Capítulo Vinte e Dois
Luna Canberight
Nicholas me pôs a par das coisas que aconteceram no período em que fiquei fora enquanto eu me recuperava. Alguns casais haviam se formado e alguns dramas estourado. Falou-me dos treinamentos, me mostrou suas novas cicatrizes. Ele não era bom com uma espada, isso era nítido, mas com os raios elétricos que ele descarregava, isso era um problema ínfimo. De qualquer forma, ele se gabou, podia ser muito bom com uma faca.
Nunca o imaginei assim. Pronto para lutar, para vencer. Em muitos aspectos, ele era outra pessoa, completamente diferente do homem que conheci, mas quando ele sorria, eu podia ver que no fundo, a essência era a mesma. E mais do que tudo eu entendia, quando estive fora ele teve que se agarrar a algo para não enlouquecer. Fiquei feliz que fosse algo capaz de salvar sua vida.
Um novo Picote havia acontecido e eu estava ansiosa para conhecer os novos Iniciandos. Será que evitaríamos a guerra por tempo suficiente para que eles fossem capazes de treinar? Eu duvidava. Com a minha fuga, eu tinha tirado de Sophia seu prêmio maior e sem Hope, ela não tinha motivos para esperar e deixar-nos preparar um ataque.
Eu estava mais atrasada que todos no treinamento, mal sabia usar uma espada, coisa que Abraham havia tentado me ensinar tanto tempo atrás. Eu não tinha tempo a perder, mas precisava me curar. Não podia lutar quando sentia dor a cada movimento brusco.
Nicholas dizia que Maxwell estava sentindo muito a minha falta e conhecendo o garoto doce só poderia ser verdade. Alicia havia cuidado de Yugblo durante todo aquele tempo e por mais que eu sentisse ciúmes da relação que ela tinha forjado com o meu dragão, eu ainda era extremamente grata por poder contar com ela.
Eu sentia falta de Julian e Scott. De David, Kyle e Kelsey, de Amy e de Peter, meus amigos de infância, os quais eu arranjei preocupações demais para sequer me lembrar. Eu sabia que não era justo, ambas as vezes que eu me afastei não foi por minha escolha, mas isso não lavava a culpa que eu sentia em meu coração.
Sentia falta de Josephine e sua dramaticidade, de Dakota, com sua voz anasalada e sua cor linda, de Florence e seu humor esfuziante, de Henry com seu sorriso fácil e até mesmo de Abigail, minha recém-descoberta tia, que parecia estar sempre preocupada com algo além de nossa compreensão.
E então, eu me senti bem o suficiente.
Olhei para Nicholas, que brincava com nossa filha, sentado no tapete felpudo que ficava ao lado do berço dela, como um verdadeiro pai. Aquela visão me encheu com um amor que eu nunca pensei ser capaz de sentir.
― Nicholas ― chamei.
Ele me mirou com aqueles olhos escuros e brilhantes que eu tanto amava e sorriu:
― Sim? ― Respondeu suavemente, levantando-se com Hope em seus braços, a ninando em um movimento que ela adorava.
― Acho que estou pronta para encontrar os outros ― declarei. Não precisei buscar coragem para dizer aquelas palavras, toda a força que eu precisava vinha dele.
Ele sorriu novamente, o que ele parecia fazer muito desde que eu havia acordado. Aquele ato, não condizia com as rugas de expressão que ele não possuía antes e que haviam se formado entre suas sobrancelhas. Entretanto, eu me recusava a sentir culpa pelo meu sequestro, eu não havia tido escolha, a única culpada era a louca mulher que havia me dado à luz.
Aquele que lhe trouxe a luz.
Tantos meses antes, meu pai havia dito que aquele que me trouxe a luz, seria o responsável pela minha morte. Na época do meu nascimento, pensando que ela estivesse morta, ele acreditou que seria ele o causador da minha queda e foi isso que o levou a me dar para outra família em um ato de desespero. Porem Sophia estava viva e viria guerrear conosco, poderia ela ser a causa da minha morte?
Não. Eu não seguiria essa linha de pensamento. Eu não podia.
Nicholas estava tão feliz com a minha declaração e eu sabia que para ele, o fato de eu finalmente me sentir pronta para encontrar os outros, significava que eu não estava traumatizada, mas aquilo não era verdade. Cada vez que eu fechava os olhos eu tinha pesadelos. Pesadelos com Sophia. Pesadelos com Alexy. Pesadelos sobre ter Hope tirada de mim. Pesadelos sobre a guerra que estava por vir. E nem os braços dele ao meu redor eram capazes de afastá-los.
