Capítulo Vinte e Três

Avery Strong

― Vamos, me deixe ver isso? ― pedi tentando ser delicada, apesar de esse não ser o meu forte.

― Estou bem ― retrucou Cameron, teimoso.

― Não, você não está! Não consegue dar dois passos sem parecer estar prestes a desmaiar.

Ele me olhou feio, como se a atitude infantil dele fosse mudar a realidade.

― Por que você está agindo assim? Sempre pensei que de nós dois eu fosse aquela que rejeita ajuda.

Ele se virou para janela e eu já estava a ponto de sacudi-lo quando o ouvi dizer baixinho:

― Eu não quero parecer fraco.

O ar escapou dos meus pulmões e eu o encarei, chocada, antes de voar em sua direção e cumprir meu desejo de o chacoalhar.

― Do que você está falando, Cam? Ficou completamente louco?

― Como eu vou ser um Parlamentar se eu agir como uma criança por um ferimento estupido?

― Você está falando sério? ― perguntei, mas pelo olhar em seu rosto eu sabia que a resposta era sim. ― Você se machucou no comprimento do dever, protegendo a mim e garantindo que trouxéssemos Luna de volta em segurança. Pedir ajuda não é uma falha, Cam, e você me ensinou isso. Qual a diferença entre isso e quando você me emprestou o livro da sua mãe para facilitar minha vida? ― questionei segurando suas bochechas como faria com uma criança. Seus olhos suavizaram e antes que ele pudesse querer discutir de novo, me apressei: ― Agora vamos, me deixe ver essa ferida.

Ele finalmente se sentou, cedendo e puxou a perna da calça com uma careta para que eu pudesse enfim ver o que o afligia.

― Por Crown, Cameron, isso está horrível. Garoto teimoso, como você aguenta usar essas calças, isso está em carne viva!

― O que você me diz, enfermeira Strong? ― perguntou tentando sorrir. ― Eu vou sobreviver?

― Não se minhas mãos chegarem muito perto do seu pescoço, isso é certo. Buscarei couro, bandagens ― pausei para me levantar ― e álcool.

― Para beber, espero ― disse me olhando com olhos brilhantes.

― Você gostaria ― afirmei saindo do quarto.

Encontrei a enfermaria sem muitas dificuldades e quando voltava para encontrar Cameron, vi algo que me fez parar:

― Lily ― chamei. O cabelo castanho claro dela estava mais curto e seus olhos já estavam marejados quando ela se virou para mim.

― Avery! ― exclamou antes de saltar em meus braços e eu a chacoalhei como um bebê, pois era isso que ela era e sempre seria para mim.

― Eu estava tão preocupada ― sussurrei ainda a embalando. ― Pensei que nunca mais fosse te ver, minha irmã.

― Por favor, me perdoe pela forma que eu agi quando você partiu, foi uma atitude tão imatura...

― Não, Lily, não, querida. Não há nada para perdoar.

― Eu soube o que você fez, estou tão orgulhosa de você, minha irmã mais velha.

A soltei, sequei as lágrimas que nem percebi ter deixado cair e tentei me recompor.

― Venha comigo, preciso ajudar um amigo meu, mas não quero me separar de você.

Seus olhos se desviaram para os itens em minhas mãos e se arregalaram:

― Vamos! Não temos tempo a perder ― me apressou.

Entramos no quarto de Cameron, que continuava na mesma posição.

― Cameron, está é Lily, minha irmãzinha.

Ele não demonstrou nenhuma surpresa pela aparência dela e apesar de saber que Sylvie havia contado tudo para ele, não pude me impedir de sentir afeto pelo ato dele.

― Olá, Lily, a Avery fala muito de você.

― Apenas coisas boas, eu espero ― retrucou a abelhuda se aproximando para olhar a ferida dele mais de perto enquanto eu me abaixava para cuidar dele como prometido. ― Crown, esta ferida está terrível! ― exclamou e eu a olhei feio.

― Aqui ― dei o pedaço de couro para ele. ― Talvez você queira morder isso enquanto eu limpar. ― Ele pareceu completamente aterrorizado com o prospecto, mas aceitou a fração. ― Eu vou começar agora ― avisei.

Embebedei o algodão em álcool e mentalmente pedindo desculpas a ele, toquei seu ferimento.

