O tempo passou tão rápido e, em um piscar de olhos, James e eu éramos adolescentes. Meus pais o adotaram como segundo filho, os dias pareciam muito mais animados com ele, era como se todos nos perguntássemos como poderíamos ter sido felizes sem ele.

Papai o registrou como James, mas perguntou se era seu desejo continuar com esse nome e ele confirmou que sim, afirmando que já havia se acostumado. Seu nome oficialmente agora era James Hamilton.

Mamãe tratou de matriculá-lo em uma escola depois de ver sua evolução em casa enquanto ele estudava comigo. Demorou um pouco para aprender a ler, escrever e fazer contas, mas logo pegou o jeito e sempre pareceu fascinado por livros, mas principalmente por matemática. Ele era um gênio matemático.

Dividíamos meu quarto, livros, roupas masculinas, quase tudo. Mas sempre senti que faltava alguma coisa...

— Garotos se casam com garotas, certo? — não me lembro ao certo como abordamos esse assunto, mas lembro que ele não me deixou confortável quando James mudou um pouco o rumo da conversa.

Balancei a cabeça em afirmação enquanto olhava para minhas pernas dobradas.

— E... como é a garota com a qual você quer casar? — minha voz saiu entrecortada como um sussurro no final da frase.

— Bem, — ele olhou para as estrelas acima de nós. — é perfeita. Desde que eu a conheci gostei dela, do jeito ingênuo e bom de ser, e, — voltou sua atenção para mim. — tem um sorriso maravilhoso.

Por que aqui dentro está queimando?

Por que minhas bochechas estão ardendo fortemente e meu peito se contraindo de forma dolorosa ao ouvir isto?

— Bem, então ela é mais do que perfeita para você — essas palavras estão doendo tanto.

— Isso com certeza. Eu não sei explicar com palavras, mas... é um sentimento muito forte o que eu sinto.

Me levantei desesperado para que ele parasse de falar.

Não quero ouvir mais.

Sei que é egoísmo da minha parte, no entanto, eu estou acostumado a tê-lo só para mim, ele é mais que um amigo e agora eu... Eu tenho que ouvir ele falar de alguém e fingir não me importar mas simplesmente não consigo porque... por quê?

— Eu vou para dentro — cruzei os braços por conta do frio que me correu a espinha.

James estreitou os olhos para mim com um olhar confuso, acho que foi porque eu o chamei para sairmos mas agora nesse momento tudo que eu queria era minha cama e meu cobertor.

— Se você vai entrar eu também vou — ele se pôs de pé e automaticamente, eu o empurrei para o chão, e neguei dizendo que ele poderia ficar.

Saí andando sem ouvir suas palavras.

Por que somente a ideia de não tê-lo por perto me assusta tanto? Eu nem sei porque estou me incomodando, entramos naquele assunto claramente por minha causa, — agora me recordo — então por que lágrimas querem insistentemente sair dos meus olhos?

Eu quero que James seja feliz óbvio contudo não... não com outra pessoa, o que é estranho mas...

Eu sinto algo diferente por ele então eu não quero que ele pertença a outra pessoa. Na verdade, em todas as vezes que o mesmo falava de alguém de sua escola eu apenas fingia estar interessado no assunto e após, evitava ao máximo falar de outras pessoas. Eu não gosto quando James fala de outras pessoas, principalmente quando o assunto são as pessoas de sua turma na escola.

Às vezes me dá vontade de pedir para os meus pais me matricularem — mesmo que eu não seja como os outros garotos — somente para estar perto dele, só que eu sempre desisto com medo do que isso possa acarretar.

Minha mente parece gostar de me perturbar com pensamentos ruins sobre isso. Como por exemplo: e se ele me deixar? E se ele escolher outra pessoa?

Eu não gosto de pensar nessas coisas porém é inevitável, principalmente por James ser tão animado com a escola enquanto eu apenas aprendo em casa.

Eu devia tentar entender isso mas não consigo.

