Same Blood - Parte 2

Perséfone encarou o homem preso a cadeira a sua frente, estática, pensando por um instante em como a vida era irônica. A situação havia se invertido.

— Perséfone... — a voz de Haytham a fez piscar algumas vezes, voltando os olhos para o trio de homens de expressão perigosa atrás de si. — Você está bem?

— Sim. Só estava pensando em como a vida é engraçada às vezes. Perdão... — ela sorriu para o homem, antes de começar a soltar os laços do vestido, surpreendendo a todos eles. — Desculpe, Shay, mas eu não posso responder a sua pergunta. Porém...

Ela fez uma pequena pausa sorrindo para o moreno, enquanto exibia as costas alvas. Com umas das mãos ela mantinha o vestido em seu lugar, o impedindo de cair e com a outra puxava o tecido até exibir uma pequena parte do quadril.

— Isso pode. — ela exibiu a marca em tom rosado sobre a lateral do quadril que de alguma forma era extremamente parecida com uma orquídea. — Marca de nascença, passada de geração para geração na família Fontayne.

— Creio que ela apareça sempre no mesmo lugar... — Gist olhou para a albina enquanto Shay a ajudava a fechar o vestido. Ela concordou com um aceno enquanto o Templário procurava pela marca. — É, ele tem. Quase idêntica, exceto pelo tom um pouco mais escuro.

— Eu te disse. Eu sou o pai dela, agora me solte! — o homem olhou irritado para o Templário antes de voltar sua atenção a Perséfone. — Vamos, peça a eles para que me soltem, meu anjo.

— Primeiro, eu não sou seu anjo. — ela virou as costas para o homem, que a encarava furioso, o olhando por cima do ombro. — E quem tem que decidir libertar você são esses homens, não eu.

— Eu sou o seu pai! — a fúria do homem aumentou ao ver que suas palavras não surtiram efeito na albina. — Nós temos o mesmo sangue. Não pode deixar que eles me matem!

— Bem, aparentemente você sabia que tínhamos o mesmo sangue e parecia bem disposto a deixar que aqueles homens me matassem. — Perséfone sentiu o estômago se revirar algumas vezes devido às lembranças, voltando seus olhos para a frente. — Se a sua esperança era a de apelar para o fato de que por termos o mesmo sangue eu te ajudaria, sinto muito, mas não irá funcionar.

— É sua obrigação como minha filha fazer isso por mim! — o homem berrou, recebendo um olhar de desprezo de Haytham. Se era obrigação dela interceder por ele, era obrigação dele ter cuidado dela.

Perséfone deu alguns passos, sendo seguida de perto por Shay e Gist. Eles pararam ao ouvir a risada histérica do homem ecoar pelas velhas paredes.

— Quem poderia imaginar que aquele velho estúpido aplicaria aquelas filosofias a você. — ele tinha um sorriso doentio no rosto enquanto encarava Perséfone. — Ele ensinou bem a você. A transformou no mesmo tipo de mente vazia que julga possuir uma falsa liberdade. Assim como aquela velha você não passa de uma vadia que acha que tem vontade própria enquanto é usada pelos outros.

Perséfone sentiu o sangue ferver antes de pular sobre o homem, derrubando a cadeira enquanto lhe acertava repetidas vezes o rosto já machucado.

— Eu não vou deixar você falar assim deles! — ela sentiu alguém a puxar pela cintura, esperneando algumas vezes e o acertando no rosto com os pequenos saltos das botas. — Me solte! Eu vou ensinar uma lição a esse bastardo idiota! Ninguém fala assim da minha família!

Snow, pare com isso ou vai se machucar. — a voz de Shay próxima a si fez com que ela parasse um pouco, embora ainda tentasse o empurrar e se soltar. — Além do mais, não se preocupe... Vou ficar muito feliz de dar uma lição a ele.

Perséfone parou, voltando os olhos para o moreno, que tinha um sorriso cruel no rosto.

— Enquanto isso você volta para o forte e fica aos cuidados da senhora Valentini, está bem? — Shay sorriu para a albina, passando o braço ao redor dela, lhe beijando a testa antes de a deixar aos cuidados de Gist.

— Venha, milady. — Gist sorriu de modo gentil para a albina enquanto ela olhava para trás uma última vez, os olhos ainda brilhando com os últimos resquícios de ódio direcionados ao estranho que a chamara de filha.

Haytham encarou o homem à sua frente que agora possuía um nariz quebrado e mais alguns cortes no rosto causados pelos chutes que recebera de Perséfone. Ele voltou os olhos rapidamente para Shay, que parecia ansioso por fazer o homem pagar.

— Espere! — o homem gritou ao ver a lâmina saltar do pulso do jovem Templário. — Eu tenho uma informação que pode ser útil a você, irmão.

Haytham o olhou com desprezo pela palavra usada pelo homem para se referir a ele.

