Perfect - Parte 2

Shay subiu na grande rocha, há alguns poucos metros de onde havia deixado a isca para o cervo. Não fora difícil chamar a atenção do animal, que parecia ter se aproximado da propriedade em busca de alimento.

— Quietinha, Snow... Ou ele pode fugir. — ele esticou a mão, ajudando a albina a subir na rocha, passando o braço ao redor de sua cintura. Ele apontou para onde estava a isca, enquanto o animal se aproximava. Ele a apertou um pouco mais contra si, parecia que a qualquer momento Perséfone pularia da pedra para se aproximar do animal.

— Ele é tão lindo... — ela sussurrou, se aninhando um pouco contra o Assassino, parecendo se acalmar um pouco. Shay sorriu, ele estava feliz por ter realmente conseguido fazer aquilo para ela.

— Vamos descer... Não quero que você acabe se machucando e aqui é muito escorregadio. — o moreno desceu habilmente da pedra alguns instantes depois, satisfeito por ainda não terem assustado o animal.

Perséfone se sentou, ainda olhando para trás, antes de escorregar e acabar caindo sobre o Assassino. Uma gargalhada alta e melódica ecoou pela silenciosa floresta, o fazendo rir. Perséfone levantou um pouco o corpo, se apoiando a ele e o encarando com os brilhantes olhos e um sorriso largo e doce.

Ele a deixou a cabeça cair na neve fofa, sentindo novamente aquela serenidade, como se nada pudesse dar errado. Shay voltou os olhos para a albina, ao perceber que o silêncio voltara a reinar. Ela o encarava, o rosto ficando alguns tons mais rosado, antes que ela se levantasse.

— Desculpe... Acho melhor voltarmos, não? — ela prendeu uma mecha alva do cabelo atrás da orelha, enquanto o moreno concordava com um aceno e eles voltavam para a trilha.

Perséfone deixou o corpo cair sobre cama, cobrindo o rosto com o travesseiro. Ela queria gritar bem alto, queria um lugar onde se esconder até que aquilo passasse, queria que o Assassino de sorriso travesso e gentis olhos castanhos lhe dissesse que tudo ficaria bem. A albina reconhecia aquela sensação de estar derretendo, aquele calor que começava em seu peito e se espalhava por todo o seu corpo.

"Por que estou com medo? Eu não devia estar com medo. Isso é algo bom, certo?", ela apertou um pouquinho mais o travesseiro contra o rosto, antes de o deixar de lado. "Perséfone Fontayne, na lista de coisas boas que aconteceram na sua vida, o vovô e a vovó estão no topo, seguidos da Leiza. E Shay Cormac está entre a Leiza e os Assassinos que estão ao nosso redor e se tornaram sua família. Então pare com isso... Ele já deixou bem claro que não é como Eric ".

***

— Perséfone... — Shay encarou a albina por alguns momentos, enquanto ela mantinha os olhos nas tortas recém terminadas a sua frente. — É engraçado como nunca parei para pensar no seu nome...

A forte nevasca que assolava a Fronteira obrigara a todos a buscarem abrigo, os impedindo de treinar ou sair para cumprir suas missões. O moreno resolvera ir para a cozinha, implicar um pouco com Perséfone, enquanto a ajudava com as tortas e beliscava algumas frutas sobre o olhar ameaçador dela.

— O que tem ele? — a albina sorriu, limpando as mãos em um pano e voltando os olhos para o moreno, que folheava o bloco de rascunhos dela.

— Ela não é a deusa romana da primavera ou coisa assim? — ele deixou o bloco de lado, quando ela se sentou junto de si.

— Quase. É a deusa grega das estações do ano, junto com Deméter, sua mãe. Também é deusa das ervas, flores, frutos e perfumes. — ela sorriu, satisfeita com a explicação.

— Então. Primavera. — Shay sorriu, enquanto ela deixava escapar uma risada.

— Em versão resumida, sim. Também é esposa de Hades, deus do submundo e dos mortos. É a Rainha do Mundo Inferior. — Perséfone sorriu, voltando a se levantar e levando as massas para o forno.

— Conte-me mais, Rainha do Mundo Inferior. O que mais esse seu 'marido' faz? — ele a encarou por um momento enquanto ela ria, antes de se levantar e a ajudar.

— Não tem nada demais para contar. Ele é o deus do submundo, rei dos mortos, bem sombrio. Mas, segundo pode-se ler nas entrelinhas dos mitos, é um deus bondoso, chegando até a ser doce com sua Perséfone. — ela sorriu, pegando o bule e começando a preparar um chá para os dois.

— É mesmo? Como se conheceram, jovem Rainha? Deve ser uma história de amor interessante. — ele voltou os olhos para ela, apoiando o corpo á uma bancada.

— Bem, Hades raptou Perséfone e fez dela sua esposa. — a albina deu pequeno sorriso, aquecendo um pouco as mãos. — Mas apesar dessa versão resumida e cruel da história, eu creio que Perséfone tenha se apaixonado por Hades, por mais que digam que ele foi ardiloso.

— Por que você acha isso? — Shay a encarou curioso. Mitologia era um dos assuntos preferidos dela e aquela história parecia a fascinar mais do que outras, o que atiçou sua curiosidade.

— Ela não era tão burra assim... — Perséfone levantou os olhos violeta para ele. — Ela podia ser uma deusa jovem, mas não era tão ingênua. Eu realmente acredito que ela se apaixonou por Hades e resolveu ficar ao seu lado. E ele não é descrito como um deus cruel. E nos contos, muitas vezes ela intercede em suas decisões e ele faz quase todas as vontades dela. Então...

