秋 (Aki) - Ecos do passado

Presente (04/12/2020 - outono)


— O que eu sinto por ela... — busco o repartir de meu cabelo. — posso dizer ser algo persistente, um elo inquebrável.

— Desde quando eu as conheço tem sido isso.

— Palavras como amor e paixão eram histórias infantis para mim... em pouco tempo tais palavras pintaram o céu de meu mundo como nunca havia experimentado.

— Esse é o efeito dela, apesar dos pesares tem ciência de seu encanto para com aqueles próximos a ela.

— O livro favorito dela diz muito sobre essa capacidade que carrega, harukaze, em sua estrutura carrega palavras e versos marcantes.

— Meu avô escreveu isso, foi a primeira vez que realmente admirei algo desta família a qual faço parte.

— Graças a esse livro ela pode suportar muitas de suas dores, anseios e através de palavras descobriu vontades adormecidas.

— Não conheço aquele homem e tão pouco posso assumir que foi alguém bom ou ruim. — o vejo ajeitar-se em meio a cadeira. — É reconfortante saber que alguém nessa família fez bem a ela.

— Hanzo, não há nada que possa fazer para mudar a visão de Murano e você sabe muito bem sobre isso.

— Eu sei, entendo um pouco, porém mais do que eu imaginava saber.

— Somos um refrão quebrado, um verso mal escrito, uma estação sem cor.

— Não existe espaço em você enquanto essas emoções não forem decoradas.

— Fico feliz que entenda meu lado agora.

— Suas palavras... admito que sou um empecilho em sua vida assim como Murano acredita.

— Não sei se essa é a palavra correta, tudo bem que agiu de maneira imprudente... quase nos matou e no final acabou se casando com ela.

— São muitos feitos ruins.

— Realmente são bastantes os feitos ruins, porém não é nada de tão absurdo quando se compreende algo que vai além de suas ações.


O sorriso desajeitado percorre os lábios finos marcados pelo tom roxeado, sabe, agora que posso olhar em seus olhos sem filtro noto algo.
Percebo que mesmo minhas palavras sendo as mais suaves possíveis este homem ainda sofre por aquele momento sombrio.

Por sorrir desta forma, pela cor de seu olhar... coisas sutis que transparecem as sínteses de suas emoções humanas. Você cresceu como pessoa após a tormenta que enfrentou Hanzo e eu admiro em você, tornou-se luz em sua hora mais escuridão.

Agora que penso um pouco não sei responder quando parou de doer ou quanto ainda estou marcada por esses capítulos.
Durante as noites eu fico pensativa sobre questões como a dor que envolve seu calejado coração ou sobre como lida com as vertentes desse passado cheio de dor.


— No final nada disso vai importar quando a escolha de reconstruir for tomada por apenas uma das metades. — busco seu olhar. — Concordo quando diz ser triste não poder compartilhar de momentos abertamente, mas não existe nada que possa fazer para alterar esse fator quando a decisão de retorno precisa ser mútua.

— Tem razão quando diz isso, meu erro foi não ter notado que competir contra ela tornaria a todos infelizes.

— Nossa vida não se resume a este fato final, pode ter influenciado no início... o final foi escolha de cada um.

— Agradeço suas palavras sinceras, tem algo que preciso resolver e por hora irei me retirar.

— Tudo bem, entendo seu lado.

— Eu espero que possamos nos ver em breve Naomi, sempre é gratificante discutir com você.

— Até outro momento Hanzo, e não se sinta mal ou culpado devido ao passado... eu te perdoei desde nosso encontro no hospital.

— Obrigado.

— Não se afaste, sério, gosto da Murano e também gosto de você como um amigo. — abro meu sorriso mais claro. — Espero que possamos sair um dia quando toda essa mágoa for embora.

— Não guardo mais mágoas, mas sim culpa, espero que um dia esse peso deixe meu coração.

— Apenas prossiga em seu tempo e tudo estará bem quando menos esperar, não se culpe, não se torture e acima de tudo se permita viver.

— Conselhos bons.

