Capítulo Único
Maxwell Aberthany estava furioso.
Em toda sua vida ele havia sido a sombra de seu irmão mais velho, William, e nunca teve realmente algo para se preocupar ou para levar credito sobre, mas agora ele estava a um passo de entrar para Seita, fazer algo grande e aquele homem – não que com sua atitude ele pudesse ser chamado de homem ― o deixava furioso!
Maxwell não dava a mínima para quantos séculos de vida Abraham tinha, nada lhe dava o direito de dizer aquele tipo de coisa para o ruivo.
Você ainda será meu ― havia declarado com tom de finalidade antes de deixar o mais novo falando sozinho.
Max era um ser humano e não pertenceria a ninguém! Sua mente berrava enquanto ele escancarava a porta do quarto do moreno para encontra-lo sentado no parapeito da janela contemplando o tempo fechado.
― Logo chega o inverno ― narrou ― e com a neve se torna impossível para anjos voarem ― completou encarando o ruivo com adoração. Como uma pessoa antiga, Abraham falava coisas difíceis de entender na maior parte do tempo, mas não havia dúvida sobre o que ele queria dizer com isso.
― Eu não sou a porra de um anjo ― berrou o pequeno.
― Mas tem asas como um ― retrucou o outro ― Não entendo por que você está agindo dessa forma, Max ― suspirou triste se sentando na cama.
Maxwell nunca havia sido chamado de Max e geralmente ouvir isso do mais alto o fazia se sentir querido, mas as vezes, como naquele momento o fazia se sentir como uma criança mimada.
― Eu não sou um objeto para você possuir, Abraham ― respondeu.
O moreno se levantou, as sobrancelhas franzidas em confusão, indo até Maxwell, mas parando quando o ruivo deu um passo para trás.
― Eu nunca disse que era ― falou com aquela voz rouca que dava arrepios no mais novo.
― Você disse que eu seria seu ― choramingou odiando a forma como sua voz, que deveria ser firme, tremia com a proximidade do outro.
― Você será ― garantiu. ― Foi destinado a mim muitos séculos atrás, mas não serei seu dono ― murmurou, a mão esquerda, cheia de cicatrizes, tocando delicadamente a mandíbula do menor que fechou os olhos em deleite obvio. ― Eu também serei seu. Sente-se comigo, Max, deixe-me te contar uma história.
Maxwell queria gritar e fugir para as colinas, mas apenas acompanhou o mais velho.
― Há muito tempo, eu nasci ― começou. ― Houve uma batalha e todos com idade suficiente foram convocados para lutar. Eu fui e voltei ― ele estremeceu e puxou o menor delicadamente para seu colo e o apertou em seus braços. ― Mas eu não era mais o mesmo. As cicatrizes que destroem meu corpo vieram da primeira batalha, nunca me feri nas outras.
O ruivo olhou para ele, seu coração e mente em batalha eterna. Infelizmente para sua máscara de irritação, o coração venceu e ele não foi capaz de segurar a língua.
― Elas não te destroem, Abraham, te fazem mais belo ― garantiu o pequeno.
O mais velho sorriu, mas balançou a cabeça negativamente.
― Eu não conseguia mais ser quem um dia fui quando voltei. Minha mãe e minhas irmãs já não conseguiam tirar a tristeza de mim, elas não conseguiam apagar os horrores que eu vi ― ele estremeceu. ― Eu não fui capaz de aguentar aquela vida... Eu me matei. Acordei uma década ou duas depois, pronto para uma nova batalha, morri assim que vencemos. Assim seguiu acontecendo ao correr dos séculos, milênios, eu voltava, lutava, vencia e morria. De novo e de novo. Amaldiçoado a reviver meu sofrimento eterno, ver os mesmos horrores de novo, Crown foi cruel em sua punição pela minha fraqueza. Não voltei no último século, não depois que a Verhallow assumiu.
― Por isso você falava como uma múmia quando voltou ― brincou Max tentando aliviar o clima um pouco.
― Espertinho, tente ficar cem anos sem beber um gole de água e vamos ver como você vai ficar ― ele voltou a usar o tom sério de antes. ― Da última vez que eu voltei, eu encontrei Ethan ― pausou. O corpo de Maxwell enrijeceu contra sua vontade e ele se recusou até mesmo a se aproximar da hipótese de aquilo ser ciúmes. Mas era. ― Como um elementar, ele é imortal, você sabe, e havia lutado em algumas batalhas por vontade própria e tedio ― ele riu, mas o ruivo não via graça. ― Já havíamos nos encontrado antes, mas com a minha maldição é difícil manter contato com os amigos ― narrou, amargura permeando suas palavras. ― Ele disse que haviam recebido uma profecia que ele acreditava que só poderia ser sobre mim.
Um ciclo cumprido
Uma morte e uma última vida
Um anjo caído
Fogo, sangue e saída
O fim da eterna danação
Sua salvação.
Abraham recitou aqueles versos com os olhos trancados nos de Maxwell e o coração do pequeno se estilhaçou em um milhão de pedacinhos que foram imediatamente recolados pelo amor intenso que o varreu naquele momento.
― Ele me disse que aquilo significava que eu finalmente havia comprido meu ciclo, morreria e seria trazido de volta uma última vez, teria a chance de ter uma vida normal ― ele riu novamente e Max sentiu vontade de se enrolar nele como um gatinho buscando conforto. ― Bem, uma vida tão normal como alguém que viveu mil vidas pode ter.
― E assim aconteceu? ― Perguntou o ruivo.
― E assim aconteceu ― respondeu Abraham. ― Eu acordei no dia seguinte aos Anúncios e rumei para Zone 3, era lá que ficava o antigo Complexo, não encontrei nada, todos haviam partido há mais de trinta anos, busquei refúgio no Complexo Fixo, graças a Crown, ainda permanece no mesmo lugar, senão eu estaria perdido. Fui guiado para cá e pude te encontrar. No momento que eu te vi, eu soube. Meu anjo caído com cabelos de fogo. Eu senti que pertencíamos um ao outro. Mostre-me suas asas, Max ― pediu. ― Eu preciso vê-las.
Abraham pareceu tão quebrado naquele momento, tão carente, que Maxwell não foi capaz de negar aquele pedido tão humilde e necessitado.
Maxwell se levantou e virou de costas para o mais velho antes de tirar a camiseta. Envergonhado, ele se recusou a olhar para trás e ver a reação de Abraham quando estendeu as asas a sua total envergadura.
― Maxwell, olhe para mim – impeliu o moreno. Maxwell como infantil que era o ignorou. ― Max, eu disse para olhar para mim ― demandou. O ruivo olhou para ele mexendo minimamente a cabeça e viu o outro levantar-se e parar atrás dele. ― Nunca tenha vergonha de mim ― falou antes de esticar a mão e tocar as asas do pequeno. Maxwell estremeceu, mas conseguiu não se mexer. ― Eu te respeito e te amo. Nunca faria mal a você, nunca te machucaria propositalmente ― ele deu a volta e parou na frente do ruivo sorrindo, suas cicatrizes pareciam cintilar. ― Só precisamos falar a mesma língua.
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