Parte XI
POV Sebastian - Escute o seu coração
Depois de ter aparecido em casa para avisar minha irmã que estava em La Push e depois de ela ter quase corrido atrás de mim com uma barrigona de 8 meses e uma vassoura na mão por eu ter dormido em casa alheia - suas palavras - ao invés de na minha casa, eu consegui um pouco de sossego para resolver os meus problemas.
Tudo bem que a Maddi me conhecia melhor que eu mesmo me conhecia e que ela afirmara a pés juntos que eu estava apaixonado por Evelyn como nunca me apaixonei por ninguém, mas ainda havia a questão do meu casamento. Do Epilégetai.
Caminhei pelas ruas de Ikaria sem qualquer pressa. Ainda queria pensar bem antes de tomar qualquer decisão e antes de expor meus problemas aos Sábios.
Tinha de ponderar os últimos acontecimentos e pesar os meus sentimentos numa balança.
Se isso fosse possível eu quase poderia ver os pratos da balança pendendo para cima e para baixo, ainda regulando o peso.
Num prato estava Cassidy, minha Epilégetai. No outro estavam os sentimentos que nasceram, sem eu nem me aperceber, por Evelyn.
Os pratos ainda abanavam para cima e para baixo, mas já estavam quase parando.
Mais um pouco e eu sabia o veredito...
E algo que me deveria surpreender, quando eles pararam, não me surpreendeu. Pelo contrário, pareceu bastante natural. O que era errado.
O prato de Evelyn pesava mais.
Parei em frente à casa do Grande Sábio sentindo aquele leve cheiro almiscarado de incenso, pairar no ar.
Afastei as cortinas de missangas, depois de ter passado pelo hall de entrada, e entrei na sala iluminada, com um teto abobadado terminando em uma clarabóia. As paredes e tetos todas pintadas de branco, com vários símbolos desenhados a azul.
No centro da sala estava o Velho Sábio, Egan, sentado de pernas cruzadas em cima de algumas almofadas, vestindo uma túnica e umas calças brancas, descalço. Seu cabelo grisalho pendia por seus ombros e suas rugas figuravam o seu rosto cansado, mas muito sábio, com desenhos circulares e retos desenhados pelo rosto pálido.
Descalcei minhas botas e retirei minhas meias e minha camiseta, ficando apenas de calções velhos. Passei pela fonte abençoada e entrei nela, banhando meus pés, meu tronco e meu rosto, ao tempo que ditava mentalmente uma reza que havia aprendido quando criança.
De seguida caminhei pela cama de fogo em apenas duas passadas e por fim alcancei as almofadas reconfortantes que formavam um meio círculo em frente ao posto do Sábio da ilha.
-Sê bem-vindo, meu filho. – O Sr. Drako me cumprimentou de forma tão rouca que parecia que não tinha forças para sequer falar.
Fiquei em silêncio. Não podia falar até que me fosse pedido. Seria um desrespeito da minha parte. Mesmo que ele me cumprimentasse, eu deveria permanecer calado.
O Velho Egan Drako estendeu uma de suas mãos, me entregando o seu bastão de salva e isso era uma enorme honra para qualquer um que conhecesse as leis da nossa pequena terra.
Segurei o bastão com firmeza e o levei à testa e peito em seguida, pedindo sabedoria e compaixão e então devolvi o bastão.
-Epilégi errada, pensas tu. – Ele falou.
Sabia que não precisaria dizer nada. Ele sabia tudo pois falava com os Deuses que protegiam a nossa comunidade.
Então ele riu. Riu com vontade, jogando a cabeça para trás e se engasgando.
Quis ajudá-lo, mas ele recusou, tossindo tão forte que julguei que seu pulmão sairia fora!
-Foi a Epilégi mais certa que já vi em toda a minha vida. E em todas as vidas passadas! – Ele continuou rindo, com moderação, mas com vontade.
Franzi o cenho. Se Cassidy era a Epilégi certa, porque eu estava gostando de outra?
-A Epilégi foi certa. A mulher é que não. Mas não se preocupe, meu filho. Logo tudo se resolverá. Você acha que algo está errado, mas tudo está certo. Tudo está acontecendo como tem de acontecer. E vai continuar como deve de continuar. Não tome nenhuma decisão. Não pense demais. Deixe tudo como está. Aja como costuma agir. Não mude nada por nenhuma das duas. - Ele continuou discursando, mas antes que eu pudesse ter mais alguma linha de pensamento, ele continuou. – Como os Cristão dizem, com certa razão, os Deuses escrevem certo por linhas tortas! – E riu de novo, abanando a mão na minha frente, como se estivesse me expulsando dali. – Vá embora, vá! – Insistiu.
Eu caminhei apressado para a saída, pegando as minhas coisas e as vestindo rapidamente.
No final das contas consegui ficar mais confuso do que estava antes, mesmo que muita coisa me tenha sido respondida.
Mas a verdade é que há respostas que complicam mais do que se ficássemos sem saber de nada.
POV Evelyn - Sem fronteiras
Me sentei no divã de couro escuro que havia no consultório da casa da Dr. Meyer, depois de ter pousado minha bolsa e meu agasalho no cabide da entrada e retirado aquele diário.
Dr. Meyer...parecia formal demais chamar assim minha madrinha.
-Então minha querida, como você está? – Ela questionou se sentando em uma poltrona super confortável a alguns metros de mim.
-Superando.
-Eu sei. E fico feliz por me ter procurado. Eu queria ter ficado por perto quando tudo aquilo aconteceu, mas sua irmã me pediu um tempo para você... - Ela falou, deixando o final da frase no ar.