Mas não era minha estabilidade mental que importava naquele momento. Eu era o símbolo que eles necessitavam para lutar. Eu era a filha do inimigo, que um dia fora vista como heroína. Eu era a Amazona das Estrelas. Eu era o Dragão. Eles precisavam de mim. Mais que como amiga, como guerreira. E eu não poderia decepcioná-los.
Desci as escadas com Hope em meus braços. A maior parte dos rostos que nos aguardavam era familiar, mas alguns eram completamente desconhecidos. Quando chegamos ao solo, Nicholas pegou Hope para que eu pudesse cumprimentar a todos.
Josephine, usando um vestido verde de babados, com o cabelo preso em uma elaborada trança, parou em minha frente segurando um pequeno embrulho azul.
― Isso é...? ― Perguntei com a voz quebrando, os olhos presos no pacote.
Ela acenou sorrindo e me mostrou o pequeno rosto:
― Esse é o pequeno Joseph ― o bebê loiro de olhos azuis sorriu para mim e fez seus sons adoráveis. Danny parou ao nosso lado com um embrulho rosa.
― E essa é Victoria ― disse ele me entregando-a. A bebezinha com um tufo de cabelos escuros e olhos azuis arreganhou sua boca banguela para mim.
― Como você ― sorriu-me Jose. ― Você foi de grande ajuda naquele dia, Luna. Nada mais justo que ela receba seu nome, grande amiga.
― Quanto tempo eles têm? ― Indaguei contando seus dedinhos perfeitos.
― Dois meses ― falou Danny pegando suavemente a bebê de volta.
― Eles são tão grandes ― declarei com os olhos úmidos.
― Eles nasceram no tempo certo ― devolveu ela com delicadeza ― sua Hope vai crescer também.
― Eu senti sua falta, Jose ― funguei.
― Eu também, minha querida ― respondeu.
― Vocês podem parar com a melosidade? ― Perguntou uma voz da qual eu havia sentido muita falta. ― Eu também quero dar um alô.
Desviei meus olhos da loira e fui pega em um abraço de urso delicioso.
― Adam! ― Exclamei o abraçando com força.
― Eu senti sua falta, priminha ― sussurrou em meu ouvido. ― As coisas ficaram muito chatas sem você por aqui ― e ao me soltar com cuidado: ― Nunca mais faça algo assim.
Revirei os olhos e ele riu, em seguida, parando atrás de mim, começou a conversar com Nicholas e Hope. E pensar, que todos aqueles meses antes, ele havia dado um soco em meu marido.
Henry e Dakota esperavam tranquilamente atrás dele ― de mãos dadas.
― Por Crown! Vocês estão juntos? ― Perguntei movimentando minhas sobrancelhas sugestivamente. Eu não podia dizer que estava surpresa depois da vez em que eu o procurei e a morena suspeitosamente sabia exatamente onde ele estava.
Dakota revirou os olhos para meu ato:
― Olá, Luninha ― falou apenas. ― Todos esses meses e essa é a primeira coisa que você diz para mim? ― Sorriu ladina.
Henry foi mais efusivo. Ele me pegou no colo e me rodopiou no ar, como havia feito quando ganhamos o Guide. Faíscas azuis giravam ao nosso redor e Ezra estava perto.
O moreno me colocou no chão e Florence me atacou com um abraço apertado demais para seus braços esguios e encheu meu rosto de beijos quentes. Ezra a puxou de cima de mim e fez algo que eu jamais esperaria.
Ele me abraçou:
― É bom você ter uma vida longa e feliz após ter dado todo esse trabalho ― disse antes de se afastar não deixando espaço para resposta.
― Luna! Luna! ― Gritou Max correndo na minha direção. Sua voz havia engrossado e ele estava quase da minha altura. Abraham o seguia de perto, como um guarda-costas assustador.
Após um aceno de quase permissão do homem alto, abracei o ruivinho.
― Como você está alto, Max! ― Exclamei sorrindo.
― Eu tenho quase dezesseis anos agora ― gabou-se.
Abe fez um som de engasgo atrás dele antes de murmurar:
― Você mal fez quinze anos, Maxwell.
