春 (Haru) - Retorno

Presente (03/04/2023 — Primavera) / Hanzo Hattori



Em minhas mãos tomo o livro, e pensar que meu retorno a meu país foi justamente para trazer uma obra que representa isso, o crescimento. Aberto folheio suas paginas, e pensar que algum dia voltaria para esse lugar. Talvez eu não possa dizer que sou tão diferente assim de meu pai, até mesmo de meu avô falecido, afinal, não desisti daquilo que tanto gosto, é sobre perseguir e perseverar em meio da adversidade tão comum a nossa existência.

Deixo o livro de lado focando em sua presença parada em meio as pilhas de tanto livros, caminho em sua direção rompendo seu foco, em susto se vira, a expressão que faz é hilaria até mesmo para seu eu comum, uma mulher mais cômica e sem tantos requintes.



— Tem certeza de que essa é a melhor dela?



Balanço minha cabeça recendo seu olhar, me aproximo de sua mão a tomando e num gesto de carinho repouso meus lábios sob sua pele.



— Sim, tenho certeza que essa à melhor para começar.

— E a sua amiga, Chie não é? Falou com ela?

— Falei amor. Não precisa se preocupar tanto, viemos aqui apenas para tomar café com os meninos antes deles irem para o evento de abertura e apenas isso.

— Vai lançar um livro e está tão calmo. Não parece nem um pouco real.

— Tem razão. Não sou o Hanzo verdadeiro. — tomo sua cintura em minhas mãos. — O verdadeiro jamais seria carinhoso assim, ele seria mais, não seria tão colorido.

— É serio, fico preocupada, não vou poder estar aqui amanhã e você ainda vai ir para Quioto ver nossa casa. Realmente desejo que as coisas deem certo.

— Ainda que dessem errado já teria dado certo, tentei, se não foi significa que não é meu momento.

— Hanzo!!!



No seu exclamar a puxo para perto sentindo seu corpo colado ao meu, seus lábios rosados, mal posso contar quantas vezes nesses três anos longe me perdi neles, as noites que passei e por cada canto de Seu ser que desbravei. No final de tudo pude perceber que mesmo que Naomi fosse a mulher, no final eu não teria errado igual com ela, assim como errei com Murano e no final errei com Hanako tendo com ela o maior gesto de amor a mim e a outra pessoa.

Posso entender aquilo que tanto desejava me dizer mãe, não era apenas sobre meus desejos, mas sim, sobre como no final todas as pessoas que transitam em nossa vida trazem experiencia para um amadurecimento grandioso no final.

Em seus olhos cintilantes, é onde vejo que tudo aquilo que vivi soa como uma grande preparação que no final me trouxe a ela, ao começo de tudo, ela no final é a mulher com quem desejo não passar o resto da minha vida, quero viver ela até que eu não possa mais ser feliz.



— Hanzo?

— Song-qi, agora entendo, agora o que quis dizer quando chegamos em sua casa?

— O que eu disse?

— Não lembra mesmo?

— Deveria?

— Deveria... — me aproximo consumindo seus lábios num beijo terno, e na ausência de nosso ar me afasto, sob suas bochechas deixo meu afago atraindo até meus olhos seu sorriso. — posso dizer que seus provérbios chineses são realmente elucidados, agora entendo, posso dizer que realmente isso que vivo é amor e nada ao contrário disso, amor.

— Já estamos nessa fase do amor? Falei que seriamos capazes disso.

— Você me ensinou que antes de amar alguém o amor-próprio é necessário, posso finalmente dizer que entendo, obrigado por fazer parte de todo meu aprendizado.

— Não é como se eu também não tivesse nada aprendido, fui uma aluna sua também se parar para pensar um pouco. Me ensinou que às vezes um pouco de calma e foco é necessário para manter o equilíbrio e você me fez enxergar isso com clareza.

No tocar do sino a porta nossos olhares se vão para suas faces, e pensar que cresceram tanto, realmente são meus filhos.

— Chegamos muito cedo pelo que estou vendo. — o detentor dos olhos sambar recosta a porta indo de encontro a nossa presença. — Desculpa atrapalhar.

— Não foi nada Akechi. — se afasta de meu abraço percorrendo o caminho até sua direção. — Está tão bonito hoje, imagino que seja pelo evento, vocês dois estão, na verdade.

— Então realmente estão namorando, pelo menos agora poderemos ver ambos com mais frequência.

— Talvez seja possível, mas terão de ir até Quioto para tal, será bom, afinal terão um lugar a mais para descansar após as provas, nas férias ou simplesmente quando quiserem e desejarem passar um tempo.

— Será bom.

— Apenas para você Akechi. — ao tocar no ombro de Akechi ele se volta a minha presença. — Brincadeiras a parte, podem ter certeza que irei, não suportarei viver com Akechi por muito tempo.

— É mais fácil eu desejar isso, Yoru. Imagina nós dois vivendo juntos, tenho medo daquilo que acontecera sabendo das informações que sei.

— Falando nisso, aquela garota, onde está ela?



