Shelter - Parte 2

Perséfone empurrou Shay com o ombro, rindo quando ele quase pisou em uma poça de lama. Outra briga com Achilles fez com que ela fosse se refugiar no confortável navio de velas rubras.

— Se fizer isso de novo, te levo carregada para casa. — ele olhou feio para ela, se segurando para não rir.

— Oh, por favor, Capitão Cormac. Meus pés estão me matando. — ela piscou exageradamente os cílios alvos, o que o fez rir.

— Pare com isso. — ele passou o braço ao redor dos ombros dela, a puxando para si. — Sabe, para alguém de aparência tão angelical, você é bem implicante.

— Ah, mon chéri. De angelical aqui é só esse lindo rostinho mesmo. — ela deu um sorriso malicioso para ele, enquanto o moreno dava uma gargalhada alta.

— Eu adoro você. Sério... Quem mais falaria assim? — ele olhou para cima, encarando por um momento a copa de algumas árvores.

— O Liam. — ela se virou para ele, o encarando com curiosidade enquanto ele começava a subir em uma das árvores. — O que você está fazendo?

— O Liam não conta. Ele é homem. — ele pegou a flor de um incomum tom lilás, quase azul, antes de voltar para perto da albina. — Isso vai ficar bonito em você. Lembro de ter visto algumas mulheres usando.

— Por aqui com certeza que não foi... — ela ficou vermelha quando ele se aproximou, prendendo com cuidado a flor na orelha dela.

— Olha só. Ficou bonito... — ele sorriu para ela, um pouco satisfeito por tê-la deixado vermelha. — Vamos... Daqui a pouco mandam alguém atrás de você.

— Você tem que viajar de novo? — ela ajeitou a flor, dando um pequeno sorriso pelo gesto de carinho.

— Provavelmente. — ele olhou para Perséfone com uma expressão severa, que ela conhecia bem. — E pare de pedir a Hope que te ensine a usar uma pistola... ou uma espada.

— Isso não é justo. Todos aqui sabem lutar, apenas eu não sei. Se esse lugar for atacado, eu não quero ficar dependendo de vocês ou causando problemas só porque não sei me defender. — ela cruzou os braços em frente ao corpo, como sempre fazia quando eles tinham essa conversa, geralmente antes de alguma viagem dele.

Snow, esse lugar nunca vai ser atacado, pare de se preocupar com isso. — ele olhou de canto de olho para ela. — E pare de ir para perto da área de treinamento, é perigoso.

— Quando foi que você ficou tão chato? — ela levantou os olhos para ele, a sombra de um sorriso lhe atravessando os lábios.

— Quando você quase se matou por causa de algumas flores. — Shay riu quando Perséfone o empurrou com o ombro. Ele a segurou pela cintura a jogando sobre seu ombro e a carregando para a casa. — Eu avisei...

— Me põe no chão! — ela disse entre uma gargalhada e outra, batendo em suas costas. — Cormac!

Liam acompanhou com os olhos Shay e Perséfone, sorrindo pela cena um tanto cômica. O Assassino carregava a albina de ponta a cabeça em seu ombro, um implicando com o outro e ignorando os olhares alheios.

— Já percebeu que a cada missão da qual vocês retornam, eles ficam cada vez mais próximos? — o Assassino se virou para Hope, que servia um pouco de chá. Ela sorriu, balançando a cabeça quando Shay quase caiu ao subir as escadas com a albina em seus ombros.

— Talvez. Mas convenhamos, Hope. Isso não vai terminar de outra forma. — ele sorriu, mantenho os olhos no amigo, que sorria divertido enquanto levava uma bronca de Perséfone por ter lhe bagunçado o vestido. — Ela é uma mulher bonita, de personalidade forte e doce, como rum... E eles se dão muito bem, desde a primeira vez que ela pisou aqui. Não me surpreenderia se esses dois acabassem envolvidos em um romance.

