Parte I
POV Sebastian - Sonho Adolescente
Estacionei a velha picape perto da casa de Cassie. À porta já nos aguardava uma velha senhora negra, que trajava um conjunto cor de chumbo, lhe dando um ar mais carregado que suas poucas rugas lhe apresentavam. Seus cabelos grisalhos e frisados estavam apanhados em um coque formal, guardados em uma rede de cabelo.
Cassie saiu do carro apressada, correndo na direção da senhora, a governanta, como ela mo contara, sendo abraçada de forma maternal.
Enquanto ela corria eu observava maravilhado seus cabelos ondularem com o vento, como um véu dourado, me hipnotizando. Seu corpo violino, era um molde da perfeição, onde as jeans claras e o top branco de alças finas delineavam cada curva sua.
Eu era um homem cheio de sorte. Não podia pedir mulher mais perfeita para mim. Além de bela ela era dinâmica, independente, alegre, centrada, uma excelente amante e uma maravilhosa dona de casa, com uma profunda entrega em seu trabalho, apaixonada e apaixonante. Era a mulher perfeita para mim. A minha alma gêmea.
-Sebastian! Venha. - Cassie chamou por mim, me tirando de meus devaneios.
Lhe abri um largo sorriso e saí da picape, dando a volta ao carro e fazendo uma corridinha até minha esposa.
-Tessa, esse é meu marido, Sebastian Kamber. Amor, essa é Tessa Gardene. Minha mãe. - Cassie nos apresentou.
-Que disparate menina. Eu lá tenho idade para ser sua mãe? - A senhora fez graça, roubando uma gargalhada gostosa de Cassie.
Eu olhei maravilhado para ela. Era insana a facilidade com que eu me distraia e me perdia em cada detalhe daquela mulher.
-Muito prazer em conhecer o homem que roubou o coração da minha menina. - Tessa me estendeu a mão para um cumprimento formal e eu atalhei com um gesto cavalheiresco, beijando o topo de sua mão.
Cassie sorriu, fazendo um falso trejeito de ciúme, colocando suas macias e delicadas mãos em sua cintura fina e pendendo a cabeça para o lado, enquanto comprimia os lábios para apartar o sorriso.
-O prazer é todo meu Tessa. - Sorri, provocando minha loira.
Ela abanou a cabeça e voltou a falar casual.
-Tessa foi minha mãe de leite e ama de Evelyn . Por falar em Eve . Onde ela está? - Cassie perguntou, adotando uma pose tensa e uma expressão consternada em dois segundos.
-Trancada na torre. - Tessa também desfez seu sorriso ao mencionar a tal garota.
-E é seguro? - Cassie sussurrou, se inclinando de leve para a frente.
-Eu pouco posso fazer, querida. Você conhece bem sua irmã. Ela é intempestiva. E tudo vira um caos se a contrariam. Prefiro lhe dar um voto de confiança. Há três meses que não tenta nada. - Respondeu no mesmo tom baixo de Cassie, sendo que a última frase saiu como um sopro se confundindo com o vento.
Se eu fosse uma pessoa normal eu não escutaria. Mas eu tinha meus sentidos super apurados.
Tessa me olhou de relance e eu fiz ar de desentendido, como se realmente não tivesse escutado coisa alguma. Mas Cassie sabia que eu escutara e tentou disfarçar sua preocupação.
Aliás, ela vinha disfarçando e escondendo muitas coisas desde que recebera um telefonema e decidira voltar para Greenwich, Ohio. Sua vida virou dos pés à cabeça, dando uma volta de 180º. Cassie se tornou uma garota mais irritadiça, mais calada e séria - introspetiva - e mais triste e pensativa. Sempre com uma expressão distraída e dolorida.
Nós nunca tivemos segredos um com o outro, mas depois do telefonema ela deixou de ser a garota que eu conhecera e com quem me casei para passar a ser uma estranha. E nesse momento eu odiei quem telefonara e mudara minha esposa tão drasticamente.
-Eu vou lá em cima falar com ela. - Cassie nos avisou, beijando o rosto de Tessa e me lançando um olhar de socorro, como que se pedindo forças para ir.
Mesmo sem entender as razões, eu lhe devolvi o olhar. Um olhar confiante que dizia o quanto eu a amava e confiava nela. E então ela entrou em casa, subindo a escadaria e sumindo de meu campo de visão.
POV Evelyn - Mascarados
O sótão dessa casa era a minha torre, o meu forte, o local onde me sentia mais...sozinha. Mas sozinha num bom sentido. Um sozinha diferente de solitária.
Era aqui na torre que eu gostava de me refugiar quando a culpa caia sobre mim. Aqui era o meu céu, onde todos os meus pecados eram absolvidos e as lembranças do passado eram boas e não dolorosas, como costumavam ser.
Escutava a melodia que tocava na caixinha de música que fora de minha mãe. Era uma melodia linda e tocante.
"Masquerade! Paper faces on parade...Masquerade! Hide your face, so the world will never find you ! Masquerade! Every face a different shade...Masquerade! Look around - There's another mask behind you!"
Cantarolei a letra da música "Masquerade".
Essa era uma de minhas músicas preferidas. A que mais me compreendia e com a qual mais me identificava. Porque o Mundo era isso mesmo, uma grande máscara que escondia a verdadeira face das pessoas.
Minha cantoria foi interrompida pelo som de um carro se aproximando. Corri para a bay-window e avistei uma carrinha velha e azul se aproximar da casa, vinda da estrada de terra.
