Parte IX

POV Sebastian - Campo de batalha

Os raios leves e claros incidindo em meu rosto me fizeram abrir os olhos e minha primeira visão matinal foi o rosto de Evelyn.

Julguei estar tendo alguma alucinação ou apenas ainda sonhando, mas a linda imagem à minha frente não se desvaneceu, me fazendo perceber que eu estava bem acordado.

Acordar do lado de Eve era como acordar no Paraíso. Ela tinha uma aura de paz e carinho que te enchia o peito de tal maneira que você acharia que não haveria tanto espaço para toda essa luz e esse sentimento tão puro.

Então, com a percepção de volta à realidade, eu escutei um coração batendo destroçadamente e não era, de longe, o de Eve que mantinha uma expressão pacífica. Ergui meu rosto por cima do lombo de Diana e meu peito deu um solavanco, enquanto engoli em seco.

-Cassie! – Tentei chamá-la entre sussurros, mas ela correu dali para fora, com o rosto lavado em lágrimas.

Me ergui cuidadosamente para não acordar Eve e corri atrás de minha esposa. Consegui alcançá-la a meio do lance de escadas de sua casa. A agarrei pelo braço e a puxei para meu peito.

Não havia explicações a serem dadas. Até porque sei que se eu tentasse falar ou desmentir o que quer que fosse, só pioraria as coisas. Além de que iria estar mentindo descaradamente.

Deixei que Cassidy batesse seus punhos em meu peito e tentasse se soltar de mim, mas a mantive em meus braços, tentando consolá-la.

Não havia mais de 3 dias que estávamos ali e nosso casamento já estava se destruindo. Eu estava o destruindo.

Eu precisava mais que tudo voltar para Ikaria pra tentar entender o que se passava e tentar salvar meu casamento...sim, eu precisava salvar meu casamento. O que eu pensava sentir por Evelyn era apenas uma ilusão. Cassidy era a minha Epilégetai.

-Eu preciso partir. – Consegui me pronunciar. – Há questões que eu tenho de esclarecer se queremos que nosso casamento dê resultado. – Desabafei, comprimindo os olhos.

-Tudo bem. Será melhor mesmo você se afastar por uns tempos. Essa casa nos transforma. – Ela concordou, depois de se ter acalmado e ter parado de se debater contra mim.

-Vou fazer minhas malas. – Indiquei terminando de subir a escadaria, com minha esposa em meu encalço.

Cassie me ajudou a arrumar as roupas numa mochila e de seguida me acompanhou até a carrinha.

Meu peito se apertou quando deitei uma última olhadela para a estrebaria. Abanei a cabeça e entrei no carro, me despedindo de Cassie pela janela.

-Salve nosso casamento. – Ela sussurrou, pegando e apertando minha mão.

-Farei o que puder. – Lhe sorri curtamente, ligando o motor e me afastando de vez dali.

~*~

Dias se passaram até eu finalmente chegar a  Atena. De lá eu alugaria um barco de motor e velejaria até Ikaria, minha ilha natal repleta de lendas e magia.

A noite já ia alta e todos estavam dormindo, me escapuli pela janela até aquele quarto que sempre seria meu abrigo nas horas mais necessitadas, e me preparei para dormir quando algo saltou para cima de mim e começou me dando leves pancadinhas.

Comecei rindo e fazendo cócegas na minha pequena, até que ela parou de tentar de me agredir e começou rindo.

-BAST!! Você voltou!

-Shuuuu! Assim você vai acordar seus pais, Rheanna!

-Não me chame de Rheanna! Parece que está me repreendendo! – Amuou, ao tempo que eu acendia a luz do abajur.

-E eu estou repreendendo mesmo, mocinha. O que você está fazendo fora da sua cama a essas horas?

-Estava sem sono e com saudades de você, então vim tentar dormir aqui. Mas daí escutei alguém pulando pela janela e me escondi a fim de apanhar o ladrão em flagrante! – Falou toda certa de si.

-Que corajosa que essa minha afilhada, hein! Mas isso foi muito imprudente! Já viu se fosse um ladrão de verdade o que ele não podia ter feito com você!? – Dei sermão.

-Eu sou muito forte! Tenho genes de lobo! Eu vou ser como tia Lenora. Uma loba muito forte. Mas mais simpática. – Ela altercou sapeca.

-Com quem você está falando, Rheanna? – Maddi questionou meio sonolenta, se esgueirando até meu quarto. - Bast! – Exclamou assim que me viu. – Primo! O que você está fazendo aqui?

-Madds! Também senti saudades suas. – Rolei os olhos, a puxando para um abraço.

