Capítulo Treze
Quando Abigail nos viu, ela arregalou os olhos, suas sobrancelhas subindo até a linha do cabelo.
― Qual de vocês se machucou? ― Perguntou parecendo decepcionada, mas não surpresa.
Franzi as sobrancelhas para ela.
― Por que um de nós estaria machucado? ― Questionei, mais confusa que incisiva.
― Vocês ganharam? ― Indagou subitamente com um meio sorriso.
Henry lhe entregou a caixinha de joias. Ela abriu e olhou maravilhada para seu conteúdo.
― Quem de vocês achou? ― Questionou.
― Luna ― respondeu o moreno calmamente.
Ela pegou de dentro da caixa um colar dourado de pêndulo vermelho, antes de depositar a caixinha em minhas mãos.
― Vire-se ― ordenou-me.
Fiz como me foi mandado e senti o pêndulo gelado do adereço ser depositado na minha clavícula.
― O colar de Sophia Chan Young agora é seu, Luna Canberight, nossa Amazona das Estrelas. A festa que ocorrerá amanhã será grande como jamais foi feita ― declarou com tom brilhante. ― Os últimos serão os primeiros assim como foi escrito no livro sagrado ― suspirou parecendo realizada.
Todos pareciam meio constrangidos com a demonstração de reverencia da morena. Henry encarava os pés e Florence admirava as unhas esverdeadas. Meg tinha sumido antes de entrarmos e Alicia encarava Abigail com tanta força que o ar parecia elétrico, mas não era para ela que a mais velha olhava. Era para mim.
― Abigail ― atraiu a loira. ― Podemos conversar rápido? ― Ela pareceu hesitar. ― No seu escritório ― adicionou.
A morena deu um passo para trás assumindo novamente a postura rígida. Ela suspirou novamente, mas dessa vez o som pareceu simulado.
― Vão dormir crianças, vocês terão um dia bem longo amanhã ― seus olhos se fixaram na de olhos cinzas. ― Vamos, Alicia.
Assistimos as duas partirem firmemente e enquanto subíamos as escadas me aproximei de Henry.
― Então ― comecei. ― Subiremos para o primeiro lugar? ― Perguntei.
Ele riu alto. A histeria foi tão grande que ele parou no degrau em que estava e teve espasmos até que saíssem lagrimas dos seus olhos. Florence deu uma risadinha silenciosa como tudo nela.
― Nunca ― falou ainda rindo. ― Iríamos para noventa e oito se tivéssemos chegado mais cedo, mas falta pouco para a meia noite, já é quase sexta-feira ― deu de ombros ― subiremos para noventa e nove graças a você, Luna, o que já é um grande avanço.
Nos despedimos e fomos para os nossos respectivos quartos. Tomei um longo banho e tentei relaxar, mas toda a aura daquele lugar pavoroso fez com que eu tivesse dificuldades para dormir.
Josephine foi ao meu quarto bem cedo, com a desculpa de entregar o vestido que eu usaria naquela noite de festa, mas quando ela pôs os olhos sobre mim e os braços a minha volta, ela apenas não conseguia me soltar.
Ela era realmente muito mais forte do que parecia.
― Que bom que vocês conseguiram! ― Exclamou com os olhos cheios de lágrimas. ― Você é a Amazona das Estrelas, mas quem poderia negar com estes olhos?
Tentei respirar fundo, mas ela me apertava com tanta força que minhas palavras saíram em respirações rasas.
― O que há de errado com os meus olhos? ― Perguntei cansada de ouvir todos falarem sobre eles como se fossem algo mágico. Fora do complexo eles sempre causaram espanto, mas ali parecia que todos os assuntos comigo fossem baseados no formato e cor incomuns dos meus olhos.
Ela finalmente me soltou e eu suspirei de alívio.
― Existem algumas... ― ela hesitou parecendo procurar a palavra correta. ― Profecias antigas ― completou. ― Existem inúmeras, muitas já aconteceram, muitas ainda não, mas especulasse que três delas sejam sobre você.
― Sobre mim? ― Repeti como uma idiota.
― Sim, sobre você, mas não é o momento para falarmos sobre isso ― suspirou com um tom de finalidade. ― A Amazona das Estrelas merece estar majestosa na noite de sua vitória, então eu te trouxe um vestido que pertenceu a mesma mulher dona do colar.
― Sophia? ― A mesma mulher que invadia meus sonhos e me dava uma sensação ruim?
― Sim ― declarou sem olhar para mim colocando o vestido sob a cama.
Será que finalmente seria o meu momento de esclarecer tudo isso?
― Quem ela era?
― Eu não a conheci ― falou se sentando na cama. Repeti o gesto me acostando ao seu lado. ― Abigail, sim. Eu e Johanna morávamos no Complexo fixo com nossos pais. Abigail é filha de Camélia, a Highter da época e vivia aqui com a mãe ― deu de ombros. ― Eu não sei muito sobre ela, só o básico, o que aprendemos sobre quem foi importante. Seu pai havia nascido na parte asiática de Samuel, sua mãe na parte ocidental de Adosia, o que gerou os olhos puxados.
