秋 (Aki) - Memórias de verão (parte I)


Presente (24/12/2020 - outono)

No descer do carro a vejo partir com certo sorriso em seus lábios, imagino que seja algo derivado daquele garoto que sempre a rodeia.
Entre todos esses que a rodeiam seu passar, espero que nesta noite possa viver como uma jovem adolescente deveria e não apenas um robô.

Por outro percebo que não é apenas ela quem deve aprender a viver, quantos anos faz desde a última vez onde pude participar de algo assim?
Faz anos desde o instante onde pude participar daquele que foi meu último festival, uma época elusiva tão distinta e ainda assim calorosa.

Solitária caminho por essas tendas iluminadas por tais decorações singelas, acredito com fidelidade que isto tudo foi planejado com muito cuidado.
Nas faces sorrisos contundentes, agora posso entender o que motivava a todos e não apenas a mim no último ano que pude participar.

Lembro de Takayama naquela época onde tudo que eu desejava viver era um amor sincero cuja apenas minha bela acácia poderia entregar… agora que penso nisso, é estanho lembrar do motivo ao qual pude escolher tal apelido.

Foi ainda em meu segundo ano, nas férias de verão, onde aquela flor tornou-se para mim uma imagem simbólica de você.


Passado (26/07/ 2005 - verão)


As margens do lago se encontra, refletindo sobre algo em seu mundinho único.  A beleza de sua inocência é algo que cativa minha mente tão fixada em sua existência pura.

Em suas mãos porta o livreto qual mal desgruda em seus tempos vagos, Murano, uma entusiasta de um poeta morto... ao menos tem seu charme.

Pela surpresa de uma sombra me aproximo conduzindo aos olhos gentis a escuridão na qual me escondo fugindo deste sol, espanto no primeiro instante e logo após a calmaria inata que apenas seu ser está apto a portar.


— Leve como pluma, seus passos são impressionantes para alguém que costuma estar em confusão. Contudo, esse perfume representa você como nenhum outro.

— Diz essas poesias, mas mal posso compreender elas... são confusas demais para uma mente simples como a minha.

— Aham, sei bem meu dócil lírio, o que faz aqui agora? 

— Procurando aquela jovem e bela moça que insiste em fugir de mim. Por acaso encontrou com ela? — sorrio ao notar a curva em seus lábios.

— Não sei, posso ter visto-a em algum lugar ou dois, quem sabe três... ela ama ler... talvez esteja abaixo de uma árvore sentindo o frescor das águas de um lago esplêndido.

— Ela quebra suas próprias regras, não é? Me espanta ela esta aqui, disse não gostar deste ambiente devido ao calor.

— E realmente não gosto. 


Desfaço as sombras de minha palma conduzindo a luz de volta ao seu olhar, agora que retenho sua atenção posso ver com clareza o motivo desta incerteza que carrego.


— Da forma como me olha... parece uma flor apaixonada.

— Besta. — minhas bochechas queimam... — Somente você poderia chegar em tal conclusão.

— Claro, se não fosse, quem séria?

— Tanto faz.


Em meu abraço tomo seu corpo sentindo a temperatura de sua pele, está quente ou será que esse calor infernal fez seu efeito?


— Ontem eu li um poema. — se remexe em meus braços. — Sua face diz que não posso recitar ele, mas o farei.

— Deve, — busco seu olhar. — não gosto tanto, mas são leituras interessantes quando ditas por você, portanto me diga sobre o que leu.

— Não lembro bem de sua totalidade, mas um dos versos fez com que eu pensasse em você durante a leitura.

— Pode me dizer qual foi o verso?

— Flores se vão e vem como estações únicas de momentos eternos. Nesta estação que chamamos de vida busque, não somente a si, busque a flor das flores e jamais terá de andar sob a solidão inquietante de uma alma alarmante.

— Desconheço o autor, na verdade, quase todos são desconhecidos, para mim admito. Mas admiro suas palavras.

— Encontrei na pilha velha de minha família... de qualquer forma o nome deste traço é Lírio.

— Lírio não é? Combina com você, chamarei-a desta forma agora, meu lírio, meu intocado lírio.

— Então serei o lírio de minha acácia, aquela mais bela entre todas as flores.

— Mente pensante a sua, gosto.

— Ao seu dispor. — sorrio afagando seus cabelos.


