Um convite inusitado
A floresta estava bela. Talvez fosse exatamente como aqueles cientistas, tanto chamados de loucos, falam: depois da tempestade vem o sol.
Todas as flores estavam desabrochando, deixando tudo mais colorido. Naquela floresta em específico, tanto os animais quanto os seres mágicos se sentiam extasiados pela beleza do local. Todos ali amavam aquele cheiro floral, toda a beleza natural, tudo inalterado, sem ter sido estragado pelos toques humanos.
E em meio a toda aquela pacificidade, passava um Park completamente conturbado. Não que ele não amasse aquela floresta e a natureza, mas infelizmente a tempestade em seu interior só aumentava cada vez mais. Sentia-se pronto para desabar, ou talvez implodir. Tantas possibilidades, mas ele ainda tentava manter-se completamente calmo, mesmo que apenas por fora.
Depois de atravessar com pressa diversos locais que gostaria de ter parado para admirar, e de ignorar a existência de diversos seres que tanto gostaria de observar, conseguiu avistar um pequeno casebre. Do topo da lareira, era possível ver a fumaça escapando, o que mostrava que tinha alguém ali dentro.
Subiu na pequena varandinha, dando leves, porém auditivos, toques na porta.
Assim que foi aberta, deu para ver uma pessoa de altura compatível a de Jimin, que usava uma toca vermelha, deixando a mostra apenas a ponta de seus cabelos azuis. Mesmo possuindo um rosto delicado, era perceptível ser do sexo masculino, e logo abriu um doce sorriso ao ver quem estava ali.
– Jiminnie! – O abraçou com força, sendo retribuído. – Pensei que só fosse te ver daqui a alguns meses! Sentiu minha falta?
– Também. – se separou do abraço, entrando no cômodo, fechando a porta atrás de si. Estavam na sala do outro, um ambiente agradável e familiar para o loiro, que já se sentia acolhido. Lembrava que vivia ali, há uns 10 anos atrás. Boas memórias, de quando ainda sentia o quanto a vida podia ser doce. – Na verdade, eu queria te pedir algo, hyung.
– Pode falar. Você sabe que eu vou fazer mesmo.
– Eu preciso de mais "remédio". – Resolveu que seria direto. Enrolar não levaria a nada, visto que foi exatamente por aquele motivo em que havia ido na casa do mais velho.
Observou a expressão do outro se tornar assustada, com seus olhos arregalados. Não podia nem se ofender com a expressão dele, se estivesse em seu lugar teria a mesma reação.
– Mais outro? Jimin, não faz nem um mês que eu te fiz o último!
– Eu sei... – olhou para seus próprios dedos, desconfortável com o assunto. – Aconteceram alguns acidentes.
– Você deixou o frasco cair no chão? – Perguntou, vendo o loiro negar – Então você tomou uma dose alta demais? Jimin, já conversamos sobre isso, você sabe que pode fazer mal e-–
– Yoongi, não – interrompeu – Não foi nada disso. Eu tomei tudo, em doses normais. Eu ando tendo mais de uma "crise" por dia.
– Mais de uma?! Meu Deus, Jimin. Avançou demais... – Com os olhos tristes, olhou para o mais novo. Se aquilo doía em si, que era um mero expectador, não conseguia nem imaginar em como doía no loiro. – Você ainda está saindo com aquele príncipe?
– Sim... – Não conseguiu segurar o sorriso ao lembrar de Jeongguk. Somente lembrar do sorriso do outro já deixava o ar mais leve, o ambiente mais iluminado. Não conseguia nem fingir não estar perdidamente apaixonado pelo outro.
– E ele já sabe? – Perguntou com cuidado, com medo de que essa pergunta pudesse machucar o outro. E, de fato, machucou. Pode constatar isso ao ver o sorriso sumir da face alheia, o observando negar – Jimin... Você sabe que eu estou sempre aqui por você, mas você precisa contar para ele. Se não, você não vai ser justo com o príncipe.
– Eu sei... Mas é tudo tão difícil. Ele já me viu sentindo dor, fez milhares de perguntas, perguntas que eu queria responder! Mas eu só... não consegui. Eu travei, fiquei com medo de o perder – Levantou o rosto, suspirando. Já sentia os olhos queimar, e sabia que se continuassem naquela conversa, choraria.
– Não seria melhor então terminar? – Questionou, sendo respondido com um olhar assustado de Park. – Você precisa pensar nele também, Jimin. Você está pensando em si, e eu apoio isso, mas não se esqueça dos sentimentos dele. Ele também vai acabar sofrendo, cedo ou tarde.