Ele fez um som de lamento e caiu para trás na cama e eu me desesperei e comecei a assoprar o machucado para fazer a dor passar.

― Avery, você tem certeza do que está fazendo? ― perguntou minha irmã intrometida. ― Isso não me parece muito higiênico, por que não chama a enfermeira? Eillen pode ajudá-lo...

― Ele não quer envolver ninguém nisso, portanto eu sou o melhor que ele tem ― pronunciei tendo certeza de limpar a ferida inteiramente antes de começar a enfaixar seu tornozelo. ― Você tem sorte de ser uma ferida pequena ― informei o ajudando a levantar após jogar tudo fora.

― Ainda estou vivo? ― perguntou me entregando o pedaço de couro agora com perfurações de dentes.

― Está, mas só continuará assim se parar de ser tão orgulhoso!

***

Eu e Cameron ― mancando ― descemos as escadas, tendo deixado Lily dormindo, para encontrarmos aquela que tínhamos salvado, Luna.

Ela levava um vestido escuro e sua barriga havia diminuído consideravelmente, o que era explicado por um Nicholas claramente mais calmo e relaxado, eu carregava um pequeno embrulho nos braços, a filha deles.

― Luna ― chamou Nicholas se aproximando quando paramos em frente a moça ― esses são Avery Strong e Cameron Britstein, foram eles que nos ajudaram a te resgatar ― sussurrou ajeitando seu cabelo.

Ela nos encarou por alguns segundos sem dizer nada, antes de envolver-nos em um meio abraço estranho, mas que ela claramente necessitava.

― Obrigada ― murmurou ela com os olhos cheios de água antes de nos soltar.

― Você não tem que nos agradecer, nós cumprimos nosso dever ― respondeu Cameron com simplicidade.

― Vocês salvaram minha filha e eu ― continuou ela. ― Isso é muito mais que seu dever.

― Na verdade, isso é precisamente...

― O que Cameron quer dizer ― o cortei ― é que nos sentimos gratos por termos podido ajudar e trazer você de volta para a sua família.

― Até quando vocês vão ficar aqui? ― questionou ficando um pouco nervosa. Eu não podia fingir que não entendia sua reação, éramos seus salvadores, afinal.

― Você não precisa de nós agora ― disse Cameron suavemente. ― Devemos voltar para nosso estudo e treinamento em cerca de dois dias.

― Nós estaremos aqui quando for realmente importante ― tentei tranquilizá-la.

Estava implícito quando realmente seria importante. Guerra.

― Foi ótimo te conhecer, Luna ― Cameron olhou para Nicholas, pensativo. ― Apenas gostaria que houvesse sido sob circunstâncias mais... favoráveis.

Ao todo ficamos cerca de uma semana e meia junto com a Seita e me agarrei a Lily quando a hora de ir embora chegou.

― Eu estou bem, Avery ― me prometeu sabendo exatamente do que eu precisava. ― Estou feliz.

― Eu sei, vi isso com meus próprios olhos, mas você ainda é minha irmã mais nova e sempre será minha obrigação cuidar de você.

― Não sou mais seu fardo, Ave, você não precisa mais me carregar.

― O que está dizendo, garota? Você nunca foi um fardo para mim! ― exclamei horrorizada por sua percepção.

― Ave, está tudo bem, eu entendo.

Busquei os olhos dela e neles eu vi a verdade. Ela entendia.

― Nunca mais repita isso, tudo bem? ― pedi baixinho. ― Não é verdade.

Cameron, que até então estava se mantendo afastado para respeitar nossa despedida, se aproximou com cuidado.

― Avery, é hora de ir ― informou e eu acenei.

― Eu te amo, Lily, nunca se esqueça disso ― implorei.

― E como eu poderia? ― devolveu. ― Amo você também e não fique tão tranquila. Você não vai se livrar de mim assim tão fácil.

Assim, subi na nave com Cameron, meu coração muito mais leve dentro do meu peito, mesmo que um pedacinho dele, em forma de Lily enrolada no xale desforme que eu lhe havia presenteado, estivesse ficando para trás.

+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

O próximo capítulo contem a virada final da história (porque sim, estamos entrando na reta final) e espero que vocês estejam preparados para isso, pois eu mesma não estou...

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top