O ruivo corou do pescoço até a linha do cabelo em um tom escarlate profundo e lançou um olhar irritado ao moreno. Puxei seu rostinho que começava a se transformar em um rosto adulto e sorri:
― Você tem quase minha idade agora ― falei para agradá-lo mesmo que não fosse verdade.
Suas feições explodiram em um sorriso adorável e ele me abraçou com tudo o que tinha.
Ouvi um rosnado vindo de trás dele e tratei de soltá-lo rapidamente. Abraham acenou para mim parecendo satisfeito:
― Eu aceitei te treinar separadamente para que você alcance o nível dos outros o mais depressa possível, então esteja pronta segunda-feira, em frente a fonte dos anjos, assim que amanhecer ― completou com aquela voz rouca e assustadora que me dava arrepios e tudo o que fiz foi concordar antes que ele fosse embora levando Max a reboque.
Jackeline, da minha iniciação, veio com Ethan, que ministrou o teste estranho do Scan, um casal pavoroso, sem dúvidas. Falei com nomes e rostos distintos, gente que eu já havia visto, mas nunca conversado. E então, veio meu pai.
― Pai ― me derreti o abraçando com força.
― Devagar, Luna, eu sou um homem velho, desse jeito você vai me deixar surdo ― brincou enquanto me soltava.
― Perdão ― respondi automaticamente, mas não me sentia arrependida, afinal, poder deixá-lo surdo, significava que eu estava ali com ele.
Ele aquietou-se e me olhou com os olhos escuros e sérios:
― Eu estive tão preocupado com você. Te tive de volta só para te perder novamente ― comentou baixinho.
Eu peguei suas mãos com cuidado, elas eram calejadas, mas confortáveis:
― Eu também senti sua falta, pai ― choraminguei, as lágrimas, antes esquecidas, voltando aos meus olhos.
Ele sorriu parecendo tão jovem que eu me surpreendi. Eu sempre esquecia o quanto ele era novo.
― Eu tenho um motivo para estar aqui agora. Você voltou para mim e me deu uma neta de presente ― declarou de olhos fechados absorvendo seu novo título. Ele sorriu novamente e eu soube que nunca mais me sentiria sozinha enquanto ele vivesse. Só então, percebi que havia um desconhecido parado ao nosso lado, assistindo nossa interação como se aquilo fosse bastante curioso.
― Você se parece com ela ― falou ele simplesmente.
Meu pai também pareceu se lembrar de sua presença ao ouvir sua voz e se aprumou.
― Luna ― chamou ― este é Jordan, meu irmão, seu tio ― revelou.
Meu cérebro correu em torno daquela nova informação. Meu tio, pai de Adam. Olhando bem, era inegável a semelhança. Ele esticou a mão, como se para me cumprimentar, mas eu a ignorei lhe dando um abraço ao invés. Ele estava louco se achava que depois de conhecê-lo eu só apertaria sua mão.
― Isso foi inesperado ― sorriu, os dentes brancos e alinhados, os cabelos pretos bagunçados assim como os do filho, era fácil saber como Adam ficaria daqui a dezoito anos.
― Vocês são todos muito bonitos ― declarei sem rodeios. ― Isso não é muito justo.
Meu pai sorriu, os lábios selados e comprimidos, os ombros chacoalhando levemente, como se para conter uma gargalhada, mas Jordan começou a rir abertamente, alto, esganiçado e escandaloso e em poucos segundos ele estava curvado, batendo a mão repetidas vezes no joelho. Aquele ato não lembrava nem um pouco a risada rica e profunda de Adam. Isso me fez sorrir.
― Eu gostei da minha sobrinha, Jonathan ― declarou após se acalmar e secar as lagrimas dos cantos dos olhos. ― Ela é muito mais divertida que você ― apontou.
Meu pai acenou, os olhos, repletos de um amor que eu nunca conheci. Aquilo era amor de verdade, amor paterno, incondicional.
― Eu sei ― falou com a voz embargada, linhas de expressão surgindo em sua testa e percebi quão profundamente me perder o afetou. Ele havia se tornado um recluso após isso e depois de tudo, ele havia precisado ser altruísta o suficiente para pensar no melhor para mim ao desistir da minha criação. ― Ela é a melhor coisa que eu já fiz.
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Semana que vem já voltamos para Avery, sentiram saudade da criatura mais doidinha e despreparada da competição?
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