Capítulo Dezessete

Eu e Nicholas retornamos para um Complexo em polvorosa. Dakota, que ajudava uma das criadas a carregarem cestos de frutas, nos explicou que aquele rebuliço todo era causado pela visita de um dos Parlamentares em exercício, Vladimir Nikolaev. Ele tinha algum tipo de negócio a tratar com Abigail e o Complexo inteiro havia entrado em estado de emergência para preparar tudo a tempo para a sua recepção.

Logo fomos alvos de tarefas intermináveis e nos separamos, não que eu me incomodasse em ajudar, mas todos estavam tão animados e ao mesmo tempo em pânico de desagradá-lo, que eu tinha medo de fazer algo errado.

No dia seguinte, quando ele deveria chegar, Florence bateu na porta do meu quarto, parecendo tímida:

― Normalmente, eu me arrumaria para um evento desse junto de Alicia, mas com ela ainda distante...

Eu havia combinado de me encontrar com Nicholas para ver a chegada do Parlamentar, mas tenho certeza de que ele entenderia minha decisão de apoiar a ruiva quando ela claramente estava para baixo.

Ela hesitou com o meu silêncio e eu me adiantei tentando tirar a apreensão do seu rosto de fadinha:

― Entre e fique à vontade, o que você gostaria de fazer? ― perguntei quando ela depositou um cesto de flores em cima da minha penteadeira.

― Estava pensando em trançar nossos cabelos com flores ― ela olhou para mim novamente, um pouco ansiosa. ― A não ser que você ache essa ideia ridícula, se achar podemos fazer outra coisa.

Olhei para ela de sobrancelhas franzidas e me indaguei quem no mundo teria coragem de dizer que qualquer ideia vinda de uma criatura tão fofa poderia ser ridícula.

― É uma ideia incrível, Florence, só não tenho certeza se eu tenho dom para trançar seus cabelos ― ri tentando tranquilizá-la.

― Não se preocupe com isso, eu posso fazer minha própria trança, é no seu cabelo que eu tenho interesse ― ela apontou para a cadeira da penteadeira e eu me sentei vendo-a pelo espelho. ― Sabe, ― começou ela ― quando eu cheguei aqui, ninguém queria se aproximar de mim por conta da minha proximidade com as fadas, mesmo que minha família nunca tivesse conhecido uma fada ou elfo sequer. Alicia foi minha primeira amiga nesse lugar e ela se aproximou de mim dizendo que eu poderia trançar seus cabelos mesmo que ela se sentisse ridícula cheia de flores e folhas ― confessou quando terminou minha trança e começou a escolher flores para colocar nela.

― Alicia é especial ― confirmei.

― Ela é e por mais que eu sinta falta dela enquanto ela está longe, eu sei que descobrir suas origens era o que ela mais queria ― ela mordeu o lábio inferior e olhou nos meus olhos através do vidro. ― Ela continuou minha amiga mesmo quando quis mais e eu não pude dar o que ela queria, eu a apoio incondicionalmente ― ela sorriu docemente. ― Mas isso não impede que eu sinta saudades dela.

― É claro que não ― concordei me levantando, meu cabelo trançado com flores amarelas contrastando com a sua cor escura. ― Ficou lindo, Florence e combina perfeitamente com o meu vestido! ― congratulei tentando levantar sua moral e percebi que funcionou quando seus ombros subiram um pouquinho antes de ela começar seu próprio cabelo.

Depois da sessão de penteado e desabafo, descemos as escadarias e nos embrenhamos no mar de gente que já esperava o Parlamentar, para tentar vê-lo de relance. Quando ele apareceu do nosso lado do labirinto, gritos e aplausos surgiram como eu nunca tinha visto antes e eu e Florence rimos, de braços dados para não nos perder uma da outra.

Ele acenou para nós como algum tipo de celebridade, antes de entrar junto com Abigail para resolverem seus assuntos pendentes.

― Será que eles tem algum tipo de caso? ― perguntou uma voz na multidão.

― Eca! ― respondeu outra.

