✦ 10 ✦๋࿆࣭
Vila de Drumnadrochit,
Terras Altas da Escócia.
1700 d.C.
um mês e meio antes da
morte de Gaia.
A surpresa coloriu a face de Gaia ao vê-lo na porta sozinho.
Ikaris ficou tentado á rir.
Ele sabia que era anormal ele aparecer alí, na casa dela, ele costumava ir junto à Kingo, Phastos ou Ajak.
Ele nunca havia ido sozinho.
ㅡ Ikaris? ㅡ ela parecia confusa.
ㅡ Aconteceu algo? ㅡ ela perguntou, preocupada como sempre.
ㅡ Eu estava por perto e pensei em dar uma passada. ㅡ ele murmurou.
Era uma mentira. Ele não estava por perto. A verdade era que ele sentia que iria ficar louco e precisava da única coisa que o poderia fazer sentir paz, além de Sersi, Gaia.
ㅡ Claro. Bom ver você. ㅡ ela deu um sorriso contido, ainda parecendo confusa, ela obviamente deveria saber que ele estava mentindo, Gaia sempre foi boa em ver através das mentiras dele, ela sempre foi capaz de ver através dele. ㅡ Entra. ㅡ ela sinalizou para dentro.
Ikaris sorriu envergonhado e entrou.
ㅡ Como vai a vida? ㅡ ela o perguntou algum tempo depois, enquanto fazia um chá de camomila para ambos.
ㅡ Vai bem, eu acho. ㅡ ele mentiu. Sua vida ia de mal a pior, ele sentia falta de Sersi, falta de Gaia, sentia falta de como as coisas costumavam ser. ㅡ E a sua?
ㅡ Está uma droga. ㅡ ela confessou e a dupla riu levemente. ㅡ Sabe, você não precisa mentir pra mim, sei que sente falta da Sersi, sei que não está tudo bem. ㅡ ela murmurou de costas para ele.
Ikaris se sentiu arfar, amaldiçoando como Gaia era boa em ver através das mentiras.
ㅡ Não quero incomodar você com os meus problemas. ㅡ Ikaris disse.
ㅡ Você não incomoda. Toma. ㅡ ela o entregou uma xícara de chá e segurou outra. ㅡ Vamos lá pra fora. ㅡ ela chamou e saiu da cozinha e depois da casa, Ikaris a seguiu e se sentou na cadeira vazia da varanda no lado aposto da de Gaia. ㅡ É um bom lugar pra ver as estrelas, se tivermos sorte. ㅡ ela comentou.
ㅡ Você não me odeia? ㅡ Ikaris perguntou de repente.
Gaia franziu as sobrancelhas e desviou o olhar do céu estrelado para encarar Ikaris.
ㅡ Por que eu odiaria? ㅡ ela retrucou.
Ikaris odiava muito quando ela respondia uma pergunta com outra pergunta.
ㅡ Eu deixei a Sersi, eu fui idiota com você muitas vezes, eu-
ㅡ Ikaris. ㅡ ela o interrompeu. ㅡ Todo mundo comete erros Ikaris. Até mesmo nós, Eternos. ㅡ ela disse, e Ikaris se perguntou como ela conseguia ser tão sábia algumas vezes.
ㅡ Mas-
ㅡ Eu perdoei você pelo que fez comigo Ikaris. ㅡ ela o interrompeu novamente. ㅡ Se eu não o tivesse perdoado, você não estaria aqui, sentado na minha varanda tomando chá de camomila.
ㅡ Eu deixei a Sersi. ㅡ ele disse. Ele queria que Gaia gritasse com ele. Que ela fosse má, talvez assim ele não se sentisse tão mal por mentir.
ㅡ Eu não tenho que te perdoar por isso, ela tem, e eu tenho certeza que ela o perdoa, ela sempre amou você demais para guardar rancor. ㅡ Gaia disse voltando a olhar para o céu.
ㅡ Eu-
ㅡ Acho que você deveria perdoar a si mesmo Ikaris, talvez assim você encontre a paz que procura. ㅡ ela murmurou.
Ikaris suspirou, foi um erro ir alí, Gaia sempre sabia quando ele mentia, quando ele estava escondendo algo. Foi um erro a procurar.
ㅡ Foi um erro vir aqui. ㅡ Ikaris disse prestes a se levantar.
ㅡ Talvez foi, mas agora você ficará.
