秋 (Fuyu) - Despedidas (Parte III)
Ouço o entrar e o sair da sala até que sua voz quebra o silêncio entre nós, busco seus olhos e me deparo com a mulher que me permitiu dar início a tudo isso que faço.
— Temos o resultado.
Levo minha face buscando os olhos de Katsumi, sob minha palma o toque e no olhar a perdição inevitável, imagino… torno a observar a mulher em minha frente.
— Sua adoção foi aceita pela justiça, mas a cláusulas importantes de se ressaltar.
— Quais são ela… — estranho, essa situação me deixa nervosa. — esse é um processo novo para minhas percepções e eu não possuo muito discernimento.
— Durante um ano precisaremos fazer visitas regulares para sabermos como anda a criança envolvida e no caso tudo se agrava depois das declarações obtidas em análise.
— Tudo bem por mim… — tímido é o timbre que escapada de seus lábios. — farei o que a professora, não, o que Naomi me disse. Posso ser melhor.
— Não é comum adoções nessa idade, mas espero que seja um exemplo para algo melhor em um futuro mais próximo. Poucas pessoas costumam adotar hoje em dia.
Os papéis são deixados sob a mesa e ao cessar de sua voz deixa a sala. Agora é sobre nós, apenas nós duas e mais ninguém.
— Está pronta para isso? Não digo apenas fisicamente, muitas coisas mudam com essa decisão.
— Pronta é algo que não sei se estou, tudo isso é tão estranho, digo, mesmo que em pouco tempo me senti importante para alguém… essa sensação era algo que eu desejava e, em simultâneo, tinha medo.
— É comum que esteja assustada, sua experiência, viu o pior lado dos seres humanos e como podem trazer sofrimento… não pode se julgar por tal, não foi sua culpa, você é a vítima.
— Sei disso, mas ainda assim, não facilita.
Seguro sua mão trazendo até mim os olhos que agora lacrimejam. Sob suas lágrimas meu que toque que de imediato seca cada uma delas.
— Não precisa se sentir culpada, não, apesar de nunca ter conhecido, acredito que sua mãe seria a primeira em lhe apoiar nessa escolha.
— Sei…
— Assinaremos esse termo e depois vamos decidir o que você deseja… farei do possível ao impossível desde que seja do seu desejo.
Em meu abraço a envolvo, suas lágrimas molham minha blusa com seu toque.
— Sempre sincera quanto a isso e admito não possuir tanto tato como mãe por ser incapaz de dar vida, mas farei meu melhor para honrar o desejo da mulher que lhe deu vida.
— Faremos desta forma, mas ainda assim gostaria de passar um tempo sozinha. São muitas mudanças, ao menos queria pensar um pouco.
— Tudo bem, faremos assim.
E assim fomos, assinamos e ao júri retornamos, desta vez não havia mais Katsumi Taniguchi, agora nascerá uma nova menina nos moldes daquilo que um dia amou e ainda ama e das dores que um dia sofreu e ainda sofre.
— Katsumi Minamoto… é um nome bonito.
Afago suas costas sentindo o pesar de seus ombros diante da imagem de meu pai, o brilho que possuir em seus olhos… e pensar que nada disso seria possível se eu tivesse me negado a vir.
Agora que estou nessa posição, percebo que nada daquilo que desejei um dia se tornou real, mas, em simultâneo, muitas outras coisas que desejei tornaram-se reais.
— Pai, tenho um favor para lhe pedir.
— Diga, farei o que estiver ao meu alcance.
— Katsumi queria ficar sozinha por uns dias, pode olhar ela por mim. Aproveitarei esse momento e irei para Tóquio por um final no meu outro assunto.
— Tudo bem contanto que esteja aceito por ela.
— Aceito… poderei conhecer mais sobre Naomi.
— Sinta-se a vontade para perguntar qualquer coisa que deseje.
Assim fiz meu último movimento indo ao encontro do café qual havia dito, e lá está ela sentada com o copo de café em mãos.
— Não posso demorar muito, tenho um lugar para ir.
— Uma pena, sabe Naomi, gostei do ar deste lugar.
O suspiro denso se faz por meus ouvidos e logo seu sorriso sem graça surge nos lábios.
— Nossa época acabou não é? Morreu quando eu fugi não é?
— Sim, não posso dizer que aceitei aquilo e também não posso dizer que entendo.
— Naqueles dias tudo que eu queria era ser clara com você, sabe, foram muitas as noites em que passei desperta em pensamentos.
— Não posso dizer que também não o fiz, pensei que havia errado com você.
— Olha, não foi você, essa noite pensei bastante sobre isso enquanto observava um vaga-lume pairar em minha janela. Sempre pensava que agarrar-me as suas memórias me faria feliz.
A xícara leva aos lábios, sua expressão, esse semblante de pesar carregado por certa tristeza.
— Pegava me lembrando do nosso primeiro beijo, e aí eu fechava meus olhos tão pesados e ia para esse lugar tão distante. Um lugar onde apenas essas emoções boas poderiam viver, um lugar onde sua ausência seria suprida, mas admito que errei quanto a esses pensamentos, afinal aqui estou após eles.
— Entendo seu lado, talvez melhor do que acredite.
— Acredito no que fala.
Também pensei assim por muito tempo, achei que as emoções que nutria por Murano sumiriam como kanjis escritos na areia e as ondas distantes os apagariam para sempre.
Diferente de Murano, você, e sabia que ia desaparecer para um lugar distante e por isso naquele instante sentir sua falta foi inevitável para alguém tão fragilizada como eu.
— Dentro do meu peito estão palavras escritas, melhor, talhadas e essas mesmas palavras não podem ser ditar numa única conversação…, mas todas carregam um sentido único.
— Vejo esse sentimento em seus olhos.
— Elas dizem aquilo que reluto para dizer, mas não mente, eu realmente te amo. E por te amar tanto, penso em como pude ter tanta sorte em conhecer você.
— Também tive sorte em ter você na minha vida.
— Mas fui quem mais recebeu amor, eu fui quem deveria ter zelado melhor. E agora sou eu quem a olha com distância, pensando em como seria ótimo se estivéssemos juntas agora.
Quando ela se foi eu senti sua falta, e novo, e de novo e de novo até que passei a não sentir mais a sua ausência. Em meu diário mantinha palavras quais almejava dizer em nosso reencontro, mas nunca pude dizer elas e agora que está em minha frente elas perderam seu peso.
— Essa noite sei que não passará comigo, a partir deste momento vejo que nossa era acabou e eu realmente desejo que você seja feliz.
— Riho…
— Enviei algo para você, no lugar onde estávamos, estão perto da sua janela. Espero que tenha um bom sonho daqui em diante.
— Foi bom ter tudo um ano de emoções com você Riho, espero que no futuro possamos nos encontrar e sermos amigas.
— Antes que eu me esqueça, não perca a chance de ser feliz com ela… abdiquei da mulher que amo e agora não terei ela. Evite o que fiz a todo custo, vá atrás dela e mostre suas emoções por favor.
E sem mais palavras partiu pela porta qual entrei sumindo assim no pôr deste sol… Riho… espero que um dia essas emoções voltem a bilhar para você como brilharam para mim.
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