Eu e Florence rimos antes de darmos a volta no pátio para tentarmos ouvir alguma informação confidencial como duas crianças. Espionar Abigail daquele jeito já havia me colocado em problemas antes, mas a ruiva parecia estar tendo o tempo de sua vida e eu queria mantê-la animada daquele jeito.

A janela estava abaixada e tudo que conseguíamos ouvir eram palavras abafadas, principalmente com o burburinho que ainda vinha das pessoas reunidas do outro lado, mas fiz um esforço, me lembrando que a seleção dos novos Parlamentares deveria estar prestes a se iniciar.

― Parece que um dos escolhidos para a corrida Parlamentar é irmão de alguém aqui, um tal de Dorian ― sussurrei.

― Eu o conheço ― respondeu ela em um murmúrio. ― Metamorfo de corvo, esnobe.

Ele falou também sobre as crises rebeldes que estavam se tornando mais e mais frequentes, mas eu tirando a vez que eu havia ouvido Johanna e Abigail conversando a respeito e o pouco que a televisão mostrava sobre os que estavam descontentes o suficiente com o sistema da Verhallow para fazer algo a respeito, eu não sabia nada sobre isso e pela expressão de Florence, ela também não.

Eles não falaram sobre nada demais, apenas debateram melhores formas de fazer aquilo cessar sem um confronto direito e por mais que eu quisesse continuar prestando atenção para anotar tudo em meu diário depois, aquele momento era sobre Florence e como ela parecia estar achando tudo aquilo extremamente chato, nós corremos de volta para dentro do castelo, nosso interesse na conversa e um possível caso entre Vladimir e Abigail, perdido.

Ele jantou conosco naquela noite e tenho certeza de que envergonhamos Abigail pela forma como agimos, uns interessados em política e outros na vida pessoal dele, mas ele parecia achar graça, então não vi mal nenhum nas perguntas que lhe fizeram.

No dia seguinte, logo cedo, ele partiu e a comoção com a sua ida foi semelhante à do dia anterior, muitos gritos e palmas, a Marcha da Vitória cantada em coro por aqueles mais patriotas. Eu nunca me importei muito com a politica da Verhallow, a paz me bastava e naquele momento, eu estava mais preocupada em descobrir a verdade sobre quem eu era do que em bradar à música tema de um evento que terminou em sangue apenas para acariciar o ego de um político.

Abigail não me decepcionou, no entanto, assim que se despediu dele e fez seu caminho através da multidão, apontou o dedo para mim e exclamou uma frase que fez um arrepio subir pela minha espinha:

― Espero te ver em meu escritório amanhã cedo, temos muito o que conversar.

Após me ver livre da multidão, assim que encontrei Nicholas, o puxei para um corredor silencioso e contei o que ela tinha dito. Ele pareceu feliz por eu finalmente me aproximar da verdade e tentou me ajudar a acalmar a minha inquietação pelo que estava por vir:

― Você conhece Abigail, cheia de efeitos dramáticos, contar tudo hoje, depois de já ter te feito esperar tanto, não teria a menor graça.

Ele estava certo e eu sorri, apesar de não saber se chegaria até o dia seguinte com vida por causa da ansiedade que me consumia.

Após ele sair, escrevi em meu diário como havia passado a tarde inteira me coçando para fazer:

Finalmente retornamos ao Complexo após algumas decepções de volta a Maryland, no entanto, encontrei uma chave na casa de meus pais. Ainda não sei o que ela abre, mas pretendo descobrir.

O Parlamentar Vladmir Nikolaev veio até aqui hoje e existem boatos de que ele tenha um caso com Abigail, não sei nada sobre isso apenas que eles conversaram sobre o irmão de alguém aqui sendo escolhido para a corrida parlamentar do ano que vem e o que fazer com ataques rebeldes que vem ocorrendo. Infelizmente, não pude ouvir muito sobre o último, mas Abigail me chamou para conversar amanhã. Será que finalmente receberei as respostas que procuro e que ela prometeu?

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