Capítulo Sete
Avery Strong
A roupa de esgrima era apertada e desconfortável, a espada leve demais, seu peso parecendo errado.
Os pares foram divididos pelo nosso instrutor, Garret e a separação não parecia muito justa para mim. Se fosse, eu não teria ficado com Leonard Calamar e Cameron, com quase 2m de altura, não teria ficado com Natalie Snart, que tinha no máximo 1,50m.
Esperei minha vez praticamente tremendo de ansiedade, mas assim que subi na plataforma e ouvi o grito de "En Garde" de Garret, Leonard já havia me atingido e tudo tinha acabado.
Aquela palhaçada se repetiu mais três vezes antes que nosso instrutor finalmente anunciasse que a aula tinha acabado.
Corri para o meu quarto, me sentindo suada e grudenta e tomei um banho rápido, vestindo o vestido que Tessa havia escolhido para mim. Ele era roxo e se agarrava as minhas pernas enquanto eu me apressava para a minha aula particular com Pierre.
― Meu Deus, garota! ― exclamou ele quando entrei. ― Está indo tirar o pai da forca?
Parei confusa por um segundo:
― Mas eu não queria me atrasar.
― Para uma dama é sempre elegante se atrasar por alguns minutos ― ele me deu um olhar de desgosto. ― Certamente é melhor do que ficar correndo pelos corredores como uma louca, mas bem, sempre soube que este seria um trabalho difícil e não vou fugir do desafio. Devemos começar.
E começamos.
― Já conversamos sobre sua postura, não é? ― ele caminhou até a estante de onde retirou um livro de tamanho médio. ― Esta é uma tarefa clássica que exige boa postura ― e me entregando o exemplar: ― Caminhe dez passos em direção a janela com ele sobre sua cabeça.
Fiz o que ele disse confusa pela tarefa fácil que me foi atribuída.
― Avery, ― ele chamou ― é sem as mãos, querida.
E aí eu compreendi a dificuldade. Passamos a próxima meia hora executando aquela dança estranha. No começo eu não conseguia dar mais de dois passos, mas ao final de nossa aula eu estava quase alcançando os dez.
― Eu não aguento mais ― choraminguei me jogando na poltrona de veludo azul no canto da sala.
― Oh meu deus, não seja tão dramática e não se jogue nos moveis desse jeito ― ordenou. ― Foi uma aula bastante simples se quer saber! E compacta! ― informou claramente ofendido ― Agora se apresse, você não deve perder as aulas de Encorajamento, precisa estar pronta para se apresentar... ― não o deixei terminar antes de sair às pressas.
Eu não ia para aula de Encorajamento, aqui era bobagem, mas ele não precisava saber disso. Então, sai para encontrar com Sylvie e Cameron no que parecia ser nossa reunião de todas as tardes.
― Eu não sei, sabe? ― disse a eles. ― Acho que não durarei até o final.
― Não seja pessimista, Avery ― demandou Sylvie. ― Você tem muito potencial.
― Eu mal sei ler ― confessei enterrando a cabeça nas mãos.
Cameron, sempre tão calado, colocou a mão no meu ombro. Olhei em seus olhos castanhos bonitos e ele sorriu timidamente.
― Arg! ― exclamou Sylvie antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. ― Eu não aguento mais esse vestido, estou morrendo de calor ― completou puxando as mangas curtas para cima.
Estava frio ali fora, mas eu não mencionei isso, pois o sorriso de Cameron havia se desviado para a garota de olhos cinzentos.
― Como você vai usar o véu de noiva no seu casamento se qualquer tecido te incomoda?
― Há! ― retrucou lhe dando um olhar mal-humorado. ― Você está vivendo em um mundo fantasioso se acha que algum dia eu me casarei.
Balancei a cabeça.
― Você vai mudar de ideia quando encontrar o cara certo ― falei suavemente. Aquela era a única realidade que eu conhecia e por mais que eu soubesse que nossas vidas eram bem diferentes era um pouco difícil para eu acreditar que o contrário fosse possível.
― Por Crown! Nunca! ― levantou a voz indignada. ― Homens são nojentos ― pausa. ― Sem ofensa, Cam, mas você também se encaixa nessa lista.
― Garota então? ― perguntei. Não era exatamente comum no lugar de onde eu vim, mas também não era tabu.
― Garota também são nojentas ― afirmou com ênfase no também. ― E eu sou uma. Eu vou ficar sozinha e ponto.
― Ninguém pode te amar como você mesma, hein? ― brincou Cameron e eu deixei escapar uma risadinha porque era difícil não adorar a dinâmica entre eles.
Na sexta as coisas pareciam estranhas. Nossa primeira aula era nomeada apenas como "TV" no memorando que Tessa havia me oferecido e eu segui até a sala designada apreensiva.
Assim que entrei na sala soube minha intuição estava correta, já que todos corriam de um lado para outro sem parecer ter ideia do que estavam realmente fazendo.
Uma moça de cabelos verde água se aproximou de mim e me entregou um papel.
