Capítulo Dezenove

Avery Strong

Eu estava tricotando uma forma disforme, nem sequer sabia o que era aquilo, mas precisava distrair minha mente desde o Picote de Lily ou então eu iria enlouquecer.

Hoje era domingo, o tempo tão nublado quanto os meus pensamentos e logo eu teria que sair para o chá semanal com os Parlamentares. Eu não queria ir, mas eu não queria nada além de rever Lily então guardei minhas agulhas, alisei as saias azuis do vestido e sai.

Eu havia aprendido a tricotar ainda criança, para nos manter aquecidos durante o inverno, antes mesmo de começar a trabalhar. Meu pai, ferreiro, trocava ferraduras dos cavalos do criador de ovelha da cidade e ele o pagava com as sobras de lã, que nós fiávamos e tingíamos e depois, tricotávamos em nosso tempo livre até termos bolhas nos dedos. Meu pai não achava um acordo junto, mas também não queria morrer de frio, então calava-se.

Cheguei ao jardim e me sentei em meu lugar de costume, logo Cameron e Sylvie apareceram e se sentaram próximos de mim. Os Parlamentares em exercício entraram e ocuparam seus devidos bancos.

― Queridos Iniciandos, nós recebemos uma missiva e temos uma notícia importantíssima para dar-lhes ― anunciou o tio de Sylvie.

― Uma carta da Seita com uma notícia muito triste ― informou a mãe de Samuel. ― Uma Highter deles foi sequestrada pelos seguidores de Irrideccent.

Uma onda de suspiros perpassou a mesa e eu encarei minha xicara cheia de líquido verde. Ela estava no mesmo lugar que Lily. Lily não estava segura.

― Quem é? ― perguntou Amberle temerosa.

― O nome dela é Luna Canberight e eles estiveram fazendo tudo em seu alcance para recuperá-la ― prometeu Vladimir.

― Está tudo bem ― garantiu Aisha sempre pacificadora. ― Ela foi levada por um motivo muito específico e todos os outros estão perfeitamente seguros lá, eu os asseguro.

― Seguros? Ela foi sequestrada do coração da Seita ― exclamou Natalie, indignada. ― O que garante que nossos familiares estão seguros lá?

― Por favor, não criemos pânico, está tudo sob completo controle e é por isso que estamos lhes informando. Eles pediram nossa ajuda ― disse Emory.

― Como? ― Damien rosnou.

― Nós pensamos muito no que fazer desde que recebemos essa carta e tomamos nossa decisão essa manhã ― avisou Laurent.

― Decidimos que vamos enviar nossos melhores estudantes, aqueles que mais estão se destacando nas atividades propostas.

Eu olhei ao redor me recusando a pensar nas possibilidades. Gisele estufou o peito.

― Isso não significa que os dois estão no topo da lista da Vitória, apenas que estão se saindo bem nas provas práticas e teóricas.

― Por Crown, digam logo ― murmurou Sylvie.

― Cameron Britstein e Avery Strong, vocês partem amanhã cedo. Parabéns!

Me virei para ver Cameron com a boca escancarada que espelhava a minha enquanto toda nossa sala de aula se transformava na balburdia que estávamos habituados no início da corrida.

Crown, que bagunça!

***

Minha figura disforme finalmente ganhava forma dentro de minhas agulhas enquanto Cameron e Sylvie me assistiam suspirando não tão baixo de perto da porta:

― Por que ela está costurando como uma maníaca? ― pronunciou Sylvie. ― Ela está em choque?

― Sylvie ― tentou ele em um tom exasperado.

― Estou preocupada com ela e se essa notícia a quebrou?

― Você não vê o que ela está fazendo, passarinha? Ela só está animada para ver a irmã.

― Eu entendo essa parte, mas o que isso tem a ver com a costura obsessiva?

― Eu acho que é um tipo de presente.

Sylvie finalmente pareceu entender e finalizou suas perguntas com um singelo:

― Ah.

― Cansaram de falar de mim como se eu não estivesse aqui? ― indaguei para preencher o silencio.

― Avery... ― chamou ele, mas o cortei com um sorriso.

― Não estou brava, estou apenas brincando.

― Você deveria estar arrumando sua mala ― lembrou-me ele.

Ele tinha razão, mas não querendo dar o braço a torcer, eu disse:

― Tessa pode fazer isso por mim.

Os dois me ofereceram uma sobrancelha levantada, assustadora em sua semelhança, sabendo que aquele não era o meu habitual.

― Isso é estranho ― declarou Sylvie.

― O que é estranho? ― perguntou ele para ela.

― Passamos tanto tempo nesse quarto e nunca vemos a Tessa.

Parei por um segundo com minhas agulhas pensando a respeito. Era verdade.

― Ela é ocupada ― defendi.

― Mas ela deveria passar mais tempo cuidando de você ― apontou.

― Fui eu que pedi para ela não ficar pairando sobre mim.

― Avery ― Cameron me parou. ― Sylvie não está te atacando.

Dando um suspiro e deixando o tricô de lado, os encarei:

― Eu sei, me desculpem, estou apenas tensa com toda a situação.

― Ave, você sabe que Lily está bem, nos garantiram que apenas essa tal de Luna Canberight foi levada e todos os outros estão seguros ― relembrou Cameron se aproximando.

― Eu ouvi tudo isso assim como vocês, mas só vou acreditar quando a ver com meus próprios olhos ― esfreguei os mesmos e encarei os meus amigos com um sorriso que tentei ao máximo ser real. ― Querem saber? Já que vocês estão tão preocupados com a minha mala venham me ajudar.

***

Na manhã seguinte, Sylvie se despediu de nós no hangar me oferecendo a caixinha que guardava suas pílulas:

― Cameron me disse que você tem medo de voar ― disse simplesmente.

― Obrigada, Syl ― agradeci lhe dando um abraço antes de Cameron fazer o mesmo e nós subirmos na besta voadora.

― Bem, acho que dessa vez você não vai precisar segurar minha mão ― falei com um sorriso quando nos instalamos.

― Eu não preciso, mas ainda posso se assim você quiser ― ofereceu me estendo a mão direita que eu peguei enquanto engolia em seco.

― Obrigada, Cameron, por tudo.

― Não há nada para me agradecer ― respondeu e eu fechei os olhos deixando o sono me levar.

Por Crown, aquelas pílulas eram realmente rápidas.



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Cada vez mais perto do momento de revermos a Luna, estão animados?

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