— Se isso acontecer, melhor que ele cuide bem dela... — Hope olhou para o moreno, que implicava com a albina, antes de se afastar vindo na direção deles. — Ou eu mesma castro ele...

Liam não pode evitar uma risada. Perséfone era a única civil na fazenda, o que acabou os levando a serem mais protetores com ela com passar do tempo.

— Está atrasado... — Hope encarou Shay por um momento, enquanto o Assassino dava ombros e uma desculpa galanteada.

***

Liam desviou do caminho de Perséfone quando ela passou correndo por ele, direto para Shay. O Assassino levantou um livro acima da cabeça, fazendo com que ela se esticasse, tentando em vão o alcançar.

— Me dá, me dá, me dá. — ela deu alguns pulinhos, o que os fez rir. — Shay...

— Certo, certo... Eu disse que você era pequena. — ele abaixou o livro, sorrindo quando a albina lhe beijou a bochecha, sem se importar com o comentário implicante dele, antes de voltar saltitante para dentro da casa, folheando o livro, seguida de Hope.

— O que foi isso? — ele olhou para o amigo, que tinha um enorme sorriso nos lábios.

— Nada. Ela me pediu um livro e eu trouxe de presente para ela. — Shay passou os dedos pelas mechas bagunçadas, o sorriso esmaecendo um pouquinho. — O que foi?

— Nada. Só é... estranho. — Liam se sentou sobre um tronco, olhando curioso para o amigo, tentando conter o sorriso que teimava em querer aparecer.

— Somos apenas amigos. Ela não tem essas... inibições que uma mulher comum ou como a Hope teria. E eu gosto desse jeito dela. — ele sorriu, se sentando de frente para o amigo. Liam deu ombros, era melhor deixar que eles percebessem isso sozinhos.

Achilles olhou para o pequeno grupo sentado à mesa. As quatro pessoas conversavam animadamente, as vezes rindo um pouco alto demais.

— Esse cheiro... — Achilles viu o moreno aproximar a mão do prato no centro da mesa, antes de ouvir as outras duas pessoas rirem. — Ai! Snow...

— Isso está quente. Tira a mão daí, Shay. — a albina o encarou com um olhar severo, o ameaçando novamente com a colher que tinha em mãos. — Se pegar você mexendo nisso de novo, a próxima é na cabeça.

— Você é cruel... — Shay deu o sorriso mais sarcástico que conseguiu. Liam balançou a cabeça, antes de voltar a conversar com Hope sobre uma missão. Isso até ser acertado na cabeça pela colher de Perséfone.

— Ei. — ele olhou para cima, encontrando o par de olhos violeta o encarando ameaçadoramente.

— O trato é não conversar sobre essas missões perigosas. — ela colocou o bule de porcelana sobre a mesa, antes de arrumar com cuidado o jogo de delicadas xícaras que o acompanhava. — Lembra?

— Certo. Sem conversas sobre missões. Desculpe. — ele sorriu para Perséfone, que se sentou ao lado de Hope, as conversas recomeçando a tomar conta do local, assim como o cheiro de canela.

— Admita. — Shay olhou para o amigo por um momento, enquanto Achilles começava a se afastar. — Essa é a melhor coisa que você já comeu em toda a sua vida...

— Mentor. — Achilles se virou de repente em direção a voz doce e melodiosa. Perséfone o encarava com o típico sorriso animado e os brilhantes olhos ametista. — Não quer se juntar a nós?

— Obrigado, mas... vou deixar para outra ocasião. — ele tentou sorrir para ela, enquanto a albina concordava com um leve aceno. — Preciso resolver algumas coisas...

— Tudo bem. Espere um momento apenas... — ele a encarou, enquanto ela ia novamente para a cozinha e voltava carregando uma pequena bandeja com uma xícara de chá fumegante e um pedaço da torta. Perséfone abriu um grande sorriso quando ele pegou a bandeja, fazendo uma mesura educada e voltando para a mesa, junto de seus companheiros.