— Eu não gosto da ideia de conviver com outros e tão pouco sou favorável a reencontros. — bebo um pouco do café. — Mas se pudesse te dar um conselho diria isso.

Termino meu café enquanto carrego a última visão de sua presença revigorada, é como estar livre, esses sentimentos são algo que não testemunho com frequência e agora que pude provar entendo.
Sair deste lugar sendo recebida pela clareza do sol entre nuvens é algo marcante até mesmo para um coração nebuloso como o meu.

O hospital e nele as diversas histórias tão cheias de superações, dores e revelações. Frente a sua porta toco está maçaneta, um prelúdio de emoções mistas tão distintas quanto cores as cores que compõe a pele.

Busco a abertura completa desta porta que marca não somente minha mente e físico, como também meu coração. Neutralidade é a essência de seu semblante que transporta um olhar belo que não esboça nada além de vazio.

Surpresa? Ironia? Nem mesmo uma faceta curiosa? Nada disso, apenas o mais puro tom de mistério que poderia possuir nesta vida.

Então essa é sua atual versão velha? Uma mulher sem conflitos ou receios? Uma mulher evoluída e sem perspicácia?

Diferente de minha progenitora, Nana, esboça surpresa com um semblante juvenil repleto de fofura. Nori apenas sorri assentindo com sua cabeça como se esperasse minha presença aqui.


— Pelo visto não esperava.

— Não mesmo. — Nori solta os instrumentos seguindo o rumo em minha direção. — Pensei que iria adiar mais uma vez para estar pronta.

— Eu realmente iria adiar, porém, não valeria a pena deixar para depois algo que posso fazer agora.


Diante dela fica evidente o quanto corri para evitar esse encontro, o quanto fugi deste evento como se minha sobrevivência dependesse disso para prosseguir.

Lembro que ainda jovem estudei muito que tempo não existisse e que nosso encontro fosse adiado.
Trabalhei até que sua imagem fosse apenas um borrão numa camisa ou um fragmento que não precisasse ser lembrado por mim.

Durantes anos evitei tudo que fosse relacionado a ela e até mesmo em meu casamento evitei sua presença, para no final estar aqui presenciando seu olhar distante mais uma vez.


— Mãe. — busco seu olhar, esse desconforto que me preenche... — Eu não sei como dizer isso sem soar grossa, mas que bom que está viva ainda.

— Você realmente veio, fico feliz. — Nana, suas palavras soam docemente apesar de este não é um momento belo. — Entretanto vejo que este não é um momento agradável para reuniões.

— Acertou. Preciso de um momento a sós com nossa mãe.

— Tudo bem. — seu sorriso jovem, invejo ela.

— Eu acabei por hora então não irei atrapalhar vocês duas. — Nori entrelaça suas mãos a Nana levando-a até a porta. — Tentem manter uma conversa normal por favor, estamos em uma ala onde pacientes ainda dormem.

— Já gritei tudo que precisava quando saí de casa, você não estava lá então pode não saber.

— Pelo menos não esbraveja aos quatro cantos que eu te expulsei de casa... — busco sua face e nela um sorriso, mãe. — é uma evolução.

— Entregar-lhe a honra de dizer que me expulsou de casa? Jamais. — aproximo-me da cama. — Fui embora por saber que não seria aceita pela mulher que mais me ofendeu nessa vida.

— Uma garota foi parar no hospital e naquele mesmo dia eu fui atropelada pela burrice de ir até você... tenho meus motivos para não gostar de sua presença.

— Parecem fracos em minha humilde opinião querida mãe. — esse desconforto não passa de medo. — Eles não justificam o que fez comigo.


As faces de espanto são algo cômico quando lembro que ambas não conseguem tratar ela assim. De qualquer forma não há relacionamento saudável entre nós, nunca foi genuinamente bom.

O fechar da porta alivia meu coração, conseguiremos ser claras uma com a outra sem interferência externa. Tomo a cadeira ao seu lado finalmente encontrando uma proximidade adequada para essa conversa.

Ruínas são a fonte de nosso relacionamento e agora frente a elas estarei, não pronta para confrontar, porém, disposta a encarnar uma visão que jamais tive anteriormente.