― Assim como os meus?
Ela balançou a cabeça e me dispensou com um gesto manual.
― Os olhos dela eram tão castanhos quanto os seus cabelos são ― seus olhos se desviaram para o quadro em minha parede. ― Temos um retrato dela em um dos andares superiores.
Adam não estava mentindo, então.
― Continue ― pedi. ― Por favor.
― Ela se relacionou com um dragão. Jonathan Draacon. O que levou uma gravidez ― seu nariz se franziu em reprovação. ― Os dois não tinham um relacionamento de verdade, pelo menos não um oficial e quando ela ficou grávida, apenas o abandonou ― enrolou uma mecha do cabelo loiro entre os dedos finos. ― E quando a criança nasceu, Sophia não deixava ninguém chegar perto dela, se tornou absurdamente superprotetora ― suspirou. Ela pareceu se perder nos próprios pensamentos e ficou em silêncio.
― Jose? ― Chamei sua atenção. Ela se empertigou e continuou.
― Ela morreu em um ataque ― pronunciou. ― Todos se esconderam nas catacumbas, e quando Camélia estava fazendo a última checagem, função de um Highter, ela apareceu com o pequeno embrulho nos braços e o entregou com a desculpa que precisava de um grimório ― ela pareceu se revoltar. ― Quem precisa de um livro de feitiços para se esconder? ― Revirou os olhos. ― Enfim, não vem ao caso o quão absurdo era a sua desculpa, pois ela foi uma heroína no final das contas.
― O que ela fez? ― Perguntei com necessidade de saber.
― Ela matou mais de cem soldados antes de ser pega, mas ela foi e...
― E? ― Incentivei.
― Camélia não sabia o que fazer com aquela criança, Luna ― me olhou nos olhos. ― Uma garota sem mãe e sem pai, aqui não é um lugar para crianças, principalmente não tão pequenas ― seus olhos tinham um brilho afiado, mas ela balançou a cabeça. ― Em um último ato desesperado, ela fez um anúncio dizendo que estaria dando a criança para um casal confiável, perguntou se alguém discordava ― ela franziu as sobrancelhas claras. ― Creio que intenção fosse tirar uma reação de Jonathan, mas tudo o que ele disse foi que deveria ser ele a entregar a criança. O que ela deveria fazer? Voltar atrás? Obrigá-lo a ficar com a sua filha? ― Ela suspirou e se levantou parecendo chateada. ― Céus, o que eu estou fazendo? Você deveria estar animada e não pensando em coisas assim ― ela se virou para sair, mas eu a impedi.
― Josephine ― ela parou, mas não se virou. ― Eu tenho algumas perguntas, por favor?
― Abigail vai te dizer o que quer saber, Luna, assim que receber seu prêmio pela vitória no Guide ― declarou parada em frente a porta.
― Onde está enterrado o corpo de Sophia? ― Perguntei em um ímpeto antes que ela saísse.
― O corpo nunca foi encontrado, levaram com eles, provavelmente queimaram como desrespeito a memória dela ― ela respondeu sem sequer olhar para trás.
Aquilo me confundiu.
― Mas então como sabem que ela realmente morreu se não há um corpo?
Ela finalmente se virou parecendo infinitamente desgostosa com o ato.
― Sophia era uma mulher de segredos, Luna e imagino que ela soubesse que iria morrer logo, pois ela escondeu a caixinha de joias que você encontrou com poucos meses de gravidez e antes do parto enfeitiçou duas coisas, uma gargantilha e um gato.
― Um gato? ― Repeti atordoada. ― Mas após todo esse tempo o bicho já estaria morto! ― suspirei e ela fez aquele aceno com a mão novamente para que eu me calasse.
― O gato é imortal, o que pode ser meio irritante às vezes, já que ele aparece de tempos em tempos, mas a gargantilha se partiria com a sua morte. Dizem que ela repetiu inúmeras vezes que de nenhuma outra forma aquilo se quebraria, e estava partido em dois quando chegaram ― ela suspirou, cansada. ― Agora chega de histórias antigas e tristes, aproveite seu baile. Mais dois grupos acabaram de chegar e eu tenho que prepará-los para essa noite.
No momento em que as palavras saíram de sua boca qualquer pensamento sobre aquela história me abandonou. Tudo o que eu conseguia pensar era Nicholas.
― Qual grupo? ― Perguntei com a voz uma oitava mais estridente do que o normal devido ao meu desespero insano.
― O um e o três ― respondeu com um sorriso suave. ― Você deveria ter visto a cara do líder do um quando ele soube que não tinha ganhado, foi hilário, eu simplesmente não conseguia parar de rir ― tagarelou ― foi inevitável, ele se atrasou muito esse ano, não sei o que houve de errado, mas Crown deve lhe ter dado uma tarefa quase impossível como represália ao fato de ele ser um babaca ― ela revirou os olhos e deve ter visto minha decepção, pois se apressou em completar ― O grupo quatro vai chegar logo, querida. Aproveite essa noite, você merece.
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