Capítulo Nove
Avery Strong
Na terça tivemos uma surpresa assim que entramos em nossa aula de diplomacia. Serafina, nossa professora, diferente da aula anterior, havia deixado todos entrarem e se acomodarem antes de começar a falar:
― Gostaria de parabenizá-los pois vocês acabaram de receber sua primeira missão diplomática.
Murmúrios animados espalharam-se pela sala. O que aquilo significaria para nós?
― O que isso quer dizer? ― indagou Anderson dando voz aos meus pensamentos.
― Recebemos um chamado vindo da Floresta Vermelha, na Zone 3 ― respondeu nossa tutora. ― Um pedido de socorro.
Jamile Golbre fez um som estrangulado:
― Floresta Vermelha? ― perguntou ela, assustada. ― Mas não foram as florestas as mais afetadas pela radiação?
Gisele escondeu uma risada infame por entre os dedos.
― Senhorita Golbre ― começou nossa mentora. ― Receio que nem tudo que lhe ensinaram na escola mundana é um fato do nosso mundo. O que houve na Zone 3 não foi um acidente nuclear, foi um ataque direcionado aos Highters. A evacuação civil foi apenas uma forma de afastá-los ― ela franziu os lábios ― da carnificina.
Jamile empalideceu e não disse mais nada. Serafina então voltou para as explicações:
― Vocês serão enviados para lá amanhã e devem resolver o problema com bastante descrição em no máximo uma semana, que é quando a nave irá buscá-los, tendo o problema sido resolvido ou não.
Com isso Amberle pareceu ficar alarmada:
― Seremos deixados a nossa própria sorte?
Serafina abriu a boca para responder quando Damien a interrompeu:
― Não se preocupe, Barbie, eu não vou deixar o bicho papão te pegar.
Yussef se levantou, irritado:
― Não fale assim com a minha irmã! ― exigiu perdendo a compostura.
Natalie Snart começou a fazer um barulho insuportável com a língua ao meu lado esquerdo. Sylvie me cutucou para me entregar o origami que acabará de fazer. Leonard e Gisele cochichavam em silencio e Lia observava a tudo quietamente. A sala de aula havia subitamente se tornado um verdadeiro pandemônio.
― A boa notícia ― falou Serafina sorrindo ― é que vocês terão que trabalhar juntos.
***
Tessa colocou minha antiga sacola de palha em cima da cama enquanto eu tirava minhas roupas velhas do closet. Ela me deu um olhar feio quando os coloquei junto da bolsa.
― Senhorita Avery, devo te desencorajar, os povos da Floresta são extremamente formais ― ela abaixou a voz para um sussurro aflito ― eles ainda são monárquicos!
A curiosidade, infelizmente, superou minha teimosia e eu cedi:
― Monárquicos? Eles não aceitam a soberania da Verhallow?
Tessa colocou a mão na testa como se se arrependesse até mesmo de ter tocado no assunto.
― Eles aceitam, claro, mas são deixados por conta própria a não ser em assuntos como esse, o porquê, no entanto, é um mistério.
Levantei uma sobrancelha para ela:
― Pode deixar que quando eu voltar, muito provavelmente, terei a resposta para essa pergunta.
― Senhorita Avery! ― ralhou, mas eu sabia que era apenas brincadeira.
― Agora me ajude a arrumar essa mala com trajes formais porque você com certeza é melhor que eu nisso.
Ela deu uma risadinha como se não pudesse acreditar que eu era real e foi até o closet, voltando com os mais variados vestidos.
― O primeiro passo ― declarou quase desaparecida por trás da pilha ― é mostrar suas canelas.
Revirei os olhos, brincalhona.
― Isso tudo não vai caber em minha sacola.
Ela colocou os vestidos em cima da cama.
― É por isso ― se abaixou ― que eu arranjei uma mala ― informou a mostrando.
― Sempre a frente, eu vejo, mostre-me o caminho, mestre Tessa.
***
Após o jantar, Tessa me levou até o hangar com a minha mala em mãos.
― Não tenha medo, senhorita Avery, passará a maior parte do voo dormindo.
Respirei fundo ao encarar a enorme nave prateada.
― Parece um monstro de um livro fantástico.
