Capítulo Seis

Avery Strong

Comecei o dia com um vestido azul claro. Tessa disse o nome daquela cor, mas me pareceu complexo demais decorar nomes de tons nessa idade, então apenas acenei e segui.

A primeira aula do dia seria na mesma sala do dia anterior. Diplomacia e política pareciam matérias importantes para se estar no topo da Verhallow, então fui para a classe com o bloco de notas apertado na mão, disposta a não perder uma palavra sequer.

Acabei me sentando ao lado de Natalia Snart, que tinha um sotaque muito estranho e Yussef Jones, que tinha do outro lado sua irmã gêmea Amberle, é claro.

Nossa professora era uma senhora baixinha de cabelos lilases. Assim que ela entrou, fechou a porta mesmo que apenas metade dos alunos estivesse ali.

Gisele e Leonard estavam o mais longe possível de mim, como se pudessem contrair uma doença apenas por respirar o mesmo ar que eu. Sylvie e Cameron ainda não haviam chegado.

― Sou Serafina ― informou ― não tolero atrasos e não aceito desculpas. Nossas aulas serão intercaladas com uma teórica e uma prática e logo vocês terão um verdadeiro desafio. Por enquanto, saibam que fui assessora parlamentar por quase vinte anos antes de me tornar uma tutora e este é sempre um caminho disponível caso não passem no teste final.

― Até parece que eu me tornaria uma tutora ― disse Gisele para Leonard com nojo. Não era um sussurro se todos podiam ouvir. Aparentemente nada era bom o suficiente para aquela princesa de papel, como Sylvia havia dito.

― O que vocês acham que diplomacia é? ― perguntou nossa mentora ignorando o comentário.

Natalie imediatamente levantou a mão.

― Colocar o bem feral acima do seu, não colocar em risco um acordo importante, por exemplo, por afrontas pessoais ― continuou.

Então era como não arriscar meu emprego cuspindo no prato de uma patroa odiosa?

― E qual a diferença vital entre política e diplomacia? ― rebateu Serafina. A boca de Natalie se fechou em um estalo e notei Gisele abaixar os olhos. Ela claramente não sabia qual era a resposta.

Levantei a mão prontamente.

― Política é conseguir o melhor para os seus, doa a quem doer, fazer o melhor pela maioria, mesmo que isso prejudique alguns. Diplomacia é tomar veneno sorrindo.

― Muito bem para as duas, suas respostas se completaram muito bem, ambas corretas ― congratulou.

Engoli a bola de orgulho que me fez querer sorrir. Era muito cedo para me sentir assim.

Após o almoço fomos direcionados a nossa aula de Encorajamento. Cameron não estava tocando hoje e eu o encontrei junto com Sylvie amuados no mesmo canto que eu havia ficado ontem.

― O que fazem aí? ― perguntei me aproximando.

Cameron me olhou de soslaio.

― Perdemos aula logo no segundo dia ― evidenciou.

― Além disso, eu ainda não decidi o que apresentar ― completou Sylvie.

Claro, ela tinha tantos talentos que era incapaz de escolher um só. Sentei-me ao lado deles com as mãos nos joelhos.

― Para o problema do atraso é só chegar mais cedo e garantir que isso não se repita ― desviei meu olhar para o de Sylvie. ― Quanto a você, tenho certeza de que pode fazer algo maravilhoso o suficiente para ser apresentado no final.

― Ainda não conseguiu pensar em nada? ― questionou suavemente.

― Nada que eu sou boa fazendo pode ser considerado um talento ― eu mal sabia ler, mas omiti essa parte.

― Estamos na primeira semana ainda, como podemos estar nos escondendo sem saber o que fazer? ― indagou Cam para o universo.

― É apenas por um ano, vamos sobreviver ― rebati, afinal, sobreviver era tudo o que eu conhecia.

A quarta-feira começou com a aula que eu mais temia, etiqueta, e isso foi o suficiente para me desconcertar. Tínhamos dois professores diferentes, Pierre e Valentina.

A última logo me separou dos outros:

― Você anda muito curvada ― declarou. ― Estique essa espinha, levante o queixo, endireite esses ombros. Parece que quer desaparecer ― ralhou.

Naquele momento eu queria mesmo. A risadinha de Amberle com a minha humilhação arrancou um rosnado de minha garganta.

― Não faça esse som também ― gritou Valentina me atacando com o leque em suas mãos.

― Deixe a garota respirar um pouco, Valentina ― disse Pierre se aproximando. ― A coitada não disse uma palavra.

― Você é mole demais, Pierre ― exclamou com o sotaque se sobressaindo antes de partir.

