Capítulo Onze

Eu estava desenhando na sala de televisão naquela manhã quando as notícias fizeram com que eu me sobressaltasse. Ataques rebeldes haviam acontecido em três subseções naquela noite. Isso não acontecia desde o final do mundo antigo. Algo estava muito errado.

Passei o resto do dia com aquela sensação de coisa ruim na boca do estomago até encontrar uma situação em um dos corredores que só agravou aquele sentimento.

Max estava encolhido em um canto, o rosto todo vermelho, até a ponta das orelhas, claramente sendo intimidado pela garota a sua frente. Ela tinha pele escura, cabelos curtos e usava uma jaqueta tingida pendendo nos ombros.

― Você me entendeu? ― perguntou a ele. ― Espero não precisar me repetir!

― Ei! ― chamei me aproximando daquela cena. ― O que pensa que está fazendo?

A garota mal me mediu com os olhos antes de se voltar ao ruivo.

― Cuide da sua vida, novata. Não há nada para você ver por aqui.

― Olhe para mim quando eu falo com você ― demandei puxando seu braço. ― Que tal tentar intimidar alguém do seu tamanho?

A verdade é que ela era mais alta que eu, mas eu não estava disposta a deixar o pequeno Max sofrer nas mãos daquela valentona.

― Não tenho nada a tratar com você, intrometida. Meu assunto é com esse bichinho aqui ― ela deu um sorriso afiado para o pequeno. ― Ou devo dizer bichinha?

― Não fale assim com ele ― a puxei com mais força. Seus olhos se voltaram para mim, presas despontando e por um momento eu senti medo. Eu definitivamente ia ter uma conversa com Henry sobre os membros de sua alcateia. De repente, ela começou a fazer um som choroso como o ganido de um cachorro.

― Seus olhos ― falou antes de se afastar de nós dois. ― Não chegue perto de mim! ― exigiu antes de dar mais alguns passos para trás e sumir pelo corredor. ― Não se aproxime de mim! ― gritou uma última vez.

― Garota maluca ― sussurrei chacoalhando a cabeça. ― Você está bem?

Max me olhava como se eu fosse algum tipo de heroína sem capa.

― Obrigada pela ajuda, Luna ― ele fez uma careta. ― Mabel pode ser realmente malvada quando quer.

Lhe olhei de soslaio.

― Isso anda acontecendo com frequência?

Ele desviou os olhos castanhos bonitos.

― Está tudo sob controle.

― Por que você não disse a alguém sobre o que ela te perturbando? ― inquiri delicadamente.

Ele pareceu irritado.

― Já pareço uma criança pela minha altura, não queria pedir ajuda como uma também.

Segurei firmemente em seus ombros e o fiz manter meu olhar.

― Escute bem, Maxwell. Não há infantilidade ou fraqueza em pedir a ajuda dos outros. Todo ser humano precisa do apoio de outro, é parte da nossa biologia, não há vergonha nisso. Promete que vai falar comigo se ela voltar a te maltratar? ― segurei seu queixo magro.

― Prometo ― respondeu com os cantos da boca se levantando.

― Você viu o Henry? ― perguntei para a decima dríade que passou por mim no corredor e como todas as outras, ela me olhou como se eu fosse louca antes de responder que não. ― Dakota! ― gritei quando a vi passando apressada. ― Você viu Henry?

Ela me deu um sorriso que eu não entendi.

― Ele estava na biblioteca da última vez que eu vi ― falou rapidamente antes de ir embora arrumando o cabelo.

A biblioteca não parecia ser o elemento de Henry, mas Dakota estava certa e foi lá que o encontrei. Ele pareceu surpreso ao me ver e eu fui direto ao assunto:

― Você deveria controlar melhor sua alcateia ― atirei.

Ele levantou as sobrancelhas.

― Garras afiadas essa manhã, nem ao menos um olá ― ele suspirou. ― O que houve dessa vez?

― Eu encontrei uma tal de Mabel ― torci o nariz ― intimidando Maxwell Aberthany.