ㅡ ela ordenou. ㅡ Por pelo menos essa noite, não quero olhar as estrelas sozinhas hoje. ㅡ ela disse e aproximou a cadeira dela da dele.
ㅡ Tudo bem. Eu vou ficar. ㅡ Ikaris disse e Gaia sorriu.
ㅡ Eu não estava pensando em deixá-lo partir. ㅡ ela disse e ambos riram.
ㅡ Você já questionou nossa missão? ㅡ ele perguntou um tempo depois.
ㅡ Algumas vezes. ㅡ ela confessou o surpreendendo. ㅡ Nunca questionei estarmos aqui para proteger os humanos, não, isso eu sempre aceitei, mas de onde vieram os Deviantes, o por quê de não podermos interferir nas guerras, isso eu venho questionando bastante. ㅡ ela disse e Ikaris sentiu o peito apertar.
ㅡ Você já pensou em abandonar nossa missão? Já pensou em fazer algo diferente do que foi mandado? ㅡ ele perguntou.
ㅡ Na verdade, eu já pensei sim, você?
ㅡ Tenho pensado nisso ultimamente. ㅡ ele confessou, as palavras de Ajak ainda gravadas em sua mente.
ㅡ Acho que faz parte, vivemos por muito tempo, acho que questionar é normal depois de tudo. ㅡ ela murmurou.
ㅡ Você faria algo muito ruim por que foi ordenada a fazer? ㅡ Ikaris se amaldiçoou por ter uma boca tão grande e perguntar isso no calor do momento.
ㅡ Depende do quão ruim, eu acho.
ㅡ ela disse. ㅡ Mas nunca machucaria um inocente. Mesmo que fosse ordenada a o fazer.
ㅡ Mesmo que machucar esse inocente fosse trazer coisas boas para todos?
ㅡ Ikaris se amaldiçoou novamente.
Gaia o encarou e o deu um sorriso gentil, amável. Ela segurou a mão dele, entrelaçando seus pequenos dedos com os dele.
ㅡ Nada de bom vêm quando machucamos inocentes Ikaris, muitos não entendem isso. Mas tudo que precisa da morte de um inocente para prosperar não é algo bom. ㅡ ela disse amavelmente deixando Ikaris sem palavras.
ㅡ Gaia. ㅡ ele pensou em contar para ela. Ela o confortaria, ela faria algo, talvez até mesmo o ajudasse a ter Sersi novamente. ㅡ Eu tenho q-
ㅡ Olha, uma estrela cadente. ㅡ ela apontou para o céu, o interrompendo. ㅡ Faça um pedido.
"Eu desejo nunca fazer você ou Sersi sofrerem. Desejo nunca perder vocês". ㅡ ele pensou.
ㅡ O que você desejou? ㅡ ela perguntou curiosa, parecendo uma criança.
ㅡ Nada demais. ㅡ Ikaris deu de ombros, sem coragem para contar a verdade para ela. ㅡ Você?
ㅡ Eu desejei que você encontre a paz que está procurando. ㅡ ela sorriu e voltou a observar o céu.
Ikaris sentiu vontade de chorar por um momento.
"Acho que eu achei, pelo menos, parte dela." ㅡ ele pensou.
ㅡ Gaia? ㅡ ele chamou e ela se virou para ele.
ㅡ Sim?
ㅡ Obrigado.
ㅡ Pelo quê? ㅡ ela perguntou confusa.
ㅡ Por ser você.
Gaia sorriu, e Ikaris se sentiu em paz naquele momento. Bebendo um chá e olhando as estrelas, era algo tão simples, tão humano, mas ainda assim era perfeito, ele queria que Sersi estivesse alí também.
ㅡ Ikaris? ㅡ Gaia chamou um tempo depois.
ㅡ Sim?
ㅡ A resposta é não. ㅡ ela disse e ele a olhou confuso a fazendo rir.
ㅡ Não. Eu não odeio você Ikaris. Nunca odiei, muito pelo contrário.
ㅡ O que você descobriu? ㅡ Druig perguntou curioso.
Julien respirou fundo, tentando se acalmar e ordenar seus pensamentos, que estavam deverás confusos naquele momento.
Ela já estava vestindo roupas secas, e estava com uma bebida em mãos, qual era o nome da bebida mesmo? Ah, caipirinha.
O sabor era diferente da maioria das bebidas que a White já havia bebido, mas o efeito do álcool era mais que bem vindo agora que ela iria começar a falar sobre suas teorias e pensamentos para Druig.
