Não posso negar o nosso fim, quando ele já é real.


Era claro que nada nunca conseguia ser perfeito.

Depois do baile, a população já começava a fazer pressão para que o jovem Jeon se casasse logo. A favorita era a princesa do reino vizinho, já que a união era vista como favorável, levando em conta que a jovem moça vinha de um reino com saída para o mar, tendo excelentes navios. Isso ajudaria nas vendas de grãos, especiaria do reino Jeon, o que conseguia encher os olhos dos fazendeiros, vendedores, lordes e reis. Os lordes enchiam as cabeças dos monarcas de ideias, e a população já começavam a fofocar sobre um casamento real próximo, enchendo as pequenas ruelas de burburinhos animados.

E, com todos pondo pressão, os reis então o fizeram: oficializaram tudo com um noivado. Naquele final de verão, os dois os reinos comemoravam aquela decisão. Era um momento de festança, já que finalmente o jovem príncipe se casaria, poderia assumir o trono e dar herdeiros. Todos sabiam que casamento não se passava de negócios, e aquele em específico se tratava de um excelente negócio, trazendo alegria para todos.

Porém, tudo aquilo apenas conseguia deixar Jeongguk cada vez mais triste. Achava a princesa belíssima, porém mal tinha olhos para ela. Seu coração já possuía um dono. Um ser simples, carinhoso e carismático, que mesmo tendo poucas posses, conquistou a coisa mais difícil de todo o reino: o coração do príncipe.

E já fazia dias em que o moreno não via o jovem Park, e seu coração ficava cada vez mais apertado. Sentia tantas saudades...

Então, fez a coisa que tanto fez ao longo dos últimos meses. Esperou a noite de sexta-feira chegar, e fugiu. Caminhou com pressa, se esgueirando no meio das árvores, a caminho da já tão conhecida casa do loirinho.

Tinha orgulho de poder dizer o quanto melhorou ao longo do tempo. Não se perdia mais, sabia ser silencioso e desviava dos caminhos em que sabia que tinha criaturas mágicas. Obviamente teve um excelente instrutor, e gostaria de algum dia conseguir se gabar desse seu feito para ele.

Em pouco tempo já era capaz de ver a pequena e modesta casinha do mais baixo, e naquele momento em que sua confiança foi abalada.

Tinha que contar tanta coisa ao loiro... Muitas coisas tinham mudado desde que o baile tinha se passado, e seu casamento já estava certo. Diziam apenas esperar o outono chegar para que a cerimônia ocorresse, e então tudo para si mudaria. Seria um homem casado. Não poderia mais fugir. Não poderia mais beijar Jimin. Não poderia mais vê-lo.

E agora, parado em frente a sua porta, já não tinha mais coragem para bater. Nunca deixaria o loirinho ser "o outro". Porém não queria ficar longe. E, droga, por que seu coração doía tanto?

Inspirando, buscou uma coragem que não possuía e bateu. Esperou alguns diversos instantes, porém ninguém abriu a porta.

Bateu novamente, um tanto mais forte. E depois de minutos de agonia, finalmente escutou passos arrastados pela casa – o que era estranho, já que o morador desta odiava aqueles tipos de passos preguiçosos. A porta foi aberta lentamente, fazendo Jungkook prender a respiração, para que assim que visse a pessoa em sua frente, todo o ar saísse rapidamente de seu corpo.

Era Jimin, mas não era exatamente o seu Jimin. Ele estava magro demais. Seus olhos opacos demais, seu cabelo já não brilhava mais no escuro. Suas bochechas tinham sumido. Mas ainda era o Jimin, e com alegria, assim que viu o moreno, deu um sorriso aberto. Puxou Jeon, ainda estático com a vista que tinha tido, para um abraço. Era um abraço fraco, mas que parecia que o mais baixo colocava toda a sua força ali.

– Jungkookie! Não sabia que você vinha. Que saudades – Falou com uma voz quebradiça, mas ainda tão doce quanto o príncipe era capaz de se lembrar.

Quando finalmente conseguiu corresponder, o moreno passou seus braços ao redor daquela criatura frágil. Ele parecia ainda menor do que sempre foi, e o coração do mais alto a cada momento parecia ainda mais esmagado em sua caixa torácica. Estava claro, Park estava doente. Porém, o que ele tinha? Por que nunca contou nada para o mais alto?

Pegando o pequeno nos braços, o carregou para dentro. Fechou a porta e rumou ao sofá, colocando-o ali sentado. Agachou-se, passando delicadamente as mãos pelas maçãs magras do rosto de seu amor, analisando cada pequeno canto daquela face, para logo em seguida sentar na mesinha de centro, ficando frente a frente com o rosto do outro.

– Meu amor... O que houve? – Sentia seus olhos ficarem um tanto úmidos. Só de olhar para ele naquele estado já doía tanto.

– Ah – Riu um tanto sem-graça. – Isso é apenas um resfriado. Daqui a pouco deve passar. – Tentou fazer pouco caso.

Não era um resfriado. Jungkook sabia disso, e Jimin sabia que ele sabia, mas mesmo assim ele se arriscou a mentir.

– Eu sei que isso não é um resfriado, Jimin. Por favor, não minta para mim, não agora...

– Eu- – Se interrompeu, engolindo a saliva – Me desculpe... Eu não posso contar. Não agora. – Abaixou o olhar, sentindo os olhos queimarem, com as lágrimas prestes a escorrer por seu rosto.

