All Falls Down - Parte 1

"Pois quando tudo ruir, dane-se

Quando não funcionar para melhor

Se não estiver certo e for hora de dar adeus

Quando tudo ruir, quando tudo ruir

Eu ficarei bem

Eu ficarei bem

Você é a droga a quem me viciei e te quero tanto

Mas ficarei bem"

- All Falls Down, Alan Walker feat. Noah Cyrus & Digital Farm Animals


Shay deixou o corpo cair para dentro do navio, se levantando com dificuldade e mentalmente agradecendo ao marinheiro que prontamente se aproximou, o ajudando a se levantar.

Ele sentiu o peito pesar, nem misto de culpa e raiva, enquanto via a cidade a sua frente ruir sob a fúria do terremoto que ele causara ao tocar o artefato. Os gritos das pessoas ao seu redor, clamando por ajuda enquanto ele fugia tentando se salvar ecoavam por sua mente.

— Por que Deus faria isso com eles? — o homem ao seu lado voltou os olhos para a cidade em chamas, horrorizado.

— Deus não tem nada a ver com isso... — ele manteve os olhos na cidade por mais um instante, antes de dar um pesado suspiro e começar a delegar ordens, preparando sua partida e volta para casa.

***

Shay abriu com violência a porta à sua frente, encarando Achilles por um momento e sentindo aquela fúria queimar dentro de si.

— Então qual cidade quer que eu ataque agora? — o moreno avançou para cima do velho mentor. Hope o encarou por um instante, antes de correr parando a frente do moreno e o empurrando para trás. — O que aconteceu no Haiti, aconteceu um Portugal. Um grande terremoto. Milhares de mortos, graças ao seu maldito manuscrito!

— Não pode ser... — Achilles o encarou irritado, quando o moreno projetou novamente o corpo para frente, antes que Hope o empurrasse novamente.

— Shay, uma pessoa não pode começar um terremoto. — ela o encarou num misto de irritação e preocupação.

— Uma pessoa mexendo com essas máquinas precursoras poderia. — Shay se movia pelo escritório, inquieto, antes de voltar os olhos suplicantes e recheados de dor para a morena. — Você viu a caixa, Hope. O templo estava quase explodindo com aquele tipo de energia.

Ela alternou os olhos entre os dois homens, considerando as palavras de Shay.

— Tu fizeste-me CHACINAR INOCENTES! — ele avançou mais uma vez contra Achilles.

— Como ousa?! — Hope o encarou, surpresa pela falta de respeito do moreno para com o homem que os acolhera e treinara.

— Você o defende? Ele me enviou até lá como Mackandal enviou seu homem ao Haiti! — Shay voltou os olhos furiosos para Achilles. — Ele sabia!

— O que diabos está acontecendo? — Liam passou pela porta, o sangue fervendo ao ver o amigo irromper de forma tão violenta contra a Assassina, tentando a todo custo alcançar Achilles. — Pare!

Ele se colocou à frente do amigo, o segurando pelos ombros e o encarando, lendo cada traço de sua expressão.

— A operação foi delicada, talvez você... — Achilles deu alguns passos a frente, mantendo com esforço a calma em sua voz.

— Está mudando a própria Terra! Quem é você para decidir qual cidade cairá em seguida? — Liam segurou com dificuldade o amigo, fazendo com que Hope fosse prontamente o ajudar.

— Levem já ele daqui. — o velho Mentor desistiu de tentar dialogar, trocando um rápido olhar com Liam, que arrastou o moreno para fora do escritório.

Liam encarou o amigo por mais momento, enquanto Shay se deixava cair sobre o tronco, escondendo o rosto entre as mãos ainda furioso.

— Onde ela está? — ele perguntou finalmente, após alguns instantes em silêncio.

— A essa altura, voltando de Albany com a Leiza. — Liam se virou, começando a caminhar de volta para a casa. — Se acalme um pouco e depois nós conversamos.

Ele olhou de soslaio para o amigo, que encarava fixamente o fogo a sua frente, parecendo perdido em seus pensamentos e desejou que ele se acalmasse, pelo menos até que Perséfone estivesse de volta e pudesse o fazer pensar melhor.

***

Liam passou em frente ao quarto da albina, se sentindo um pouco mais aliviado ao ver o amigo sentado sobre a cama, olhando para um dos desenhos que ela mantinha ali. Ele seguiu seu caminho, indo se encontrar com Hope na cozinha.

— Como ele está? — ela levantou os olhos para ele, enquanto o Assassino se sentava ao seu lado.

— Acho que mais calmo, estava no quarto da Perséfone. — ele deu um mínimo sorriso para a Assassina, que voltou sua atenção para as anotações a sua frente. O silêncio da noite foi interrompido pelo som de uma janela se quebrando.

— ASSASSINOS! Parem-no! Parem Shay! — a voz de Achilles ecoou por toda a fazenda, fazendo com que Liam e Hope trocassem um rápido olhar, antes de saírem da casa e começarem a perseguir o amigo.

Liam podia ouvir e ver morteiros sendo disparados, tentando parar Shay, e mentalmente ele torcia para que nenhum deles acertassem o amigo. O moreno só parou ao chegar à beira de um penhasco.

— Já é o bastante. — Liam encarou o amigo, que afastou o capuz, revelando o rosto, o semblante recheado de dor e culpa, se virando para eles.

— Devolve o manuscrito, Shay. — Hope deu um passo a frente, tentando o trazer de volta a razão. — Estou certa de que Achilles-

— Não posso! Não deixarei acontecer de novo. Todas as almas perdidas... — Shay encarou Liam, os olhos com uma expressão triste brilhando em um pedido velado: 'Tome conta dela.'. — Uma a mais mal conta.

