Capítulo Onze

Avery Strong

Amberle e eu saímos do quarto antes do amanhecer. Lia se mexeu em sua cama, mas não acordou. Encontramos Jamile, Cameron e Yussef no corredor.

― Como sairemos daqui? ― perguntou Jamile.

― Tesla me disse que Alastair nos deixaria nas bordas da Floresta Branca ― explicou Cameron.

― Espero que os Rangers não nos ataquem ― murmurei.

― Rangers? ― ecoou Jamile.

― Seria uma situação bastante desagradável explicar que abateram os Iniciandos da Verhallow ― comentou Yussef.

― Abater?

― A morte no auge do dever é honrosa ― afirmou Amberle altiva como sempre.

― Vamos pensar em cenários onde não terminamos mortos ― pediu Cam. ― Agora Alastair nos espera.

Saímos do castelo fazendo o máximo de silencio e obtivemos êxito em não chamar atenção, mas ao chegar do lado de fora tivemos uma grande surpresa. As jambo, como Alastair havia chamado, não eram o que nos aguardava e sim, cavalos.

― Eu acho que vou voltar para dentro ― sussurrei me virando.

Cameron segurou meu pulso:

― Não ouse, você ajudou a estruturar esse plano tanto quanto nós, não vai dar para trás agora.

Olhei para ele de soslaio.

― Você sabe como sou ruim nisso.

― Não vamos correr, apenas trotar, você só precisa se manter no ritmo do animal, costas eretas como eu expliquei.

Enfrentei seus olhos por um momento antes de acenar:

― Eu posso fazer isso.

― Claro que pode ― concordou ele.

Nos aproximamos de Alastair e dos outros, os cavalos parecendo monstros, muito maiores do que os quais havíamos treinado, dias antes.

― Será que os dois pombinhos podem andar mais rápido? ― demandou o loiro. ― Não quero perder minha cabeça para o rei Raghaten. Os cavalos estão selados e eu não poderei trazê-los de volta.

― E como iremos voltar? ― questionou Amberle no meio do movimento de subir no animal.

― Prestem atenção no caminho que faremos na ida ― ele deu uma piscadela. ― Lhes darei um mapa também e se tudo der certo talvez mandem uma comitiva para acompanhá-los.

― Isso é o suficiente para sonhar, obrigada ― disse a loira com sarcasmo.

Cameron me acompanhou até a menor égua e me ajudou a montar.

― Fique calma e não a faça andar mais rápido, eu ficarei com você atrás.

― Obrigada, Cameron ― agradeci com a voz tremula. ― Você é um anjo.

Ele desviou o olhar para o chão.

― Não sou ― retrucou antes de se afastar.

Alastair deu início ao comboio e eu bati as canelas no flanco da égua para fazê-la andar.

Que nosso plano desse certo, pedi a Crown.

***

O sol estava começando a surgir por entre a copa das arvores quando o loiro finalmente parou.

― Não posso levá-los mais adiante, mas não falta muito, sigam naquela direção ― apontou. ― Eles devem encontrá-los lá.

― Encontrar-nos não significa machucar-nos, não é? ― perguntou Jamile.

― Ah, pelo amor de Crown, se não resolvermos isso teremos uma guerra em nossas mãos e isso vai ser muito pior ― assegurou Amberle.

― Ambs, seja gentil ― pediu Yussef.

― Já que vocês estão se dando tão bem os deixo, futuros Parlamentares ― ele deu a volta com seu cavalo branco e por fim olhou para nós: ― Lembrem-se que o futuro de todo o meu povo está nas suas mãos.

Ele se foi e finalmente Yussef suspirou:

― Se isso não é uma injeção de ânimo...

Continuamos cavalgando na direção do sol nascente por mais alguns minutos antes de ouvirmos novos trotes.

― Que Crown nos ajude ― pediu Cameron baixinho.

― Crown! Crown! ― exclamou Jamile. ― Quem é Crown?

― É o deus dos Highters, Jamile ― sussurrei para ela.

Ela me olhou, provavelmente surpresa por eu ter respondido, mas antes que pudesse retrucar, os soldados brancos nos atingiram.

A quantidade de flechas apontadas em nossa direção era assustadora e um homem com o rosto pintado de vermelho e preto desceu do seu cavalo antes de pronunciar:

― O que fazem aqui? Não fomos informados da chegada de sua caravana.

Cameron suspirou ao meu lado e desceu e meu interior começou a tremer com a ideia de ele enfrentá-los.

― Somos os Iniciandos da Verhallow ― começou olhando o homem nos olhos. ― Viemos por causa das reclamações ― pausa ― do rei Raghaten.

Primeiro veio o silencio, em seguida começaram as risadas. De início eram tímidas, mas logo o som encheu a Floresta de vida.

― E quais foram as reclamações do rei Raghaten? ― perguntou um dos arqueiros risonho e cheio de sarcasmo.

― Por acaso nós estamos roubando seus brinquedos? ― questionou o outro.

Era um pouco deprimente o quanto suas palhaçadas eram próximas da verdade.

― Não importa o quão ridículas são as acusações dele ― cortou Cameron. ― Viemos para averiguá-las, só estamos fazendo nosso trabalho, assim como vocês.

― Pois bem ― disse o homem de rosto vermelho. ― Desçam dos animais, vamos levá-los para a averiguação ― disse com ironia.

Olhei para o chão e me vi com todos os ossos quebrados ao tentar fazer aquilo acontecer.

Cameron parou ao meu lado e esticou os braços para me ajudar.

― Obrigada, Cam. Eu realmente preciso aprender a fazer isso sozinha ― contemplei ao tocar o chão.