Ambos ali escondiam algo um do outro. Cada um carregava a sua própria dor em forma de segredo, sem compartilhar.

Tentando motivar o pequeno a contar, e também tentando aliviar parte do sufoco que sentia em seu peito, o príncipe resolveu que seria melhor contar logo. Falar o principal motivo que tinha lhe trazido ali. Não podia enrolar mais, e se o menor resolvesse dar uma volta pela vila, escutaria a noticia por outras bocas, e isso era o que menos queria.

– Jimin, eu te amo. – Falou olhando nos olhos do loiro. – Por favor, não se esqueça disso. Por favor, depois do que eu te contar, não esqueça que meus sentimentos por você sempre foram honestos.

– Jungkook, você está me assustando assim...

– Eu vou me casar – Soltou logo. Dizem que deve-se tirar um band-aid rápido para não doer tanto, e foi pensando assim que Jeongguk resolveu contar a notícia. Porém não doeu menos. Queimava, ardia seu peito. Parecia ter sido esfaqueado, e que tinham arrancado seu coração para fora.

– C-como assim? Kookie... é uma piada? Eu não estou entendendo. – A voz, que antes já estava um tanto quebradiça, agora estava completamente falhada. Era possível escutar a agonia em sua voz, junta a uma profunda tristeza.

– Eu não quero, mas... me desculpa – Lágrimas escorriam por seu rosto, e ele nem se importava em limpá-las. – É por causa do reino, eles querem isso, não eu, mas não pude fazer nada. Me desculpe – Soluçou, sem conseguir mais guardar tudo aquilo em seu peito.

– Quando? – Sussurrou o outro. Era possível ver o brilho das lágrimas em seus olhos, porém nenhuma escorria por seu rosto. Pelo menos, não ainda.

– No início de outono. – Talvez, se Jeon não estivesse soluçando em meio ao seu choro, ele conseguisse escutar o coração de Jimin se partindo. Talvez ele conseguisse escutar a sua alma implorando por socorro. Talvez ele percebesse que, a partir daquele momento, Jimin já estava morto.

– Meus... meus parabéns – Engoliu em seco. Aquelas palavras cortaram a sua garganta.

– Que? Não! – Berrou – Não é parabéns! Eu não quero isso! Eu quero me casar com você, passar minha vida ao seu lado, ter um futuro contigo!

– Mas não podemos... – Sussurrou. – Por favor, não dificulte... não torne mais difícil do que já é. Eu te amo e quero que você seja feliz – o seu primeiro soluço escapou, mas segurou para que outros não saíssem. – Seja feliz. Crie uma linda família, seja um ótimo rei.

– Mas Jimin, eu só sou feliz ao seu lado... Que droga! – Socou a mesa de centro, irritado com a situação, irritado com sua própria tristeza. Se pôs de pé, com o rosto banhado em lágrimas, observando a figura esguia encolhida no sofá, com suas próprias lágrimas percorrendo seu rosto. – Não era para ser assim! Por que você está assim?

– E o que você quer que eu faça? Me revolte? Berre? – Questionou, ainda em tom baixo. Sua garganta parecia não produzir nenhum som mais alto que aquele, o que deixava Jeongguk angustiado.

– Sim! Exatamente isso! Grite que isso não pode acontecer, que temos que ficar juntos. Diga para fugirmos juntos! Fale para irmos para o extremo norte, morarmos em pequenas cabanas, vestindo roupas de peles de animais! Não aceite nosso fim assim!

– E de que tudo isso adiantaria? Você pertence a este Reino! Este é o seu povo. Está é a sua vida. Não posso falar essas coisas, só iria atrair mais dor. Não posso fazer isso... – Sua voz ia morrendo, conforme mais palavras dolorosas saíam por sua boca. Ele não queria dizer aquilo, mas devia. – Não posso negar o nosso fim, quando ele já é real.

Aquela frase, talvez por ser tão verdadeira, doeu tanto no peito de Jungkook. Ele apenas conseguiu dar as costas ao mais baixo e saiu. Deixou o loirinho dentro daquela casinha, que guardava tantas histórias de ambos. Foi andando, com passos tortos e confusos, em direção ao castelo. Não tinha acabado sua conversa com Jimin. Ainda iria falar com ele, e já tinha em mente em voltar no dia seguinte. Mas, por aquele dia, já não aguentava mais. Precisava dar um descanso a sua própria mente e conseguir colocar para fora todas as suas lágrimas. Aí, e somente aí, voltaria para falar com o loirinho, o verdadeiro dono de seu coração.

Porém, dentro daquela casa, a situação não estava nada boa. Park sabia de seu destino, e sabia que seu fim com Jeongguk estava próximo. Sabia que faria o moreno sofrer, então talvez aquela forma fosse ser a melhor.

Contudo, a dor em seu interior somada a dor em seu exterior transformou tudo em insuportável. Não aguentava mais, sentia como se cada pequena partezinha do seu ser fosse rasgada.

Cambaleante, rumou a pequena cozinha, tomando o último gole que continha no pequeno frasco. Aquele era o seu final.

Suportando as dores, de quem parecia carregar o mundo em suas costas, foi cambaleando para fora de casa, entrando na floresta encantada. Precisava chegar até Yoongi.

E, com o último suspiro de suas forças, chegou até a varandinha de madeira, deixando seu corpo cair brutalmente no chão antes de desmaiar.

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