— Ou seja, ela manda nele. — o moreno sorriu ao ouvir a risada da albina, que concordou com um aceno. — Quer que eu pegue as xícaras?

— Sim, obrigado. — ela sorriu, pegando o bule e uma torta já pronta, voltando a se sentar e servindo chá para os dois. Shay se sentou ao seu lado, olhando com atenção o desenho em que ela trabalhava, enquanto eles voltavam a conversar.

As grossas camadas de neve do inverno começavam a derreter, enquanto os primeiros botões da primavera começavam a aparecer. Shay nunca deu muita importância as estações, mas agora as coisas eram um pouco diferentes, já que uma certa mulher de pele alva o arrastava pelas trilhas ao redor da propriedade Davenport atrás das primeiras flores.

— Vamos... — Perséfone o puxou pela mão, enquanto ele praguejava baixinho pelo chão escorregadio e enlameado. Se continuassem assim logo estariam caídos no chão, sujos de lama da cabeça aos pés.

Snow, vai com calma ou va-... — ele a segurou pela cintura quando ela escorregou, a puxando para si e evitando que ela caísse. — Cuidado. Ou vamos acabar caindo.

Uma brisa soprou, balançando as mechas alvas dela e o envolvendo com o perfume de flores que a albina exalava. Ele a encarava, o rosto dela a poucos centímetros do seu. Ele sentiu o coração disparar mais uma vez quando viu a respiração dela ficar ofegante e as bochechas lhe ficarem rubras.

Shay encarou os olhos ametista de Perséfone por um momento, antes de sorrir, a ajudando a se levantar.

— Vamos procurar suas flores. Eu preciso voltar para a fazenda mais tarde. Tenho uma nova missão. — ele passou a mão da albina ao redor de seu braço, voltando a andar.

Liam gritou algumas ordens do leme, olhando preocupado para o navio danificado. Por um milagre eles haviam vencido aquela batalha e fora por outro milagre que chegaram todos inteiros e vivos ao ancoradouro.

— Liam! — ele reconheceu a voz melódica e preocupada. O Assassino se virou, sem se surpreender quando a albina o abraçou. — O que aconteceu com a Morrigan? Vocês estão bem?

Ela olhou ao redor, ainda com os braços envolta dele. Liam lhe deu alguns tapinhas camaradas nas costas.

— Sim, todos bem. Mas ficaria feliz se você convencesse o Shay a receber alguns cuidados. — o Assassino apontou para a porta da cabine. — Uma fragata inimiga nos atacou e ele foi atingido por alguns estilhaços. Nada grave, mas não custa nada alguns cuidados, certo?

— Não se preocupe. Qualquer coisa o amarro na cama. — Perséfone deu um sorriso travesso, antes de seguir para a cabine.

Liam ainda tentava entender por que o amigo resolvera atacar aquele navio mercante. Ele tinha uma leve suspeita, mas se recusava a acreditar que fosse isso.

Perséfone olhou para a cabine escura, procurando por Shay. O moreno estava sentado na poltrona, tentando fazer um curativo em um dos braços.

— Eu te ajudo com isso. — ela se aproximou, sorrindo docemente, apesar do olhar um tanto chateado dele. Shay deixou as bandagens que segurava de lado, se sentando pesadamente na cama. — Certo, tire a camisa, por que eu sei que tem mais machucados aí embaixo.

Ele deu um pequeno sorriso, arrancando a camisa e a jogando em um canto qualquer no chão.

— O que aconteceu? — Perséfone se sentou ao lado dele, limpando com cuidado os machucados espalhados pelos braços. — Vocês não foram só atacados por uma fragata, não é?

— Não. Era um navio mercante. Graças aos céus que todos estão bem... Não deveria ter feito aquilo, foi... impulsivo. Foi loucura. — ele fez uma careta de dor enquanto ela limpava cuidadosamente um corte em seu rosto.

— Se sabia que era perigoso, por que fez isso? — ela o encarou, torcendo nervosa o pano que segurava. Shay deu um mínimo sorriso para a albina, lhe segurando as mãos entre as suas.

— Por que eu começo a ter certeza de que eu amo você, Snow. Eu tenho tanto medo de perder você que chega a doer. Eu gosto de estar ao seu lado e a cada dia, a cada momento que passo com você tenho mais certeza de que aqui, ao seu lado, é meu lugar... — ele sorriu para Perséfone, que o encarava surpresa. — Porém, você merece algo melhor do que isso, um navio caindo aos pedaços, com um capitão brigão. Você merece viver como uma rainha, e no momento não posso te dar isso.

— Espere... — Shay levantou os olhos para a albina, que parecia ainda estar tentando compreender o que ele falara. — Você fez um ataque quase suicida a um navio... por minha causa?

Ele concordou com um leve aceno, antes de ser acertado no rosto por um tapa. Shay pensou por um momento que ele realmente merecia aquilo. Então ele sentiu o toque gentil em sua bochecha, antes de sentir os lábios quentes e doces dela nos seus e ser inundado por aquele calor.

— Por favor, me prometa que nunca mais fará isso? — ela o encarou, sorrindo quando o moreno colocou sua mão sobre a dela e concordou com um aceno. — Ótimo, agora me deixe cuidar de você...

Shay reclamou algumas vezes, quando os machucados se faziam queimar, enquanto Perséfone os enfaixava. Ele sorriu ao vê-la arrumar cuidadosamente a cama, se sentando e fazendo com que ele deitasse com a cabeça sobre seu colo. Não fora difícil adormecer ao ouvi-la cantarolar alguma canção, enquanto ela lhe acariciava as mechas castanhas.

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