-Maddi, quem está aí...Bast! – Mikhail exclamou surpreso.

-Mano, bom te ver de novo. – Abracei Mik fraternalmente.

-O que você está fazendo aqui em casa? Onde está Cassie? – Me encheu de perguntas.

-Cassie ficou lá em Greenwich. Eu precisei voltar...história complicada e longa. Amanhã vos explico melhor. Não se importam que eu tenha vindo dormir aqui, certo? É que se eu fosse pra casa, Venisa iria me encher o saco se eu entrasse pela porta da frente e Philipos ia me receber a socos se eu entrasse pela calada da noite, como fiz aqui. – Expliquei superficialmente. – Agora só quero dormir um pouco.

-Não tem problema algum, Bast. Você sabe que é sempre bem-vindo aqui. Rhea estava morrendo de saudades de você. Não se calou desde que você foi embora. – Mik falou revirando os olhos.

-Estou notando uma pontada de ciúmes de pai ou é impressão minha? – Peguei com ele.

-Que ciúmes, que o quê!? Eu sei que minha filha me ama!

-Agora está se achando. – Maddi pegou com o marido, piscando o olho pra mim.

-Adoro ser disputada pelos dois homens mais lindos do mundo! – Rhea falou toda orgulhosa, de sorriso largo e olhos brilhando.

-Tudo bem, vamos parar de papo e deixar Sebastian dormir! – Maddi expulsou todo mundo.

-Vai, princesa. Amanhã você mata saudades do dindo. – Lhe sorri, dando um beijo em sua testa, recebendo um mini abracinho aconchegante.

-Boa noite, Bast. – Maddi se despediu.

-Durma bem, Madds. – Sorri de volta, desligando a luz do abajur.

POV Evelyn - Sem título

Abri meus olhos sendo ofuscada pela luz do sol, que incidia diretamente no meu rosto.

Rolei sobre a cama de feno buscando por algo que estivera do meu lado a noite toda.

Meu corpo, agora arrefecido, sentia falta de um calor vital, me fazendo sentir arrepios gélidos por minha espinha e uma sensação tão ruim em meu peito, fazendo lágrimas involuntárias e inexplicáveis surgirem em meus olhos e rolarem por meu rosto.

Eu abro meus olhos

Eu tento enxergar, mas eu estou cego

Pela luz branca          

Não consigo lembrar como

Não consigo lembrar o por quê

Estou vivendo aqui esta noite

Me ergui em um átimo, chamando a atenção de Diana, e olhei em volta meio desesperada, mas tudo o que eu queria ver não estava ali.

E eu não posso suportar a dor

E eu não posso fazê-la ir embora

Não, eu não consigo suportar a dor

Como pôde acontecer isso comigo?

Eu cometi meus erros

Não tenho para onde fugir

A noite continua

Enquanto sumo aos poucos

Eu estou cansada desta vida

Eu só quero gritar:

Como pôde acontecer isso comigo?

Saí da estrebaria apressada, percorrendo todo o campo aberto em torno dela, continuando minha busca desesperada por sinais de meu anjo.

Todo mundo está gritando

Eu tento fazer um som

Mas ninguém me ouve

Apertei o passo em direção à mansão e abri a porta de rompante, dando de caras com Cassie, que derramava lágrimas secas.

Eu estou deslizando fora da borda

Eu estou pendurado por um fio

Eu quero começar isso mais uma vez

Então, eu tento segurar

Em um tempo quando nada importava

E eu não posso explicar o que aconteceu

E eu não posso apagar as coisas que eu fiz

Não, não posso

Como pôde acontecer isso comigo?

Eu cometi meus erros

Não tenho para onde fugir

A noite continua

Enquanto sumo aos poucos

Eu estou cansado desta vida

Eu só quero gritar:

Como pôde acontecer isso comigo?

Ela as enxugou e me olhou altiva, enquanto eu tentava não sufocar em meus soluços e lágrimas.

-Ele se foi, Eve. Ele foi salvar nosso casamento. – Se pronunciou friamente, me voltando as costas, mas permanecendo no mesmo lugar.

Eu solucei alto e corri escadas acima até meu quarto, colocando a tocar de novo minha caixinha de música e me atirando sobre minha cama, enquanto chorava.

Eu cometi meus erros

Não tenho para onde fugir

A noite continua

Enquanto sumo aos poucos

Eu estou cansado desta vida

Eu só quero gritar:

Como pôde acontecer isso comigo?

Como eu iria suportar minha vida sem o meu anjo? Onde eu iria arranjar forças para continuar suportando toda essa dor e todos esses demônios e fantasmas do meu passado?

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