Capítulo Trinta

Na manhã seguinte, havia uma bandeja de comida depositada em frente a porta da cela do lado de dentro. Era muito generosa ― cheia de frutas, pães e frios ― eu sabia que aquilo não era por minha causa e sim pelo bebê. Não me importei. Comi tudo avidamente, pois estava morta de fome.

Após a saída de Alexy no dia anterior, eu vomitei pelo que pareceu horas e acabei cochilando, quando acordei havia comida, mas meu estomago mal suportava o cheiro daquilo e dormi novamente.

O platinado só apareceu no que eu julgava ser início da noite. Ele trazia consigo um par de roupas e um sorriso no rosto angelical.

― Você parece horrível hoje, querida. Se banhou? ― Perguntou se aproximando das barras e segurando duas delas.

Continuei deitada encarando o teto amarelado sem muita vontade de falar ou olhar para ele.

― Não ― entoei de forma desanimada que não requereu muito da minha energia.

Aquilo despertou algo nele e o sorriso se foi.

― Pare de sentir pena de si mesma ― esbravejou ― Pegue essas roupas, tome um banho, faça algo de útil ― disse elevando um pouco a voz.

Eu queria meu caderno de desenhos para poder aliviar o estresse e meu diário para poder relatar tudo o que estava acontecendo ali, mas não tinha nenhum dos dois e duvidava que ele me oferecesse alguma daquelas coisas mesmo se eu pedisse:

― Não há nada que eu possa fazer aqui, além de enlouquecer ― retruquei. Pelo menos, até que eu conseguisse fugir, mas essa parte eu guardei para mim.

Ele suspirou e pareceu tentar controlar sua raiva.

― Você tem que fazer algo para evitar esse prognostico deprimente ― proferiu por fim.

― Por quê? ― Questionei levantando a cabeça sem vontade. ― Por quem?

― Por você! ― Gritou perdendo as estribeiras.

Ri e me perguntei por um segundo se estava mesmo ficando louca. Era uma possibilidade que eu não podia e nem iria descartar tão cedo.

― E o que eu vou ganhar com isso?

― O que você pode perder com isso? ― Retrucou.

Suspirei.

― Minha vida acabou, Alexy, não faz sentido ignorar esse fato por autopreservação.

Ele balançou a cabeça frustrado.

― Sua vida não acabou só porque ela não vai ser como você esperava que fosse. Só porque é diferente não significa que seja ruim ― declarou parecendo tão vulnerável que por apenas um momento eu senti pena dele, mas aquilo não era o suficiente para que eu desse o braço a torcer.

― Eu estou em uma cela ― falei pausadamente contendo a vontade de gritar da melhor maneira que eu pude.

Ele suspirou mais uma vez parecendo insanamente exasperado.

― Você vai sair daqui em poucos dias, só precisamos esperar ― ele fez um gesto em direção a minha barriga ― essa criança nascer.

Isso me fez parar.

― O que você quer dizer com poucos dias, Alexy?

Ele empalideceu e não respondeu. Eu soube naquele momento que tinha atingido o ponto certo.

― Você disse que eu nunca mais sairia daqui ― lembrei.

― Eu não me referia a cela, ― suspirou e bagunçou os cabelos ― me referia ao complexo como um todo.

― Mas você também disse que eu só sairia quando o bebê nascesse, Alexy e eu duvido que isso aconteça em poucos dias ― cuspi.

― Eu não posso dizer mais nada, Luna ― não deixei de registrar que essa foi a primeira vez que ele me chamou pelo nome ― Venha, pegue essas roupas, tome um banho e pense no que eu disse. Amanhã nós passearemos um pouco e talvez você comece a se acostumar melhor com a ideia do seu futuro como está escrito nas linhas do Destino.

― Destino esse que foi escrito por vocês ― atirei. ― Vocês interferiram na minha vida, tiraram as minhas possibilidades, não culpe as linhas do Destino por isso.

― Chame do que quiser, linda, isso não muda o que é ― disse com um sorriso voltando a ser o sádico que eu conhecia. De alguma maneira, aquilo era menos assustador do que um Alexy vulnerável as minhas palavras atrevidas. ― Cuide de você mesma e não desista de viver por um mero tropeço no meio do caminho.

Eu queria gritar, queria fazê-lo ver a verdade, queria que Nicholas me tirasse daquele inferno, mas ao mesmo tempo eu sabia que nenhuma daquelas três realidades aconteceriam.

Eu estava presa ali, largada a minha própria sorte.

Ninguém viria me salvar e a probabilidade de conseguir salvar a mim mesma era muito escassa.

