Capítulo Seis

Quando minha vista voltou a clarear, eu percebi que, apesar da fraqueza em minhas pernas, ainda estava em pé e assustadoramente ainda estávamos em formação. Abigail sofreu um calafrio e intercalou os arrepios com sorrisos.

― Espero que isso tenha sido tão revelador para vocês, quanto foi para mim ― meditou. ― Próxima etapa do Koin, um passo à frente seu nome e idade. Um passo para trás em sinal de respeito. Reverencias com veracidade e tudo será perfeito ― rimou. ― Vamos, crianças, apresentem-se para Crown.

Em um outro momento eu teria rido do versinho ridículo, mas após aquelas visões bizarras, eu estava abalada demais para algo tão mundano. A mulher cujo qual eu tinha visto o rapaz entregando a bebê, era minha mãe, Camille. Aquilo não era verdade, não podia ser. Algo naquele lugar, fosse o ar ou as trepadeiras nas paredes, havia me feito ter alucinações e eu não me permitiria pensar mais naquela maluquice.

Uma garota de cabelos pretos deu um passo vacilante à frente. Ela estava com vestido e sapatos azuis e os seus olhos, da mesma cor, brilhavam sob a luz dos holofotes.

― Meredith Grace, 14 anos.

Ela deu um passo para trás deixando que o garoto ao seu lado falasse. Ele tinha pele escura, cabelos e os olhos pretos e usava uma camisa social e calça jeans.

― Bellamy Clarke, 18 anos.

A garota loira ao meu lado se aprumou.

― Jackeline Zaccadelli, 15 anos.

Respirei fundo.

― Luna Canberight, 16 anos.

Nicholas me puxou para trás e falou rápido:

― Nicholas Sumnit, 17 anos.

O garoto de jaqueta de couro ao seu lado achou graça.

― Hunter York, 18 anos.

A garota negra de vestido preto transpassado, lambeu os lábios:

―Dakota Skyline, 16 anos ― disse com a voz enjoada.

A garota pálida de vestido cinza ao lado dela levantou as sobrancelhas antes de cuspir as palavras.

― Jenna Daniels, 15 anos.

O homem ao seu lado era assustador. Tinha pele esverdeada, seu cabelo estava cortado rente e seu lábio e supercílio estavam costurados, como se tivesse acabado de sair de uma batalha. Dentre todos nós ele era o único que parecia adulto realmente. Quando se pronunciou sua voz era rouca e ressequida. Era como uma múmia soaria, caso pudesse falar e pensar nisso me deu calafrios.

― Abraham Constantin, 18 anos. ― Não me lembrava de ouvir seu nome nos Anúncios, mas seu sobrenome vinha logo após o meu e era possível que eu houvesse ficado muito debilitada para, de fato, ouvir algo além do sangue correndo nos meus ouvidos naquele momento.

Ele se afastou e encarou, com algo muito parecido com carinho, o garoto pequeno a sua esquerda.

― Maxwell Aberthany, 15 anos ― disse o pequeno ruivo ao seu lado.

A garota loira de vestido verde e óculos parecia preferir estar em qualquer outro lugar que não fosse ali.

― Skylar Thompson, 14 anos.

O garoto ao seu lado parecia sufocar uma risada. Seus cabelos pretos quase azuis estavam arrepiados e seus punhos cerrados pareciam fonte interminável de faíscas.

― Ezra Darksoul, 17 ― ele não terminou a frase, simplesmente revirou os olhos e voltou para a posição original.

Um jovenzinho loiro com sorriso verdadeiramente amigável veio em seguida, ele parecia um dos poucos realmente felizes por estar ali.

― Jacob Rosati, 13 anos.

O garoto de cabelo preto a sua esquerda piscou quatro vezes antes de conseguir falar.

― Meu no-nome é Ta-te-te Jones, tenho 18 an-ano-anos.

A última do círculo uma garota de cabelos ruivos e enormes olhos castanhos que estava vestida toda de laranja, para combinar com o cabelo, imaginei, falou tão rápido que foi quase impossível entender:

― Amélia Pound, 15 anos.

― Muito bem ― declarou Abigail com um sorriso satisfeito. Após uma pausa completou: ― agora vocês serão levados aos seus respectivos quartos e terão o jantar servido lá. Amanhã será o seu Firsting ― ao ver o nosso olhar confuso completou. ― Jantar de Iniciação. As roupas para tal, serão distribuídas amanhã à tarde. Espero que aproveitem o jantar de Iniciação, não existe nenhum outro que se compare ao primeiro. Até amanhã.

Ela apontou para a porta de vidro onde aguardavam várias mulheres uniformizadas. Elas nos levaram para os nossos quartos e dei graças por meu não ficar tão longe das escadarias, já que tinha medo de me perder naquele lugar enorme. Na confusão, me perdi de Nicholas.

Nem consegui apreciar a beleza do quarto luxuoso, apenas notei que minha mala estava em cima da cama. Emocionalmente exausta, eu só conseguir tomar um rápido banho, vestir o meu pijama favorito, comer toda a comida que me trouxeram e dormir até as duas da tarde.