Presente (24/12/2020 - outono)


Foi um momento curioso, mas que agora não passa de memórias perdidas desta que fora nossa era dourada e há muito esquecida.

Numa das barracas paro tendo a visão incomum daqueles que um dia foram o casal de nosso grupo, os primeiros a se apaixonarem, cômico pensar que logo eles voltaram nesta data.

Uma longa noite se apresenta, sorrio para suas faces mais sérias... serem pegos desta forma.


— Percebo que voltaram, gosto de ambos juntos.


Em seco a vejo engolir, Reii, não mudou nada quando o assunto é Tatsuo.
Tímido é o sorriso que agora surge nos lábios pintados pela tonalidade mais clara.

A mesa me sento, recebendo de Tatsuo as bolinhas cobertas por um tempero incomum qual nem mesmo minhas narinas pode distinguir.


— Estou feliz por ver que finalmente acertaram as diferenças, fiz o certo ao sair mais cedo de seu bar naquela noite. 

— Após minutos de humilhação eu consegui conquistar ela.

— Idiota — a vejo bater em seu braço. —, não fez nada de mais.

— Essa energia que possuem, estou feliz por vocês dois, Tatsuo e Reika, se casem logo para que eu possa participar.

— Estamos longe disso, mas ainda desejo.

— Após estruturar minha vida.

— Nenhuma estrutura vale a pena quando pode se perder quem ama... sei disso muito bem.


Nos seus braços pude ver o abraço, no olhar seu carinho e em seu corpo todo o afeto que pode compartilhar sem medo de represálias.
Mesmo eu não sou a única a observar, os olhares dos presentes logo se vão ao casal que apenas sorri em resposta.


— Naomi, eu soube que tem alguém novo te procurando na cidade. 

— Alguém novo? Uma figura familiar para você? Estranho pensar em alguém indo até sei bar para me procurar Tatsuo.

— Não, passaram no bar e perguntaram se eu conhecia você.

— Como era?

— Uma mulher, nos trinta, imagino eu... ela carrega um pingente azul.

— Tem algo a mais?

— Seus cabelos são escuros, bem pretos, ela possui uma face inocente também... de qualquer forma eu nunca a vi em minha vida.

— Estranho, mas depois vejo isso, quero saber como estão após esse retorno tão aguardado por todos nós. Felizes? Morando juntos? Ou apenas esperando a brisa os levar? 
 
— Um pouco de cada, ainda não decidimos nosso futuro para ser honesta. — Reii afaga suas maçãs ruborizadas. — Tenho vontade de ficar aqui ao invés de retornar.

— Não é uma ideia ruim. Qual o sentido de trocar a calmaria pelo barulho? Não há, este é um conceito que até mesmo eu tenho me questionado.


Algo inexplicável de fato, mas a vontade de permanecer aqui com todos que conheço próximos é tentadora, ainda mais quando a possibilidade de você estar aqui é grande.


— Tentaremos fazer nosso melhor e isso é tudo que podemos dizer nesse momento. Agora me diga, como vão às coisas com Murano? — Tatsuo me fita. — Soube da notícia que circula entre os dois?

— Estive bastante ocupada esses dias, como devem saber eu estou num processo de adoção.

— Jamais pensei em você sendo mãe, não que eu imagine você sendo uma mãe ruim ou uma malfeitora. Apenas nunca cogitei presenciar esse lado de minha amiga.

— Também não, mas aqui estou eu fazendo meu melhor para adotar um criança. E diga o que está acontecendo que eu perdi nesses últimos dias tão agitados.

— Murano e Hanzo assinaram o divórcio, não vai levar muito tempo até que seus mundos entrem em colapso... e pelo que soube do Hanzo ele aceitou numa boa.

— Não sabia. Essa era uma notícia que eu não estava esperando.


Não sei que tipo de reação esperava de mim mesma, contudo, tenho certeza de que não esperava essa conflitante mistura de raiva e alegria que me toma. Estou feliz por ela fazer a escolha que melhor lhe faria bem, mas eu ainda sinto vazio indescritível em meu peito por saber que essa decisão a põe em perigo.
O único pensamento que me compõe é o de encontrá-la não importa onde esteja, sei que agora ela pode se sentir perdida, afinal não possui mais aquilo que a prendia neste lugar.

