenas lavando seus fios. O príncipe era muito vaidoso, a ideia de estar sujo e desarrumado durante tanto tempo lhe era tenebrosa.

Depois de tanto tempo, quando a água já estava esfriando, resolveu que já era hora de sair. Só no momento em que foi se vestir que analisou as roupas que lhe tinham sido entregues. Eram de algodão puro, simples e claras, mas macias e cheirosas. Assim que se vestiu olhou no espelho. Agora, de fato, se parecia um cidadão comum. Sua postura ainda demonstrava certa imponência, mas a figura de príncipe já estava distante.

Suspirou e saiu, descendo as escadas. Jimin não estava na sala. A única opção era a cozinha, e ao entrar lá se deparou com ele cortando alguns legumes e verduras, em seguida pondo em uma panela que estava no fogo.

Ao assistir aquela cena, Jungkook sentiu seu estômago roncar. Apenas naquele momento reparou que fazia tempo em que não comia nada.

- Jimin... - Chamou o outro, o fazendo se virar para si - Você teria algo para mim comer?

- Oh, eu estava fazendo uma sopa para você - Sorriu - Pensei que já deveria estar com fome, pelo visto estava certo.

Park pôs em um pote o alimento e entregou para o moreno, que foi em direção a sala, sentando na mesa para comer.

Enquanto se alimentava, analisava os livros que o loiro tinha em sua estante. Poucos ali o moreno já tinha lido, e quase todos reconheceu como os livros proibidos. Porém também havia alguns que nunca tinha visto em sua vida.

Conseguiu reconhecer vários que falavam da medicina proibida. Outros falavam de pensadores, como Platão e Aristóteles. Tinha muitos sobre a astronomia. Contudo todos eles eram considerados como proibidos pela igreja. O fato de Jimin os possuir só apontava ainda mais aos indícios de que ele era pagão.

Enquanto comia refletia sobre o assunto. Será que o menor ficaria ofendido se ele perguntasse sobre aquilo? Soaria ofensivo? Rude? Não queria invadir a privacidade de alguém que estava sendo tão bondoso consigo, mas sua curiosidade falava muito algo.

Continuou comendo e depois de um tempo Jimin se sentou a sua frente na mesa, comendo uma maçã, encarando Jungkook. Ele estava impressionado com a beleza do príncipe e o quanto ele tinha crescido com o passar dos anos. Não conseguia acreditar que já fazia tanto tempo em que tinha o visto.

Despertou de seus pensamentos quando Jeon tossiu, desconfortável com os olhos azuis, que mais lhe pareciam duas pedras de diamante, o encarando.

- Jimin... Você é pagão? - Jungkook perguntou em um súbito impulso, temendo a resposta.

Aquela pergunta pegou o loiro desprevenido. Sabia que em algum momento o outro lhe perguntaria algo naquele estilo, mas não esperava isso naquele momento.

- Depende. Acho que na opinião da igreja eu sou. Eu não acredito em santos ou coisas do tipo, apenas creio que deve existir uma força maior, não necessariamente deus - Suspirou - Isso não me torna pagão. Mas pelo fato de eu conhecer ervas medicinais e conseguir fazer remédio delas, já é o suficiente para ser perseguido pela igreja.

Olhou para o rosto do príncipe, vendo ele lhe olhar com a face ligeiramente assustada.

- Não é como se eu ligasse para isso. Por que eu escutaria a opinião da igreja? - Deu de ombros, continuando sua explicação - Justamente a igreja que abomina relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, porém faz coisas muito piores?

- Coisas piores? Como assim? - Questionou. Sabia que aquele órgão tinha um lado obscuro, mas não conseguia obter informações sobre isso.

- Pelo visto ninguém sabe nada da própria igreja, né? - Soltou uma risada irônica. Era incrível como os próprios fiéis não sabiam dos podres da instituição que seguiam com tanto fervor - O padre faz o ballet das castanhas, vende lotes no céu e diz ter parte do prepúcio de jesus. Como confiar em algo assim, Jungkook?