Quando acordei, o almoço estava na escrivaninha em frente a cama. Comi e tomei um longo banho quente, tentando me acostumar a fazê-lo em uma banheira.

Finalmente descansada, pude admirar o quarto. A cama era enorme e eu sabia em primeira mão o quanto ela era macia. O armário ao lado da porta do banheiro era branco e dourado, assim como a escrivaninha e a penteadeira do outro lado do quarto. Havia um quadro simples, apenas um barco no mar, sobre a escrivaninha e uma grande janela ao lado da cama. Em cima da mesinha de cabeceira tinha um relógio dourado e um porta-retratos vazio. Decidi que seria uma boa ideia vasculhar tudo em busca de alguma resposta e foi o que eu fiz. Infelizmente, tudo o que eu encontrei foram materiais básicos de papelaria, um pente, e um sapato fechado pequeno demais para os meus pés número 38. Olhei também o armário do banheiro, que continha apenas um vidro de perfume pela metade e um prendedor de cabelo daqueles que parece um palito com decoração na ponta.

Desenterrei da mala meu caderno de desenhos, as duas fotos que havia trazido e um bloco de anotações. Coloquei a foto dos meus pais no porta-retratos vazio e colei a foto de Julian e eu na primeira página do bloco. Por fim, na segunda página, comecei a escrever.

Meu nome é Luna Canberight, tenho dezesseis anos, nasci no dia 17 de setembro de 2766. Eu fui picotada em uma terça-feira, dia 20 de julho de 2782.

Se você está lendo isso ou estou morta ou você é muito enxerido. Se for a segunda alternativa, dê o fora enquanto ainda há tempo e jamais me conte. Agora, se eu morri, quero ter pelo menos a ilusão de que isso chegará às mãos daqueles que amo.

Ajeitei-me na cama avaliando a ideia de ir me sentar na escrivaninha. Descartei-a.

Eu cheguei nesse lugar ontem e não faço à menor ideia de onde fica. O imóvel se assemelha a um castelo como nos livros de história ou talvez, seja mais apropriado dizer que parece saído direto de um conto de fadas.

Ontem tivemos o nosso Koin e nele obtive estranhas visões que ainda não consegui compreender. Hoje será o nosso Firsting, jantar de iniciação disse Abigail Bayliss.

Obs.: Não pensei sobre o beijo com Julian, eu provavelmente nunca o verei novamente.

Fechei o bloco e o guardei dentro da mala. Peguei o caderno de desenhos e o estojo de lápis que Charlotte me dera quando eu tinha dez anos. Sentei-me no parapeito da janela e comecei a desenhar o labirinto por onde Josephine havia nos guiado.

Eles definitivamente não deveriam cultivar uma cerca viva em formato de labirinto, se os possíveis fugitivos conseguem ver toda a sua planta de suas janelas.

Duas batidinhas na porta me tiraram dos meus devaneios sobre fugas.

― Boa tarde, Luna ― disse Josephine entrando com várias capas pretas gigantes protegendo seu conteúdo em seu braço esquerdo.

― Ótima ― respondi sarcástica a fazendo sorrir.

A loira depositou uma das capas sobre a cama antes de falar novamente:

― Aqui estão suas roupas para essa noite ― declarou se afastando.

― Era sobre isso mesmo que eu queria falar, para quem eu devo devolver as roupas de ontem e de hoje? ― Questionei fechando o caderno e me voltando para ela.

Ela riu suavemente:

― Não se preocupe com isso, quaisquer que sejam os vestidos, os saltos ou as joias que receber aqui são seus. O que quer que tenha aqui no quarto também, apesar de eu não achar que Samantha tenha deixado muita coisa.

Alerta vermelho! Quem era Samantha?

― Quem?

― A garota a quem esse quarto pertenceu antes. Ela foi para o complexo fixo, na ilha de Ló, quando completou vinte e um anos, cinco anos atrás.

Ilha de Ló?

― Ficamos aqui até os vinte e um anos? ― Perguntei.

Ela arregalou os olhos.

― Eu já falei demais. Esteja lá embaixo às 19 horas. Eu ainda tenho outros seis quartos para ir. Tchauzinho, Luna. ― E saiu como uma flecha do quarto.

É, parece que ninguém vai me dar explicações por aqui.

Curiosa, abri a capa tirando de dentro um belo vestido longo, em tons de roxo. Os sapatos da mesma cor com um lacinho charmoso, não ficaram de fora. O que mais me chamou atenção, porém, foi à pequena caixinha no fundo, que tinha os brincos mais lindos que eu já vi. Não há como explicar como eles se pareciam, era como se uma gota de chuva houvesse pegado fogo em pleno ar. Lindo.

Nunca havia me vestido com tanto luxo e me senti como uma mulher adulta colocando o vestido na frente do meu corpo diante do espelho. Eu tinha a sensação de que aquela seria uma noite para se lembrar.

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