— Vejo que não deixou de lado o bom humor e as entradas marcantes, — o sorriso surge em seus lábios ressecados. — então foi assim que você comprou aquele velho podre.

— Meu avô... não precisei de muito, ele havia dito precisar de alguém forte para ocupar o lugar de uma mulher fraca.

— Fraca? Vendi minha alma para ele e segui o caminho de reestruturar a fundação para o filho dele assumir.

— E no final eu tomei o contrato de ambos, tudo igual sem adições especiais.

— Parabéns pela conquista — a coloração avelã ressoa a luminosidade ambiente trazendo um esverdeado diferente. — tornou-se a mais nova cachorra de seu avô, próximo passo retirar todos os seus parentes da linhagem de sucessão da escola e família.

— Obrigado pela ideia, irei considerar esse rumo afinal são apenas aproveitadores do dinheiro conquistado por nós. — força um sorriso.

— Nós?

— Vejo que está bem diferente do que dizem pela cidade, — o gargalhar ecoa pela sala. — qual a graça? Não entendi.

— Suas palavras continuam dançantes como nunca, uma pena que não podem esconder seu medo em estar aqui.

— Medo? Eu?

— Quanta confiança garota, mudou tanto que mal pude reconhecer a frágil donzela que cedeu ao marido... pelo visto cansou da vida de apanhar e resolveu bater também.

— Foi um preço que paguei.

— Me diga, valeu a pena sofrer tanto pela família? — esse olhar inquisitivo. — Tudo bem que irá controlar todo o império em breve, porém é frustrante ser tão solitária não?

— Não.

— Irônico pensar que alguém como você, uma filha tão liberta de sentimentos minta para si não acha? Pobre Naomi, sempre manipulável.

— Não sou fraca como você.

— Presenciei a construção da cadeira onde senta diariamente naquela escola. — no colchão se senta ficando diante de meu olhar. — Se for dizer uma bobagem como essa fique quieta e aprenda seu lugar.

— Ainda assim.

— Não existe esse ainda, mas é bom que assuma essa cadeira. — sinto o frio percorrer minha espinha. — Entenderá como cobiçar essa posição será a pior escolha que fez em sua vida.

— E não foi com você?

— Claro que eu experimentei, estava sobrecarregada ao ponto de simplesmente estourar com qualquer ser que surgisse em minha frente.

— Farei diferente de você.

— Naomi, acha mesmo que pode? Uma pena que não estarei viva para ver que confusão irá causar.

— Ainda que me diga isso demonstra seguirei sem olhar para trás, não vou sucumbir para as loucuras que você pereceu e tão pouco receber ordens.

— Acredita fielmente nisso? Talvez ter se casado tenha alterado seu raciocínio lógico. — a palma toca minha face. — Essa criação sem minha presença... parece tão ingênua quanto sua irmã.

— Pelo que consigo recordar a única ingênua nesta história foi você por acreditar cegamente que eu iria voltar e perdoar tudo.

— Que assunto tedioso. — desfaz o toque. — Se encerrou pode ir embora.

— Como pudemos ser mãe e filha, mas agora sermos o oposto desta relação?

— Não sei e tão pouco me interessa saber sobre o resultado... — a vejo se deitar. — ao menos deixou seu casamento?

— Sim, — busco a imagem da janela aberta. — foi há alguns meses, tivemos nossa última briga.

— Por que deixou um homem te bater? Foi isso que lhe ensinaram enquanto estava sob a tutela daquele velho?

— Não, passou longe de meus ensinamentos, entretanto eu assenti como algo comum e quando me dei conta estava sendo espancada.

— Consegue ver onde está o erro?

— Sim, eu sempre soube onde ele estava e por fim nunca conseguia fazer algo de decente para acabar com essas sequências tortuosas.

— Tudo isso devido a seu desejo em assumir uma família que não espera que você fique viva.

— Entendi, mas ainda assim é o que desejo.

— Naomi, eu serei sincera e não leve isso como uma mãe falando afinal posso dizer que deixamos esse vínculo de lado há muito tempo.