― O baixinho ruivo? ― acenei e ele tocou as têmporas como se sentisse uma dor de cabeça chegando. ― Isso é a cara dela, ir atrás de quem não pode se defender. A alcateia é algo complicado, Luna, deveríamos ser uma família, mas alguns de nós estão sempre buscando demonstrações de força, mesmo que as mais covardes. Eu vou dar um jeito nisso, pode ter certeza, se ela quer agir como uma covarde será punida como uma. Você fez o certo, Luna, se vir os meus lobos aprontando não tenha medo de se reportar a mim como fez hoje. Você foi muito corajosa.

Me senti lisonjeada pelo elogio, mas a última coisa que eu me sentia naquele momento era corajosa.

No jantar de domingo, Abigail nos deu uma notícia que, levando em consideração as reações obtidas, era chocante.

― Eu decidi, junto a Johanna, que esse ano faremos o Guide antes do Scan ― declarou sucinta.

Minha mente me levou de volta para a estranha conversa que eu havia escutado.

Um som de surpresa percorreu os veteranos e um burburinho se iniciou entre eles.

― Silêncio, crianças ― pediu Abigail.

― Qual é o porquê disso? ― Berrou um dos amigos de Henry.

― Fizemos algo de errado? ― Perguntou Florence.

― Não é nada disso ― ela ponderou, os lábios em uma linha fina ― apenas aconteceu algo que não estava em nossos planos. Não foi nada de grave lhes garanto. O Guide acontecerá antes do Scan e isso é tudo, não há motivo para alarme.

― Isso não é justo ― berrou uma garota pálida como um fantasma e com o cabelo muito preto para ser natural. ― E se ficarmos com um inútil em nosso grupo?

Abigail bateu a mão na mesa com raiva.

― Nenhum deles é inútil, May. E se você disser isso mais uma vez será mandada imediatamente para o Complexo Fixo sem chance de retorno.

A garota e todos os outros se calaram com aquela ameaça como se aquele fosse o pior futuro que eles poderiam imaginar.

― Vocês partirão amanhã às nove, mas estejam aqui as sete para que eu possa dividir os grupos. Agora, vão lá para cima, arrumem as malas e descansem ― articulou. ― Como todo ano vocês terão até sexta para cumprir a tarefa que será entregue ao líder dos grupos antes de partirem.

Eu guardei apenas roupas práticas. Blusas de manga comprida e curta duas calças jeans e um tênis. Nenhum vestido, afinal Abigail havia dito tarefa e algo dentro de mim insistia que o fato de ela ter dito que "a tarefa deveria mostrar os mais honráveis" significava que precisaríamos dar sangue e suor no Guide. Por último, guardei o bloco de notas/diário sem nenhum motivo aparente, além do meu coração ter pesado ao mero pensamento de deixá-lo.

Naquela noite, tive o sonho mais estranho de toda a minha vida.

Eu estava lá, assistindo a mesma mulher e o mesmo homem de minha visão tendo uma discussão calorosa.

Estou grávida ela declarou desinteressadamente.

Ele revirou os olhos.

E de quem é? De Jordan? Perguntou irônico. Os olhos dela se arregalaram e ela lhe deu um tapa.

Como você ousa?

Você mesma não disse, Sophia? Que se eu não era capaz de te aguentar, Jordan o faria?

Eu estava irritada, são os hormônios da gravidez e os meus poderes, Jonathan. Você sabe o quanto eles me enlouquecem.

Você disse isso dois dias atrás, Soph, dois! Como eu posso confiar em você quando me diz coisas assim?

Você não confia em seu irmão?

Confio, mas você me enlouquece Sophia Chan Young e eu não sei mais se quero isso para a minha vida. No começo, eu estava disposto a aceitar qualquer coisa que viesse de ti, mas agora? Chacoalhou a cabeça em negação. Eu não sei se posso mais ficar com uma mulher que não quer ao menos assumir um relacionamento comigo. Eu te amo, mas não posso mais ficar contigo. O bebê é meu e eu o quero, mas preciso repensar sobre a mãe dele.

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