— Ela disse que viria hoje, — viro ao ouvir sua voz. Chie. — se quiser falar com ela, provavelmente estará no lugar de sempre.

— Entendo, mas será que devo?

— Todos aqui sabem que você é a única que pode fazer isso, ao menos é a única a qual ela ainda escuta sem brigar.

— Tatsuo tem razão, nesses anos todos na França eu vi o quanto ela mantém vivo esse sentimento.

— Deveria tentar Naomi. — as mãos repousam em meus ombros. — Você desejava isso e ela também, agora possuem a chance de fazer algo.

— Tem razão, não faria sentindo saber disso e ainda assim preferir não fazer nada.


Levanto-me da cadeira visando o único caminha onde ela poderia estar, o topo do parque, abaixo da árvore mais antiga dessa cidade.
Não importa o que ou quem surja em minha frente, nenhuma dessas pessoas me fará desistir de encontrar ela.

Essas lamparinas iluminam a face de todos, no relógio busco a hora, dez para a meia-noite.

Nessas trilhas fora onde vivemos nossa juventude ao seu máximo, brincamos, sorrimos, compartilhamos e dentre tudo não deixamos de demonstrar esse sentimento um único dia.

Lanternas de papel iluminam os arredores das escadas compostas por terra e madeira, lembro de uma vez onde cai nessas escadas apenas por desejar acompanhar ela.

Mesmo que naquela época eu ainda tenha sido covarde ao admitir essas emoções num primeiro momento, confesso, cada desventura vivida ao seu lado fora o que fizeram com que essa emoção crescesse aqui dentro até tornar-se o que é hoje.

Ao final de da trilha luzes iluminam o ponto mais alto da cidade onde agora apenas uma presença resta, sua presença abraçada as sombras se encontra observando aquilo que de melhor a cidade tem para oferecer, sua beleza inigualável.

Caminho em direção a figura sendo surpreendida pelo seu virar, nossos olhares se encontram, meu coração pesa e mal posso respirar frente a ela.
Dou um passo para frente sentindo a inexplicável fadiga tomar minhas pernas, mal consigo parar de tremê-las.


— Para estar deste jeito imagino que saiba do que aconteceu, e sim, eu fiz isso depois de dez anos com ele... é engraçado pensar que foi possível.

— Você está bem com isso?

— Não vai me dar os parabéns?

— Quero que me diga, está bem com isso ou não?

— Já estive pior, acredite, porém, não sinto que vou morrer apenas por assinar aquele papel.

— E a menina? Digo, sua filha, Suyen não é? Ela também está bem com isso?

— Eu contei para ela na primeira oportunidade que tive, mas acho que não era a hora, sabe Naomi... algo aqui dentro está muito pesado, mesmo tirando esse peso eu sinto que fiz errado.


Sem mais questões, ando em sua direção ignorando tudo ao meu redor, se ouve aquele que torceu seu nariz, aquele que ofendeu-me ou simplesmente o que virou seus olhos para meu gesto, não importa. Laço meus braços por seu corpo colando sua presença a minha, mesmo que lágrimas lhe faltem, sei que sente muito por tudo isso ocorrer com você.

É como se estivéssemos revivendo a imagem daquela verão, há dois anos, quando eu simplesmente não sabia que rumo escolher em minha vida devido à ausência de uma única emoção que em abundância me faltava.
No repouso que tomo em seu abraço percebo a essência aquela que me falta, o perfume estranho que sempre me pareceu inusitado junto desse calor tão incomum.

Quero passar meus dias tristes abaixo de sua guarda tão caridosa, é nela o lugar onde me apoio.
Sinto seus dedos descerem por meus fios, tímidos são o percorrer.

Repouso meu rosto em seu ombro sentindo a intensidade do perfume adocicado que apenas Murano possui, essa sensação.


— Eu quero estar com você, Murano... quero ficar com você para sempre.

— Sei disso, mas será que podemos?

— Podemos enquanto ambas desejarem isso... sei que não é o momento para tal decisão, tenho medo de não outras a afastarem.


Toma a distância para que ao encontro de seus olhos possa estar, o marejar se faz presente, é difícil manter-se forte e agora será mais ainda.
Afago suas macas limpando a trilha cristalina deixada sob elas.

Os momentos em que tenho sonhado ultimamente se fazem presentes em meus pensamentos.
Nosso momento único retorna como uma música qual nunca consegui esquecer após dois anos.