Se volta em minha direção fitando meus olhos com a intensidade que apenas seu olhar pode carregar. Tão penetrante quanto as asas do troféu que rasgou meus sonhos e ombro, no final manter essa aparência na frente dela não me trouxe nada além de uma fria constatação.


— Diga o que deseja. — secura invade minha boca embargando minha voz.


Quando fui embora ela havia dito que eu sofreria as consequências por minha escolha e agora poso dizer que sou o resultado de cada uma dessas esdrúxulas escolhas.


— Realmente deseja assumir a cadeira de chefe desta família não é?

— Eu vou.

— Então vamos ao que importa, quando foi a última vez em que você realmente esboçou um singelo desejo nisso sem influência externa?

— Desejo? Fui criada para isso.

— Foi e eu testemunhei isso de perto por um tempo, porém lembro até hoje da baboseira de sonho que apresentou.

— Ainda lembra disso?

— Uma barista dona de um pequeno café chamado Kataomoi. Lugar este em Quioto onde poderia aproveitar a beleza da cidade.

— Faz muito tempo isso, pensei que tivesse esquecido sobre minhas vontades.

— Guardo o relevante caso venha desejar assumir uma briga desnecessária.

— Isso é algo que nem mesmo eu lembrava.

— Tem certeza? Seus olhos dizem que não, eles dizem que continua a se lembrar de tudo.

— Eu...

— Você pode se distanciar Naomi, sumir e até mesmo recusar minha presença em qualquer fragmento que seja de sua vida.


Não posso, ou melhor, não consigo dizer algo que sele a boca desta mulher em definitivo.


— Porém Naomi, sempre saberei o que se passa por você por uma única e exclusiva razão e essa razão é nossa semelhança.

— ...

— Apenas saía e repense em seus desejos para que nada de ruim ocorra novamente, não algo como esse casamento.

— Entendo.


Abaixo minha cabeça e sigo até a porta tocando a maçaneta, essa mulher ainda mexe comigo e eu nada posso fazer..., mas talvez eu seja influenciável demais. No fundo, sinto que se não fosse pela desgraça daquela tarde eu ainda poderia olhar-lhe e sorrir como uma filha faria com sua mãe.


— Naomi. Quero que saiba de algo, mesmo a distância existindo eu me solidarizo com sua escolha final.


Deixo seu quarto indo de encontro a área externa deste lugar, respirar, isso é minha maior necessidade agora.
A brisa fria aflige minha face esfriando meu rosto com seu beijo, essa tristeza cresce aqui dentro e se expande pouco a pouco como uma doença.

Coloco a moeda na máquina a meu lado e pela sorte duas garrafas ao invés de uma, deixo uma delas sobre a máquina e sigo passo por passo até o banco vazio.

Foi nesse mesmo banco onde fiz aquele desejo pessoal, onde assumi minhas vontades tão distantes. Talvez eu deva ir até ela afinal parte de seus conflitos são por minha causa.

Abro a garrafa bebendo o líquido sem parar, por minha garganta desce gelando meu corpo da cabeça aos pés... chega de fugas desnecessárias pelo menos por um dia.

Cruzo a porta voltando para a área exclusiva do hospital e ao final do extenso corredor paro diante a porta onde me disse estar. Abro a porta fitando sua visão inconsciente, Murano, que final mais curioso eu diria.

Na cadeira ao seu lado me sento segurando sua mão, fria, esqueceram que você precisa usar luvas quando dorme. O anel não está em seu dedo e pelo visto ele não mentiu quando disse sobre a proporção desta briga.

Lembro que naquela vez eu estive nessa mesma posição, duas semanas antes da transferência hospitalar e um dia antes de nosso separar que durou exatos doze anos até nosso reencontro naquele eterno verão.


Passado (28/12/2005 - inverno)


A luz da lua entre as nuvens ilumina minha face e por ela me sinto tonta, fraca para andar e ainda assim aqui estou eu parada diante desta paisagem fria semelhante ao vazio que agora estou carregando em meu peito.

Fecho meus olhos sentindo o frio acolher minha face com seu toque, queria ser capaz de sentir o mundo mudar para melhor. É inviável desejar isso e isso me traz esse aperto quando lembro que não poderei ser mais presente para ti.