O coração de Jimin estava esmagado, começando a trincar, como se fosse feito de vidro. Ele não aguentava aquilo, ele estava cansado de aguentar. Não sabia o que de tão mal tinha feito para receber aquilo, e já estava farto de sofrer. As lágrimas escorriam por seu rosto, trilhando um caminho até seu maxilar, escorrendo pelo seu pescoço e se perdendo em sua blusa. Estava farto de tudo, das dores, da vida, do destino – ah, o destino maldito que sempre ria da sua cara. Tudo aquilo, tão desgastante, sugando todas as suas últimas energias.
– Você pode– foi interrompido por seu próprio fungar – pode só fazer o remédio, por favor?
– Claro – Suspirou, mais que preocupado com o amigo. Aquilo também o destruía, ver a pessoa que tanto ama, que cresceu junto de si, passar por tudo aquilo – Trouxe o frasco?
Com um aceno de cabeça, Park tirou o frasco de dentro do bolso, entregando para o de cabelos azuis. Os dois, completamente focados em seus próprios pensamentos, ficaram em silêncio, que permaneceu até o momento em que o frasco voltou a ficar completo do líquido roxo. Depois disso, se separaram com um apertado abraço, onde ambos os lados tinham em mente seus temores pelo futuro.
[...]
Os passos ecoavam no longo corredor, fazendo todos os criados que estavam lá tentar fazer seus trabalhos da forma mais correta o possível. O desespero para manter seus empregos era tão grande que nem reparavam no fato de quem estava vindo era Jeongguk, a pessoa que menos se preocupava com aquilo. O príncipe estava tão focado em seus pensamentos que nem se dava ao trabalho de prestar atenção naqueles detalhes bobos, sem contar que existiam pessoas com a função de vistoriar o trabalho dos outros. Se preocupar com aquilo era uma bobagem, e para isso ele não tinha tempo.
Passou a semana inteira pesquisando alguma forma de diminuir a influência da igreja no seu reino sem declarar guerra a própria, contudo não obteve resultados. E isso o deixava profundamente frustrado. E irritado.
Ele apenas queria mandar tudo para o espaço. Estava tão incomodado com tudo que a sua vontade era fazer uma mala e fugir com Jimin.
Jimin... Aquele era o dia em que marcaram de se encontrar. Ficar uma semana sem o ver era doloroso para si. Por ele, eles ficariam 24 horas grudados, sem se afastar. Droga de igreja. Droga de regras ultrapassadas.
Estava a caminho do quarto. Já havia jantado, e iria tomar um banho, para aguardar a hora em que haviam combinado. Sentia-se ansioso, desejando que os ponteiros do relógio girassem mais rapidamente. Sentia falta da voz, do sorriso, do olhar puro e doce, dos abraços, dos beijos... Ah, tudo que havia no loirinho era completamente extasiante, o deixando em completo estado de torpor.
Assim que entrou em seu quarto, tirou a blusa, já se preparando para ir tomar seu banho. Contudo, foi tirado de seus pensamentos com a sua porta sendo aberta.
Era Taehyung.
– Você sabe que precisa bater antes de entrar – Resmungou. Não era a primeira vez que ele fazia isso, e o pior de tudo é que sabia que não seria a última.
– As vezes eu acho que você se esquece de que sou seu amigo, não seu criado. – cruzou os braços, rebatendo.
– Eu não falo isso porque você me serve. Eu falo isso por questão de respeito – bufou, sentando na cama e o encarando – fala logo, o que você quer?
– Ué, acho que é bem óbvio – Deu um grande sorriso, animado com as ideias que passavam em sua cabeça – Eu quero conhecer o garoto que você gosta!
No exato instante em que o príncipe conseguiu compreender aquela frase, se engasgou com o ar. Como assim? O que seu amigo estava pensando? Ele sabia que o relacionamento dos dois era segredo, eles nem poderiam ser vistos juntos! Como que ele o conheceria?
– Você está bêbado? – Questionou, ainda incrédulo.
– Por que estaria? Eu só quero conhecer o namorado do meu melhor amigo, qual o problema nisso?
– Acho que seu cérebro é ainda menor do que eu pensei... – sussurrou o mais novo – O problema, meu caro hyung, é que nós não podemos ser vistos juntos. Como você vai conhecê-lo se eu nem posso ficar perto dele?
– Ah, é isso! Bobinho você. – Riu – Você não vai o encontrar hoje?
– Sim, mas o que isso-– Foi interrompido.
– Me leve com você! – Sorriu largo.
Jeon não conseguia nem acreditar que o amigo estava falando aquelas coisas. Ele só podia ser idiota, burro! Se já era arriscado e perigoso ele sair sozinho, imagina sair com o outro.
Taehyung, só de observar a reação do outro, já percebeu que ele iria negar. Bufou, irritado com o outro. Era assim tão complicado aceitar fazer algo legal, para variar?