Aquele momento onde um verão surgiu e seu verso de refrão era uma nota quebrada qual mantive minhas esperanças agarradas.
E pensar que aquilo tudo só ocorreu devido a uma decisão assertiva minha ou será que estava errada, não importa, eu a fiz sem pensar no que poderia acontecer.


— Murano, eu nunca contei para você o que houve no verão... a verdade... escondi algo importante.


Naquela época eu tive fé sem nenhum motivo aparente para tê-la, eu segui num casamento de acordos... engraçado, pois foi o momento mais sombrio de minha vida e lá estava eu pensando em você enquanto seguia sem desistir de tentar.

Fazendo o melhor que eu poderia sempre que a dificuldade surgia em meu mundinho, eu apenas pensei que eventualmente tudo ficária bem, que logo eu alcançaria você através do meu sonho.
Meus olhos apenas podiam ver o otimismo enquanto eu corria na mesma direção incerta, um futuro escuro sem apoio e com aqueles amigos distintos ao meu lado.

No final do túnel acreditei que haveria uma luz tão forte, brilhante e incandescente que faria toda a escuridão sumir de minha vista. Então eu corri com esperança até que a mesma deixou a caminhada, porém eu segui, correndo em frente e sem esperança.

Curioso que ao final desta corrida você surgir não apenas em minha mente, sua presença se fez no verão mais distante que foi quando o inverno chegou para mim no meio do calor. 
Atordoada, eu pensei em você, sorria sempre que palavras surgissem para descrever sua nova versão, palavras essas que apenas eu conheço.

E nisso eu esqueci a vida que havia feito... aquilo que havia prometido, algo que já era parte de mim e eu apenas ignorei por dias.

Ali percebi que mesmo após tantos anos desejava algo inexplicável, estar com você, só pensava em estar com você e como isso foi meu único desejo por tantos anos que já haviam passado.

Porém, a melodia não tocada começou diante das chuvas daquela estação, eu estava tão lúdica que mal percebi o instante em que estava encharcada. Foi no encontro de nossos olhares onde percebi que mesmo as dificuldades não poderiam mais me abalar, pois tudo que desejei, foi proteger esse meu sonho de estar ao seu lado.

Naquele instante em que encontrei seus olhos como agora, foi o instante em que percebi, você é a única que está em meus olhos, mente e coração.


— Murano.


Diante de seus olhos encontro-me perdida nas palavras que desejo esboçar e naquelas que preciso dizer, não importando o quão difícil seja.


— Eu quero passar minha vida com você, mas se porventura recusar, serei compreensiva.

— Acha mesmo que podemos fazer isso agora?

— Se não formos agora, quando seremos capazes disso? — afago sua bochecha. — Não quero repetir meu erro do verão, muitas mágoas já foram geradas por causa deste detalhe.

— Aquele verão não é... lembro de surgir do nada, algo que nem mesmo eu esperava ter feito.

— Um momento triste em nossa história já tão repleta de complicações e desordem. Naquela época pouco eu poderia fazer,  tantas complicações diversas que mal pude resistir.

— Queria poder dizer que tudo foi uma colocação única sua, que apenas você sofreu, mas estaria errada nessa tese.

— Eu estava casada nessa época, três anos em um casamento que usei apenas para chegar no "hoje" de minha vida.

— Negócios são difíceis às vezes.

— Casei por pouco pensando apenas em assumir tudo no verão, mesmo meu pai a quem tanto respeito e admiro consegui escutar.

— Foi uma fase difícil?

— Um pouco, mas mesmo nessa fase havia alguém que eu buscava um menino de manter viva certa esperança.

— Alguém, quem, digo que pessoa é essa?

— Naquela eu conhecia alguém, podemos dizer que eu estava com aquela pessoa no momento mais conturbado de minha vida.



Inspiro sentindo esse pesar em meu peito, agora posso sentir essa leve dor o incomodar como tanto fazia em noites semelhantes a esta.
Sua mão tomo a minha, esse calor, eu não queria precisar contar nada do que irei, afinal essa era ficou enterrada no passado, qual desejo retornar.


— Há três anos eu conheci pessoas diferentes, e dentre elas, alguém único que por muito tempo foi alguém com quem eu pude dividir uma cama.