-Minha irmã achou que me manter isolada do mundo iria me fazer esquecer de tudo. – Suspirei revoltada.
-Mas agora você me parece tão mais...viva, por assim dizer. Parece que se libertou das amarras de sua irmã. Me desculpe falar desse modo dela...
-Não tem mal. – A interrompi. – Mas realmente tudo mudou nesses dias. – Falei com um ar sonhador
-E a que se deve isso? – Ela questionou sorrindo animada.
Lhe contei tudo sobre Sebastian, um pouco envergonhada, por medo de Samantha achar que eu era uma destruidora de casamentos, mas sua reação me pegou completamente de surpresa. Ela me apoiou a 100% e disse que eu merecia ser feliz e que ninguém melhor que o marido da minha irmã para ficar do meu lado. Disse ainda mais:
-Quero muito conhecer esse Sebastian. Ele me parece ser uma excelente pessoa, Eve. A pessoa certa que irá tirar você da escuridão! Estou torcendo por vocês. – Minha madrinha falou orgulhosa e esperançosa, com um ar de casamenteira.
Sorri envergonhada, apertando as mãos em torno daquele caderno.
-E o que é isso que você segura religiosamente em suas mãos? – Sam questionou, olhando em direção ao meu diário.
-É onde eu guardo os meus segredos. – Sussurrei tão baixo que julguei que Sam não tivesse escutado, mas ao olhar para seu rosto compreensivo percebi que ela escutara.
Ficamos em silêncio por um tempo. Eu ganhando coragem para começar lendo e ela me dando tempo para decidir.
Então eu pisquei, colocando o diário no meu colo e o abrindo em uma página marcada, respirando fundo para começar a ler um enxerto.
"Mais uma vez o Max apareceu cá em casa pela calada da noite. Meus pais não sabem que ele e Cassie estão tendo um caso. Eu quero contar, mas ele me ameaçou.
Que tipo de irmã eu sou que não consigo proteger quem eu amo? Cassidy só precisa de abrir os olhos e perceber que o Max não é tudo o que ela julga que ele seja. Max é perigoso!"
Por enquanto as passagens estavam calmas. Nada que fosse doloroso recordar; mas então virei a página e saltei para outro excerto.
"Me sinto suja.
Mamãe pediu que eu fosse ajudar Max a lavar as éguas enquanto papai e Cassie iam na cidade. Cassie ficou furiosa. Ela queria ter ficado – por causa de Max -, mas papai foi irredutível e ela não teve outro jeito que não ir.
Eu sinto medo de Max e implorei a mamãe que me deixasse ajudar ela e Tessa na preparação dos doces para a minha festa de aniversário, que seria dali a 2 dias, mas hoje parece que tudo conspirou contra mim.
Relutante e amedrontada, eu fui até a estrebaria. Max estava lá, sem camisa, lavando e escovando um cavalo. Meu corpo estremeceu todo quando ele me olhou de cima a baixo e sorriu maliciosamente. Eu quis fugir. Quis correr dali para fora, mas sabia que mamãe iria ralhar comigo e não iria compreender.
Me aproximei dele e lhe perguntei se precisava da minha ajuda. Max me molhou com a mangueira, deixando minha blusa transparente, como resposta. Envolvi meus braços em torno dos meus seios, envergonhada, mas Max os puxou para baixo para olhar meu colo. Eu não trazia mais nada por baixo da blusa. Meus seios estavam crescendo, mas eu ainda não usava sutiã. Me sentia nua.
Max falou que eu estava me tornando uma mulher..."
Parei um pouco para limpar as lágrimas que escorriam de meus olhos e funguei, tentando não olhar para minha madrinha para ver sua cara de pena.
Me forcei a continuar.
"Max falou que eu estava me tornando uma mulher e que logo logo estaria substituindo Cassidy. Não quis imaginar de que maneira, porque isso me enojava, mas sabia muito bem quais suas intenções.
Com o resto de coragem que me restava lhe disse que nunca seria como Cassie e ele gargalhou alto. Um riso que me fez estremecer de medo. Max olhou de novo para meu busto e me tocou. Me encolhi de encontra a uma viga, tentando fugir de seu toque, mas ele continuou.
Mamãe apareceu de repente, mas nada viu. Me ralhou por eu ter molhado a blusa e fiquei de castigo por não usar nada por baixo.
Cassie, quando soube do ocorrido, veio brigar comigo em meu quarto. Suas palavras foram duras. Ela me acusou de estar querendo roubar seu namorado e que não iria deixar. Eu nada disse. Ela não iria acreditar em nada. Cassie está cega!"
Terminei de ler aquela passagem sentindo a dura sensação de que aquilo era só o começo. Mas eu precisava falar tudo. Precisava contar tudo o que eu não consegui evitar. Precisava contar como eu matei meus pais. Precisava me libertar de todos esses demônios.
-Não precisa de falar tudo agora. Tome seu tempo. Sei que é difícil. Hoje podemos parar por aqui, amanhã é um outro dia e estarei aqui te esperando. Um passo de cada vez e chegaremos ao topo da escadaria. – Samantha me sorriu carinhosamente, me fazendo sentir em paz.
Por momentos me senti mais segura ainda. Se Bast estivesse por perto tornaria tudo mais fácil ainda, tenho certeza.
Mas por ele eu iria lutar. Mesmo que nosso destino não fosse ficar juntos, sua simples presença me fortalecia e me fazia feliz.
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