― Olá, querida ― disse ele voltando-se para mim. ― A rainha má já foi, você pode falar agora.

― O-obrigada ― sussurrei. Eu estava acostumada a falar pouco para esconder a minha péssima dicção.

― Ah ― soou ele. ― Eu entendo agora ― ele tomou meu braço e me afastou ainda mais dos outros. ― Me avisaram que um de vocês veio das camadas mais baixas ― ele sussurrou, ― mas não há nada para se envergonhar, querida. eu vim de um lugar sem esperança assim como você, mas eu superei as dificuldades e olhe onde estou hoje. Não é nenhuma posição de liderança como o prêmio principal, mas é tão bom quanto você pode conseguir não sendo um Highter ― as palavras dele não tinham um pingo de malicia e fizeram com que eu me sentisse instantaneamente melhor. ― Vai ser difícil fazer com que você aprenda alguma coisa com os olhos dourados em cima de você ― ele pausou. ― Tens algum horário livre para que possamos treinar sozinhos?

Imediatamente abaixei meus olhos.

― Muito obrigada pela sua gentileza, senhor, mas...

― Ora, não seja boba, querida, se está com medo de ficar sozinha comigo, lhe garanto que não tenho o menor interesse em mulheres ― e pontuou cada palavra cutucando meu ombro com o indicador.

Não pude evitar que uma risada alta escapasse da minha garganta ates que eu tapasse minha boca com as mãos, meus olhos arregalados.

― Nesse caso, tenho um período livre antes das aulas de encorajamento as quintas ― informei.

― Encontro marcado, então.

Nossa aula seguinte foi de debate. Nos encontramos em volta de uma mesa redonda e nossa professora, uma mulher com traços orientais assim como os de Gisele, se apresentou:

― Sou Joelle e nessa aula vocês aprenderam como debaterem de maneira amigável e respeitosa, para que possam tomar decisões com cautela quando ocuparem o cargo de Parlamentares. Hoje eu lhes apresento o dilema do trem. Um trem perdeu os freios está prestes a acertar cinco pessoas. A sua frente se encontra uma alavanca que pode desviar o trem, mas se fizer isso, uma pessoa que até então estava completamente segura será atingida. O que vocês fariam?

De nós doze, oito concordamos em salvar o número maior. Gisele, Anderson, Lia e Leonard, acharam mais justo não se envolver, afinal, sacrificar alguém que estava seguro era imoral.

Joelle sorriu, parecendo feliz com o resultado.

― E se fossem cem pessoas ao invés de cinco?

Dessa vez, o resultado foi unanime, aparentemente, matar um para salvar cem não era mais uma escolha imoral.

― Agora ― pronunciou nossa guia novamente, suas feições afiadas ― e se eu lhes disser que essa pessoa a ser sacrificada é seu ente mais querido?

Minhas feições imediatamente caíram. Se fosse Lily, todo o meu pensamento pelo bem maior voava pela janela. Todos mantiveram sua posição anterior como verdadeiros líderes menos eu, não era uma garota de inverdades.

― Muito vem, espero que saibam que não há respostas incorretas nesse teste ― ela deu um sorriso delicado. ― Mas eu daria um ponto positivo a Avery, por ter sido sincera.

Sylvie, Cameron e eu cabulamos a aula de encorajamento, ou melhor, tortura, naquele dia.

― Então ele te ofereceu aulas particulares? ― berrou Sylvie arrancando grama do chão onde estávamos sentados.

― Estou muito grata, preciso parar de falar como uma caipira e me curvar com um esquilo ― informei.

― Eu nunca vi um esquilo ― comentou Cameron com um sorriso em minha direção.

Encurvei meus ombros e fechei minhas mãos em garras antes de atacá-lo imitando os sons do dito animal.

― Eu me rendo, eu me rendo, senhora esquilo ― gritou ele se deitando para trás na grama tentando fugir dos meus ataques.

Me afastei dele ainda sorrindo e encontrei o olhar risonho de Sylvie.

― Como você sabe os sons de um esquilo? ― indagou ela curiosa.

Deitei-me ao lado de Cameron para olhar as nuvens já me preparando para me desculpar com Tessa por manchar o belo vestido lilás com grama.

― Morávamos em uma casa de alvenaria e havia muitos esquilos por lá. Acho que sempre invejei a capacidade deles de ir embora quando quisessem e acho que foi por isso que comecei a imitar eles.

― Imita-los ― corrigiu Cameron virando o corpo e apoiando o queixo na mão para me encarar, o que gerou um punhado de grama em seu rosto.

Idiota.

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