O Eterno estava a olhando com curiosidade, parecendo um pouco aflito, um copo de água em mãos.
Ambos estavam sentados ao ar livre, ao redor de uma mesinha de madeira que continha mais bebidas e alguns aperitivos.
ㅡ Quando eu estava na água, eu escutei uma voz. ㅡ Julien confessou.
ㅡ Uma voz? ㅡ Druig disse com ceticismo.
ㅡ Olha, eu sei como isso pode soar, garota desmemoriada começa a ficar louca e escutar vozes. ㅡ ela zombou. ㅡ Mas tinha alguém na minha cabeça, alguém que nunca esteve na minha cabeça antes.
ㅡ Alguém que pode controlar mentes? Como eu? ㅡ Druig perguntou confuso e preocupado.
ㅡ Ele ou ela, não estava controlando minha mente ou até mesmo a invadindo, estava falando comigo, me instigando a enfrentar meus medos e me lembrar, estava dizendo coisas que eu não sei se são verdade.
ㅡ Julien murmurou e bebeu sua bebida em um único gole.
ㅡ O que essa voz disse exatamente?
ㅡ ele perguntou.
Julien percebeu que ele ainda estava cético, porém, queria saber o que ela tinha a dizer, queria saber das teorias dela, queria saber o que a estava incomodando e o que estava na mente dela.
E Julien apreciou isso.
Apreciou que ele a estava ouvindo.
Pela primeira vez em trezentos anos ela tinha alguém que a ouviria, não importa o quão difícil fosse acreditar nela.
ㅡ A voz me disse que eu fui criada por alguém com muitos nomes. E que eu sou muito poderosa. ㅡ ela confessou.
ㅡ Criada por alguém de muitos nomes? ㅡ Druig indagou. ㅡ Isso não faz muito sentido.
ㅡ Eu sei que não faz muito sentido, mas eu não pareço estar sofrendo de Mahd Wy'ry, talvez eu nunca tenha sofrido disso.ㅡ ela comentou.
ㅡ Minha mente fica meio bagunçada algumas vezes, mas eu não machuquei ninguém nos últimos trezentos anos, eu nem mesmo tive qualquer episódio de descontrole.
ㅡ Julien explicou.
Druig ficou pensativo, não sabendo ao certo o que falar ou fazer com as novas informações que ela o estava dando.
ㅡ J-Julien, nada disso faz muito sentido, Ajak disse-
ㅡ Eu sei o que Ajak disse. Você me contou. ㅡ ela o interrompeu. ㅡ Talvez a antiga eu não estivesse com Mahd Wy'ry, talvez ela só estivesse confusa, assustada com o que ela poderia estar se lembrando.
ㅡ Se lembrando? ㅡ Druig indagou confuso. ㅡ Eu não estou entendendo mais nada, Julien.
ㅡ Olha, eu tenho me lembrado de algumas coisas, pequenas coisas, como uma explosão e a imagem de planetas diferentes vistos do espaço. ㅡ ela confessou. ㅡ Eu não te contei ou até mesmo pensei muito nisso, porque eu pensei que não era nada demais, mas a voz me fez perceber algo.
ㅡ Planetas vistos do espaço? Uma explosão? Isso está ficando cada vez mais confuso Julien. ㅡ Druig disse e Julien encheu seu copo novamente.
ㅡ Você disse que a voz te fez perceber algo, o que foi?
ㅡ Eu acho... bom, vamos supor que talvez a antiga eu estivesse lembrando de algo que não deveria, algo que a assustou imensamente. ㅡ Julien comentou.
ㅡ Você teria contado para alguém, Ga-Julien. ㅡ Druig retrucou. ㅡ Teria dito para Ajak ou para um dos outros.
ㅡ Provavelmente. ㅡ Julien concordou. ㅡ Mas e se eu comecei a entender tudo tarde demais? E se eu só entendi e me lembrei de tudo quando eu estava na água, sozinha?
ㅡ ela indagou.
Pela primeira vez em muito tempo, Julien estava realmente querendo entender o que havia acontecido, queria até mesmo se lembrar de quem ela era.
Porque aquela voz havia a feito perceber muitas coisas, foi ironicamente, um divisor de águas na vida de Julien White.
ㅡ E o que seria essa coisa que você descobriu? E como isso poderia ter influenciado na sua perda de memória? ㅡ Druig perguntou.
Tudo que Julien estava dizendo era meio louco e não fazia muito sentido, entretanto, ele controlava mentes e ela controlava os elementos, eles não faziam muito sentido.