Somos diferentes e, ao mesmo tempo, tão próximas, você me faz desejar que ao menos esse festival púrpura possa ser nosso último momento juntas antes desta infeliz separação.

Uma última memória feliz antes de sermos engolidas pelas tragédias que ocorreram, esse é meu desejo atual.
Murano, será que nós duas ainda teremos uma oportunidade de se reencontrar no futuro mesmo que ele seja distante? É uma pergunta besta afinal não pode me ouvir e tão pouco responder.

Abro meus olhos notando o brilho começar a subir de cada telhado e casa, das ruas e estabelecimentos abertos.
Essas lanternas são tão belas, pelos ventos são alçadas ao céu percorrendo o caminho lento até a lua cheia acima de nossas cabeças.

O festival púrpura é algo bonito, aqui desejos puros de coração são a força motriz de cada bilhete feito a mão que escrevemos uma semana antes do festival.

Riquezas, poder, dinheiro, nada disso vale como pedido ao criar uma lanterna de papel dourada.
Pois, na hora de decorar com a flor púrpura depositamos nosso bilhete entre suas pétalas.

Ao atingirem uma certa altitude a chama consome a flor e do vermelho comum surge o roxo dos desejos.
Particularmente sempre foi algo que nunca entendi, mas que estranhamente soa agradável aos meus ouvidos e imaginário.


— Eu não entendo como tudo pode desmoronar em uma fração de segundo tão pequena... queria apenas queria soltar uma lanterna com ela.


Essas lágrimas são tão pesadas, sou fraca demais para as segurar e em minhas mãos sinto seus toques dolorosos. Um último momento foi aquilo que pedi e em troca recebi esses pensamentos distantes.

Sinto o toque envolver meu corpo, abro meus olhos e em meu respirar sou presa às memórias deste perfume único.

Mesmo que eu deseje mostrar força e segurar cada uma das lágrimas sou incapaz, por seu toque, minha face é levada de encontro a sua.
No encontro com seu olhar minha visão tão baixa recai na beleza infindável deste encanto marcante de seu sorriso incandescente.


— O que você está fazendo aqui?

— Não sei, mas eu queria saber também. — ela sorri mesmo que seu olhar não demonstre essa felicidade. — Pedi para passar aqui.

— Ele vai te bater de novo por minha culpa.

— Sim, ele vai, tenho plena noção disto e mesmo assim aqui estou eu esperando por este momento.

— Você é louca.

— Um pouco, o suficiente para estar aqui com uma costela fraturada ao menos.

— Doida.

— Você está ao ar livre tomando neve na cabeça com os pulmões pedindo socorro.

— Temos algo em comum.

— Sempre vamos possuir algo em comum, mas por hora. — no desfazer de seu abraço traz minha visão a lanterna. — Eu montei nossa lanterna.

— Pensou em tudo isso, realmente é alguém metódica.

— Quando se trata de você eu sou e fico feliz que reconheça isso.


A lanterna com o ideograma de amor foi acessa por minhas mãos e sobre a flor púrpura deixamos nossos papéis, nem me lembrava haver deixado o meu em suas mãos.

Juntas alçamos a lanterna aos céus presenciando o seu avançar em direção a lua cheia para que na distância a chama púrpura a consuma levando beleza e fim a sua existência.

Meu desejo é seu amor, que ele possa nos envolver não importa onde estejamos e como estejamos... esse é meu maior desejo.

O calor de seu sorriso aquece meu peito e pela palma caridosa sou tocada, enquanto eu for viva não irei esquecer desse nosso momento juntas. Fecho meus olhos sentindo o repentino toque em meu queixo.


— Murano, eu te...

— Não diga nada, por favor.


Seus lábios são tão charmosos, encantadores e vermelhos. O toque suave e o envolver de suas mãos conduzem meu corpo até seu paraíso.
Este beijo, o selar de nossos lábios é tão intenso quanto qualquer emoção que poderíamos compartilhar.

