夏 (Natsu) - Memórias de verão (parte II)

Avisos!

No meio para o final do capítulo tem uma cena mais intimista que envolve duas personagens do mesmo sexo, então imagino que alguns possam se sentir desconfortável. Era apenas isso e eu desejo uma boa leitura.


Passado (15/08/2018 - verão) - (natsu/夏)

Está chuva molha minha face, sinto-me pesada entre tantas faces únicas qual mal poderei lembrar-me pela manhã. Pela entrada deste lugar que carrega o nome da lua percebo aquilo que tanto desejei em um dia como esse.

O cruzar da porta faz o toque sutil, este sino, gosto de ouvir sua melodia ainda mais num dia, ou melhor, noite como essa.
Percorro os olhares daqueles aqui presentes, poucos, quatro ao todo, sou realmente privilegiada por poder estar em um lugar desse após meu expediente escolar.


— Bem-vinda de volta. — sua voz alegre ecoa em minha mente. — Boss? Está tudo bem?

Ouço-o parando diante de seu sorriso acolhedor, uma das poucas graças que tive nesses últimos dias tão chuvosos. O casaco retiro deixando-o sob um gancho atrás da porta e para o bar sigo.
Celestial é a decoração de hoje, queria poder dizer o mesmo de meu dia e consequentemente deste começo de noite... ao menos seu sorriso me relaxa.


— Tome essa toalha. — a joga sob minha cabeça tapando minha visão. — Essas tempestades de verão é um problema. O movimento tem ficado bastante inconstante.

— Obrigada Dean, essas chuvas estão sendo uma merda no geral. Aqui dentro ao menos não preciso enfrentar ela.

— Estressada? Não a vejo usar merda há algum tempo... hoje é sexta... deveria relaxar mais.

— Algo semelhante ao estresse, enfim, quero uma caneca de cerveja preta.

— Pela sua cara um whisky vai bem não? — alça a garrafa de detalhes antigos, essa é a que tanto desejava abrir. — Hoje vale a pena, não acha, Naomi?

— Hoje? A semana inteira tem sido difícil e se formos usar sua lógica estaria embriagada numa sarjeta qualquer afogando em vômito.

— Por que tão extrema?

— Nem mesmo eu sei, — sento-me no banco. — eu sei, na verdade, tenho medo de dizer em voz alta.

— Riho dependência ou a escola ataca novamente?

— Engraçadinho, tem relação com ambos, Riho é sufocante e a escola tem relação com o acordo merda que fiz para gerir ela.

— Faz sentindo, mas não explica tanta revolta? 

— Meu casamento acabou ontem, e eu não compareci à reunião... agora terei de esperar a boa vontade do infeliz Takeda.

— Imagino que tenha perdido ela por uma boa causa, não é? Sempre tão diligente, não imagino o que faria você perder algo tão importante.


Vejo em seu olhar aquilo que deseja falar, nem mesmo esconde mais. Quando foi mesmo que deixou de lado toda aquela timidez e se tornou uma cópia alegre minha? Realmente não sei.


— Riho não é?

— Aprendeu a ficar sério? — um sorriso tímido o entrego. — Sim, perdi por causa dela.

— Ela anda mal ultimamente, não para muito por aqui desde que pegou esse projeto de marketing.

— Dormi com ela ontem, passou bastante tempo na frente daquela tela idiota até enfim voltar.

— Por isso perdeu reunião?

— Sim e não, — diante de meus olhos, põe a caneca de cerveja. — estávamos discutindo e tudo mais.


É estranho como consigo lembrar de todos os detalhes que vivemos, minhas ofensas a ela, o choro que veio em seguida e até mesmo a frustração que me corroeu por inteira.
Tudo isso pelo simples fato de sua dependência excessiva, sufocante, e distante de tantas outras realidades que almejei.


— Então a briga começou pela dependência de novo? 

— Sim, sempre começa por ela.

— Faz quanto tempo? Um ano?

— Um e meio, nos conhecemos desde o começo de meu casamento e só agora eu realmente pude falar abertamente com ela.