Seu olhar penetrante me busca, essa historia, não sei até que ponto posso esperar que vá terminar bem, mesmo atestando sua mudança ainda é difícil dizer aonde exatamente Yoru mudou em relação a ela.

Acima da mesa apanho as chaves do carro e no enlaçar da mão de Song-qi cruzo à entrada atraindo seus olhares.



— Vamos tomar café. Conversamos sobre isso durante ele.



E assim o fizemos, no carro que recém comprei sigo a rua polvorosa, e pensar que ainda há tantos como eu que desejam se provar perante as circunstâncias da vida e superar seus problemas, desde os familiares até os financeiros.

Fui como eles, ainda que por muito tempo alimentado pelos devaneios de um velho homem que mal podia enxergar seus próprios desejo, afundado, não em emoções boas, mas sim, aquelas tão ruins e pesadas.

Antes era apenas Hanzo Hattori, o filho de um magnata e uma atriz condenada a morte por uma doença fatal e agora me distancio desse meu antigo eu. No final de tudo, nem mesmo meus pais verdadeiros, amei e agora sou apenas uma insignificante sombra daquilo que um dia ambos projetaram a mim.

Esses três anos longe me ensinaram os pilares verdadeiros, o que é uma família, como devemos nos respeitar, sobre o que é amor e como posso de fato amar alguém.

Quanto mais eu explorava aquele mundo pertencente a Song-qi mais me encontrava, eu deixava para trás o Hanzo que antes guerreava contra sua própria solidão, contra a sorridente que lhe assombrava e dele ressurgi não como um homem qualquer que sempre se ausenta. Voltei como o homem que se reencontrou após se perder no escuro, talvez eu ainda seja o Hanzo ideal para eles e disso tenho pouca certeza, talvez nenhuma, mas, ao olhar para aqueles no banco de trás, vejo que sou o homem que pode dizer que enfim ama alguém e não uma casca vazia que fingia ser um homem bom e culto que sempre ajudava aos outros.



— E então como estão os preparativos para o apartamento? — pergunto atraindo seus olhares. — Vão passar lá após a exploração do campus?

— Queria, mas Yoru disse que vai me levar a um encontro com os amigos dele da universidade. Um grupo de amigos antigos dele.

— Será perto do apartamento, então não vamos ter nenhum problema e ele poderá explorar melhor o campus sem que precisem perder, muito tempo conosco.

— Não será perda de tempo, é bom vermos onde estamos deixando vocês.

— Tudo bem, eles não são mais crianças de qualquer forma Song-qi, podemos apenas ir em outro momento, deixar que eles conheçam o lugar é importante e com isso podemos aproveitar melhor nosso dia antes que eu parta.

— Dada a hora só terá tempo do café, vou precisar estar com na emissora de TV em breve e depois partirei para Okinawa. Ainda tenho uma exposição antes de sumir mais um pouco.

— Entendo o que está dizendo, mas não se preocupe, vou cuidar daquilo que esta faltando e depois vou par Quioto ver como está a casa.



O café e logo após sua deixa no lugar que precisa estar. Sozinho agora, me pergunto o que posso fazer aqui agora que todos seguiram seu caminho.

Meu celular vibra, e de todas as pessoas você era quem eu menos esperava ver nesse instante, deslizo e no atender ouço a voz que não ouço há algum tempo, sob a tela o deslize culminando em sua voz.



— Hanzo.

— Pensei haver perdido meu número.

— Ainda lembra de minha voz, bom, pensei que esqueceria nesse tempo.

— Como você está? Tudo bem? Ainda que tenha enviado uma mensagem, não esperava que realmente fosse me ligar ou sequer responder.

— Podemos nos encontrar?

— Sim, porém, estou em Tóquio.

— Ótimo, vou te passar o endereço. Venha para cá agora, por favor, tem algo que eu realmente gostaria de discutir com você antes de voltar para meu lugar.



O calar de sua voz se por conta e na tela o pop-up salta, seu endereço, kabukicho... adentro o carro e pelas ruas sigo até que Shinjuku seja meu ponto de parada. Próximo à torre estaciono quase que de frente para o lugar marcado, posso vê-la, aproximo-me tomando em minha mão a cadeira e ao sentar me deparo com sua boca cheia.



— Acho que essa é a primeira vez em muito tempo que vejo seu sorriso assim, realmente mudou bastante, nem mesmo parece aquela mulher assustada de antes.

— Você fala demais para alguém que sumiu por três anos, sabe como nossos pais ficaram preocupados?

— Sim, eu informei a eles de como estou, irei até lá no final de semana para ver e saber como estão de verdade.

— Como você está? Não parece normal, digo, sem as expressões fechadas e carrancudas. Nem mesmo aquele sorriso forçado de um homem que oprimia sua tristeza o máximo que podia.

— Longa historia, tem certeza de que deseja ouvir?

— Apenas fale enquanto estou comendo, depois digo o que desejo.



E assim desatei em fala, num primeiro instante fui ao encontro de me descobrir e nessas palavras pude ver surpresa em seu olhar. Ainda que pouco próximos sejamos hoje, sinto que Yuriko, mesmo não sendo mais aquela afável menina jovem, ainda se revela como alguém me quem posso confiar mesmo quando o mundo estiver pesando acima de meus ombros.