  - Eu... Eu não sei - Sua mente estava uma confusão. Entendia tudo que lhe fora dito, mas era difícil abdicar todos os valores que lhe foram ensinados durante a vida.

- Apenas pense um pouco. Você sabe latim?

- Sei... O que tem a ver?

  - Se você sabe latim e é cristão, já deve ter lido a bíblia. Então me responda: Em qual parte da bíblia jesus fala que um homem não pode ficar com um homem? Ou que uma mulher não pode se relacionar com uma outra mulher?

- Eu não... - Fez uma pausa e começou a buscar na memória, se esforçando a lembrar - Eu não sei. Não me lembro de nenhuma parte.

- Exatamente. Essa parte não existe. Tudo isso foi inventado pela própria igreja. Ela se aproveita do fato de uma pequena parte privilegiada da população saber latim e inventa coisas, diz que a bíblia contém passagens que não existem. A igreja sobrevive a base dos fiéis e ainda mentem para eles. Por que eu deveria querer seguir as ordens de pessoas que se aproveitam das outras?

Jungkook refletia sobre o assunto. O que ele dizia fazia sentido, mas mesmo assim não tinha o que fazer. Todos tinham que seguir as regras da igreja, quem não seguisse era perseguido. Por isso que sempre guardou para si as estórias homossexuais que escutava, porque sabia que se contasse para alguém, essas pessoas seriam punidas.

Talvez esse assunto atraísse tanto a atenção do príncipe justamente pelo fato de ser proibido.

- Jeon, eu não estou dizendo que tudo que a igreja faz é errado e que você deve cortar os laços do reino com ela. Só estou te dizendo que em tudo há mentiras, então você não deve seguir fielmente nada. Não se prive de coisas ou condene pessoas pelo o que os outros dizem, principalmente se esse alguém é a igreja.

- Mas... E se a minha vontade for algo proibido? - Mordeu o lábio, nervoso com o prosseguir da conversa.

- Bem - Se endireitou na cadeira e cruzou os braços - Você pode fazer o que quiser. Só não ser pego - Levantou, pegando a tigela já vazia onde o moreno comia e levando para a cozinha. Este também se levantou, indo atrás do loiro e parando apoiado no batente da porta - Um ótimo conselho para evitar problemas é não contar para ninguém.

- E se minha vontade depender de outra pessoa? - Jimin levantou a sobrancelha, caminhando calmamente em direção a ele, parando próximo.

- Ai você terá que o realizar com alguém que confia. Qual o seu desejo, Alteza? Ou melhor, em quem você confia para realiza-lo? - Mordeu levemente o lábio inferior, ansiando pela resposta.

- Q-quem eu confio... - Desviou o olhar para o chão, sentindo o rosto esquentar. Aquele assunto despertava um lado tímido em si, um lado raro que poucos viam - Eu confio em você.

Não percebeu a movimentação de Park, mas quando foi reparar seus lábios já estavam grudados.

Jimin estava o beijando.



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Aqui vou explicar umas paradinhas que alguém possa ficar em dúvida:

Ballet das castanhas: Foi um baile realizado pelo papa, onde tinha várias pessoas, sendo as mulheres prostitutas. Em um determinado momento, eram espalhadas castanhas pelo chão e essas mulheres ficavam nuas e precisavam pegar as castanhas com a boca. Foi uma grande orgia. O papa distribuiu homens por todo local para contabilizar quantas vezes cada homem tinha um orgasmo, e quem tivesse tido mais receberia um prêmio (isso ficou meio confuso, deu para entender?)

Vendas de lotes no céu: Como o próprio nome já diz, a igreja vendia pedaços do céu, "garantindo" assim que quando você morresse, você iria para lá.

Prepúcio de jesus: A igreja vendia algo que ela dizia ser parte do pênis de jesus. (Bizarro pensar que as pessoas compravam).

Bem, foi isso. Espero que tenham gostado do capítulo.

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