— Aqueles olhinhos pretos sedutores viraram seu ponto fraco. Acertei sobre ou não?

— É complicado, eu não entendo isso que vivemos.


Busco a alça da caneca tornando seu líquido aos meus lábios, o corpo leve, esse sabor doce, não poderia pedir algo melhor para aliviar meu estresse de tantos casos seguidos.
Sob o porta canecas a deixo tornando a olhar em seus olhos desajeitados, nem parece com um homem na casa dos vinte e sete.


— Tentando explicar, ela me faz aquilo que há tempos não tenho. Uma alegria, uma emoção ainda não explorada.

— Uma parceira boa, então?

— Não, não, longe disso. Isso que compartilhamos é mais intenso e, simultaneamente, soa pesado.

— Como a garota de sua época escolar?

— É... quase isso... semelhante, contudo, diferente.

— Posso resumir isso em uma frase, sabe qual?

— Não? 

— Ela transa melhor que o seu marido? E digo com certeza, se a resposta for sim está tudo bem, pelo menos podem assumir a relação agora.

— Realmente você é mais engraçado que sério, tolice minha pensar que seria diferente.

— Falando sério, qual é o real problema nisso?

— Além dela ser irmã do meu marido que logo virará ex? Tem alguns, ela não consegue ouvir, temos problemas quando o assunto é decisão e o pior é sua dependência... não gosto de ser um farol.

— Você realmente tem um problema grande, professora, mas, tem algo que ainda não entendi bem nesse conjunto. Deseja terminar ou é apenas confusão momentânea?

— Nem mesmo eu sei, parte de mim quer terminar esse algo que vivemos e a outra apenas deseja ver aonde isso vai terminar... não sei.

— Tem medo daquela garota voltar? Porque não deveria, afinal já passou certo tempo não?


Murano... ainda soa como um fantasma no armário qual eu não consegui lidar, acho que nunca fui para ser honesta comigo mesma.
Levo minhas mãos a cabeça, afago com meus dedos os fios de cabelo, dói, ficar perdida no meio disso tudo me deixa mais confusa.


— Sei que não deve ser fácil precisar lidar com essa dependência, Riho sempre foi uma mulher sozinha, e você foi a primeira dela pelo que ouvi.

— Eu sei, mas é difícil para mim e ainda possuo o receio de que um dia ela volte. Doze anos, doze longos anos e mesmo assim ninguém fez nada semelhante.

— Transaram? Para você estar dessa forma, consigo pensar apenas nessa hipótese.

— Nem tudo é sobre sexo Dean, mas respondendo, não, apenas vivemos como duas adolescentes com desejos proibidos... ou algo assim.

— Entendi, bom, nesse caso posso apenas recomendar que você viva intensamente com a Riho e tente a sorte de esquecer o passado.

— Não é muito fácil.

— Mas não custa tentar, Naomi, não pode ficar pressa ao passado para sempre. 

— Sei disto melhor do que todos ao meu redor, contudo, tem algo que dói e isso se mostra quando preciso estar diante dela com a cabeça em outra.

— Eu não sou o melhor dos exemplos, apenas olhe meu retrospecto, apanhei de um ex e quase morri, mas nessa fraqueza conheci o Kota. 

— Onde quer chegar com suas palavras?

— Não precisa se manter ligada ao passado, sabe, viva o seu presente sem tentar controlar tudo.

— Não é tão simples, eu quero não ligar, mas ela é dependente de tantas coisas diferentes que mal posso lidar e por vezes é sufocante... outrora... admito que até gosto de seu convívio. 

— Pelo que vejo não é amor, está longe disso, distante para ser sincero. É um jogo que você deseja jogar.

— Não a enxergo bem desta forma, ela é humana e com problemas sérios.

— Você também é mulher, Naomi, não pense que é menos quebrada apenas por não possuir dependência.

— Dean, você é um babaca inteligente.

— Obrigado pelo elogio, agora eu tenho um conselho para te dar e espero que siga ele de coração.

