White like Snow - Parte 2
Achilles olhou para os Assassinos treinando não muito longe dali. Desde a chegada das duas jovens, eles vinham podendo dedicar mais tempo a seu treinamento e a propriedade nunca estivera tão bem cuidada.
Apesar da teimosia e da relutância em aceitar a ajuda, Perséfone acabara cedendo por insistência de Leiza. Vê-las lado a lado era como olhar dois opostos. A jovem de origem nobre, rica e branca e a jovem filha de escravos, ex-escrava e negra.
Porém, algo naquela relação sempre o surpreendia e chamava sua atenção. Elas se tratavam como iguais. Perséfone não tentava ser superior a Leiza e brigava com a amiga, caso ela dissesse algo ou agisse como se fosse inferior a qualquer um ali, além de a defender com todas as suas forças.
Além do fato, é claro, de ambas sempre arrumarem problemas ao ouvirem que não deveriam fazer algo, principalmente a albina. Ainda mais se insinuassem que isso era por serem mulheres.
A voz melodiosa preenchia a cozinha em alguma canção em francês, a qual era acompanhada por uma percussão improvisada. A alegria da albina era no mínimo contagiante.
— Senhoritas... — Achilles às saudou, sorrindo cordialmente ao entrar no espaçoso cômodo. — Algum problema hoje?
— Não, senhor... — Leiza deixou uma risada baixa escapar, olhando para a amiga, que continuava a cantarolar. Havia se tornado um hábito do velho mentor pedir um rápido relatório de problemas a ela todas as tardes. — A Perséfone ainda não ameaçou ninguém de morte ou saiu insultando alguém com um palavreado que deixaria o avô dela orgulhoso.
— A vovó ficaria horrorizada com as palavras que aprendemos naquela caravana. — a albina riu, girando uma faca entre os dedos, antes de começar a habilmente cortar as frutas a sua frente.
As duas pareciam ter histórias muito interessantes de sua recente viagem para contar, mas preferiam manter isso para si mesmas, o que também queria dizer que coisas ruins aconteceram naquele meio termo.
Ele alternou os olhos entre as duas mulheres pensando por alguns instantes. Ele precisava de suprimentos e elas de roupas decentes. Porém, eles não tinham tempo para esperar pelo retorno de Hope e enviar Leiza para uma cidade como Boston era arriscado demais, mesmo com um de seus alunos ao lado dela.
Mas Perséfone corria um risco infinitamente menor. O problema era: Liam passaria a semana fora em uma importante missão. O único outro homem em quem ele confiava o suficiente para isso era Shay. Porém, seu pupilo mais novo tinha uma certa atração por problemas, assim como a albina.
Porém, naquele momento, ele não tinha muitas opções disponíveis.
— Shay... — o Assassino se aproximou de Achilles, olhando com curiosidade para a mulher de olhos violetas parada alguns metros atrás. Ela segurava uma pequena bolsa com dinheiro, enquanto conversava com Leiza. — Quero que acompanhe a Perséfone até Boston.
— Claro, mentor. Ela irá sozinha? — ele olhou para a albina, que não parecia nem um pouco à vontade com aquilo.
— Sim. Não acho que seja seguro para a Leiza a acompanhar e preciso dela aqui, também. — Achilles olhou para ela, dando um pequeno sorriso. — Tente a manter longe de problemas... Assim como a si mesmo.
— Claro, mentor. — o Assassino fez uma mesura educada, seguindo Perséfone para fora da fazenda. Ela puxou o capuz da velha capa até ter boa parte do rosto coberto pelas sombras. — Precisa de ajuda com algo?
— Não. — ela escondeu os braços dentro da capa, o seguindo pela trilha até o pequeno porto não muito distante dali. — Obrigado por me acompanhar.
— Não por isso. Será bom sair um pouco da fazenda sem ser para uma missão na qual eu possa acabar morto. — ele sorriu quando a ouviu rir.
***
Boston parecia um pouco mais cheia de gente do que ele se lembrava, talvez por que ele tivesse que manter os olhos em Perséfone, que sabia muito bem como se misturar à multidão. Ela mantinha os olhos no chão, desviando dos transeuntes e caminhando rápido. Ele se apressou, a tempo de vê-la entrar em uma loja de roupas.
— Em que posso ajudar? — o dono da loja a encarou, assim como a mulher do outro lado do balcão.
— Preciso de roupas. Alguns vestidos, capas... — ela deixou uma lista sobre o balcão, antes de exibir a sacola de moedas. O homem sorriu, acenando para a mulher, que pegou a lista, sumindo para algum outro cômodo.
— Para quê a lista? — ele parou ao lado da albina, que escondeu com cuidado as mechas quase brancas.
— Minhas medidas e da Leiza. — ela levantou os olhos para o Assassino, e mais uma vez Shay se perguntou se aquela mulher era mesmo real. — Preciso ir em mais alguns lugares depois daqui... Ainda vai me acompanhar?
— Se você parar de sumir na multidão... Sim. — ele sorriu gentil para ela. Perséfone apoiou o corpo ao balcão, batendo os dedos impacientemente. O homem a encarou, antes de dar um sorriso sem graça e ir chamar pela mulher.
— Obrigado... — ela sorriu para o homem, enquanto Shay se abaixava, pegando a caixa no chão.
— Vamos? — ele ofereceu o braço a ela, dando um pequeno sorriso quando ela o envolveu com a mão. — E agora, o que vamos fazer?
— Compras para o Achilles. — ela ajeitou o capuz, enquanto olhava fixamente para a mão. — Precisamos andar rápido... Logo o sol vai ficar mais forte...
— Sua pele é tão sensível assim? — ele riu quando ela concordou sob o capuz, apesar dele não poder ver. De repente, Shay sentiu o braço ser puxado para trás. — Tudo bem?