— Winter! — James me parou no corredor segurando-me pelos ombros. Seus olhos me olhavam de forma assustada.

— O-o... que foi?

— Por que você está chorando?

— Eu... eu estou chorando? — sequei uma das lágrimas do meu rosto forçando-me a sorrir.

Eu não queria que ele me visse frágil assim, sendo que o tempo todo James aparenta ser forte.

— Acho que... bem eu não sei direito — me abraçou de lado mas logo me abraçou corretamente me deixando afundar a cabeça em seu ombro.

— Me diz Winter, por que você está chorando?

— Só... começou a doer aqui dentro e as lágrimas são o resultado disso — ainda me mantendo em seus braços ele olhou para o meu rosto.

— Não gosto de te ver chorar — secou gentilmente as lágrimas dos meus olhos. — Você... não está chorando por minha causa, está?

Me afastei dele olhando para qualquer ponto menos para seu rosto que me analisava detalhadamente. Balancei a cabeça em negação mas claramente ele não acreditou em mim, então juntou uma de suas mãos à minha me puxando para a sala.

— Estava chorando pelo o que eu te disse?

— Eu não tenho certeza — sentou-se de frente a mim me olhando nos olhos com as pernas cruzadas. — Apenas me deu vontade de chorar.

— Depois de anos você ainda acha que pode me enganar mentindo — James sorriu de lado me deixando de certa forma com um pouco de raiva.

— Eu não estou mentindo! Apenas... hã... eu apenas me senti estranho quando você falou aquelas coisas e as lágrimas saíram de repente — abaixei o olhar para meus joelhos que estavam como os dele. — E-eu não gosto quando você fala de outras pessoas.

James ficou calado por segundos e só então me dei conta do que a raiva me causou, subi o olhar lentamente para ele e me surpreendi ao ver que ele sorria e me abraçou calorosamente me deixando mais surpreso ainda.

— Como você é bobo, Winter. Eu não estava falando de outra pessoa, estava falando de você.

— Mas eu não sou uma garota! — protestei.

— Mas você gosta de se vestir como uma e foi assim que eu te conheci — esclareceu, nos segundos seguintes me mantive em silêncio repassando a conversa que tivemos e logo em seguida o afastei, meus olhos arregalados.

— Está dizendo que quer se casar comigo?!

— Se você quiser, é claro que sim. Por que não?

— Mas eu sou um garo... — me interrompi. Eu estava justamente vestido como uma garota. Mamãe havia me presenteado com um vestido azulado com bordas brancas e eu simplesmente o achei maravilhoso. — O que posso dizer? Eu gosto de me vestir assim e eu também gosto de você — sussurrei.

— Eu também gosto muito de você, Winter. Mais do que você possa imaginar. Então se você aceitar se casar comigo prometo te fazer a pessoa mais feliz desse mundo — era incrível como ele não tinha pudor em relação a ser sincero com seus sentimentos e intenções.

— Você sempre me faz feliz, James — sorri o mais sincero que pude.

— Eu... me espere aqui — ele se levantou e correu em direção ao nosso quarto. Voltou poucos segundos depois me deixando curioso sobre o que havia ido fazer.

Em suas mãos havia uma pequena caixinha preta e tapei a boca já imaginando o que poderia ser.

— Então, Winter, aceita se casar comigo?

— Como você conseguiu comprar...

— Eu estive juntando o dinheiro que seu pai me deu para o almoço na escola e...

— Você esteve sem comer todo esse tempo?! — interrompi.

— Não — ele riu, notando o tom de indignação em minha voz. — Sua mãe sempre me prepara algo, ela já sabia que eu queria... — pendeu sua cabeça para o lado com suas bochechas se tornando rosadas.

Seria estranho Eva não saber disso. Ela e James haviam se tornado grandes amigos.

— Mas e então?

— Eu aceito! — falei após fingir estar pensando por alguns segundos. O mesmo sorriu e foi o sorriso mais lindo que ele havia me lançado em todos esses anos.