— Vai dizer para largar meu passado? Não é simples, e como eu disse, ela é muito dependente, provocando certo sufoco ao mesmo tempo, conforto. Apenas não sei o que fazer.


O sino ressoa, torno a olhar para a porta observando o semblante de um homem que acabará de sair dos treinos... essa sua roupa.
Aos passos largos se aproxima e no puxar da cadeira meu lado toma sendo servido pela lata.


— Boa noite senhorita Minamoto.

— Kota, pode ser informal comigo. Além disso, o que faz aqui hoje.

— Noite do cinema.

— Ah... entendo... não irei alugar mais o Dean então.


O último tragar dou secando a caneca, acabou, sob o balcão deixo as notas buscando seus olhos mais ferozes.


— Naomi — o fito. —, um último conselho, viva o momento, seja ele qual for. Não poderá controlar ela e tão pouco a vai fazer isso por você.



Viver o momento, essas foram as palavras do ser mais inconsequente que conheci nesses anos em Tóquio, por noites problemas e pelas manhãs o desafogar dos mesmos. Esses foram os dias desde que entrei pela porta daquele bar antes tão maltratado por suas marcas do passado.
Agora quando observo esse brilhar de seu olhar percebo a realidade, viver o momento fez com que todo mal sofrido pudesse ser contornado por emoções tão mais fortes e boas quanto as ruins.

Deixo estabelecimento com uma última visão deste lutador e seu apaixonado homem, inconstante, inconsequente e, ao mesmo tempo, inteligente... fazem um bonito casal.

E agora aqui estou eu sentindo o toque gentil seta garoa, pela noite marcada pelas confusões, sigo abaixo do lampejo das luzes de lanternas.
De minha bolsa busco o aparelho, entre os aplicativos saltitantes, a imagem ao fundo, o sorriso que por instantes me fez desejar o sumiço de minhas memórias conflitantes.

Você não é Murano, está longe de ser ela, e ainda assim eu arrisco pensar numa remota possibilidade desse "nós" ser possível.
Mesmo todos pesares marcados pelas oscilações distintas, emoções conturbadas e dependências possessivas... eu realmente quero... tentar até onde conseguir.

O vislumbre destas luzes molhadas pelas gotículas miúdas da torrencial queda me trazem a você mais uma vez, não será a primeira e tão pouco será a última vez.

Diante da entrada marcada por sua aparência gentil, percebo que até mesmo este lugar remete a ti nos mínimos detalhes.

A iluminação quase cegante escapa por entre meus dedos, as gotas que molham a tela evidenciam a hora... difícil que eu entre aqui.
Onze e meia, prestes ao nascer da madruga e cá estou eu abaixo de sua janela observando a luz que escapa pelas cortinas.

Duas ou três, nem mesmo sei, ainda assim soa como se fosse ontem a primeira vez em que parei para olhar nossa complexidade a qual sirvo por livre e espontânea vontade.

Numa melodia destoante da chuva, o estalar que muda a noite, a tranca se abre, entre a brecha que me permite busco a feição e na perdição seu olhar.
Surpresa, espanto, indignação? Não posso imaginar o que pensa, qual é o seu desejo ou se me odeia por estar aqui.

A porta por inteira é aberta, a camisola branca ressoa ao flerte do vento que beija a face levando meu olhar aos fios perdidos em seu rosto.
Os óculos ainda empenados, não tem mesmo jeito de alterar seu modo, e agora que noto a sacola escura na mão.

Mesmo algo simples como jogar fora o lixo pode esquecer, talvez se passasse mais tempo longe de uma tela pudesse... tomo de sua mão o saco deixando-o ao lado do contêiner... não vim até aqui para debater lixo.

— O que faz aqui? — tensa, embargada em receio... a voz confiante se foi. — Disse que não voltaria até eu mudar, pensei que faria assim.

— Eu? Faria isso, sabe que faria.

— Então por que voltou?

— Uma dose de cerveja, as palavras tão convincentes do Dean… tantos foram os fatores.