― Seu tema são os ataques rebeldes ― informou-me antes de se afastar.
Me sentei embaixo da janela e li as informação ali escritas tentando entender qual era nossa tarefa.
Número de ataques nos últimos seis meses: 3
Número de feridos: 68
Número de mortos: 2
Mas. O. que. No. Inferno?
Certo como fogo que ninguém havia mencionado mortos nos últimos noticiários.
― Hey ― disse o garoto loiro parando ao meu lado. Era Yussef, irmão de Amberle, a loira que havia rido de mim durante nossa aula de etiqueta.
― Oi ― gaguejei como uma idiota. O que ele poderia querer comigo?
― Você parece um pouco perdida, sabe qual é a nossa tarefa? ― perguntou ainda sorrindo suavemente.
― Não ― admiti com cuidado.
― Você precisa escrever um texto para acalmar os cidadãos nessas situações.
― Então, isso ― chacoalhei o papel ― não aconteceu?
Ele sorriu novamente e balançou a cabeça.
― O meu é sobre um tsunami ― ele levantou o papel para me mostrar.
― Yussef! ― berrou Amberle. ― Venha se sentar comigo!
Ele me deu um sorriso de desculpas e percebi que, além de sorrir muito, ele também tinha covinhas.
― Perdoe-nos, tenho que ir ficar com a minha maninha ― ele apontou para direção em que ela estava ― ela não fica muito bem sozinha.
Devo ter conseguido simular um sorriso, pois ele saiu com uma mesura educada.
Conforme ele se afastava notei Lia Woodlow me encarando como se tentasse decifrar o que tinha acabado de acontecer. Eu também não sabia.
Olhei novamente para o papel subitamente constrangida. Eu ainda não tinha ideia de como fazer meu trabalho.
Me levantei e fui até a moça de cabelos verde.
― Temos que fazer isso hoje? ― perguntei quando a alcancei.
― Não, querida ― esse trabalho será apresentado na próxima sexta e trabalharemos através dos pontos altos e baixos dos vídeos.
― Obrigada ― falei antes de voltar para minha cadeira.
A aula seguinte foi de arte e literatura. Eu não tinha ideia do porquê aquilo era importante para o governo do nosso mundo, mas aguentei cada minuto daquela aula tediosa.
Tendo certeza de que Tessa não estaria no meu quarto, já que só me esperava após a aula de encorajamento, me direcionei para lá, onde comi e comecei a escrever em meu bloco de notas.
"Querida Nação, digo com tristeza que..."
Digo?
" Querida Nação, informo com pesar..."
Eu deveria falar na terceira pessoa?
" Querida Nação, informamos com tristeza..."
Talvez eu devesse mudar tristeza para pesar?
Batidas na porta me distraíram daquela tarefa infernal, no entanto, a pessoa que estava do outro lado me surpreendeu.
― Olá, Avery ― disse Cameron.
O que Cameron, todo polido que havia ficado envergonhado por ter me visitado quando eu estava doente, poderia estar fazendo ali?
― Entre, Tessa não estará aqui por um tempo ainda ― chamei dando passagem para ele.
― Eu vim por causa de algo que você disse.
Eu sorri.
― Qual das pérolas?
― Sobre não saber ler direito, então eu procurei em minhas coisas algo para ajudar, mas quando encontrei já era tarde e não achei de bom tom trazer então... ― ele parou envergonhado.
― O que é? Posso ver? ― questionei me aproximando.
Ele tirou as mãos de trás das costas e me mostrou um livro roxo e prata, um pouco surrado, mas ainda em bom estado.
― Esse é um livro de poesias que minha mãe lia comigo quando eu era pequeno. Eu tinha dificuldade para ler e ela comprou porque as poesias eram simples e tinha um glossário no final caso eu não entendesse o que algo significava.
Eu nunca tinha ouvido aquela palavra, mas compreendi pelo contexto o que ele quis dizer e eu estava... Tocada.
― Você pensou em mim, em algo que eu disse ― sussurrei.
Ele corou ligeiramente apesar da sua pele bronzeada.
― Eu só queria tirar uma de suas preocupações, sei que já está atarantada com as aulas de Encorajamento.
― Isso é muito... ― procurei a palavra. ― Legal de sua parte. Eu fico muito grata ― disse com sinceridade.
Ele acenou e se precipitou para a porta:
― Espero que goste ― declarou antes de fazer uma mesura adequada e sair.
Sentei-me com o livro na beira da cama e li a dedicatória na primeira página:
Para meu filho querido, você tem a mim, até que a última estrela na galáxia morra, você tem a mim.
Tão belo e trágico. Me perdi nas poesias como se eu fosse um dos astros girando no universo e ali fiquei até Tessa me encontrar.
― Senhorita Avery o que aconteceu para você estar com essa cara? ― perguntou trazendo alguns lençóis nos braços.
― Eu não faço a menor ideia, Tessa, a menor ideia ― completei fechando o livro.
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