Ela riu suavemente.
― É claro que parece, mas te garanto que não vai te morder, nem cair, é a mais nova do mercado.
― Cair? ― questionei com a voz tremula.
― Avery, o que aconteceu com você? Ficou branca como um papel! ― exclamou Sylvie surgindo de lugar nenhum e segurando minha mão gelada.
― Com licença ― murmurou Tessa antes de se afastar, deixando a mala ao meu lado.
― Essas coisas podem... Cair? ― perguntei levantando a voz.
― Acidentes acontecem, não é? ― falou suavemente. Ela pareceu perceber que tinha dito a coisa errada quando eu comecei a tremer e a atrair atenção. ― Mas não vamos cair ― se apressou para me garantir ― jamais deixariam os Iniciandos a Parlamentares se acidentarem, querida ― ela tinha um ponto, mas já haviam acontecido outros "acidentes" no período em que estivemos ali. ― Você pode se sentar entre Cameron e eu se isso te fizer sentir melhor.
Eu acenei levemente.
― Faria, obrigada.
Apesar das boas intenções de Sylvie, ela dormiu antes do voo atingir a marca de dez minutos.
― Não é culpa dela ― sussurrou Cameron. ― Ela costuma passar muito mal em viagens longas e precisa ser medicada.
Eu acenei mesmo que não entendesse muito bem.
― Eu trouxe o meu tricô para me distrair, mas acho que pode ter sido uma péssima ideia trazer agulhas tão grandes para esse monstro.
Ele riu baixinho.
― Se eu soubesse que você ficaria com tanto medo eu teria pego uma das pílulas de Sylvie.
― Eu estou bem, tirando o fato de não estarmos no chão. Não sei no que pensei, estamos saindo da nossa subseção, provavelmente levaríamos dias se fossemos de trem.
― Os voos são geralmente tranquilos e eu vi que a previsão do tempo estava favorável, não devemos ter turbulência ― me informou com tranquilidade.
― É muito bom saber disso ― murmurei conforme a nave acelerou.
― Se você quiser, pode segurar a minha mão ― ofereceu a estendendo.
Olhei de lado para a mão dele esticada em minha direção antes de tomá-la.
― Obrigada ― murmurei um pouco envergonhada.
― Não por isso ― respondeu. ― Sabe, eu venho querendo conversar com você sobre algo que anda me incomodando.
― Eu vou ficar nessa exata posição por algumas horas, então vá em frente ― permiti.
― O que Samuel Prescott tanto quer com você?
Congelei assim que as palavras saíram da boca dele. O que ele queria dizer?
― Não sei ― admiti. ― Ele foi bastante... lisonjeiro.
― Não pense que eu quero me meter em sua vida ou interferir em suas escolhas ― anunciou rapidamente. ― Só quero que você saiba com certeza onde está se metendo.
― Eu aprecio sua preocupação, Cameron, mas ela é desnecessária. Eu posso não saber exatamente o que ele quer, mas não vou deixá-lo ir longe demais.
― Eu só queria ter certeza de que está tudo bem ― reiterou.
― Eu sei e isso é realmente fofo da sua parte ― bocejei, ― mas eu não estou interessada em romance ― fechei os olhos brevemente ― muito menos com um tipo como o dele.
― O que isso quer dizer? ― perguntou suavemente conforme eu fechei os olhos novamente.
― Você sabe, rico, com o mundo inteiro ao seus pés ― bocejei novamente ― esse tipo só traz problemas.
A próxima coisa que eu sabia era que Cameron estava tocando meu ombro com a mão que não segurava a minha.
― Avery, ― chamou ele ― chegamos.
Abri os olhos lentamente notando que uma manta quentinha me cobria.
― Estamos no chão? ― perguntei um pouco chocada e ainda meio atordoada.
Ele sorriu:
― Acabamos de pousar.
Soltei meus dedos dos deles pegando a minha sacola de tricô de entre minhas panturrilhas.
― Obrigada por ter segurado minha mão durante todo o voo, espero não ter cortado a circulação dos seus dedos.
― Claro que não, não precisa me agradecer pois isso.
― Bem, ― devolveu estalando o pescoço ― Hora da missão.
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