— Bebeu?

— Um pouco, o suficiente para realocar minhas ideias, e eu realmente precisava disso para pensar melhor.
 

No desviar de seu olhar percebo a emoção que lhe circunda, este receio, eu a fiz sofrer por algumas horas e aqui está o resultado disso que causei.
Mesmo assim não estou tão distante, não, me encontro relutante assim como ela.


— Disse que não voltaria... acreditei em suas palavras... desta vez estava diferente.

— Riho, por que sempre que a vejo parece tão linda? 

— Oi?


O olhar evasivo se volta ao meu, não há como fugir disso entre nós... na face o estalar de uma coloração tão vibrante, o rubor de fato lhe cai tão bem quanto a seriedade que carrega.
Não posso dizer quanto a ela, mas aqui, dentro de meu peito, sinto o acender de uma fagulha que aos queima com intensidade.

Busco a sua direção, mesmo que isso vá contra aquilo que disse, que não desejava ninguém instável e tão dependente de minhas ações.
Sem que mais palavras sejam ditas a tomo em meu abraço, seu corpo preenche a mim e na delicadeza posso sentir tudo que desejo neste instante confuso é você.

Algo aqui diz que isso que faço trará desordem ao meu mundo, as minhas ideias, que tudo acabará quando menos esperar como fora com Murano.
Saber disto magoa, mas quando olho em seus olhos, quanto abraço teu corpo, quanto sinto sua essência... é quando estou com você que posso esquecer por instantes que uma dor me consome.

Sob a beleza desta face mergulhada em rubor deixo meu toque, o estalar de meus lábios, seu rosto está quente ou estou delirando?
Mesmo que você não seja ela, mesmo que se mostre oposição as virtudes dela, eu ainda assim quero estar aqui com você.


— Riho, — sussurro. — pensei em você durante todo o dia.

— Não deveria ter saído se iria fazer isso, pensar em mim e terminar bebendo.

— Eu sei, nossa discussão, foi inútil... Dean falou isso e agora eu entendo ele.

— Boba, bom que o Dean concorde.

— Mas eu apenas fui brigada por ter um trabalho, não posso virar as costas para ele.

— Sim, eu sei disso, é só que foi tudo tão rápido e explosivo. — seus dedos afagam a mim no tocar de minha face. — Também sou difícil, mas poderia ter ao menos ligado, nem que fosse para me ofender, eu entenderia melhor.

— Desculpa. — afago seu cabelo. — Um erro meu que não pretendo repetir.


Talvez eu esteja enlouquecendo ao dizer isso, mas desde que Murano se foi você é a única qual eu tenho o desejo de estar. Sinto que talvez possamos até mesmo, não, talvez não seja esse caso tão...


— Pretende ficar aqui em baixo? — o elevar de seu cenho, gosto quando faz isso. — Vamos subir antes que pegue um resfriado.


Seu movimento desfaz o toque, e ao dar passagem subo deixando a chuva para trás.
Pelas escadarias segue subindo degrau a degrau sem que uma única palavra diga, mas posso ver seu claro sorriso qual não pode esconder.

Frente aquela qual porta na madeira o número de 202 paramos, o toque elusivo na maçaneta a traz para perto de minhas emoções, esses devaneios.
A sonoridade me desperta, em minha frente o cessar de seus passos, eu a entendo bem agora que nossas posições são semelhantes.

A envolvo em meus braços sentindo o calor de seu corpo, o aroma, sob sua nuca repouso minha face, Riho, você é alguém cuja distância apenas acentua o que desejo.


— Não vou embora. — sussurro. — Não quero ir embora nesta noite.

— Eu, sabe, não desejo que vá também.

— Podemos esquece sobre essa manhã?

— Sempre esquecemos não?


Desfaço meu abraço, sua face tomo encarando sem mais rodeios os olhos por quais estive encantada nestes dias tão difíceis.
Os óculos empenados elevo a sua cabeça prendendo-os entre os fios, a curva suave nos lábios, gosto quando sorri assim de maneira leve.