— Era esperado por mim — seu olhar desvia buscando a imagem deste céu. —, não posso esperar que fique a minha, por mais que seja algo bonito de se pensar.

— Nesse tempo eu passei a viver com uma pessoa enquanto estava casada, admito, não sou um exemplo de ser humano por trair e perecer a um desejo simplista de preenchimento.

— Deve ter seus motivos...

— Tinha, de fato, todos eles eram sobre seguir e deixar para trás essas minhas memórias doloridas.


E agora que estou aqui percebo o quão fortes foram esses desejos que senti por tantos anos seguidos, foi em 2016 quando tudo aquilo começou e eu, era apenas mais uma alma perdida entre o estigma do trabalho e da solidão.


Passado (20/10/2016 - outono)

A presença, o carisma e até mesmo essa força demonstra acima deste palco, nos olhares percebo, admiração de todos os presentes nesta reunião de última hora.


— Com isso desejo oficializar a nova abertura deste escritório, espero que cada um de vocês me ajude a expandir ainda mais o Plus N. 


Uma chuva de aplausos, foi isso que recebeu da plateia, ou melhor, seus funcionários.
Na beleza de seus traços, um marcante e ainda assim tímido taiwanês encantador como poucas podem fazer.

Seu desfile se encerra ao pé da escadaria, quem diria que àquela qual conheci numa viagem se tornaria tão grande a este ponto.
Estou feliz, ver cada vez mais seu desenvolvimento é algo que agrada e que posso dizer estar profundamente orgulhosa.


— Não precisava me esperar aqui, poderia ter ido ao restaurante. 

— Sem você eu me sentiria uma pequena figura perdida, não sou muito segura sem você, Sam, fora que não sei nem mesmo que será a convidada da noite.

— Deveria ter mais confiança, como pretende dirigir uma instituição sem confiança? Beleza não compra tudo para uma figura como nós.

— Eu sei bem disso, mas é que tem algo que eu ainda não entendi, qual o sentindo de irmos a um restaurante encontrar com essa outra pessoa?

— Tem alguém a quem desejo te apresentar e sei que gostaria de sua presença por ela vir diretamente da Coreia do Sul após uma temporada boa.

— Por quais motivos eu gostaria de conhecer ela?


O silêncio me entrega partindo na frente, sempre assim não, muitas perguntas para poucas respostas e ainda evasivas.
Apenas a sigo para dentro de seu carro conversível observando a clareza das estrelas ao céu... é tediosa essa nova vida.


— Como foi em Taiwan, pretende voltar?

— Sim... essa foi minha última abertura no Japão e pretendo voltar logo para minha casinha.

— Chama aquele apartamento gigante de casinha?

— Você também possui muitos e ainda assim eu não falo deles. Além disso, apenas desejo retomar para ver ela.

— Vejo como assumir esses sentimentos lhe fizeram bem, ao menos não precisa casar mais por conveniência.

— Minha avó não gosta da ideia, sua única neta ser, bem, você sabe... 

— Conseguiu atingir a meta e ganhou alguém com quem pode, óbvio que se quiser e estiver a fim, partilhar suas dores mais profundas.

— Quanto a isso, possui certa razão, isso faz de nós duas uma boa dupla... algo bom, eu acredito.

— É bom isso, essa sinergia intocada.


Não demorou muito até que o lugar que me aguardava chegasse, este que se mostra um ambiente mais sofisticado om retoques de solidão.

O anfitrião apenas ao olhar para sua face reconhece de quem se trata, conduzindo de imediato a nós duas para uma sala reservada.
Com o abrir de uma brecha, a visão curiosa de uma figura que quebrar as éticas de uma mesa, a face apoiada na mão cujo braço força a mesa.

Seus olhos singelos se direcionam a nós, isso, é gentil demais para alguém cuja fama prega o oposto... seus óculos escondem as olheiras marcantes, um panda?
Ela é bonita para alguém que vive diante de uma tela por tantas horas no dia, na curva de seus lábios a inocência encarnada e essa expressão que porta condiz apenas com uma visão pura.


— Naomi, está é a figura qual desejo te apresentar desde que nos conhecemos.

— É um prazer conhecê-la, Naomi.


Sua voz é energética, a aparência pura seguida por este fraco sorriso incomparável, ela é única demais quando comparo com todos que conheci.


