Seu nome era Jonah e o de sua beleza ruiva era Melody. Aquilo sempre o fizera sorrir, já que antes dela, sua maior paixão era a música.

Eles se conheceram quando ela foi Picotada. Ele estava ali há dois anos e se lembrava de ter ficado encarando os Iniciandos lá embaixo, do alto da janela de seu quarto, sem conseguir tirar os olhos dela.

Ele não havia perdido tempo para conquistá-la, nunca teve pudor em correr atrás do que queria e ter Melody foi só mais uma prova disso.

O que eles tiveram foi real, puro. Ela podia ficar horas sentada na cauda do piano o ouvindo tocar e ele poderia passar dias lhe contando todas as coisas que apenas sua memória privilegiada por Crown poderia proporcionar.

Ela era muda. Ele nunca foi capaz de ouvir o som de sua voz, mas em seus olhos castanhos via tudo o que precisava saber.

Ela morreu na prova de Terra. Não suportou ser enterrada viva. O loiro sempre imaginou que o seu desespero por não ser capaz de gritar foi o que realmente causou sua morte.

Jonah nunca veio a saber que poder ela teria, nunca foi capaz de treinar com ela. Tudo que fez foi assistir a terra ser retirada de cima dela e descobrir que ela já não respirava.

Um novo ano Lunar se iniciava, novos Iniciandos, novas vidas, novas tragédias.

Ele sentou-se no piano como já havia virado costume e tocou a noite toda para os que não tivessem vidas tão quebradas quanto a dele pudessem se divertir.

Ele tocou como só era capaz de tocar para ela, desejou que ela estivesse ali para ouvir, implorou para ouvir sua voz uma única vez.

E as vezes, ele sentia em um sopro de vento, um som que parecia seu nome sendo pronunciado e gostava de fingir que era ela.

Ele não poderia jamais saber, que quando tocava, invocava suas lembranças com tanta força que sua beleza ruiva o ouvia sentada na cauda do piano como havia feito tantas vezes em vida.

Nem que esse era seu poder.

E era isso que salvaria sua vida na Grande Guerra.