― Eu não me incomodo em te ajudar ― respondeu com delicadeza, ― mas eu sei que você não se sente bem em ser ajudada ― ele soltou minha mão e começamos a seguir o comboio.

Depois de meia hora de caminhada estávamos exaustos e eu nem era a mais exaurida do grupo, em parte por costume ao esforço físico e em parte por estar vestida para exercício. Crowned abençoes a criação de calças e botinas!

Quando finalmente chegamos a uma cidade, a pele de Amberle parecia prestes a descascar. A Floresta Branca era o oposto da Vermelha em sua totalidade. A cidade exalava vida, música, comida e feéricos por todas as partes.

― Perto disso a Floresta Vermelha está morta ― confidenciou Yussef espelhando meus pensamentos.

― Não me admira os súditos de Raghaten estarem sendo "sequestrados" ― comentou Jamile.

― Eu seria sequestrada feliz se isso significasse sair daquele lugar medonho ― completou Amberle.

― Já começaram a notar as diferenças entre prosperidade e mortandade? ― perguntou o homem de rosto pintado. ― Esperem só até chegarem ao nosso rei.

Nesse ponto já podíamos ver a torre ao longe e eu esperava que não levasse mais tanto tempo para chegarmos.

― Quem são eles, Kato? ― perguntou uma loira em uma das barracas da feira que estava acontecendo.

― São da Verhallow ― respondeu o homem de rosto vermelho sem lhe dar muita atenção.

― Como?! ― exclamou ela aturdida. ― A Verhallow por aqui?

― Falo com você depois, Dyne ― avisou começando a andar ainda mais rápido como se quisesse fugir dela.

― Kato, volte aqui!

― Estou trabalhando, Dyne! ― retrucou antes de suspirar quando nos afastamos. Ao perceber nosso olhar curioso, esclareceu: ― É isso que se parece um noivado arranjado, Iniciandos.

Quando menos esperávamos alcançamos o castelo. Era difícil não o comparar com o de Raghaten visto que esse, diferente daquele, parecia um castelo de verdade e não uma piada de um. A decoração era suntuosa e os corredores iluminados, logo fomos apresentados ao rei Cryllise a Rainha Sonali.

O rei era um homem negro, com a pele mais escura que a minha, os cabelos longos e grossos mantidos em um estilo que parecia comum ali na Floresta. Ele se vestia de forma mais comum que Raghaten, mais semelhante a seus súditos e dezenas de vezes mais livre. Sua rainha se vestia de forma simples também, mas o vestido vermelho que usava não fazia nada para esconder sua beleza. Seu cabelo preso para cima em um penteado elaborado, deixava sua garganta livre para suas únicas joias, as cordas de ouro que pareciam infinitas, agarradas ao redor de seu pescoço, como se fossem cobras.

― O que Raghaten inventou dessa vez? ― perguntou ele após nossa presença ser anunciada, segurando a mão direita de sua rainha e a beijando com carinho.

― Ele alegou que vossa majestade está roubando seus súditos ― Cameron ofereceu, com as costas eretas, no máximo de sua altura.

― Imagino que não tenham vindo por isso, não é? ― retrucou o rei Cryllis impaciente, sua atenção desviada da esposa, as longas unhas de sua mão direita batendo no braço do trono.

― Não. Viemos porque ele ofereceu um acordo que se não for assinado terminará em guerra ― Amberle explicou.

― Guerra? ― repetiu ele parecendo entretido. ― Com que contingente?

― Nossa preocupação não são as ameaças vazias do rei Raghaten e sim as pessoas que ainda restam por lá ― ilustrei evitando olhar em seus olhos cor de bronze.

― E o que vocês jovens esperam que eu faça? Desde que aquela piada de mal gosto assumiu o poder as pessoas não param de atravessar as nossas fronteiras, os cofres não aguentarão por muito mais tempo, estou tão infeliz com o andar desta carruagem quanto ele, preciso de novas terras para plantio e moradia. Ser um bom rei para todos é uma tarefa quase impossível ― ele fez uma careta ― não que eu espere que aquela criança entenda isso.

― Você é um ótimo rei para mim ― sussurrou sua esposa com um sorriso e ele fez um som que vindo de uma figura menos máscula eu chamaria de risadinha:

― Em outro momento, querida ― pediu ele, mas eu podia sentir sua atenção em nossa presença se esvaindo.

― Nós temos um plano, vossa Majestade ― começou Yussef com cuidado, com medo de ofender os monarcas. ― Ouvimos uma história que acreditamos poder ser a chave para resolver esse impasse.

― Então me digam! ― demandou levantando a voz pela primeira vez. ― Adoraria resolver isso ainda mais que vocês!

― O senhor não vai gostar de uma parte ― sussurrou Amberle.

― Deixe-me ser o juiz disso. Os fins certamente justificam os meios nesse caso, um bom monarca deve saber como passar por cima de si mesmo para governar bem.

― Espero que o senhor mantenha essa opinião depois de nos ouvir ― falou Jamile.

― Se não disserem logo juro que os tranco nas masmorras! ― ameaçou.

― Tenha calma, marido ― pediu a Rainha que até então não tinha feito nada além de nos assistir com um interesse estrangeiro, como se fossemos peças de exibição em um zoológico.

O rei ouviu seu pedido e voltou-se para nós com muito mais calma:

― Expliquem-se, por favor ― reiterou.

― Lhe daremos a coroa e o reino de Raghaten ― me apressei antes que ele perdesse a paciência novamente, ― mas antes o senhor precisará assinar o termo que ele demanda.

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