— Que o Pai da Compreensão nos guie. — Shay e Haytham trocaram um rápido olhar, dando ao homem mais alguns instantes. Ele sorriu aliviado antes de tentar soltar uma das mãos. — Eu estava atrás de um artefato que estava em posse do meu pai, um Templário. Ele deixou a ordem francesa há muitos anos, mas ainda era procurado por sua sabedoria.

— Prove. — Haytham o encarou com os olhos frios.

— O pingente que carrego próximo a meu peito poderá fazer isso. — ele se manteve encarando o Grão Mestre enquanto Shay se aproximava, lhe vasculhando as roupas e arrancando o pingente preso a uma fina corrente de prata.

— Que artefato buscava? — o moreno o encarou antes de entregar a peça a Haytham.

— Uma caixa. Não sei muito sobre ela. Apenas que devia a recuperar. — os dois Templários trocaram um rápido olhar.

— Me conte mais sobre o seu pai. — Haytham colocou as mãos às costas, as cruzando e encarando o homem com certa atenção.

— Antoine Fontayne, sou seu único filho, Jaques. É um prazer conhecê-los, senhores. — o homem sorriu, antes de engolir seco ao notar que ainda não havia se livrado da morte. — Bem, ele era um associado, ligado a parte burocrática da Ordem. Fazia contatos, estabelecia alianças, filtrava as informações recebidas, separando apenas o que realmente seria de interesse de coisas triviais. Ele veio para a América, em uma rápida viagem, a fim de encontrar aliados, mas por algum motivo, acabou resolvendo ficar por aqui.

— Ainda não explica por que jamais ouvir falar nele. — Haytham manteve os olhos em Jacques, que fez uma expressão de nojo.

— Por causa daquela... criatura. — ele olhou através dos dois homens. — Desde que ela nasceu só me trouxe problemas. A mãe dela era uma belissíma espanhola, de pele morena, cabelos negros e curvas generosas que me prendeu a si com um feitiço ou alguma droga do amor. Podem imaginar minha surpresa ao ver esta criança... branca, pálida como se a morte estivesse sempre a sua espreita. Mas ela tinha essa maldita marca, dizendo e provando que era minha. De início, pensamos que ela estivesse doente, então minha esposa fez com que dispensássemos inestimáveis recursos em busca de uma cura, indo a todos os médicos e doutores que conhecíamos, mas nenhum sabia o que ela tinha. Então, viemos para a América, a trazendo junto a nós e a mantendo escondida de todos. Os velhos foram enfeitiçados por aquela criança amaldiçoada quando puseram os olhos nela. E ele resolveu se desligar da Ordem para poder cuidar dela. Disse que não a queria envolvida nessas coisas, que ela merecia uma vida normal...

Haytham olhou de canto de olho para Shay. O moreno tinha os olhos carregados de ódio, ansioso para poder se vingar do homem à sua frente.

— Vejo que ela ainda faz uso de suas habilidades e que a magia negra da mãe deve ter sido passada para ela. Afinal, você parece tão preso a ela quanto eu fui um dia a minha esposa. — Jaques exibiu um sorriso que fez o estômago do Grão Mestre se revirar em repulsa. — Ela possui as mesmas curvas que a mãe, os mesmos seios fartos que fazem com que você queira estar todo o dia com eles em suas mãos enquanto a fode tão fundo que sente que nunca mais irá sair de dentro dela-

Um sorriso cruel delineou os lábios de Haytham Kenway ver o nariz do homem voltar a jorrar sangue e ouvir seu maxilar fazer um ruído não natural. Shay possuía um olhar misto de ódio e desprezo encarando o homem à sua frente com o maxilar cerrado, seu rosto se contorcendo e expondo toda a fúria que queimava em seu interior.

— Você não é um membro da Ordem, então como sabe sobre os artefatos? — Haytham colocou sua mão sobre o ombro de Shay, como que pedindo um momento a mais e encarou Jacques, que sorriu de forma torta.

— Eu tenho meus contatos, senhor. — o sorriso dele desapareceu ao ver a expressão cruel que tomou conta do rosto do Grão Mestre.

— E você pensou que Perséfone sabia sobre a caixa? Onde ela poderia estar. Para que você então pudesse a reaver e então vendê-la a quem lhe pagasse mais? — Jacques congelou ao ouvir as palavras de Haytham que pegou o pingente o girando entre os dedos. — Bem, mestre Cormac, vou deixar que você faça justiça pela senhorita Fontayne... E desconte sua merecida fúria sobre nosso 'amigo'.

Haytham virou as costas para o homem, ignorando seus apelos, enquanto comparava os pingentes em suas mãos notando como pequena diferença o rubi que lhe enfeitava o centro. Aquela mulher não poderia estar mais envolvida com Templários e Assassinos.

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