— Naomi, — o sussurrar tímido, essa serenidade, é o mais próximo que posso chegar... — voltamos? Ou estamos apenas vivendo essa tortura?

 — A coisas que não pensamos, Riho, essa é uma delas.

— Eu...


A proximidade de sua face me faz pensar no quanto eu anseio por isso, pelo toque, pela intensidade, as batidas erradas de seu coração tão jovial e sem falar na delicadeza qual me encanta.
Afago seu rosto a trazendo para mim, ao fechar de seus olhos o mesmo peso faço sob os meus tornando a última imagem marcante a sua.
O selar de nossos lábios, meu peito bate, tão rápido que posso ouvir cada ponto deste compasso... este é o mais perto de um conto de fadas que pude chegar.

Nossos lábios se separam, o desencontro de nosso toque sublime. Abro meus olhos fitando a face vermelha, suas maçãs queimam, fica bela desta forma.


— Estou confusa, Naomi.

— Também estou, talvez, até mais que você.

— Tudo precisa ser assim entre nós? Complicado?

— Não sei, mas, posso dizer que voltei para o lugar onde eu deveria permanecer... ao menos até que eu não...


Meus lábios repouso sob sua pele, em meu soprar a sinto se mexer em meu abraço. A mecha de cabelo busco e atrás de sua orelha deixo presa.


— deseje estar com você, mas, não penso nisso agora.


Sua voz se embola, não pode resistir, conheço seus pontos mais sensíveis, e este é inigualável quando se trata de derrubar sua razão.


— Tudo é tão confuso...

— Esqueça da lógica por um instante. Nem tudo deve possuir um sentido.

— N-Naomi...

— Eu quero você, Riho, não importa o quão irracional isso seja.


Seu queixo afago trazendo a mim o olhar resplandecente tomado de timidez, nem mesmo parece ser mais a mulher com uma das línguas mais afiadas que conheço neste mundo.


— Está linda assim, gosto quando me revela essa sua versão mais singela, não apenas a mulher sensual e culta.

— Cala a boca... — esse sorriso sem jeito, agora sim é você. — esses elogios... não sei lidar.

— Sei bem disso, percebo que meus elogios ainda mexem com você como em nossas primeiras semanas.

— Naomi, pare me torturar... podemos apenas continuar isso depois, agora eu preciso trabalhar.

— Lembro que quando disse algo relativo anteontem você não permitiu, injusto, mas agora eu tenho as rédias.


As pálpebras pela ação se fecham para mim, inclino-me buscando seu toque a fim de calar os anseios mais gritantes de minha ressentida alma.

No selar de nossos lábios o calor que me toma a pele, tal ar que antes preenchia-me agora falta e dentre tudo o sabor azedo que caminha ao inexplicável adocicado.

Contra meu busto, sua palma, vejo que o trabalho se tornou obsoleto perante seus desejos.
Separação é o caminho que escolho, diante dela a visão de seu estado, nem mesmo toda a confusão pode nos fazer optar pela separação.

Desfaço-me das amarras desse casaco o lançando-o ao solo, a blusa retiro recebendo seu olhar de surpresa como resposta ao gesto.


— Naomi, está indo mais rápido não?

— Não, jamais serei tão rápida quanto você, não acredito que tenha esquecido de nosso almoço na casa de praia em Okinawa. Lembro que não havia comida.


Tomo proximidade de seu corpo, a alça que lhe mantém vestida derrubo observando-a cair sob os ombros.


— Me deixou com sede, por algum tempo.


O expor de seu busto ocorre, seus olhos brilham apesar de ocultar seu corpo de meu olhar.
Seu corpo busco, e pelo selar de nossos lábios desfaço a postura que assumirá.

Evasiva fora sua escolha, o desatar de nossos lábios a fez deixar minha presença, tornando suas costas minha visão.
Seus passos sigo perseguindo pelo apartamento a visão revestida pelo manto de incertezas, tais quais também me encontro vestindo.