— Sou Riho Nagasawa, espero que possamos nos dar bem.



Presente (24/12/2020 - outono)

Foi naquele momento onde conheci uma das figuras mais importantes para mim, alguém que não esperava nada e ainda assim recebi muito.
Nunca fui de medir emoções, mas, frente a tudo isso que vivi e estou vivendo, percebo que mesmo aquela sendo uma época sombria, ainda assim possui traços bons de dias claros.

Estar diante dela me faz perceber aquilo que por entre aqueles dias tive medo, a sensação que ela me causava é a mesma que você me causa.
Diante a imensidão desse olhar posso ver, não, não apenas ver como sentir tudo nessa intensidade que me passa com tão pouco.


— Eu namorava uma pessoa, essa pessoa por alguns dias foi a única qual pude contar e compartilhar emoções tão vivas... até o início deste ano ela ainda me era próxima.

— O suficiente para que nossa relação pudesse ser esquecida?

— É próxima ao ponto de me fazer sentir culpa por um dia ter feito ela sofrer, foi isso, um momento ruim onde tudo acabou de forma apressada.

— Não muito o que posso dizer além de agradecer por sincera comigo, parte de mim, sabia, não poderia pedir que esperasse para sempre meu retorno.

— De fato, mas ainda assim sinto que...

O romper de algo entre arbustos destoa minha fala ecoando na noite, um galho partido pelo sapato escura, a mão tomo ganhando certa confiança para perseguir com meus olhos a face da presença que surge.

A calça alta de tonalidade escura balança ao soprar dos ventos, a blusa branco e por cima o suéter preto... não tenho dúvidas... esse bracelete prateado com a figura de uma cobra.

E como dizem as lendas, não há como fugir do passado, mesmo que ele seja quem fuja de você num primeiro instante. 


— A neve.


O floco branco desliza na imensidão desta noite, caindo lentamente aos passos de uma melodia jamais ouvida, ao tocar de minhas narinas a vejo.
Seu cabelo, preso num rabo de cavalo, está mais cumprido e uma cor mais escura comparada a última vez em que nos vimos... preto realmente lhe cai bem.


— Então era você?

— Sim, — o sorriso tímido, o mesmo daquela noite onde nos conhecemos. — sinto que estou atrapalhando algo.

— Tem meses que não diz nada, nem mesmo um sinal de vida deu.

— Naomi... preciso conversar com você.

— Você veio para cá com isso em mente?

— Tem muitas coisas em minha mente, muitas mesmo.


O aperto de minha mão, Murano, este era um momento qual eu não desejava que soubesse até que minhas palavras fossem lançadas em sua totalidade e não em apenas alguns versos.


— Ah, eu entendo, você é a Murano? Pela aparência imagino que seja, então eu pude conhecer a mulher que nunca deixou seus pensamentos.

— Riho...

— Ela bonita como havia dito, como eu vi nas fotos que havia mantido no celular. 

— Podemos conversar, mas não quero precisar fazer isso agora.

— Será rápido, por hora, mas eu realmente preciso.

— Será rápido Murano, tudo bem?

— S-sim, eu acho.


Desfaço o laço de nossas mãos tomando proximidade daquela qual há muito não via, meses desde nosso último encontro.


— Você está mais bonita agora, imagino que seja efeito de estar num lugar calmo.

— Um pouco, um pouco, mas o que faz aqui?

— Vim conhecer seu passado, não é como se eu tivesse deixado de gostar de... você.

— Riho.

— A Sam me disse para estar aqui, ela disse que se eu realmente gostasse deveria tentar como ela tentou com sua namorada... não apenas fugir para a Tailândia.

— Então foi para lá que foi?

— Não brigue com ela, eu pedi para manter isso escondido de você até que eu estivesse controlada.

— Ainda assim, está errada, fora que nosso caso difere delas, sabe disso, talvez melhor do que a mim.

— Ainda assim eu quero tentar.

— Riho, eu mudei.

— E vejo essa mudança, mas, qual o problema em tentar quando é o que desejo?

— Vai se magoar comigo.

— Fui sua namorada há onze meses, não posso evitar pensar naquele tempo... não posso deixar de pensar em como eu ainda a desejo.


E foi há dois anos onde sua alma foi tocada pela minha rebeldia. Eu me odeio por fazer você passar por isso, Riho.


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