Estreitei meus olhos, tentando focá-los melhor, para perceber quem estava chegando.
Provavelmente Tessa já havia me dito, mas eu camuflava todos os sons que eu não queria escutar. Gostava de silêncio e tudo o resto era escusado para mim.
Quando a carrinha de caixa aberta - cheia de malas, por sinal - parou por fim e a primeira pessoa saiu do carro, senti meu corpo aquecer confortavelmente e um pequeno vazio em meu coração ser preenchido. Consequentemente um nó se formou em minha garganta e uma lágrima rolou por meu rosto.
-Cassie. - Murmurei acariciando o vidro e me permitindo a um pequeno sorriso.
Observei Cassie abraçar Tessa, que não parecia surpresa com sua visita. Talvez ela soubesse mesmo da vinda de minha irmã.
Me culpei por não ter captado e capturado a mensagem de aviso de Tessa sobre a visita de minha irmã, mas logo me alheei dessa culpa. Cassie estava aqui e isso era tudo o que importava.
E então todo o meu mundo parou. Vindo de não sei onde, ele surgiu com um sorriso devastador.
Ele era surreal. Sua beleza, sua forma, seu sorriso...Ele parecia um Deus ou um Anjo, e mesmo assim nenhuma das comparações pareciam ser suficientes.
Um corpo forte, adornado dos mais bem delineados músculos; uma pele morena que reluzia com a luz do sol; um olhar negro e profundo, que se rasgava em um sorriso de se fazer perder a respiração.
Ele parecia uma miragem.
Não sei quanto tempo passou desde que eu o começara admirando. Seguia todos os seus movimentos com extrema atenção; completamente hipnotizada e viciada.
O vi regressar à carrinha e isso me fez sentir um nó maior crescer em minha garganta, como sinal de medo que ele fosse embora. Mas não. Pelo contrário. O anjo, como eu o preferira o intitular, se dirigiu às traseiras do carro, abrindo a comporta e descarregando todas as bagagens.
E num segundo de lucidez eu retornei à realidade. Ele tinha vindo com minha irmã.
-Evelyn ! - A voz de Cassie ressoou atrás de mim como uma chamada de atenção ansiosa.
Eu me virei rapidamente, a olhando por alguns segundos - tempo o suficiente para ter certeza que ela era real - e corri em sua direção, a arremessando e sendo arremessada em um abraço carregado de saudade.
-Você voltou. - Solucei, me apercebendo que já chorava. Como eu era tão fraca...
Cassie nada respondeu (e eu sabia bem o que isso significava), se ficando apenas pelo forte abraço, as carícias em meus cabelos e os cicios calmantes de sempre.
Quando por fim me acalmei e controlei o choro, Cassie se separou de mim, segurando meu rosto em suas mãos.
-Como você está? - Ela questionou enxugando as lágrimas que banharam o meu rosto.
-Com saudades. - Confessei, me permitindo a esse momento, ainda que expor meus sentimentos fosse algo muito difícil para mim, mesmo se tratando de minha irmã.
-Eu também, minha pequena. Mas agora eu estou aqui. Vou cuidar de você, está bom?
-Não por muito tempo. - Murmurei para mim, baixando meu olhar.
-Ei. Olha pra mim. - Ela exigiu, pressionando meu rosto para cima em suas mãos. - Eu não quero voltar a escutar isso de você, OK? Não mais! - Exigiu convita. - Vamos parar com o drama, Evelyn ! Nada vai acontecer com você. Eu não vou deixar, mocinha! - Me repreendeu, se garantindo em tom zangado, de que tudo ia ficar bem.
Eu não tinha tantas certezas, mas apenas baixei meu olhar de novo em um consentimento mudo e forçado.
Mas meu olhar captou algo a mais. Algo que brilhou em sua mão esquerda.
Meio surpresa, peguei em sua mão e olhei demoradamente para ela, tentando assimilar o significado daquelas duas alianças no dedo anelar. Uma continha um solitário e a outra era simples, muito parecida com as dos casamentos. Essa constatação me fez engolir uma pedra.
-Você casou? - Minha voz soou falha e as lágrimas voltaram a embaçar meus olhos.
-Evelyn , eu posso explicar... - Tentou falar, mas eu a cortei.
-Você casou e não me disse nada? Você casou e nem me mandou convite? Que tipo de irmã é você, Cassidy? Porque você insiste em fazer isso comigo? Porquê você insiste em me abandonar, me deixar pra trás como se eu nunca tivesse feito parte de sua vida? - Eu discutia com ela, nervosa, caminhando de um lado para o outro e gesticulando exageradamente.
-CHEGA! - Ela gritou me paralisando por completo. - Se você quer mesmo saber todos os porquês, eu digo, Eve . - Agora era ela que estava nervosa, passando os dedos pelos cabelos, os puxando. - Cansei! Cansei de ver você destruindo sua vida e querendo destruir a minha! Eu precisava de sumir no mundo, me afastar de você pra ser feliz! E se quer saber. - Parou de caminhar e de puxar os cabelos e me olhou com os olhos vermelhos. - Eu estou muito feliz, mana. Finalmente! - Despejou sem comedimento.
-SAI DAQUI! VAI EMBORA! SAI DAQUI! - Eu gritava, empurrando Cassidy para fora do meu forte.
Eu não iria permitir que ela destruísse o meu lar. O único lugar onde me sentia segura.
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