A porta aberta me revela sua postura entre os lençóis escuros, desfaço-me por completo dos tecidos que eu me envolveram e ao seu lado repouso meu corpo. 


— Essa expressão que faz...


Acima de seu corpo repouso tomando para mim a visão de seu estado único, tão bela e pura, a nudez percorro deixando sob a pele minha marca, através de mordidas ouço o murmúrio denso de sua voz.
Os tremores de seu corpo, não pode negar, é como se estivesse ligado a você e você a mim por razões quais essas não podem entender.


— "Você irá ter apenas o doce sabor da sobremesa. Você sabe que vai gostar, não sabe? " — sussurro. — Lembra dessas palavras tão audaciosas? Pois eu lembro de ter ficado impressionada.

— Cala a boca... palhaça.


Os lábios que lutaram padecem, a voz tomada pelas emoções posso ouvir como um recitar único qual apenas seu corpo pode me entregar.
Seu olhar busco, um ponto de luz em meio a tantas emoções e por ele a certeza de que alguém além dela pode me fazer cobiçar algo como a felicidade.

Sob seu corpo o descompasso de meus dedos dançantes qual navegam num mar que por tanto tempo exploraram, o calor presente apenas em você desbravo rompendo o limiar de seu corpo.
Os lábios afáveis se calam ao encontrar de minha pele, a dor sinto, havia me esquecido o quanto pode ser brusca quando envolta por emoções ardentes.


— Naomi. 


Manhosa como só ela, seus lábios tomo calando sua voz num gesto afável. O ecoar de sua voz paralisa meu gesto, o tremor que parte de seu íntimo anuncia a fraqueza.

Na face o fraco semblante, arfante, sua pele brilha pelo suor que escorre por seu corpo. Eu havia me esquecido de como tudo que se adequá a você parece tão convidativo.

O corpo desbravo, pouco a pouco, beijo a beijo, o final de meu caminho me traz até a visão que busca esconder. Áspero é o toque que lhe conduz ao displicente declínio, não há mais controle, nem mesmo a voz tenta conter.

Eminente é o estopim, seu corpo padece ao toque e pelo afastar tenho a visão de seu estado desarrumado. A face mais frágil daquela qual porta meu massivo desejo.


— Você é louca...

— Sim, — deslizo o polegar sob meu lábio inferior arrancando seu suspirar. — por isso estou com você.



Neste jogo entre nós, regras ou condições não existem, quando olhava para você era tudo que eu podia pensar sobre essa relação. 
Agora quando a vejo, algo diferente surge, existe um sabor único, um sentimento qual parte de mim não deseja que escape desta sala.

Em seu olhar a verdade se apresenta sem que seja solicitada sua presença, sejam sua curvas simplistas e gentis, sejam as ações humanas de alguém destruída... aqui dentro existe um espaço dedicado a você e por mais que eu o negue não há como mentir sobre isso que sinto por você.

Sua presença para trás deixo tomando o banheiro como um caminho, abaixo das águas frias repouso minha nuca, essas gostas que caem, me sinto melhor agora. O abrir da porta escuto, pela abertura do vidro sinto sua presença em minhas costas, essa risada tímida, como pode depois de tudo agir assim.


— Somos loucas não?

— Depende, você acha loucura algo como nós existirmos? Particularmente eu não acho, penso o oposto, gosto da ideia apesar de tudo ser tão difícil.

— Quando terminar o casamento com meu irmão... ficará comigo ou pretende partir?

— Deseja que eu fique ou espera que eu parta? Me responda com sinceridade.

— Sabe de minha resposta, não saberia o que fazer sem você estar aqui ao meu lado.


Retorno meu olhar para ela visando sua face, como pode alguém conseguir ser o meio-termo entre o conceito sensual e o feminino mais dócil.


— Estarei bem aqui com você, até que deixe de gostar da minha presença. 

— Um laço eterno, pois não desejo parar jamais.

Afago seus lábios e sob deixo meu toque gentil, entregando-a algo que por muito tempo temi fazer por outra pessoa que não fosse Murano.
Atesto essa emoção com pouco, a sinto crescer a cada centímetro deste corpo como uma fagulha ascendia pelo fogo de suas emoções.