Ele se virou na direção dela, petrificando por um momento ao vê-la esfregando a parte de trás da nuca, com o rosto descoberto, enquanto um adolescente parado atrás dela ria, antes de correr para perto dos amigos, fazendo algumas piadinhas. Shay deixou a caixa sobre uma das muitas bancas espalhadas pela rua, se aproximando Perséfone.
— Po...Pode me ajudar? — ela esticou a mão para ele, mantendo os olhos fechados e dando um pequeno sorriso quando ele a apertou de forma carinhosa. — Obrigado.
— Você está bem? — ele puxou o capuz dela, até lhe cobrir o rosto, dando um sorriso gentil para Perséfone quando ela abriu os olhos.
— Sim... — ela ajeitou o capuz, cobrindo ainda mais o rosto e o cabelo. O sorriso dele desapareceu ao ouvir os comentários maldosos dos garotos. — Vamos embora... Deixe isso para lá, sim?
— Não. — ele olhou na direção dos garotos, identificando rapidamente o que havia puxado o manto dela, se aproximando dele e lhe acertando um soco no rosto. Pelo estalo que ouviu, havia quebrado o nariz do garoto. — Não é assim que se trata uma dama.
Uma pequena multidão parou para ver o espetáculo, na esperança de talvez ver o garoto apanhar um pouco mais, ansiosa por um espetáculo.
— O que acha que está fazendo? — um homem mais velho se aproximou, olhando para Shay.
— Seu filho? — ele encarou perigosamente o homem, lhe acertando o rosto após ele concordar com um aceno. — Ótimo, talvez agora resolva lhe ensinar bons modos...
Shay virou as costas para o homem, pegando a mão de Perséfone que olhava um tanto surpresa para o Assassino. Ele pegou a caixa, enquanto a albina passava a mão ao redor do braço dele.
— Para onde vamos? — ele a encarou, esperando pela resposta que não veio, antes de a empurrar de leve com o ombro, se surpreendendo quando ela levantou os olhos para ele. — Snow, para onde agora?
— Armazém Geral. — ela voltou a olhar para o chão. — Achilles tem uma pequena lista de coisas que ele quer que sejam entregues na fazenda e em... algum outro lugar que ele não disse onde.
Ele sorriu, enquanto ela lia e relia a detalhada lista que tinha em mãos, procurando pelo segundo local.
— Acho que eu sei onde é. — ele parou por um instante, esperando que ela abrisse a porta, lhe dando passagem. Shay deixou a caixa no chão, enquanto Perséfone entregava a lista ao dono do lugar.
O Assassino a encarou por um momento, antes de se aproximar do homem, colocando algumas moedas em sua mão.
— Nos deixe a sós por alguns momentos, certo? — ele a olhou por cima do ombro, enquanto o homem concordava com um aceno. — Bata na porta quando voltar.
O homem saiu, os deixando as sós. Shay se aproximou dela, lhe afastando o capuz do rosto.
— Você está bem, Snow? — ele a encarou, enquanto ela juntava o cabelo, o trançando.
— Sim... — ela levantou os olhos para ele, pela primeira vez notando como ele a chamara. — Snow? Sério?
— Perséfone é muito longo. Snow é mais rápido... — ele deu um sorriso de canto de boca para ela, que apenas balançou a cabeça. — E então, para onde vamos depois?
— Voltar para casa... — ela jogou a sacola com o dinheiro para ele, o sorriso doce aparecendo apesar das sombras criadas pelo capuz. Por um momento ele pensou para uma pessoa tão alegre, ela ficava demais nas sombras.
Leiza olhou por um momento para o moreno que conversa com Perséfone. Ela cruzou os braços ao ver a amiga rir de algo que ele falou, um pouco emburrada. Não que estivesse com ciúmes, apenas não confiava nele, algo nela o dizia que ele era um chamariz para problemas.
— Você foi para Boston? Sozinha? — Leiza olhou para a Perséfone, com a expressão emburrada. A albina tinha passado as últimas duas semanas na companhia e sendo 'protegida' pelo moreno.
— Eu não estava sozinha... O Shay foi comigo. — ela sorriu para o moreno, que acenou com a cabeça, antes de seguir para dentro da casa, carregando uma caixa.
— Shay? — ela a encarou. — Não foi você que não queria ajuda? Agora é... Shay?
— Está com ciúmes é...? — Perséfone cutucou a amiga com o ombro. O moreno colocou a cabeça para fora da porta.
— Snow, onde você quer colocar isso? — ele sorriu quando ela fechou a cara, mostrando a língua para ele. — Me ajude aqui, vai ser rápido.
— Snow? Sério? — Perséfone riu do comentário da amiga, afinal ela havia falado a mesma da primeira vez que ouvira o carinhoso apelido. — E não. Não estou com ciúmes, mas é como se ele tivesse uma enorme placa em cima da cabeça dizendo perigo.
— Você exagera demais. — a albina sorriu, antes de apontar para o segundo andar. — Quarto. Se você puder deixá-la sobre a cama eu agradeço.
— Sem problema. — ele sorriu, olhando por cima do ombro para as duas.
Leiza o encarou, com a expressão irritada, apesar do sorriso amistoso que ele tinha no rosto.
— Não gosto dele. — ela se virou para Perséfone, que apenas balançou a cabeça. — E você tem uma certa fascinação pelo perigo e problemas... Ele é os dois.
— Não seja chata. Ele é uma boa pessoa... — a albina sorriu para ela, antes de subir as escadas. Mesmo estando no andar de baixo, ela podia ouvir a voz de Perséfone, conversando animada. Mas ela não podia a culpar, era raro alguém conversar com ela da mesma forma que ele.
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