Descobrir a mim mesmo em meio a escuridão me trouxe essa visão, não que eu tivesse distante, ela não era a única enfrentando seu passado e ao olhar para ela vejo o quanto somos parecidos ainda que busquemos modos de repelir essa verdade que se apresenta como algo inevitável a irmãos.

No fim tudo que posso fazer realmente é aceitar que somos parecidos, tivemos escolhas parecidas apesar dos finais serem distintos.



— Fala, qual era o assunto que deseja falar? Tem relação com a irmã da Naomi?

— Não diretamente. É sobre os anos em Quioto, voltei a morar lá e desta vez com Nana, porém, esses dias recebi uma mensagem estranha e quando me deparei era um convite.

— E sobre o que falava?

— Passado.

— Esta falando daquela mulher? Contou a verdade para ela, digo, o motivo do porquê se tornou veterinária numa cidade do interior quando vivia aqui em Tóquio.

— Não, nunca contei, nem mesmo mencionei o motivo do porquê nunca disse te amo a ela.

— Yuriko, esse convite era de quem?

— Hoje completou seu dia de morte, por isso estou aqui. Me encontrei com a mulher do convite, foi como olhar para meus anos áureos aonde ela ainda estava viva e ao meu lado.

— Então quer meu conselho sobre isso não é?

— Quando você foi até nossa mãe biológica te ofendi, reneguei sua existência, quando foi embora me entristeci e te amaldiçoei por tal. Crescemos e você casou tornando-se escravo daquele homem e ainda assim eu te evitei até ela chegar.

— Sakura. Ela realmente era uma boa garota, quem diria que alguém te faria entender que pode ser minha amiga após tantos momentos de crise nossos.

— E eu estraguei tudo quando não fui capaz de o fazer... minhas mãos... essas que deveria salvar mataram uma pessoa que também estava perdida nesse mundo. — as lagrimas se apossam de seu olhar. — Hanzo, hoje vi sua irmã, a garotinha que observei no passado crescida e ela me abraçou dizendo entender o que fiz.

— Concordo com essa garota, você era uma médica, a melhor para a situação e no final também mostrou ser humana. Acredito que deveria ser honesta com você e com Nana.

— Toda vez que tento me perco nas palavras, sabe, sinto que me falta algo para ser honesta.



Entendo ela, afinal foi assim que me senti quando percebi que Naomi não seria a mulher por quem me apaixonei e que ficaria comigo para sempre como tanto desejei. Por outro lado, também foi assim quando percebi que mesmo tendo Murano nunca teria amor, mesmo tão perdido segui vivendo covardemente, até mesmo com Hanako isso ocorreu.

Posso dizer que entendo bem ela agora, Yuriko, seus olhos transmitem a confiança e, ao mesmo tempo, o medo de ser honesta com seus sentimentos tão fortes.



— Não posso ser sua bússola para suas escolhas, mas, sendo verdadeiro, quero que siga seu coração e seja honesta com ela. Nana precisa saber. Lembra quando me disse que Murano precisava saber da verdade, então, é sobre isso.



E assim ela foi, mais calma partiu para casa e pelo que vejo em seus olhos acho que agora ela se sente mais confortável para abrir seu coração com ela. Espero que possa lidar com sua atual complicação, lembro de como ela sorria antes quando a garota era viva e do quanto ela se perdeu após ver ela partir em sua frente.

Deixo o lugar indo ao encontro ponto aonde meu novo começa me aguarda, a pequena loja de livros, uma ideia organizada por Chie que amanhã estará aqui e agora que estou aqui no meio desses livros entendo como posso mudar e melhorar para ser quem desejo assim como quem almejo para apoiar.

Na abertura da porta o tocar do sino, então é isso, realmente ela mudou bastante nesses três anos em que passei tão distante.



— Bem-vinda.

— Hanzo, então realmente vai abrir uma livraria?

— Será a melhor de todas, não qualquer uma. Chie me garantiu que será.

— É incrível como sempre carrega um desejo ou projeto novo.

— Mudar tem dessas condições, mas você aqui é uma supressa, não me diga que já está com saudade de minha presença, — a vejo desatar em um sorris. — Murano.

— Não é para tanto, mas realmente fiquei curiosa e como está no caminho decidi vir.

— Parece ótima, realmente me sinto mais feliz por ao menos poder fazer o certo no final de tudo.

— Esses anos tem me feito algo melhor do que esperava, pela primeira vez tenho realmente vivido uma vida digna e confortável.

— Isso é bom, posso notar o quanto Naomi lhe faz bem.

— Hanzo, obrigada, você me fez encarar a batalha e graças a isso pude enfrentar meus problemas mais profundos.

— E espero que continue sendo assim por muito tempo.

— Hanzo, desejo uma boa sorte nessa sua nova caminhada.

— Que a mesma sorte continue a te iluminar Murano, ambas possuem muita sorte em terem se encontrado ainda nessa estrada da vida.



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