— Naomi, eu realmente amo o que vivemos, apesar de ser alguém com quem você mal possa se abrir sem surtar.

— Somos boas nisso, mesmo que mal possamos entender a nós mesmas, às vezes conseguimos esboçar aquilo que sentimos.

— Gosto disso... eu amo isso.

— Também gosto disso, Riho.

— Mas não repita essa atitude por favor, eu estava no meio do trabalho, era importante e agora está atrasado.

— Peço desculpas, mas eu não pude resistir.

— Naomi, olha, eu gosto muito de você ao ponto de não saber lidar com mais nada... eu só quero que fique comigo.

— Você realmente deseja? Isso?

— Não sei se é racional, se é loucura, realmente não sei... tudo que penso agora é o quanto desejo você por perto, mesmo que para tal eu enlouqueça.


A verdade é que você não é ela e, isso ocorreu onde agora eu estou aqui presa nessa situação qual estranhamente desejo estar 
Isso é algo que não desejar admitir, mas, em meu íntimo, este rodeio intenso ocorre onde sua dependência conflita com meu anseio pelo passado já tão distante.

Sei que não estou pronto em totalidade para essa decisão, mas viver o passado não irá trazer ela de volta para os meus braços... não... ela não irá voltar para mim mesmo que o tempo passe.
Não desejo admitir é essa qual rodeia meu coração, você não é ela, sua dependência não a dela e ainda assim quero tentar apenas para esquecer ela e toda nossa história.

Na imensidão de seus olhos perdidos encontro a beleza da vastidão ampla e perdida que apenas aquele amor de verão poderia trazer para mim. 
Entendo ela, mas, eu queria não entender tudo que me disse e rogou sob nosso sentimento conflitante que mal perdurou por seis estações distintas de anos seguintes.


— Riho, sabe que a chance de irmos adiante é pouca comparada a nossa vida distinta? Você trabalha de madrugada e eu pelo dia.

— Talvez seja ainda mais quando olho para onde vamos ou estaremos indo. Sei que não sou fácil de compreender tão pouco sou de simples entendimento, essa dependência, não faço ideia de como lidar com ela e espero que você entenda isso apesar de ser sufocante..., porém quero tentar.

— Não estou preparada, admito, longe de mim, pensar desta forma... realmente não sei o que fazer ou como agir quando passarmos por crises piores que essa, contudo, eu desejo o mesmo.


O silêncio foi a resposta que encontrou no meio de tanta difusão entre nós, mantemos esse nosso algo maior por muitos anos e mal sabemos qual será o resultado disso após a sentença do divórcio entre nossas famílias.
E quando olho em seus olhos vejo a distância entre você e o homem com o qual casei-me naquela praia distinta... consigo ver aquilo que perdi após anos de caminhada, essa emoção.

O soprar deste tempo nos trouxe ao colchão solitário, seu sono profundo, ao menos nesse instante eu percebo o quanto dormir lhe faz bem quando o intuito é acalmar-se.
Pela vibração a quebra do silêncio que antes era apenas mascarado pelo vigente som do ventilar deste quarto, busco seu o objeto entre minhas vestes encontrando-o.

Foi assim que seguimos juntas por meses e mais meses até que numa noite confusa pude deparar-me com aquilo que jamais esperaria.
O verão estava acabando, restava pouco mais de uma semana para o término da estação mais quente e seus noticiados quarenta graus.

No acender da tela o brilho incandescente capaz de cegar, ofusco com minha palma e ao retorno da imagem uma mensagem... abro o aplicativo.

"Estou em Tóquio."

Aquela que por tantos anos havia sumido, não foram dias, semanas ou meses, anos se passaram até que isso fosse possível.
Ainda que agora meu coração palpite, ela está aqui agora, a cama que divido é um bem de outra pessoa, qual a dependência recai sob mim.



— Murano... depois de tantos anos você voltou.

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