Cedendo, peguei as roupas e os objetos de higiene pessoal. Esperei que ele saísse de vista para tomar banho e me trocar.

Talvez Alexy tivesse razão. Não havia chance de fuga para mim, mas minha vida também não precisava ser tão miserável.

No fim da tarde do dia seguinte, ele me trouxe um vestido longo e fechado até a garganta para que saíssemos de lá.

A indumentária teimou a passar pelos meus quadris e percebi um leve declive no abdome. Franzi as sobrancelhas para isso. Pelas minhas contas eu tinha pouco mais de um mês de gestação, então era cedo demais para estar ganhando peso e enfrentando mudanças no corpo, mas eu podia jurar que estava mais magra no dia anterior.

Alexy me vendou com um pano preto e só tirou a venda quando chegamos do lado de fora, já longe do "complexo". Chamar aquele lugar horrível da mesma forma que eu chamava a minha casa, me deixava com um amargor horrível no estômago, mas era assim que Alexy o chamava e nos últimos dias com todas as preocupações rondando a minha mente fui incapaz de pensar em um nome melhor.

O lugar onde tinha me levado era ermo, um campo aberto. Nem sequer a grama era verde, tudo estava sem vida, como eu.

Ele não falou nada e como nunca fui de esperar calada, achei melhor começar.

― Por que você me fez vestir esse vestido horrível? ― Perguntei quando começamos a andar. Ele pegou meu braço e mesmo odiando aquela proximidade sabia que não tinha escapatória; ele não me deixaria correr para longe.

― Você tem que se acostumar a se vestir assim, querida. Não quero nossos soldados se machucando, pois estão distraídos observando o belo corpo da minha esposa. Eles têm que se focar no treinamento para a guerra, na luta, na batalha, no sangue e não em luxuria, teremos tempo para isso quando tudo acabar.

Ele sempre me surpreendia quando falava dessa maneira. Ele ainda era tão jovem que eu acabava esquecendo que ele era, na verdade, o General do lado inimigo e falava sobre as suas responsabilidades como um ancião.

― Quantos anos você tem, Alexy? ― Perguntei curiosa.

Ele levantou uma das sobrancelhas claras para mim.

― Não sei se gosto da ideia de você me chamar pelo primeiro nome, podem pensar que isso seria falta de pulso firme da minha parte ― declarou visionário. ― Minha esposa tem que ser a primeira a demonstrar respeito por mim.

Eu queria gritar em exasperação, mas ao invés, respirei fundo e me acalmei.

― Quantos anos tens, General Stoneblood? ― Questionei fingindo um tom doce.

Ele sorriu daquele jeito estranho, como sempre fazia, como se nunca tivesse dado um sorriso verdadeiro na vida e o melhor que pudesse fazer fosse aquela tentativa pífia e tenebrosa.

― Assim está muito melhor, querida. Respondendo a sua pergunta, tenho vinte e dois anos. Por quê? Te enoja a ideia de casar-se com um homem mais velho? ― Indagou.

Queria dizer que não. Que o meu verdadeiro marido era mais velho que eu, mas eu era uma aprendiz rápida e já estava descobrindo como lidar com ele.

― Não, apenas estou curiosa sobre o que te levou a ter uma posição tão alta sendo ainda tão jovem ― confessei enquanto chutava uma pedrinha perdida na grama seca.

Ele parou de andar abruptamente, puxando-me rudemente pelos ombros para que eu parasse também.

― Você está insinuando que eu não sou digno da minha posição? ― Indagou rispidamente, os olhos faiscando. Soube naquele momento que havia atingindo outro ponto sensível.

― Não ― respondi rápido um pouco assustada pela sua reação ― estou apenas curiosa. Não sei nada sobre o seu mundo.

Deve ter sido a resposta certa, pois ele relaxou visivelmente e entendi que ele odiava ter seus méritos tirados de si.

― Consegui o que tenho por esforço, trabalho, dedicação e noites em claro. Foi assim que cheguei onde estou, mesmo que para você eu ainda seja jovem. E o tempo passa de forma diferente por aqui, querida, e creio que você logo vá perceber isso.

― Gostaria de entender o que tudo isso significa ― falei não esperando uma resposta que eu sabia que não viria.

― Se você é tão inteligente quanto eu acho que é ― sorriu ― vai entender tudo muito em breve ― concluiu misteriosamente.

― Na verdade, isso não revela muito ― retruquei.

― Mas é tudo o que eu posso te dizer por agora, querida.

Como aquilo era mais do que ele havia me dado em dias, aceitei.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top