Capítulo Um

Minha vida não foi fácil. Cresci em Tax, a subseção mais pobre da Surviver. Sendo uma mera órfã entre tantos outros, tudo o que eu sabia era sobreviver. Nunca vivi em outro lugar além das ruas, criada por provavelmente uma centena de pessoas com quem me associei ao longo dos anos até que entendi que não podia confiar em ninguém e era velha o suficiente para cuidar de mim mesma. Nunca tive um sobrenome, porque não havia ninguém para me dar o seu.

Por mais que talvez tanta adversidade não fosse a forma mais saudável de uma criança viver, me ensinou coisas que nenhum lar amoroso seria capaz e para mim isso foi suficiente. Nunca passei mais de um dia em um orfanato, onde eu acabava parando de tempos em tempos, sempre fugia assim que me davam as costas e acabava de novo nas ruas, onde era o meu lugar. Eu era uma mulher bela, olhos pretos e cabelo cacheado e sabia muito bem como ficar longe de encrenca.

Aos dezessete anos conheci Zeki. Ele era um cara legal, bonito e divertido, tão miserável quanto eu e por mais que eu não fosse apaixonada por ele, passávamos um tempo agradável juntos. Foi ele que me apresentou a Damen, líder do que ele gostava de chamar de grupo dissidente. GDD, grupo dissidente do Damen, ele ria. Eles eram um grupo rebelde, sem tirar nem pôr, contrários a Verhallow e sua visão de mundo perfeito.

Quando comecei a encontra-los, nas reuniões semanais as quais Zeki me levava, eu não tinha interesse nenhum em ouvi-los, éramos poucos e por mais que Damen jurasse ter contatos em outras subseções e até mesmo em Indo, ele nunca trazia ninguém de fora para provar que aquilo era verdade e eu sabia melhor do que confiar no que eu não podia ver.

Todos do grupo eram pobres e sem escolhas assim como nós. Alguns só iam para lá para descolar um prato de comida, como eu fazia, mas alguns tolos realmente queriam mudar o mundo assim como aqueles, que antes também tinham sido chamados de rebeldes, haviam feito com a Marcha da Vitória. A única diferença é que ao invés de criar um sistema falho como a Verhallow, eles queriam derrubá-la e criar uma democracia em seu lugar.

Eu não achava que era tão simples assim, visto que aquela era uma instituição amada pelo povo em geral, ainda que fosse associada a Seita que deliberadamente tirava jovens de suas famílias todos os anos, sem que ninguém soubesse sua motivação, mas mesmo assim continuei indo as reuniões, pois não tinha nada a perder.

Depois de um tempo, sem que eu soubesse o porquê, fui convidada a me mudar para a base, nada além de um armazém reformado, mas tinha cama e comida quente, então fiquei. Eu fazia muito pouco para ajudar e sinceramente não sabia porque me mantinham lá, já que, apesar de Damen sempre tentar me convencer a participar mais ativamente do grupo, eu sempre recusei, isso é, até que tudo mudou.

Eu e Zeki fomos mandados para um depósito, mesmo que não fosse normal buscar remessas em menos do que trios, nos disseram que receberíamos um pequeno carregamento de suprimentos enviado pelos associados de Damen em Indo e, portanto, não seria necessário mais ninguém e apesar de nenhum de nós acreditar muito naquela história, fomos até lá.

Não sei exatamente quem nos atacou ou de onde os tiros vieram, tudo que sei foi que choveram balas sobre nós e Zeki morreu em meus braços. Eu não o amava, como ele dizia me amar, mas ele era o amigo mais verdadeiro que eu tinha me permitido fazer durante minha vida inteira e vê-lo coberto de sangue, sem conseguir respirar ou falar, mudou algo dentro de mim.

Voltei para a base como uma nova mulher, uma fé no GDD que foi forjada após o horror que me era completamente novo. Damen me consolou da forma que quis pela morte de Zeki e disse que descobriria quem fez aquilo, mas semanas se passaram sem que ele me trouxesse nenhuma informação ou novidade sobre a situação.

Eu não tinha mais interesse em ser apenas uma expectadora em toda aquela cena, queria ir para a linha de frente e fazer algo, mudar algo em um mundo dominado por um governo que sequer tinha se preocupado em investigar a morte de Zeki, pois ele era um peixe pequeno e pobre demais para ser importante em um mar tão grande.

Passei a participar de todo e qualquer tipo de manifestação de rebeldia e com o tempo, os planos de atos que eram repassados nas reuniões começaram a me parecer cada vez mais estúpidos. Eu sabia que podíamos e deveríamos fazer mais. Aquele era o nosso dever, proteger os que não podiam se proteger sozinhos, salvar pessoas como Zeki, para que eles nunca se encontrassem em uma situação como a que o tinha levado a participar do grupo em primeiro lugar.

Um dia, indo ao pseudo-escritório de Damen, que era nada além de um quarto regular no armazém, somente com o diferencial de uma escrivaninha e um computador no canto, para ver se ele possuía alguma nova informação sobre o assassinato de Zeki, encontrei algo que deu outra virada em minha jornada. Era um recibo de pagamento, feito à mão, do líder da gangue que dominava o gueto de Tax. Eu nunca o tinha visto, mas seu nome era temido o suficiente nas ruas para que eu o conhecesse e a data no papel não deixava dúvidas. Haviam sido eles que mataram meu amigo.

Eu podia não ter estudo, mas não era uma mulher burra, não havíamos recebido carregamento nenhum naquele dia o que só poderia significar que o trabalho que Osman tinha feito para Damen era outro. Algo mais perto de assassinato e emboscada. O líder do GDD sempre teve interesse em mim, não romântico, mas de que eu participasse ativamente de seu grupo, algo que até a morte de Zeki eu tinha me recusado e se de alguma forma, ele tinha orquestrado tudo aquilo, seu plano tinha dado para lá de certo.

Naquela noite, aproveitei que ele tinha ido até um bar comemorar com alguns associados, para fuçar em suas coisas e encontrar algo que realmente provasse minha teoria que até então era circunstancial. Descobri uma coisa que ia além de qualquer expectativa que eu tivesse quando entrei naquele pardieiro, uma agenda gasta, que ele usava quase como um diário, e nela estavam contidas todas as informações que ele guardava sobre os membros próximos. Em geral do topo da pirâmide, mas alguns mais baixos, como eu e Zeki. No trecho sobre Zeki, encontrei a prova final sobre a traição do homem que eu havia confiado para resolver sua morte e o gosto amargo da decepção me deu forças para criar um plano.

Eu o derrubaria e faria sentir cada segundo de dor que ele me fez passar.Toque aqui para começar a escrever

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Conheçam a Hasret, como vocês devem ter notado esse capítulo não tem nenhum dialogo, mas o próximo terá e trará um personagem muito conhecido da Verhallow. Até semana que vem.

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