Achilles encarou a bandeja, dando um mínimo sorriso ao ver a flor silvestre entre o prato e a xícara. Ela podia ser petulante, teimosa, desobediente, um tanto desligada das coisas ao seu redor e conseguir o irritar mais vezes do que poderia contar, mas ainda assim... Aquela mulher trazia uma certa... normalidade para as pessoas que a cercavam. Perséfone era como um abrigo contra as tempestades que aquele estilo de vida podia trazer a eles. Não importava o quão complicada, nem o quão difícil fosse a missão, ela sempre estaria ali, com um alegre e doce sorriso nos lábios e aquele brilho nos olhos. Ela era como um lugar para onde eles sempre poderiam voltar.

Shay olhou para Perséfone, fazendo uma expressão zangada ao ver a albina conversando animada com um de seus marinheiros. Liam olhou de soslaio para o amigo, tentando não rir, antes que ele gritasse com a tripulação, se preparando para partir.

Um sorriso de triunfo surgiu nos lábios do moreno quando Perséfone voltou os olhos para ele, acenando com um grande sorriso no rosto.

— Isso parece ciúmes. — Liam olhou para o amigo de canto de olho, com um sorriso um tanto debochado e divertido no rosto.

— Não é ciúmes. — Shay não se virou para ele, ainda um pouco irritado. — Só não confio nele perto dela. Ele é brigão, não pode ver um par de saias e vivia em um navio mercante de péssima reputação.

— Você tem noção de que acabou de se descrever, não é? — ele se virou para o amigo, o encarando. — E mesmo assim, ela basicamente adora você...

— E ela é boa demais para alguém como eu ou ele. A diferença é que eu sei que sou incapaz de fazer mal a ela. Já não posso dizer o mesmo dele. — o moreno manteve os olhos a frente, fingindo estar prestando atenção ao percurso que seguiam.

— Quem deveria decidir se ele é bom ou não, não devia ser ela? Além do mais, ninguém aqui é idiota o bastante para tentar feri-la... — Liam tentou não sorrir, apesar do ar sério de Shay, que apenas deu ombros.

***

Shay deu um pequeno sorriso ao ver a figura de cabelos platinados sentada no pequeno ancoradouro, fazendo alguns rascunhos. Ele passara alguns dias fora, em uma missão longe da fazenda.

— O que você tem? — Liam encarou o amigo, que apenas balançou a cabeça, gritando ordens.

— Nada. — ele olhou de relance para a albina, percebendo pela primeira vez o quanto havia sentido falta dela. — Oi, Snow.

— Oi. — ela deu um sorriso doce para eles, antes que ele se virasse, olhando ao redor, enquanto sua tripulação descarregava algumas coisas. — O que você tem?

— Nada. Por que todos estão me perguntando isso? — ele voltou os olhos para a albina, que tentou em vão esconder o riso.

— Você está diferente. Parece um pouquinho irritado. — ela passou a mão ao redor do braço dele, antes de acenar para o rapaz de alguns dias antes. Ela sorriu quando ele fez uma expressão zangada, o empurrando com o ombro. — O que foi, Capitão Cormac? Não gosta do seu marinheiro?

— Na verdade, gosto muito. Ele é excelente no seu trabalho... — Shay encarou Perséfone, colocando sua mão sobre a dela. — Mas não bom o suficiente para você. E não confio nele...

— Não se preocupe com isso... Prometo tomar cuidado, certo? — ela deu um sorriso doce para ele, fazendo a expressão irritada dele esmaecer um pouco.

— Acho isso difícil... — ele sorriu quando ela lhe beliscou de leve o braço. — Ai.

— Implicante. — ela sorriu, apoiando a cabeça no ombro dele, enquanto ele a guiava para uma trilha qualquer.

— Teimosa. — ele passou o braço ao redor do ombro dela, antes de parar próximo ao pequeno riacho, sorrindo quando ela se sentou sobre uma pedra, começando a desenhar.

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