– Ah vai, sem drama. Me deixa ir contigo. Eu não vou fazer nada de errado, qual o problema?
– Tae, é arriscado, você sabe...
– Mas mesmo sendo arriscado você vai! Por favor... Faz isso como um presente de aniversário adiantado.
– Seu aniversário é só daqui a 2 meses!
– Por isso é adiantado. – Sorriu, convicto de que convenceria o amigo.
– Não acho que seja uma boa ideia. – Cruzou os braços, ainda descontente.
– Me diga alguma vez que eu fiz uma besteira!
– Bom teve aquela vez-
– Não precisa citar! – Interrompeu – O ponto importante é que eu vou. E você sabe que, se não me deixar, eu vou te seguir.
Aquele, na verdade, era um bom ponto. Jeongguk conhecia bem o amigo, sabia o quão maluco ele poderia ser, e sabia que ele não hesitaria em o seguir, o que poderia se tornar um grande problema. Ele, muito provavelmente, se perderia nos corredores, e acabaria sendo difícil para o encontrar.
– Tá bem, tá bem. Mas uma besteira e você nunca mais fala comigo!
– Calma. – Levantou as mãos, soltando um riso – Se o garoto terminar contigo é porque você é um rabugento, não vai ser minha culpa não.
– Ah, vai se ferrar. – Irritado, pegou uma roupa e foi em direção ao banheiro, indo tomar seu banho, que por sinal já deveria ter esfriado.
Já dentro do quarto, Taehyung comemorava sua conquista. Sabia que seria difícil convencer o amigo, mas felizmente conseguiu.
[...]
Jeongguk bufou irritado, pela vigésima vez naquele minuto. Estava cansado de escutar o amigo reclamando de cada animal que encontrava no corredor. Era uma parte não movimentada do castelo, era mais que óbvio que teria animais ali. Se arrependia cada vez mais de ter aceitado levar o amigo.
– Se você continuar bufando assim, vou acabar pensando que você é um boi.
– Taehyung, você nem nunca viu um boi para dizer que eu pareço com ele.
– Mas eu li em um livro!
– O mais chocante de tudo isso é você ter lido...
– Ah, cala a boca.
Assim que finalmente saíram de dentro do castelo, Taehyung olhou para tudo maravilhado. Ele obviamente saia de lá, mas não era com uma grande frequência, e principalmente não ia para a floresta. Então ver tudo aquilo pela primeira vez, e ainda iluminado pela lua – o que deixava tudo ainda mais bonito –, o fazia se sentir encantado pela beleza do local.
– Eu sei que é bonito e tal, mas vem. Temos que continuar andando. – Falou Jeon, com o rosto sério, mas por dentro completamente feliz. Gostava de saber que não foi o único a ter aquela reação.
Conforme se aproximavam do local em que normalmente acontecia os encontros, pode ver que Jimin já estava lá.
Estava belo, como sempre. Como ambos não eram silenciosos, ele já havia percebido a presença dos dois, os encarando com curiosidade no olhar.
– Nossa, aquele é o seu namorado? Não sabia que você tinha bom gosto. – Sussurrou Kim para o mais novo, que apenas revirou os olhos.
O Park estava um tanto tímido. Ele estava preparado para encontrar apenas o príncipe, e ver que ele vinha com uma outra pessoa o deixou um tanto desconfortável, contudo nem sabia o motivo disso.
– Oi! Eu sou Kim Taehyung! – Falou animado.
– O-oi – Deu um sorriso tímido, sentindo o rosto queimar um pouco. – Sou Park Jimin. – Se curvou para o cumprimentar. Percebia que o outro era um nobre, e como ele era apenas um mero camponês, todo o respeito era pouco.
– Ei, não precisa dessa formalidade não, eu não ligo para isso.
Nesse momento, Jeongguk bufou. Sabia bem como o amigo não ligava para formalidades, sofria por conta disso.
– Olá Jimin – Se aproximou, abraçando o namorado. – Desculpa por trago esse chato, ele basicamente me obrigou.
– Tudo bem. – Fechou os olhos, apertando o outro em seus braços. Ele precisava daquele abraço, precisava se sentir seguro, acalentado. Necessitava de carinho e de apoio, e sabia que o único lugar em que receberia aquilo, seria nos braços de seu amor.
Taehyung apenas observava aquilo afastado, mas se sentia em parte feliz e em parte triste. Era bom ver que o amigo estava feliz, amando alguém e sendo correspondido da mesma forma. Porém ficava triste em saber que o futuro daquele amor era ruim. No final, eles sequer juntos poderiam ficar.
Balançou a cabeça, tentando tirar aqueles pensamentos da sua mente. Havia ido para lá com somente um objetivo, e pretendia o cumprir.
– Jimin, você quer ir numa festa?
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