— SHAY! — Liam chamou pelo amigo quando ele se virou, caminhando em direção a queda. Um tiro ecoou, fazendo o coração do Assassino parar por um instante ao ver o amigo cair para a morte.

***

Liam encarou o porto por um momento, mantendo os olhos no navio de velas vermelhas ali ancorado, agora sem um capitão.

'Ele morreu... Ele nos traiu... Abriu mão de tudo, até de sua vida, por causa daquele manuscrito, apenas para que ele não estivesse em nossas mãos.'

Hope passou ao seu lado, com o mesmo ar mórbido, encarando o porto. A qualquer momento Perséfone estaria de volta, acompanhada de Leiza, de sua ida a Albany. Um pequeno atraso causado por uma nevasca a impedira de chegar alguns dias antes.

'Talvez, se ela estivesse aqui, nada disso teria acontecido... Ela teria o trago de volta a razão... O teria acalmado. Ele ainda estaria vivo... E eu ainda poderia o chamar de irmão...'

— O que vamos falar a ela? — Hope o encarou, se sentando ao seu lado, mexendo nervosamente as mãos. — Ela vai ver a Morrigan, vai o procurar e então virá até nós, perguntando por ele...

— Eu sei... — ele encarou por um momento o navio, sentindo aquela dor novamente, enquanto as boas lembranças passavam diante de seus olhos.

'Ela não merece isso... Ela é a pessoa mais doce e bondosa que todos nós vamos conhecer e que vai se importar conosco... Ela não merece ouvir de nenhum de nós que ele nos traiu. Ela tem o direito de ter apenas as boas lembranças e aquela imagem que todos tínhamos dele até menos de um dia atrás. E eu não vou deixar que tirem isso dela... Eu prometi isso a ele...'

— Não sei o que vamos falar a ela. Mas sei que todos nós estaremos aqui para ela, assim como ela sempre esteve por nós. — ele olhou para a mulher ao seu lado, pegando sua mão e entrelaçando seus dedos aos dela, antes que ela concordasse com um leve aceno e um triste sorriso.

Eles ainda estavam reparando os danos da noite anterior. Liam manteve os olhos no navio por mais um instante, pensando no que poderia dizer a Perséfone. Eles já teriam que lidar com Leiza, que se tornara uma Assassina, aliada a Adéwalé e que precisaria saber a verdade.

Ele se levantou, seguindo para a trilha por onde passara diversas vezes com o amigo, voltando para casa. Liam olhou ao redor, antes de dar um suspiro cansado e ir procurar por Achilles.

Perséfone olhou ao redor, dando um largo sorriso ao ver a Morrigan ancorada. Após meses sem ver Shay, ela estava ansiosa para o reencontrar.

— Olá. — ela se aproximou de um dos Assassinos que ficavam ali pelo porto. O homem olhou ao redor, antes de abaixar a cabeça. — O Capitão Cormac está por aqui?

— Não, senhorita Fontayne. Sinto muito... — rapidamente o homem se afastou, mantendo a cabeça baixa e indo falar com um marinheiro. Ela correu os olhos pelo navio. Nenhum de seus tripulantes ousava a encarar e ela via tristeza em seus olhos.

— Perséfone, vamos logo. Ele deve estar na fazenda. — Leiza acenou para a albina, o que a fez dar um mínimo sorriso.

— Eles estão estranhos... Acho que tem algo errado... — ela seguiu a amiga pela conhecida trilha, torcendo as mãos nervosa e olhando de soslaio para o navio.

— Vai ver tiveram algumas perdas durante a viagem de volta. Isso acontece... — Leiza sorriu para a amiga, ajeitando orgulhosa a espada que carregava a cintura. Perséfone sorriu, ela sempre soube que a amiga era uma guerreira, uma lutadora. — Vou deixar você aos cuidados do sr. O'Brien e da srta. Jensen enquanto converso com o mentor. Nos vemos mais tarde.

Perséfone seguiu na direção de Hope e Liam. Ela havia encontrado e comprado um novo livro de mitologia, e estava ansiosa para o mostrar a Shay e passar algum tempo com o moreno, antes que ele precisasse sair novamente em missão.

— Liam, eu vi a Morrigan ancorada. Você sabe onde o Shay está? — ela parou em frente ao casal, o sorriso esmaecendo ao ver a expressão triste de ambos. — O que foi?

— Perséfone... Nós... Nós precisamos te contar uma coisa... — Hope trocou um rápido olhar com Liam, engolindo seco algumas vezes e alternando o peso entre uma perna e outra. — O Shay, ele...

— Morreu... — Liam a interrompeu, olhando para a albina, que congelou por um momento, o encarando com os olhos violeta, antes de abrir um sorriso nervoso.

— Você está brincando. Não teve graça, mas tudo bem... Agora é sério, onde está o Shay? — ela alternou os olhos entre os dois, antes de olhar ao redor, os olhos começando a ficar marejados. A voz soando chorosa e embargada. — Liam...

— Houve um terremoto que destruiu Lisboa. Ele não conseguiu sair a tempo... — ele deu um passo à frente, quando ela cambaleou para trás, balançando a cabeça algumas vezes, deixando a pequena bagagem que carregava cair.

— Não, não, não... Ele disse que ia voltar... Ele me prometeu... — ela levantou os olhos para Hope, que tinha a mesma expressão que o Assassino. — Hope...

— Eu sinto muito, querida... — ela deu um passo à frente, a abraçando, antes que as lágrimas começassem a cair e um soluço alto preenchesse a tarde silenciosa.

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