Além disso, era Gaia, obviamente Druig acreditaria em qualquer coisa que ela dissesse.
ㅡ Não sei qual é essa coisa, mas seja lá o que for, me assustou muito. ㅡ ela disse. ㅡ Seja lá o que for, foi o motivo da minha morte.
Druig apertou firmemente a mesa de madeira, com a mão esquerda, ao escutar a palavra morte.
Sua mente traidora o lembrando de segurar o corpo frio de Gaia, de a ver sem vida, sua mente o lembrou da dor que o perseguiu até dias atrás.
ㅡ Você está aqui. Não morreu. ㅡ ele falou com dificuldade.
ㅡ D-Druig. ㅡ Julien chamou calmamente, a mão dela tocando a mão dele que segurava na mesa de madeira. ㅡ Eu sei que isso pode ser difícil pra você, mas algo aconteceu naquele dia no mar, e eu tenho certeza que eu morri. ㅡ ela disse o mais doce que pôde.
ㅡ Se... se você...m-morreu, como você pode estar aqui? ㅡ Druig perguntou, a voz falhando.
ㅡ Eu não faço a menor ideia, talvez meus poderes me ajudaram, talvez... eu não sei, mas eu tenho quase certeza que eu morri, que alguém ou algo tentou arrancar parte de mim, minhas memórias. ㅡ Julien disse soltando a mão de Druig.
ㅡ Nada disso faz sentido. ㅡ Druig murmurou baixo.
ㅡ Eu me senti assim por trezentos anos, você se acostuma com o tempo. ㅡ Julien brincou e riu levemente.
Druig se pegou sorrindo, mas seu sorriso se desfez rapidamente.
ㅡ As vezes penso que você não é real. ㅡ ele confessou. ㅡ As vezes penso que fiquei louco e que você é apenas fruto da minha mente perturbada pela dor. Penso que você vai desaparecer do nada, e eu vou ficar sozinho novamente.
Julien sorriu tristemente e voltou a segurar a mão esquerda dele.
ㅡ Eu não sei como isso é possível ou se um dia eu vou me lembrar de tudo, mas eu sou real D-Druig. ㅡ ela disse encarando o Eterno com carinho.
Ele parecia tão quebrado, assim como ela.
Druig sentiu seus olhos lacrimejarem, e as lágrimas saíram sem a permissão dele.
Ele se livrou da mão dela e se levantou abruptamente.
ㅡ Desculpe... eu-
ㅡ Ah Druig. ㅡ ela sussurrou e se levantou da sua cadeira, se aproximando dele e o puxando para um abraço.
ㅡ Eu sinto muito...eu-
ㅡ Ei. ㅡ ela repreendeu o abraçando mais forte. ㅡ Tudo bem chorar Druig, algo me diz que você tem fingido ser forte por tempo demais.
Druig a segurou contra si fortemente, chorando baixinho e murmurando que sentia muito.
Julien não se importou em o abraçar, muito menos se importou com as lágrimas dele que molhavam sua camisa, tudo que importou naquele momento foi que ele ficasse bem.
Julien segurou às próprias lágrimas enquanto dizia pra ele que tudo ficaria bem, que ela estava alí.
E por um momento, ela escutou um sussurro em sua mente, escutou uma frase que fora dita a muito tempo, uma frase gravada em seu coração, dita por alguém que a amava:
"ㅡ Minha linda, linda Gaia. Eu te amo mais do que qualquer outra coisa."
E naquela entardecer, Julien White estava mais próxima de ser Gaia do qualquer outro dia nos últimos trezentos anos.
I. Oiiee pessoas. Novamente aqui kkkkk.
II. O que acharam do capítulo? Gostaram?
III. Eu gostei muito desse capítulo, principalmente porque a Gaia e o Druig aos poucos estão se aproximando e sendo amigos novamente, a Gaia também aos poucos tá se lembrando das coisas.
IV. A relação e as interações da Gaia com o Ikaris são umas das minhas coisas favoritas de escrever. Eles realmente parecem irmãos e, pequeno spoiler, o Ikaris, depois do Druig, obviamente, foi aquele que mais sofreu a morte dela. Espero que vocês tenham gostado da interação deles sozinhos.
V. É isso, nos vemos em breve. Vou tentar postar outro capítulo no domingo, mas não posso prometer nada kkkkk.
Byee ♡.
BY: Duda
2021.
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