Murano, estar em seus braços me faz pensar em como será no futuro. Poderemos ficar juntas e seguimos com nosso plano?
Viver confortáveis em uma casa enquanto cuidamos de um gato ou cachorro, você sendo uma professora e eu sendo a dona de um café amigável onde você poderia descansar.

Ter essa vida e viver ela ao seu lado, esse sim, é meu real desejo. Você comigo, é o desejo que manterei vivo em meu coração.
Mesmo que eu não entenda sobre essas emoções que circulam em meu coração, queria ao menos que soubesse algo, eu te amo mesmo não sabendo exatamente o que isso significa aqui dentro .


Presente (04/12/2020 - outono)


Na abertura de seus olhos aquele brilho tão natural que carregava antes chega agora, suas facetas não mudam mesmo. E pensar que até hoje não consegui revelar meus sentimentos em sua totalidade, sinto que devo revelar em simultâneo acredito que não.


— Eu soube pelo Hanzo.

— Ele é bastante linguarudo quando não é necessário, mas estou bem de qualquer forma.

— Sim, eu não esperava encontrar você e aqui estou diante de seus olhos. — fico feliz em ver ela bem. — Bom que acordou.

— Ontem o Hanzo me contou sobre a verdade, me sinto idiota.

— Descobri sobre a verdade no hospital, dias depois do ocorrido. Ele não sabia mentir e até hoje não sabe.

— Tem razão.

— Acredito que eu te devo desculpas sobre anteontem e ontem, em minha defesa estava fora mim.

— Tudo bem, eu sei que não irá se repetir de qualquer forma. — levanto buscando a janela entre aberta. — Pode perguntar, sei que quer algo.

— Não posso te enganar não é? — abro meu sorriso, não posso esconder nada. — Sentiu também ou apenas eu?

— Depende, porém, olhe para nossa atual realidade e vai perceber algo difícil. Não se trata apenas de admitir.

— Se lembra do que eu dizia?

— Pouco, você costumava dizer muitas coisas em pouco tempo para se acompanhar.

— Eu queria pintar sobre todos os erros que cometemos, começar mais e tentar mais até conseguir.

— Sei disso, dizia que faria bem para você.

— Por uma questão de um futuro diferente do passado eu diria, começar por perceber nossos próprios sonhos e esses que eu nunca disse adeus e tão pouco irei.

— Apesar dessa aparência fatal continua a mesma, gosto disso, mantém uma essência única.

— É... você acabou comigo... sinto que irei morrer sem superar.

— Drama, — fito seus olhos, acabo por sorrir diante sua face. — ainda continua gostando de mulheres?

— Não gosto de mulheres, eu gosto de você, é única. Mas posso dizer que você não pensa o mesmo já que sorri.

— Está é uma das conversas que eu não gostaria de ter no hospital. Digamos que sim, se entender, bem será de grande ajuda.

— Evasiva.

— Sonhei com nosso passado no ensino médio, eu sempre fico voltando para aquelas memórias de novo e de novo e de novo... sabe... não consigo parar.

— É o nosso laço, ontem, eu senti nosso laço vibrar. Como nostalgia, foi único.

— Lembrei que temos muitos refrões ainda, há dois anos se me lembro bem.

— Tóquio, era o final do verão e — estica sua mão em minha direção. — que foi?

— Um fragmento desse não precisa ser dito em voz alta, não acha? — a porta se abre em minhas costas. — Voltou.



Para cima dela avança tomando-a em um abraço aconchegante. Essa menina realmente é como ela, tal mãe, tal filha.


— Suyen, mamãe quer te apresentar a uma amiga próxima. — esse olhar, ela realmente carrega a essência de Murano. — Está é Naomi, uma amiga minha e de seu pai.

— Oi, criança.

— Não se preocupe ela não é má, é alguém que sua mãe admira muito. Naomi, por hoje eu suponho que encerramos.

— Você tem razão, mas antes.


Aproximo-me da menina e de meu bolso retiro a presilha deixando-a sobre suas mãos.


— Espero que goste, sua mãe adorava flores então imagino que goste.

— Obrigada. — esse sorriso, me lembra sua mãe quando mais jovem. — Naomi.

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